O senador Flávio Bolsonaro está sendo criticado por comprar uma casa em Brasília avaliada em cerca de R$ 6 milhões. Tudo indica que foi um bom negócio. De acordo com especialistas do mercado, o imóvel deve valer ainda mais. Foi comparado a uma mansão de traficante de seriado da Netflix. O que é um parâmetro adequado em termos materiais e morais. No entanto, o mais surpreendente é que Zero Um merece a conquista: a aquisição é uma espécie de coroamento de sua trajetória de vida.
Antes, é bom analisar a carreira do pai para entender que o fruto não cai longe da árvore. O presidente Jair Bolsonaro, todos se lembram, se notabilizou por uma trajetória parlamentar de 27 anos como deputado federal com apenas dois projetos de lei aprovados. Foram 170 proposições, sendo que 168 não foram adiante. Ainda bem. Entre elas estavam desde autorização para aplaudir a bandeira nacional depois da execução do hino brasileiro até o impedimento do uso do nome social de travestis e transexuais.
Outras propostas derrotadas do deputado mais improdutivo do Congresso Nacional reafirmam algumas bandeiras que ele trouxe para sua campanha presidencial e que vem tentando emplacar em sua gestão, como o excludente de ilicitude. Para lembrar outra intenção do então parlamentar, Bolsonaro tentou aprovar projeto que revogava a lei que obriga o SUS a dar atendimento integral às vítimas de violência sexual, inclusive a interrupção da gravidez para as vítimas de estupro.
Merecem atenção os dois projetos aprovados, um a cada 13 anos. Um deles isenta alguns produtos industriais de pagamento de impostos e o outro autoriza o uso da “pílula do câncer”. Como se vê, Bolsonaro sempre foi Bolsonaro, no protecionismo dos amigos e na crença mágica em tratamentos ineficazes. Se sua ação propositiva foi medíocre, o alinhamento com todas as pautas retrógradas e violentas, traduzida em retirada de direitos humanos e trabalhistas e incentivo ao armamentismo e impunidade das forças policiais, nunca deu chabu.
Os frutos não caem longe da árvore
Os filhos não roubaram (pelo menos no sentido figurado), herdaram. Mesmo mais produtivos que o pai em suas atividades parlamentares, sempre foram autores de projetos voltados para as pautas conservadoras e ligadas à segurança pública. Carlos, como vereador no Rio de Janeiro, propôs a inclusão no calendário oficial da cidade do dia do orgulho heterossexual e a criação da versão municipal da escola sem partido. Eduardo apresentou projeto sobre o excludente de ilicitude e a doação aos agentes policiais aposentados da arma que utilizavam quando estavam na ativa.
Mas Flávio merece mais atenção. Na assembleia do Rio de Janeiro, antes de ser eleito senador, ficou conhecido por distribuir medalhas e moções a milicianos de carteirinha e policiais envolvidos em ações violentas. Além de Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz, Zero Um usou a tribuna da Alerj para exaltar pelo menos 23 militares e policiais réus ou condenados por crimes que vão de corrupção a homicídio. Na conta do deputado estão nada menos que 495 moções e 32 medalhas entregues a policiais militares, civis, bombeiros e integrantes das três armas. Alguns receberam a honraria na cadeia.
Seguindo a linha dos irmãos e do pai, a maioria de suas proposições apresentadas, tanto na assembleia do Rio de Janeiro como no Senado, estão vinculadas às agendas de sua família. Como o irmão vereador, propôs a criação da escola sem partido em abrangência estadual; como o irmão deputado, defendeu a redução da maioridade penal para 16 anos; como o pai, atacou em projeto a ideologia de gênero. Sempre foi um parlamentar sem brilho próprio, como os irmãos e o pai. Só que, para piorar, sem sequer carregar voz própria.
Mas Flávio tem algo que parece suplantar seu DNA: a ambição. Quando Jair Bolsonaro teve sua carreira militar interrompida, ficou grudado nele o julgamento do presidente Geisel: era mau militar. E excessivamente ambicioso. O caminho seguido pelo tenente que se tornou capitão ao sair do Exército por subversão foi juntar as duas pontas. Como mau militar, levou para a política sua ambição de poder. Como homem obcecado pelo dinheiro, fez da atividade parlamentar sua estrada para o enriquecimento.
O senador Flávio Bolsonaro cortou caminho. Não perdeu tempo em ser mau político e desde seu primeiro mandato na Assembleia do Rio de Janeiro pôs em prática seu esquema de nomear servidores fantasmas e ficar com a maior parte dos salários. Investigado no que ficou conhecido como caso das rachadinhas, responde processo que vem sendo atropelado de todas as formas. Do afastamento de delegados e procuradores a decisões do Superior Tribunal de Justiça. O presidente tem gasto parte de seu tempo e capital político para proteger o filho.
Bolsonaro deve ter orgulho de Flávio
Flávio é acusado de desviar recursos, lavar dinheiro e formar um grupo para delinquir, Queiroz à frente, para dar profissionalismo ao esquema tradicionalmente atravessado por amadorismo. Comprou e vendeu dezenas de imóveis, usou lojas de fachada para receber e repassar recursos, ajuntou um patrimônio muito acima dos seus ganhos como deputado, senador e mesmo proprietário de lojas de chocolate. Em toda essa trajetória, nenhuma ação política digna de registro. Ele nunca teve tempo para ser deputado ou senador, estava ocupado demais em ganhar dinheiro.
Numa palestra de 1919, lá se vão mais de 100 anos, o sociólogo alemão Max Weber identificou na história da humanidade, em todas as épocas e nas mais distantes sociedades, duas maneiras de fazer política. Segundo ele, ou se vive “para” a política ou se vive “da” política. No limite, havia políticos que se dedicavam a uma causa e políticos que fazem da atividade uma fonte de renda permanente. Weber sabia que quase sempre as coisas se misturam, em maior ou menor proporção, o que indicaria até mesmo a necessidade de profissionalizar a política para garantir sua independência.
Flávio Bolsonaro, como tipo weberiano extremo, não carrega nada além da ambição pessoal. Não precisa nem mesmo se esconder atrás de pautas conservadoras. Diferentemente dos irmãos e do pai, ele sequer tem um gado para chamar de seu. Por isso, exibe a compra da mansão no Lago Sul na mesma semana em que decisão do STF o protege mais uma vez de um julgamento justo. Ele não presta conta à justiça, à ética ou à política. O que deveria ser sua maior vergonha é o símbolo de sua vitória pessoal.
Eduardo foi humilhado ao ser rechaçado em seu desejo de ser embaixador nos EUA, pela exibição de seus limites indisfarçáveis até para os aliados. Carlos, com seu discurso ao mesmo tempo inflamado e incompreensível, desponta para a radicalização de um perfil desequilibrado e limítrofe. Já Flávio comemora seu triunfo com a “melhor vista de Brasília”. Jair deve ter orgulho do garoto.
Antes, é bom analisar a carreira do pai para entender que o fruto não cai longe da árvore. O presidente Jair Bolsonaro, todos se lembram, se notabilizou por uma trajetória parlamentar de 27 anos como deputado federal com apenas dois projetos de lei aprovados. Foram 170 proposições, sendo que 168 não foram adiante. Ainda bem. Entre elas estavam desde autorização para aplaudir a bandeira nacional depois da execução do hino brasileiro até o impedimento do uso do nome social de travestis e transexuais.
Outras propostas derrotadas do deputado mais improdutivo do Congresso Nacional reafirmam algumas bandeiras que ele trouxe para sua campanha presidencial e que vem tentando emplacar em sua gestão, como o excludente de ilicitude. Para lembrar outra intenção do então parlamentar, Bolsonaro tentou aprovar projeto que revogava a lei que obriga o SUS a dar atendimento integral às vítimas de violência sexual, inclusive a interrupção da gravidez para as vítimas de estupro.
Merecem atenção os dois projetos aprovados, um a cada 13 anos. Um deles isenta alguns produtos industriais de pagamento de impostos e o outro autoriza o uso da “pílula do câncer”. Como se vê, Bolsonaro sempre foi Bolsonaro, no protecionismo dos amigos e na crença mágica em tratamentos ineficazes. Se sua ação propositiva foi medíocre, o alinhamento com todas as pautas retrógradas e violentas, traduzida em retirada de direitos humanos e trabalhistas e incentivo ao armamentismo e impunidade das forças policiais, nunca deu chabu.
Os frutos não caem longe da árvore
Os filhos não roubaram (pelo menos no sentido figurado), herdaram. Mesmo mais produtivos que o pai em suas atividades parlamentares, sempre foram autores de projetos voltados para as pautas conservadoras e ligadas à segurança pública. Carlos, como vereador no Rio de Janeiro, propôs a inclusão no calendário oficial da cidade do dia do orgulho heterossexual e a criação da versão municipal da escola sem partido. Eduardo apresentou projeto sobre o excludente de ilicitude e a doação aos agentes policiais aposentados da arma que utilizavam quando estavam na ativa.
Mas Flávio merece mais atenção. Na assembleia do Rio de Janeiro, antes de ser eleito senador, ficou conhecido por distribuir medalhas e moções a milicianos de carteirinha e policiais envolvidos em ações violentas. Além de Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz, Zero Um usou a tribuna da Alerj para exaltar pelo menos 23 militares e policiais réus ou condenados por crimes que vão de corrupção a homicídio. Na conta do deputado estão nada menos que 495 moções e 32 medalhas entregues a policiais militares, civis, bombeiros e integrantes das três armas. Alguns receberam a honraria na cadeia.
Seguindo a linha dos irmãos e do pai, a maioria de suas proposições apresentadas, tanto na assembleia do Rio de Janeiro como no Senado, estão vinculadas às agendas de sua família. Como o irmão vereador, propôs a criação da escola sem partido em abrangência estadual; como o irmão deputado, defendeu a redução da maioridade penal para 16 anos; como o pai, atacou em projeto a ideologia de gênero. Sempre foi um parlamentar sem brilho próprio, como os irmãos e o pai. Só que, para piorar, sem sequer carregar voz própria.
Mas Flávio tem algo que parece suplantar seu DNA: a ambição. Quando Jair Bolsonaro teve sua carreira militar interrompida, ficou grudado nele o julgamento do presidente Geisel: era mau militar. E excessivamente ambicioso. O caminho seguido pelo tenente que se tornou capitão ao sair do Exército por subversão foi juntar as duas pontas. Como mau militar, levou para a política sua ambição de poder. Como homem obcecado pelo dinheiro, fez da atividade parlamentar sua estrada para o enriquecimento.
O senador Flávio Bolsonaro cortou caminho. Não perdeu tempo em ser mau político e desde seu primeiro mandato na Assembleia do Rio de Janeiro pôs em prática seu esquema de nomear servidores fantasmas e ficar com a maior parte dos salários. Investigado no que ficou conhecido como caso das rachadinhas, responde processo que vem sendo atropelado de todas as formas. Do afastamento de delegados e procuradores a decisões do Superior Tribunal de Justiça. O presidente tem gasto parte de seu tempo e capital político para proteger o filho.
Bolsonaro deve ter orgulho de Flávio
Flávio é acusado de desviar recursos, lavar dinheiro e formar um grupo para delinquir, Queiroz à frente, para dar profissionalismo ao esquema tradicionalmente atravessado por amadorismo. Comprou e vendeu dezenas de imóveis, usou lojas de fachada para receber e repassar recursos, ajuntou um patrimônio muito acima dos seus ganhos como deputado, senador e mesmo proprietário de lojas de chocolate. Em toda essa trajetória, nenhuma ação política digna de registro. Ele nunca teve tempo para ser deputado ou senador, estava ocupado demais em ganhar dinheiro.
Numa palestra de 1919, lá se vão mais de 100 anos, o sociólogo alemão Max Weber identificou na história da humanidade, em todas as épocas e nas mais distantes sociedades, duas maneiras de fazer política. Segundo ele, ou se vive “para” a política ou se vive “da” política. No limite, havia políticos que se dedicavam a uma causa e políticos que fazem da atividade uma fonte de renda permanente. Weber sabia que quase sempre as coisas se misturam, em maior ou menor proporção, o que indicaria até mesmo a necessidade de profissionalizar a política para garantir sua independência.
Flávio Bolsonaro, como tipo weberiano extremo, não carrega nada além da ambição pessoal. Não precisa nem mesmo se esconder atrás de pautas conservadoras. Diferentemente dos irmãos e do pai, ele sequer tem um gado para chamar de seu. Por isso, exibe a compra da mansão no Lago Sul na mesma semana em que decisão do STF o protege mais uma vez de um julgamento justo. Ele não presta conta à justiça, à ética ou à política. O que deveria ser sua maior vergonha é o símbolo de sua vitória pessoal.
Eduardo foi humilhado ao ser rechaçado em seu desejo de ser embaixador nos EUA, pela exibição de seus limites indisfarçáveis até para os aliados. Carlos, com seu discurso ao mesmo tempo inflamado e incompreensível, desponta para a radicalização de um perfil desequilibrado e limítrofe. Já Flávio comemora seu triunfo com a “melhor vista de Brasília”. Jair deve ter orgulho do garoto.
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