Charge: J.Bosco |
O Estadão, que, embora liberal, costumava ser um uma referência de jornalismo sério no Brasil, nos últimos anos, talvez para emplacar nos algoritmos da polêmica, tem se rendido ao sensacionalismo e à desinformação. Em seu antissindicalismo fanático, viés que está caindo no ridículo de tão caricato e previsível, o jornal divulga em seu editorial “Entre o ruim e o pior”, de 14/02, completas inverdades.
Não é verdade que as articulações de esquerda para as eleições de 2022 estão defendendo a revogação total da reforma trabalhista. As graves distorções da reforma deverão ser debatidas no processo eleitoral sim, mas a revogação total não é uma pauta definida como o jornal coloca.
Outra desinformação divulgada no editorial é sobre a volta da contribuição sindical. Ainda que ela seja constitucional e que por quase 80 anos tenha assegurado a justa e necessária organização para que os trabalhadores pudessem ter força para negociar e conquistar direitos, a sua volta também não está em questão.
Para que a nossa democracia seja plena e forte, é fundamental que os trabalhadores tenham respaldo dos sindicatos. Isso a história já provou. E para que os sindicatos existam e possam exercer suas funções, a forma de financiamento, asfixiada na reforma de forma a beneficiar apenas o patrão, que se discute é aquela decidida em assembleia no momento da convenção coletiva. Se o Sindicato negocia por todos, todos devem contribuir com a entidade.
Também é falso que “não há uma relação causal direta entre reforma e emprego”. Em seu lançamento, os defensores da reforma difundiram amplamente que ela deveria gerar mais empregos por criar no Brasil um “ambiente competitivo”. Essa é umas das grandes falácias da reforma que o jornal, lançando mão de um contorcionismo argumentativo, tenta disfarçar. Está claro para todos que o desemprego desde 2017 cresceu progressivamente.
O Estadão não se constrange em dizer que “a reforma aprovada no Brasil não extinguiu um único direito”. Para citar apenas alguns dos prejuízos que os trabalhadores sofreram com a reforma, destaca-se: extensão das jornadas e criação do contrato com jornada de 0 hora sem salário (o intermitente); liberação do trabalho de mulheres grávidas em ambientes considerados insalubres; desobrigação do pagamento do piso ou salário mínimo na remuneração por produção, homologação sem a assistência sindical, sendo que a maior parte das ações na justiça são justamente questionando as verbas trabalhistas; eliminação da gratuidade da Justiça do Trabalho; determinação de que acordos coletivos podem prevalecer sobre a legislação entre outras medidas nefastas.
O jornal chama de retrocesso resgatar uma política de valorização da classe trabalhadora que oferece a ela condições para ascensão social, mas esconde que seu propósito se baseia na volta de relações impregnadas da mentalidade escravista de mais de um século atrás.
É espantoso que o Estadão esteja alimentando desinformação e notícias falsas em um país já tão combalido por essas chagas.
* João Carlos Gonçalves, Juruna, é secretário-geral da Força Sindical.
* Nivaldo Santana é secretário internacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
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