O Brasil é um país cheio de contradições. Mas uma delas mostra bem o estágio em que nos encontramos: a produção do campo brasileiro é imensa, mas boa parte da população vive sem acesso suficiente aos alimentos, a chamada insegurança alimentar, que abrange desde a má qualidade da alimentação, passando pela instabilidade no acesso aos alimentos e o estágio pior, a fome.
Nos últimos anos, essa palavra, fome, voltou a fazer parte dia a dia dos brasileiros. Além dos números, nos chocam as cenas nas ruas, nos centros das grandes cidades, nas periferias, com pessoas à procura de restos, sobras, carcaças, farelos, lixo; nas filas dos açougues para comprar osso a quilo quando até algum tempo, era descartado ou doado.
Um estudo da Universidade Livre de Berlim, publicado em abril do ano passado, mostra que o percentual de insegurança alimentar no Brasil é de 59,4%; e no campo, é ainda mais séria. Nas áreas rurais, 38% dos domicílios estavam em situação de insegurança alimentar leve (marcada pela incerteza no acesso aos alimentos e qualidade inadequada da alimentação) ao fim de 2020; 19,9% passavam por insegurança moderada (quando há redução na quantidade de alimentos disponíveis para os adultos) e 27,3% enfrentavam insegurança alimentar grave.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), formada por pesquisadores, estudantes e profissionais de diversas áreas, divulgou em dezembro de 2020, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (VIGISAN) no Brasil. Os números impressionam: mais de 116 milhões de pessoas conviviam com algum grau de insegurança alimentar, dos quais 43,3 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões passavam fome.
O Brasil, que havia saído do mapa da fome em 2014, teve um grande retrocesso nos últimos anos, resultado das crises econômicas, do desemprego e do desmonte das políticas públicas.
Mas a contradição que salta aos olhos e nos faz refletir: o Brasil é um país com grande capacidade agrícola, que poderia ser autossuficiente na produção de alimentos. No entanto, as políticas governamentais só favorecem os latifundiários, os ricos, os grandes fazendeiros, os que detém a terra e os meios de produção que acabam plantando só o que dá mais dinheiro, mais lucro, como é o caso da soja, muito valorizada no mercado internacional e comprada com dólar. A política cambial desse governo favorece a exportação de soja e desvaloriza a produção de alimentos para o sustento dos brasileiros.
Mudar essa realidade é uma tarefa urgente. E para isso, precisamos tirar esse (des) governo do Planalto. Um governo comprometido com os brasileiros e com o desenvolvimento do país, priorizando o bem-estar dos brasileiros, com emprego e políticas públicas que garantam comida na mesa; precisa melhorar o câmbio, equilibrando a necessidade de exportações com as necessidades do mercado interno, possibilitando que a produção agrícola seja diversificada, de modo a incrementar a balança comercial brasileira e também garantir que os produtores de alimentos de subsistência, a agricultura familiar e orgânica possa se desenvolver.
E no que concerne à agricultura brasileira, é urgente rever a política dos pesticidas, que está levando veneno para a mesa daqueles brasileiros que ainda conseguem comprar comida.
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