quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Morte da empatia? Assembleias de som e fúria

Por Manuela D´Ávila, no site da Fundação Maurício Grabois:

Passadas as eleições – momento de paixões e de natural simplificação dos argumentos –, penso que as pessoas comprometidas com a democracia, com as liberdades e com o futuro do país precisam entrar em uma etapa de reflexão. Não se trata de abandonar a ação, cada vez mais necessária, mas de perceber que a eleição de Jair Bolsonaro tem um significado profundo, representa uma ruptura importante e pede uma análise equilibrada, madura e, especialmente, aberta. Minha impressão é de que, em nosso velho e respeitável arsenal de conceitos e interpretações, não vamos encontrar material suficiente para uma decifração rápida do fenômeno em curso.

Brasil é uma nau sem comando e sem rumo

Por José Luís Fiori, no site Carta Maior:

"Os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador; b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pelo de camelo, l) et cetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas". M. Foucault, “Uma certa enciclopédia chinesa”, in As Palavras e as Coisas, Martins Fontes, São Paulo. 2002. p: IX

Bastou um mês para que as pessoas mais avisadas percebessem que Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos não têm preparo nem estatura para governar um país com 220 milhões de habitantes, que está dividido e destruído moralmente, literalmente caindo aos pedaços. Nesse mesmo tempo, ficaram visíveis também as divisões e as lutas internas dentro dessa coalisão que se formou às pressas para barrar o caminho eleitoral de Luiz Inácio da Silva, e muitos analistas já preveem, para breve, inclusive a “defenestração” de alguns membros do governo ou do próprio presidente. De qualquer maneira, aconteça o que acontecer, no curto prazo, existe uma questão mais importante que se mantém de pé e sem resposta no longo prazo: qual é afinal o projeto de país deste governo?

Lava-Jato ataca Lula temendo Nobel da Paz

Por Gladson Targa #DesignAtivista/Mídia Ninja
Do site da Fundação Perseu Abramo:

Mais uma vez, a Lava Jato condenou Lula sem culpa, sem provas e sem mesmo descrever um crime que ele tivesse cometido. A primeira condenação injusta e ilegal, no caso do tríplex, serviu para impedir que Lula voltasse a ser eleito presidente da República pela vontade do povo. A nova condenação, também injusta e ilegal no caso de Atibaia, vem no momento em que Lula é indicado ao Prêmio Nobel da Paz por mais de meio milhão de apoiadores. Mais uma vez, o Judiciário age contra Lula por razões políticas, agora tentando influir sobre a opinião pública internacional.

Guedes vai levar indústria ao túmulo

A sentença grotesca da juíza Hardt

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

O casamento entre a parcialidade e a incompetência com o claro intuito de ver Lula morrer na cadeia.

O resultado disso está na sentença em que ele foi condenado a 12 anos e 11 meses. No total, praticamente um quarto de século.

Reproduzo o Brasil de Fato:

A juíza Gabriela Hardt, substituta de Sérgio Moro na condução dos processos Lava Jato na Justiça Federal em Curitiba, menciona Léo Pinheiro e José Aldemário como pessoas distintas em parte de sua decisão.

Lula só sai da cadeia resgatado pelas ruas

Por Renato Rovai, em seu blog:

A forma como foi novamente condenado em tempo recorde por ser considerado dono de um imóvel em Atibaia que não está em seu nome, mostra que Lula não tem chance alguma de se defender do “lawfare” a que está submetido.

Seus processos são tratados de maneira nunca vista nos ritos jurídicos brasileiros. Avançam com uma rapidez imensa. Enquanto Paulo Preto, Serra, Aloysio Nunes, Aécio, Temer, Flávio Bolsonaro e outros com provas robustas se divertem livres leves e soltos por aí.

General Mourão progressista é ilusão de ótica

Por João Filho, no site The Intercept-Brasil:

Há quatro anos, quando chefiava o Comando Militar do Sul, o general Hamilton Mourão fez uma palestra para oficiais da reserva convocando os presentes para o “despertar de uma luta patriótica”. Um dos slides exibidos continha a frase “mudar é preciso”. O impeachment de Dilma estava na pauta, e o general aproveitou para atacar toda a classe política. Na ocasião, Mourão alertou a tropa: “ainda temos muitos inimigos internos, mas eles se enganam achando que os militares estão desprevenidos”. E ainda lançou um desafio: “Eles que venham!” Poucos dias depois, Mourão organizou um evento em homenagem ao coronel Ustra, o principal torturador da ditadura militar.

Alcolumbre é veterano da ‘velha política’

Por Thais Reis Oliveira, na revista CartaCapital:

Pouca gente conhece Davi Alcolumbre (DEM-AP), o senador que apeou o MDB da presidência do Senado. Aos 41 anos, ele é o mais jovem político a assumir a chefia da Casa. E este é seu primeiro mandato na casa.

Apesar da pouca idade, Davi Alcolumbre está há bastante tempo na política: foi vereador em Macapá, e é deputado federal desde 2003. Estudou ciências econômicas no Centro de Ensino Superior do Amapá, mas não chegou a concluir o curso.

Antes da inesperada vitória, Alcolumbre era mesmo um parlamentar inexpressivo, oriundo do chamado ‘baixo clero’ parlamentar. Ascendeu politicamente sob o apoio de José Sarney, com quem rompeu em 2014 ao derrotar o candidato do emedebista ao Senado.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Xadrez do eixo Bolsonaro-Lava Jato

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

A derrota de Renan Calheiros nas eleições para a presidência do Senado é mais um passo na
escalada da violência e na desestabilização do que resta de democracia no país.

Peça 1 – os paradigmas da transparência e da fisiologia

A eleição do inacreditável Davi Alcolumbre (DEM-AP) para presidente do Senado expôs duas
hipocrisias que, por força das redes sociais, se tornaram verdades.

O paradigma da transparência

Porque o voto secreto foi considerado um avanço nas modernas democracia?

A política monetária do 1%

Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:

Durante todos os períodos matutinos e vespertinos, entre a quarta e a quinta-feira, haverá tempo mais do que suficiente para que os onze membros do comitê troquem opiniões e análises a respeito do propósito do encontro. No entanto, a decisão mais aguardada refere-se à definição do patamar da Selic para a vigência ao longo dos próximos 45 dias. Afinal, essa é uma das atribuições primordiais do Copom: estabelecer os parâmetros para a política monetária. Dentre os vários instrumentos possíveis para dar cabo dessa tarefa, historicamente sempre se utilizou por aqui o estabelecimento da referência para a taxa oficial de juros.

Mundo jurídico critica pacote de Moro


"Inócuo", "panfletário", "flagrantemente inconstitucional", "tecnicamente frágil", "insuficiente", foram alguns dos adjetivos e expressões utilizados por entidades ligadas ao mundo jurídico e à área de segurança pública para classificar o projeto de lei anticrime, anunciado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, nesta segunda-feira (4).

Órgãos como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) alegam que as várias mudanças na legislação propostas por Moro causam estranhamento porque foram feitas sem consulta pública ou participação de especialistas, limitam o direito de defesa e podem agravar a crise de segurança pública, devendo contribuir para o aumento das já elevadas taxas de encarceramento no Brasil.

A nova guerra fria e a Venezuela

Por Boaventura de Sousa Santos

O que se está a passar na Venezuela é uma tragédia anunciada, e vai provavelmente causar a morte de muita gente inocente.

A Venezuela está à beira de uma intervenção militar estrangeira e o banho de sangue que dela resultará pode assumir proporções dramáticas. Quem o diz é o mais conhecido líder da oposição a Nicolas Maduro, Henrique Capriles, ao afirmar que o presidente-fantoche Juan Guaidó está a fazer dos venezuelanos "carne para canhão".

Ele sabe do que está a falar.

Qual é o problema da indústria brasileira?

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira, em seu site:

Depois de uma brutal recessão (2014-2016) a economia brasileira voltou a crescer, mas muito lentamente. Os resultados da indústria de transformação são especialmente negativos. O crescimento em 2018 foi de apenas 1,3%, o deficit comercial da indústria voltou a aumentar, e o processo de desindustrialização continua a ser mais acentuado nos setores de alta e de média-alta tecnologia.

A explicação geral que eu tenho dado para a desindustrialização brasileira a partir de 1990 é a da armadilha de juros altos e câmbio apreciado no longo prazo.

Pacote de Moro aumenta letalidade policial

Por Rafael Tatemoto, no jornal Brasil de Fato:

O ex-juiz e atual ministro de Justiça, Sérgio Moro, apresentou nesta segunda-feira (4), em Brasília, o chamado Pacote Anticrime. Caso aprovado, o anteprojeto legislativo formulado por ele pode aumentar as taxas de letalidade das polícias brasileiras. Essa é a avaliação de estudiosos do tema ouvidos pelo Brasil de Fato.

Em 2017, as polícias brasileiras foram responsáveis por 5.144 mortes, uma média de 14 por dia, segundo os dados mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número corresponde a um aumento de 20% com relação a 2016. No mesmo período, foram 367 policiais mortos, 5% a menos do que no ano anterior.

Joice, Frota e a estupidez sem limite

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Estamos chegando ao paroxismo da estupidez humana com os cacarecos salientes e exóticos eleitos na onda do bolsonarismo.

Tem uma penca sortida, mas dois se destacam: a ex-jornalista Joice Hassellmann e o ex-ator pornô Alexandre Frota, do PSL de São Paulo (de onde mais poderiam ser?).

No mesmo dia, em sua disputa incessante pelos holofotes, os dois protagonizaram os mais sórdidos episódios da “nova política” em marcha.

Não é fácil conquistar espaço para suas crazy news (as fake news amalucadas) que andam produzindo.

Lições de Brumadinho para o setor elétrico

Por Roberto Pereira D’Araujo, no site Correio da Cidadania:

Além da tris­teza ao ver tantas vidas sendo eli­mi­nadas por ab­so­luta falta de res­pon­sa­bi­li­dade e planeja­mento, o crime de Bru­ma­dinho des­vendou uma la­men­tável re­a­li­dade bra­si­leira. O que se notou na tra­gédia hu­mana, am­bi­ental e econô­mica foi a per­cepção de que as em­presas pri­vadas explo­ra­doras de ri­quezas na­tu­rais no país se apro­veitam da in­ca­pa­ci­dade dos ór­gãos re­gu­la­dores e fisca­li­za­dores de re­a­lizar a con­tento sua função. 

Caso Flávio-Fabrício: ninguém explica nada

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Amanhã, completam-se dois meses que vieram à tona as movimentações financeiras milionárias na conta de Fabrício Queiroz, amigo de família, assessor, motorista e recrutador de funcionários de Flávio Bolsonaro.

Sacados deste tempo os 15 dias em que Luís Fux protegeu o “garoto” de investigações, ficam 45 dias de absolutamente nada em matéria de investigações e de interrogatório dos envolvidos na movimentação de R$ 7 milhões. Flávio foi convidado a falar pelo MP e ignorou. Fabrício, idem, quatro vezes, com direito a dancinha nas redes sociais.

Pacote de Moro não proporciona segurança

Editorial do site Vermelho:

O pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, cumpre o que foi prometido pelo presidente Jair Bolsonaro na campanha e traduz a lógica da violência como instrumento principal de combate à violência. O conteúdo do tal pacote está longe de dar respostas efetivas à sociedade, sobretudo à classe trabalhadora e a parte mais pobre da população, que exige o direito à paz, à segurança, num país que na última década perdeu 553 mil vidas por mortes violentas, ou seja, 153 pessoas por dia.

Moro, Bolsonaro e o estado híbrido

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Oitenta e dois anos depois que uma Constituição elaborada por Francisco Campos, ministro da Justiça de Getúlio Vargas, transformou a carta de direitos de 1934 na ditadura do Estado Novo, o ministro da Justiça Sérgio Moro ensaia a construção de um Estado Policial no país.

A Constituição de 1937 teve como pretexto o Plano Cohen, um documento falso produzido pelo serviço secreto do Exército, destinado a justificar um projeto feroz de caça aos comunistas e militantes de esquerda.

O resultado foram oito anos de ditadura, um sistema fechado, censura prévia e perseguição sistemática de adversários, do qual o país só se libertou na nova conjuntura internacional produzida pela derrota no nazismo na Segunda Guerra Mundial.

PSDB, 30 anos: festa ou funeral?

Por Leandro Gavião, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Fundado em junho de 1988, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) completou 30 anos em 2018. Contudo, o clima de comemoração passou longe das fileiras do partido. Ao contrário, paira no ar uma atmosfera de inquietação e de preocupação com o futuro. A razão para tanto encontra-se no desempenho eleitoral, sem dúvida o pior de sua história.

Quando se analisam as disputas de âmbito nacional, estadual e municipal, percebe-se que a trajetória do PSDB sempre foi bastante exitosa. A reeleição de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno, em 1998, marca o ponto alto da legenda, com sua afirmação como segunda força na Câmara dos Deputados – com 99 cadeiras, contra 105 do PFL e 83 do PMDB.