Washington Cinel, dono da Gocid – terceirizadora de serviços que atua fundamentalmente na área pública – está me processando.
Seu advogado é o Secretário da Justiça do governo João Dória Jr. Nos últimos tempos, juízes ativistas tem me imposto condenações absurdas.
Ontem, Cinel voltou ao noticiário, com o jantar que ofereceu a Jair Bolsonaro.
Ele é personagem público, empresário influente, com amplas ligações políticas e toma atitudes com implicações políticas, como o jantar em homenagem a Bolsonaro.
A opinião pública tem o direito de ser informada sobre ele e suas motivações. Mas como faço?
Mantenho o compromisso de levar a informação ao leitor, ou esconderei as informações para me preservar juridicamente?
Entenderam os efeitos do chamado lawfare em cima da imprensa?
O juiz que bloqueia minhas contas por ações irrelevantes, o desembargador que recorre a interpretações de texto extravagantes para me condenar, no fundo estão trabalhando para que você, leitor, não receba informações que eu posso levantar.
É relevante saber que Washington Cinel fez parte de um grupo de empresários ligados a Bolsonaro, o Movimento Brasil 200, que tinha como duas grandes linhas o combate à Receita e o pedido de impeachment do Ministro Gilmar Mendes?
Presumo que sim. Como é relevante saber que Cinel mora em uma mansão avaliada em R$ 100 milhões, adquirida em circunstâncias estranhas.
Pertencia a Ricardo Mansur, dono da falida Mappin. A mansão foi desviada da massa falida e transferida para uma empresa offshore do Uruguai.
Não se sabe o nome do proprietário da offshore, mas quem passou a morar na mansão foi Washington Cinel pagando um aluguel de R$ 15 mil mensais.
A informação pode ser relevante quando se sabe que pouco depois, mesmo morando em uma das mansões mais caras do país, a Gocil, de Cinel, foi excluída do REFIS (Programa de Recuperação Fiscal) em 2007 por inadimplência por três meses consecutivos.
Aí, a gente volta um pouco no texto para constatar que um dos alvos de Cinel, no Movimento Brasil 200, era justamente a Receita.
São informações relevantes para analisar as atitudes públicas de um empresário poderoso?
Penso que sim. E todas as informações estão fundadas em links para reportagens e documentos.
Poderia avançar mais, se não fosse o risco de outra ação de Cinel.
Poderia lembrar que, em 2016, o Sindicato do setor conseguiu o arresto de pagamentos da Prefeitura, para garantir o pagamento de verbas rescisórias.
Foram R$ 7 milhões de pagamentos da Prefeitura, mais R$ 14 milhões de complementação para pagamento dos atraso.
Poderia, também, mostrar documentos da Procuradoria da Fazenda nacional, sobre empresas devedoras da União que financiaram campanhas eleitorais.
Ali apareceria a Gocil financiando deputados de vários partidos e a informação de que ela deve R$ 12 milhões à União.
Poderia lembrar, também, a aproximação de Cinel com João Dória Jr., o uso da franquia LIDE (a empresa de eventos de Doria) para atuar no Paraguai, a aproximação com dirigentes paraguaios e a compra de grandes extensões de terra por lá, inclusive sendo denunciado por atentados ao meio ambiente.
Ou lembrar que ele bancou um grande evento em homenagem ao ex-juiz Sérgio Moro, inclusive puxando salvas de palmas – tal qual fez no jantar em homenagem a Bolsonaro.
Graças ao relacionamento com Doria, na gestão Alckmin a Gocil conseguiu os melhores contratos de terceirização do estado, tornando-se o grande fornecedor de mão de obra para companhias estaduais, especialmente o Metrô.
Cinel substituiu Antônio Dias Felipe, compadre de Mário Covas e que, no seu governo, dominava a terceirização do Estado através de sua empresa, a Tejofran, que chegou a ter 40 mil funcionários trabalhando para o estado.
Quem opera os contratos da Gocil no Estado é seu executivo Helder Peçanha, a partir do QG da Gocil na Vila Olímpia, um prédio enorme, novo, todo negro de 11 andares, com a segurança maior que o Forte Apache, o Comando do Exercito em Brasília.
Cinel reservou para si uma sala imensa no ultimo andar onde oferece lautos almoços servidos por garçons de luxo. Os comensais são geralmente autoridades-clientes.
São informações relevantes para dar transparência às ações do Estado.
Grandes empresários são figuras públicas, tanto quanto políticos, autoridades. Suas decisões impactam a política, o emprego.
Cumpro com minhas responsabilidades jornalísticas sabendo que, na próxima esquina, poderá aparecer outro juiz ordenando o bloqueio das minhas contas.
Daí a relevância da ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) proposta ontem ao Supremo Tribunal Federal pela Associação Brasileira de Imprensa.
É a garantia de que os abusos de juízes não comprometerão seu direito de ser informado sobre atos de personagens públicos.
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