Por Fernando Brito, em seu blog:
Volta e meia você lê que o pais X, o Y e o Z compraram duas, três ou até seis vezes mais doses de vacina contra a Covid do que o número de seus habitantes.
Pouca gente para e pensa, porém, em porque fizeram isso e certamente não achará quem ache que é burrice ou ladroagem.
Afinal, são milhões de doses além das necessárias.
A razão, claro, é outra. As compras “exageradas” consideram dois fatores: o cronograma de entrega que rapidamente as faça alcançar um nível seguro de imunização e as frustrações de entrega comuns a este tipo de aquisição massiva de imunizantes, num momento de corrida global pela vacina.
Como ainda não se sabe a duração da proteção que estas vacinas dão, o excedente pode ser usado como reforço ou, se este não for necessário, doações ou revenda para outros países das opções de compra dos laboratórios.
Bolsonaro , enquanto comemora a chegada de “pelo menos 22 milhões de doses” – não é preciso dizer que estão como o ovo na galinha -, apoia-se na falta de compreensão pública das quantidades necessárias para vacinar a população.
É pouco, muito pouco, mesmo se considerarmos que as entregas não atrasarem ou se frustrarem, como tem sido comum.
Aqui fizemos o contrário: desprezamos as ofertas quando elas estavam disponíveis, criamos obstáculos aos que nos entregavam nos prazos – a Sinovac/Butantan) e ficamos placidamente esperando que a Astrazêneca se dignasse a cumprir o contrato que firmou com a Fiocruz.
A vacina contra a gripe, apenas para os grupos prioritários (idosos, profissionais de saúde, pessoas com doenças crônicas) é feita todos os anos com 80 milhões de doses que, como são únicas, requereriam 160 milhões das versões que temos de vacina anti-covid para dar a mesma cobertura de imunização, aproximadamente 30% dos brasileiros.
E a vacinação antigripe dura menos de três meses, enquanto a atual se arrasta a 200 mil doses dia, desempenhando papel zero no bloqueio da transmissão da doença.
O Globo publica hoje um gráfico onde você pode acompanhar o ritmo de vacinação que, se todos os contratos de fornecimento forem religiosamente cumpridos, arrastará a vacinação até maio do ano que vem para atingirmos a marca de 2/3 da população vacinada.
Um ano depois de termos, em maio deste ano, chegado a apenas 10% de cobertura.
Hoje, 50 dias depois do início da vacinação, chegamos a a apenas 5% de aplicação no público alvo, ou 4% na população total do país.
O sr. Jair Bolsonaro, que recomenda aos seus críticos que “vão comprar vacina na casa da tua mãe” deveria ir providenciando o endereço desta senhora.
Estamos precisando ir lá ver se, pelo amor de Deus, ela nos vende algumas dezenas de milhões de doses.
A primeira semana de março será de mais de 1o mil mortes.
Se a média semanal se mantiver ao longo do mês, 45 mil e nem é bom pensar o que acontecerá se a atual escalada não for interrompida com um lockdown para valer, o que nossos governantes se recusam a fazer, por medo dos asseclas presidenciais.
Como diz hoje, em O Globo, a microbióloga Natália Pasternak, “ou fechamos agora para lockdown ou o único setor da economia priorizado será o funerário”.
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