Reproduzo artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo, publicado na revista CartaCapital:
Os Estados Unidos invadiram o Iraque a pretexto de extinguir um arsenal de “armas de destruição em massa”. Nada assemelhado foi encontrado nos alegados esconderijos de Saddam Hussein. Agora, Tio Sam ameaça torpedear o acordo com o Irã patrocinado por Brasil e Turquia. Seja qual for o alcance do combinado, o Poder Americano insistirá na imposição de sanções.
Nada de novo sob o sol. Os ideólogos conservadores que inspiravam o governo republicano eram claros quanto aos propósitos da intervenção no Iraque. Eles falavam do que interessa: superioridade militar e controle de áreas sensíveis para a preservação do poder que se pretende absoluto.
Há tempos, o jornalista americano William Pfaff, do International Herald Tribune, afirmou que “o dinheiro desregrado não apenas dirige o resultado das eleições americanas, mas influencia as decisões do Congresso e as atitudes da Casa Branca, em matérias tão improváveis como a luta contra o tráfico de drogas na América Latina”. Pfaff, um ícone do jornalismo mundial e crítico duro das ações de seu país, antecipou com grande precisão como seria o desempenho dos republicanos no governo. Resta saber o que pensa o insigne jornalista dos democratas sob a presidência de Obama.
As transgressões aos direitos dos povos continuam a ser executadas com persistência, mas hoje edulcoradas com a preocupação de invocar – apenas invocar – a chamada comunidade internacional para justificar as tropelias. Agora, sob o acicate da crise, a razão imperial precisa, mais do que nunca, manter o demônio (qualquer demônio) vivo para impor as razões de sua divindade.
Para tanto, os processos de informação e de formação da consciência política e coletiva, ou seja, os espaços da autonomia individual estão permanentemente subjugados à lógica econômica e política de uma ordem imperial que deslocou a hegemonia do imediato pós-guerra para adotar o exercício puro e duro de seu poder. Na ordem americana, o nomos da terra significa a exigência de respeito à vontade imperial, à sua moral particularista, idiossincrática e assimétrica. O direito, dizia Hegel, enquanto existência da liberdade é uma determinação essencial na refrega contra a “boa intenção” moral. “Os protestos contra este desenvolvimento são… reminiscências do ‘estado bruto de natureza’ que revelam um apego doentio à própria particularidade, narcisisticamente desfrutada como moral”.
O narcisismo moral americano não precisa de adjetivos em sua espantosa objetividade. Está sempre preparado para qualificar os recalcitrantes e dessemelhantes como rogue States, o que significa deformar em proveito próprio o papel das instâncias integradoras no âmbito internacional. O avanço do narcisismo intervencionista americano é constitutivo de sua natureza e demonstra porque, a despeito de Woody Allen, os americanos tomam o seu país como a “utopia realizada”.
A supremacia apoiada na superioridade das armas e no despotismo da economia desregulada dispensa mediações da ordem jurídica e não quer ou não precisa compreender nada. O mundo em que tentamos sobreviver é uma prova diária da degeneração da razão ocidental, transformada e objetivada na execução desabrida dos métodos de domínio.
Os Estados Unidos, diz um dos gurus da nova direita, estão tornando o país mais parecido com ele mesmo. Uma reconciliação do fenômeno com o conceito, provavelmente a apoteose do fim da história. No fundo da alma, a nova direita tem certeza de que os processos e as instituições de negociação democrática, fora dos Estados Unidos, como a ONU, por exemplo, são geringonças inúteis. São estorvos para a consecução das políticas “corretas” isto é, aquelas que se submetem aos seus interesses e de suas empresas. Por isso é preciso coartar e controlar as instâncias de discussão pública da informação. A liberdade de opinião não é boa coisa, sobretudo quando começam a naufragar os programas econômicos e sociais recomendados pelos Senhores do Mundo como roteiros infalíveis para o sucesso.
Na família dos vulgarizadores da opinião subalterna não faltará quem pretenda acusar de antiamericanismo” os que hoje dão nome e apelido aos episódios de reafirmação do poder imperial americano. Tratar assim uma questão tão grave e decisiva para o futuro da vida decente neste planeta é uma forma tosca de “misturar estação” com o propósito de interditar o exame crítico de qualquer processo político. Isso desfigura o debate racional sobre os conflitos contemporâneos, transfigurado numa guerra de preconceitos travada nos esgotos da alma humana.
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quarta-feira, 2 de junho de 2010
Por que José Serra ataca a Bolívia?
Reproduzo artigo do jornalista Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
As declarações do pré-candidato tucano, acusando o governo Evo Morales por suposta conivência com o narcotráfico, provocaram celeuma na última semana de maio. Apesar das reações, o ex-governador paulista reiterou sua opinião em diversas oportunidades. Fez questão, enfim, de desmentir quem havia considerado sua afirmação momento de destempero.
O mais provável é que suas palavras correspondam a um cálculo frio, focado na disputa eleitoral. Diversos estudos indicam que a questão das drogas se apresenta como drama urbano de ampla repercussão. José Serra resolveu abordar o problema através de estímulo ao sentimento xenófobo. O objetivo aparente: associar a política internacional do governo Lula ao aumento da criminalidade.
As dificuldades reveladas por pesquisas recentes, afinal, podem empurrar o PSDB e seus aliados para atitudes belicosas. Estão diante do desafio de dinamitar o governo Lula para evitar que seja ponte desimpedida à transferência de votos entre o presidente e sua candidata. Os principais feitos da administração petista precisariam, nesse caso, ser desconstruídos e embaralhados.
São alvos dessa ofensiva a estratégia de integração latino-americana e o papel mundial que o Brasil passou a jogar. A envergadura das ações diplomáticas, cujo ponto mais alto foi o acordo com o Irã, repercute na auto-estima dos eleitores e reforça a percepção positiva sobre o governo. Serra necessita correr atrás do prejuízo. Os ataques contra a Bolívia são armas que escolheu para essa batalha.
Talvez não tenha sido uma boa tentativa. Não há qualquer fato concreto que dê guarida às acusações. Os relatórios da Polícia Federal sequer confirmam a fronteira boliviana como origem principal do tráfico. Nem mesmo o poderoso DEA, agência norte-americana de combate às drogas, apesar de eventuais escaramuças da Casa Branca com o governo boliviano, corrobora afirmações como as de Serra. Mas o candidato do PSDB não recua.
Sua insistência parece expressar abandono ou abrandamento do chamado discurso pós-lulista. A pasteurização do programa tucano, afinal, não está se demonstrando eficaz como fórmula para diluir o enfrentamento entre projetos e demarcar a sucessão como choque de biografias. O esforço para despolitizar a campanha não tem permitido a Serra conquistar votos indecisos ou de admiradores do governo Lula. Ao contrário: seu próprio campo vai perdendo musculatura.
A inflexão do candidato eventualmente busca resolver esse problema. Aturdido pelo relativo esvaziamento de sua base eleitoral, o tucano trata de radicalizar seus pontos de vista, de sorte a preservar e ampliar o apoio do eleitorado mais conservador. A política internacional foi o terreno escolhido para a nova tática. Serra está sendo levado para um cenário que jamais desejou: o da polarização programática.
Não seria razoável que essa mudança de atitude fosse testada, por exemplo, no debate sobre privatizações ou políticas sociais, no qual o erro poderia se transformar em desastre. O tema definido, além de pautado pela evidência dos fatos internacionais, hipoteticamente é menos sensível à maioria do eleitorado. Por isso Serra se arriscou com a cara e a coragem.
A política internacional do governo Lula possivelmente seja a principal ruptura de fundo com a administração anterior. A geopolítica do período tucano tinha como coluna vertebral o aprofundamento da associação com os países capitalistas centrais. O Brasil deveria buscar seu espaço, nessa doutrina, como sócio menor das potências ocidentais, particularmente dos Estados Unidos.
O norte da política econômica alinhada pelo PSDB era a atração dos fluxos financeiros mundiais, pela qual avidamente trabalharam através de privatizações, desregulamentação do comércio exterior, elevação da taxa de juros e redução da intervenção estatal. A diplomacia tinha função estratégica nessa dinâmica, como vanguarda na aproximação dos círculos decisórios do capital.
Recordemo-nos que o governo Fernando Henrique Cardoso, sob aplausos do então ministro José Serra, foi defensor entusiasta da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Aceitou participar de negociações secretas, ao redor de um projeto que praticamente eliminaria as salvaguardas das economias nacionais latino-americanas, além de tornar supérfluos blocos regionais como o Mercosul.
A eleição do presidente Lula significou o enterro dessa concepção. A política internacional do novo governo passou a ter como agenda a integração da América Latina, a formação de alianças contrapostas ao unilateralismo e a diversificação dos mercados brasileiros. Passou paulatinamente a deslocar o centro de gravidade das relações diplomáticas e de comércio exterior para fora da órbita de hegemonia dos Estados Unidos.
O núcleo duro dessa política se situa no hemisfério sul do continente. Nessa região concentra-se a estratégia para formar um bloco integrado, com instrumentos independentes de desenvolvimento econômico, soberania política e defesa. Ao menos é essa a aposta do governo brasileiro: um mercado comum com 400 milhões de habitantes, produto interno de USD 4 trilhões, poderosas reservas energéticas e importante nível de industrialização.
Contra essa política se insurge o ex-governador José Serra, ao golpear o Mercosul e, agora, a Bolívia. Parece desejar um retorno à velha doutrina segundo a qual é melhor ser rabo de elefante que cabeça de formiga. Não esconde sua apatia e indisposição contra qualquer projeto nacional que seja concebido como autônomo em relação aos países imperialistas.
Aproveita para flertar com o peculiar nacionalismo das elites, que costuma mesclar o preconceito contra os povos mais pobres e o encantamento pelas nações mais ricas. De alguma maneira vê nesse recurso combustível para inflamar parte do eleitorado contra o governo Lula e sua candidata. Não é propriamente novidade na cultura política de direita.
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As declarações do pré-candidato tucano, acusando o governo Evo Morales por suposta conivência com o narcotráfico, provocaram celeuma na última semana de maio. Apesar das reações, o ex-governador paulista reiterou sua opinião em diversas oportunidades. Fez questão, enfim, de desmentir quem havia considerado sua afirmação momento de destempero.
O mais provável é que suas palavras correspondam a um cálculo frio, focado na disputa eleitoral. Diversos estudos indicam que a questão das drogas se apresenta como drama urbano de ampla repercussão. José Serra resolveu abordar o problema através de estímulo ao sentimento xenófobo. O objetivo aparente: associar a política internacional do governo Lula ao aumento da criminalidade.
As dificuldades reveladas por pesquisas recentes, afinal, podem empurrar o PSDB e seus aliados para atitudes belicosas. Estão diante do desafio de dinamitar o governo Lula para evitar que seja ponte desimpedida à transferência de votos entre o presidente e sua candidata. Os principais feitos da administração petista precisariam, nesse caso, ser desconstruídos e embaralhados.
São alvos dessa ofensiva a estratégia de integração latino-americana e o papel mundial que o Brasil passou a jogar. A envergadura das ações diplomáticas, cujo ponto mais alto foi o acordo com o Irã, repercute na auto-estima dos eleitores e reforça a percepção positiva sobre o governo. Serra necessita correr atrás do prejuízo. Os ataques contra a Bolívia são armas que escolheu para essa batalha.
Talvez não tenha sido uma boa tentativa. Não há qualquer fato concreto que dê guarida às acusações. Os relatórios da Polícia Federal sequer confirmam a fronteira boliviana como origem principal do tráfico. Nem mesmo o poderoso DEA, agência norte-americana de combate às drogas, apesar de eventuais escaramuças da Casa Branca com o governo boliviano, corrobora afirmações como as de Serra. Mas o candidato do PSDB não recua.
Sua insistência parece expressar abandono ou abrandamento do chamado discurso pós-lulista. A pasteurização do programa tucano, afinal, não está se demonstrando eficaz como fórmula para diluir o enfrentamento entre projetos e demarcar a sucessão como choque de biografias. O esforço para despolitizar a campanha não tem permitido a Serra conquistar votos indecisos ou de admiradores do governo Lula. Ao contrário: seu próprio campo vai perdendo musculatura.
A inflexão do candidato eventualmente busca resolver esse problema. Aturdido pelo relativo esvaziamento de sua base eleitoral, o tucano trata de radicalizar seus pontos de vista, de sorte a preservar e ampliar o apoio do eleitorado mais conservador. A política internacional foi o terreno escolhido para a nova tática. Serra está sendo levado para um cenário que jamais desejou: o da polarização programática.
Não seria razoável que essa mudança de atitude fosse testada, por exemplo, no debate sobre privatizações ou políticas sociais, no qual o erro poderia se transformar em desastre. O tema definido, além de pautado pela evidência dos fatos internacionais, hipoteticamente é menos sensível à maioria do eleitorado. Por isso Serra se arriscou com a cara e a coragem.
A política internacional do governo Lula possivelmente seja a principal ruptura de fundo com a administração anterior. A geopolítica do período tucano tinha como coluna vertebral o aprofundamento da associação com os países capitalistas centrais. O Brasil deveria buscar seu espaço, nessa doutrina, como sócio menor das potências ocidentais, particularmente dos Estados Unidos.
O norte da política econômica alinhada pelo PSDB era a atração dos fluxos financeiros mundiais, pela qual avidamente trabalharam através de privatizações, desregulamentação do comércio exterior, elevação da taxa de juros e redução da intervenção estatal. A diplomacia tinha função estratégica nessa dinâmica, como vanguarda na aproximação dos círculos decisórios do capital.
Recordemo-nos que o governo Fernando Henrique Cardoso, sob aplausos do então ministro José Serra, foi defensor entusiasta da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Aceitou participar de negociações secretas, ao redor de um projeto que praticamente eliminaria as salvaguardas das economias nacionais latino-americanas, além de tornar supérfluos blocos regionais como o Mercosul.
A eleição do presidente Lula significou o enterro dessa concepção. A política internacional do novo governo passou a ter como agenda a integração da América Latina, a formação de alianças contrapostas ao unilateralismo e a diversificação dos mercados brasileiros. Passou paulatinamente a deslocar o centro de gravidade das relações diplomáticas e de comércio exterior para fora da órbita de hegemonia dos Estados Unidos.
O núcleo duro dessa política se situa no hemisfério sul do continente. Nessa região concentra-se a estratégia para formar um bloco integrado, com instrumentos independentes de desenvolvimento econômico, soberania política e defesa. Ao menos é essa a aposta do governo brasileiro: um mercado comum com 400 milhões de habitantes, produto interno de USD 4 trilhões, poderosas reservas energéticas e importante nível de industrialização.
Contra essa política se insurge o ex-governador José Serra, ao golpear o Mercosul e, agora, a Bolívia. Parece desejar um retorno à velha doutrina segundo a qual é melhor ser rabo de elefante que cabeça de formiga. Não esconde sua apatia e indisposição contra qualquer projeto nacional que seja concebido como autônomo em relação aos países imperialistas.
Aproveita para flertar com o peculiar nacionalismo das elites, que costuma mesclar o preconceito contra os povos mais pobres e o encantamento pelas nações mais ricas. De alguma maneira vê nesse recurso combustível para inflamar parte do eleitorado contra o governo Lula e sua candidata. Não é propriamente novidade na cultura política de direita.
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Leonardo Boff e a mídia colonizada
Reproduzo belíssimo artigo do teólogo Leonardo Boff, intitulado “A saudade do servo na velha diplomacia brasileira”:
O filósofo F. Hegel em sua “Fenomenologia do espírito” analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra “Pedagogia do oprimido”. Com humor comentou Frei Betto: “Em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.
O Globo fala em “suicídio diplomático” (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império”, pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.
Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado.
Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula
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O filósofo F. Hegel em sua “Fenomenologia do espírito” analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra “Pedagogia do oprimido”. Com humor comentou Frei Betto: “Em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.
O Globo fala em “suicídio diplomático” (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império”, pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.
Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado.
Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula
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terça-feira, 1 de junho de 2010
Mídias, poder e consciências
Reproduzo artigo do escritor e professor Luís Carlos Lopes, publicado no sítio Carta Maior:
Os que dizem que as grandes mídias transmitem conteúdos deploráveis em nada exageram. Se disserem que todos os conteúdos são desta natureza, sem dúvida, estarão exagerando. Estarão dizendo a verdade, se afirmarem que é difícil separar o joio do trigo, lembrando que as transmissões e emissões possíveis de serem acessadas contribuem para diminuir a capacidade de interpretação das audiências. Tenta-se fazer com que a realidade objetiva seja algo longínquo e inalcançável aos simples mortais.
O veneno retórico e o de natureza irracionalista mesclados, como faces da mesma moeda, aparecem tanto na ficção, como no que se autodenomina de objetivo e isento. Aliás, a ficção domina de tal forma o cenário que a distinção desta com a pretensão de objetividade passou a ser um exercício do formalismo habitual. Na verdade, as mídias se retroalimentam do real objetivo, tratando-o no assombroso universo da retórica – leia-se mentira pavoneada – e dos irracionalismos – leia-se, incapacidade de ver e interpretar a nós mesmos e ao que nos cerca – cultivados em séculos de história. Produzem uma ficção de si mesmas, fazendo com que tudo o que toquem se transforme em algo fantasmagórico, com exceção, logicamente, das contas bancárias das empresas.
Obviamente, nem todos os operadores das grandes mídias são tão brutais. Alguns tentam desesperadamente entregar ao público algo de melhor qualidade e com alguma seriedade. Trata-se de profissionais talentosos e capazes de fazer algo diverso do que são compelidos a executar. Outros se vendem sem qualquer problema aos seus patrões. São bajuladores e, quase sempre, eles não têm muito a oferecer, além da fidelidade canina. Todavia, é bom lembrar que as grandes mídias são privadas. Trata-se de empresas que têm história e interesses a zelar. Seus empregados dependem da aprovação se seus patrões, para se manter em seus lugares.
Qual a diferença entre uma telenovela e um telejornal? Grosso modo, ambos usam da emoção alienada para convencer e não têm qualquer compromisso com as verdades históricas e com o esclarecimento científico e histórico-cultural das audiências. No atual contexto, os dois apóiam-se nas tradições mais conservadoras, nos preconceitos avassaladores retirados de baús cheios de pó, vermes e outros bichos. Repetem os sensos comuns primários que facilmente envolvem seus públicos. Não têm maiores compromissos com a cultura popular e com o que há de melhor na erudita. Em alguns momentos, este pacto de mediocridade é rompido pelos operadores. Em seguida, a empresa retoma as rédeas e conduz de acordo com suas linhas mestras.
Os ingênuos e os que se fazem de ingênuos pouco podem refletir sobre o papel das mídias. Eles dizem que os telejornais, bem como os jornalões e revistas impressas são a informação líquida para ser consumida. O mesmo aconteceria com as notícias e comentários encontráveis nos sites mantidos pelas mesmas empresas. As telenovelas, os programas humorísticos, bem como o pior da indústria cinematográfica internacional e nacional seriam, apenas, diversão. O problema é que não é possível haver neutralidade real no ato de informar e nem no de produzir artefatos ficcionais de qualquer natureza. Em todos os casos, é possível descobrir a que deuses se estão servindo.
Informação e diversão seriam os objetos centrais dos vários meios de comunicação empresariais. Estes canais levariam ao grande público, presumidamente, o que eles desejariam assistir, ver e ler. Os consumidores são vistos como pessoas fundamentalmente passivas e fáceis de ser convencidas. Nisto, está um segredo bem guardado. De há muito, os consumidores da informação e da diversão são também consumidores de produtos alardeados pela publicidade. Suas passividades são tão fabricadas como os produtos de massa e idéias que os anunciantes pretendem vender. Simplesmente, é dado a eles o acesso a uma via de mão única, sem atalhos ou retornos. As possibilidades de resistência existem, mas, são bem pequenas.
O verdadeiro objetivo destes meios é vender produtos, usando técnicas de convencimento e de catarse total. Quando se vê TV, se acessa à Internet, se lê as mídias impressas ou se assiste a filmes comerciais de ficção, se está ao mesmo tempo, sendo bombardeado por mil e uma mensagens publicitárias. O que realmente interessa a estes meios é ter a certeza que o bombardeio atingiu seus objetivos, com isto, se garantem mais verbas e, sobretudo, infinitos lucros. A lógica da produção é a do comércio, ao qual ela é completamente subordinada.
A tão propalada interatividade da Internet esbarra no fato que ela é intermediada por empresas reais. Ao contrário do que se imaginava inicialmente, estas empresas moldam formatos, sugerem conteúdos e dificultam que exista uma comunicação realmente mais livre. Esta liberdade é buscada com abnegação por grupos e pessoas isoladas que tentam, por meio dos instrumentos disponíveis, construir opiniões contrahegemônicas. Isto funciona com fortes limites impostos pelos custos e pela pressão dos instrumentos controlados pelas empresas. Todavia, é na Internet onde se encontra ainda um espaço de reflexão e de liberdade, inexistente nas grandes mídias. Não são casuais, as tentativas surgidas em vários países de se controlar este espaço e de até emudecê-lo.
Como as mídias são um sistema integrado, comandado por empresas, na Internet, o poder das mesmas se destaca e se firma como opção para grandes parcelas dos usuários. Manter uma revista de opinião alternativa significa encontrar formas criativas de financiá-la e de conseguir que ela, na sua fragilidade que é a origem de sua força, permaneça no ar. Esta batalha é travada todos os dias por quixotes que não aceitam que o mundo seja exclusivamente o que as grandes mídias teimam em dizer e redesenhar. O que mantém a chama acesa é a crença que o sonho ainda possa vencer a obscuridade da vida instrumental do capital.
A midiatização incisiva dos recentes ataques do candidato-síntese das direitas à Bolívia de Evo Morales e as críticas iradas à tentativa brasileira de uma solução pacífica do conflito entre o Irã e os Estados Unidos são provas evidentes da manipulação e da sujeição aos interesses externos. Entretanto, o espaço dado aos que pensam de modo diverso foi proporcionalmente pequeno. Mesmo sendo uma concessão pública, as empresas de TV trabalham como se a liberdade de imprensa fosse a mesma coisa do que a liberdade de empresa.
Todos estes fatos passam batidos, em meio a nuvem formada pela onda publicitária que envolve as mídias. Olhando-se, em perspectiva, percebe-se que elas sabem bem camuflar suas verdadeiras essências. Depois de um ataque furibundo aos que lutam contra a conservação, nada melhor do que um comercial de um novo modelo de carro ou do quase-monopólio de uma empresa provedora da TV por assinatura, dentre outros serviços.
São poucos os programas de TV aberta e da por assinatura que não são pautados no tratamento da violência como um espetáculo, sem dar a audiência quaisquer possibilidades de interpretá-los de modo racional. Não é muito diferente o que ocorre nas mídias impressas, havendo adaptações aos públicos de cada segmento. Os mais pobres consomem mais ‘sangue’ e doses elevadas de ‘mondo cane’. As classes médias vêem as mesmas hemorragias e baixarias em emissões que usam de um linguajar mais controlado e adaptado. O mesmo ocorre com o sentido geral da vida, corrompido por emissões que mentem sobre as reais possibilidades do tecido social.
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Os que dizem que as grandes mídias transmitem conteúdos deploráveis em nada exageram. Se disserem que todos os conteúdos são desta natureza, sem dúvida, estarão exagerando. Estarão dizendo a verdade, se afirmarem que é difícil separar o joio do trigo, lembrando que as transmissões e emissões possíveis de serem acessadas contribuem para diminuir a capacidade de interpretação das audiências. Tenta-se fazer com que a realidade objetiva seja algo longínquo e inalcançável aos simples mortais.
O veneno retórico e o de natureza irracionalista mesclados, como faces da mesma moeda, aparecem tanto na ficção, como no que se autodenomina de objetivo e isento. Aliás, a ficção domina de tal forma o cenário que a distinção desta com a pretensão de objetividade passou a ser um exercício do formalismo habitual. Na verdade, as mídias se retroalimentam do real objetivo, tratando-o no assombroso universo da retórica – leia-se mentira pavoneada – e dos irracionalismos – leia-se, incapacidade de ver e interpretar a nós mesmos e ao que nos cerca – cultivados em séculos de história. Produzem uma ficção de si mesmas, fazendo com que tudo o que toquem se transforme em algo fantasmagórico, com exceção, logicamente, das contas bancárias das empresas.
Obviamente, nem todos os operadores das grandes mídias são tão brutais. Alguns tentam desesperadamente entregar ao público algo de melhor qualidade e com alguma seriedade. Trata-se de profissionais talentosos e capazes de fazer algo diverso do que são compelidos a executar. Outros se vendem sem qualquer problema aos seus patrões. São bajuladores e, quase sempre, eles não têm muito a oferecer, além da fidelidade canina. Todavia, é bom lembrar que as grandes mídias são privadas. Trata-se de empresas que têm história e interesses a zelar. Seus empregados dependem da aprovação se seus patrões, para se manter em seus lugares.
Qual a diferença entre uma telenovela e um telejornal? Grosso modo, ambos usam da emoção alienada para convencer e não têm qualquer compromisso com as verdades históricas e com o esclarecimento científico e histórico-cultural das audiências. No atual contexto, os dois apóiam-se nas tradições mais conservadoras, nos preconceitos avassaladores retirados de baús cheios de pó, vermes e outros bichos. Repetem os sensos comuns primários que facilmente envolvem seus públicos. Não têm maiores compromissos com a cultura popular e com o que há de melhor na erudita. Em alguns momentos, este pacto de mediocridade é rompido pelos operadores. Em seguida, a empresa retoma as rédeas e conduz de acordo com suas linhas mestras.
Os ingênuos e os que se fazem de ingênuos pouco podem refletir sobre o papel das mídias. Eles dizem que os telejornais, bem como os jornalões e revistas impressas são a informação líquida para ser consumida. O mesmo aconteceria com as notícias e comentários encontráveis nos sites mantidos pelas mesmas empresas. As telenovelas, os programas humorísticos, bem como o pior da indústria cinematográfica internacional e nacional seriam, apenas, diversão. O problema é que não é possível haver neutralidade real no ato de informar e nem no de produzir artefatos ficcionais de qualquer natureza. Em todos os casos, é possível descobrir a que deuses se estão servindo.
Informação e diversão seriam os objetos centrais dos vários meios de comunicação empresariais. Estes canais levariam ao grande público, presumidamente, o que eles desejariam assistir, ver e ler. Os consumidores são vistos como pessoas fundamentalmente passivas e fáceis de ser convencidas. Nisto, está um segredo bem guardado. De há muito, os consumidores da informação e da diversão são também consumidores de produtos alardeados pela publicidade. Suas passividades são tão fabricadas como os produtos de massa e idéias que os anunciantes pretendem vender. Simplesmente, é dado a eles o acesso a uma via de mão única, sem atalhos ou retornos. As possibilidades de resistência existem, mas, são bem pequenas.
O verdadeiro objetivo destes meios é vender produtos, usando técnicas de convencimento e de catarse total. Quando se vê TV, se acessa à Internet, se lê as mídias impressas ou se assiste a filmes comerciais de ficção, se está ao mesmo tempo, sendo bombardeado por mil e uma mensagens publicitárias. O que realmente interessa a estes meios é ter a certeza que o bombardeio atingiu seus objetivos, com isto, se garantem mais verbas e, sobretudo, infinitos lucros. A lógica da produção é a do comércio, ao qual ela é completamente subordinada.
A tão propalada interatividade da Internet esbarra no fato que ela é intermediada por empresas reais. Ao contrário do que se imaginava inicialmente, estas empresas moldam formatos, sugerem conteúdos e dificultam que exista uma comunicação realmente mais livre. Esta liberdade é buscada com abnegação por grupos e pessoas isoladas que tentam, por meio dos instrumentos disponíveis, construir opiniões contrahegemônicas. Isto funciona com fortes limites impostos pelos custos e pela pressão dos instrumentos controlados pelas empresas. Todavia, é na Internet onde se encontra ainda um espaço de reflexão e de liberdade, inexistente nas grandes mídias. Não são casuais, as tentativas surgidas em vários países de se controlar este espaço e de até emudecê-lo.
Como as mídias são um sistema integrado, comandado por empresas, na Internet, o poder das mesmas se destaca e se firma como opção para grandes parcelas dos usuários. Manter uma revista de opinião alternativa significa encontrar formas criativas de financiá-la e de conseguir que ela, na sua fragilidade que é a origem de sua força, permaneça no ar. Esta batalha é travada todos os dias por quixotes que não aceitam que o mundo seja exclusivamente o que as grandes mídias teimam em dizer e redesenhar. O que mantém a chama acesa é a crença que o sonho ainda possa vencer a obscuridade da vida instrumental do capital.
A midiatização incisiva dos recentes ataques do candidato-síntese das direitas à Bolívia de Evo Morales e as críticas iradas à tentativa brasileira de uma solução pacífica do conflito entre o Irã e os Estados Unidos são provas evidentes da manipulação e da sujeição aos interesses externos. Entretanto, o espaço dado aos que pensam de modo diverso foi proporcionalmente pequeno. Mesmo sendo uma concessão pública, as empresas de TV trabalham como se a liberdade de imprensa fosse a mesma coisa do que a liberdade de empresa.
Todos estes fatos passam batidos, em meio a nuvem formada pela onda publicitária que envolve as mídias. Olhando-se, em perspectiva, percebe-se que elas sabem bem camuflar suas verdadeiras essências. Depois de um ataque furibundo aos que lutam contra a conservação, nada melhor do que um comercial de um novo modelo de carro ou do quase-monopólio de uma empresa provedora da TV por assinatura, dentre outros serviços.
São poucos os programas de TV aberta e da por assinatura que não são pautados no tratamento da violência como um espetáculo, sem dar a audiência quaisquer possibilidades de interpretá-los de modo racional. Não é muito diferente o que ocorre nas mídias impressas, havendo adaptações aos públicos de cada segmento. Os mais pobres consomem mais ‘sangue’ e doses elevadas de ‘mondo cane’. As classes médias vêem as mesmas hemorragias e baixarias em emissões que usam de um linguajar mais controlado e adaptado. O mesmo ocorre com o sentido geral da vida, corrompido por emissões que mentem sobre as reais possibilidades do tecido social.
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O terror de Israel extrapola suas fronteiras
Reproduzo artigo da jornalista Elaine Tavares:
Quando na segunda guerra mundial apareceram os rumores do que acontecia na Alemanha, o mundo calou. Levou tempo demais até que os governos de outros cantos se levantassem contra o que se passava de horror sob o domínio nazista. E, mesmo, assim, a intervenção só aconteceu quando o que estava em jogo era o domínio de outros países da Europa. Não foi, verdadeiramente, o massacre dos judeus e dos ciganos que levou ao repúdio do governo de Hitler. Foi sua audácia de dominação sobre os demais países da Europa. Penso eu, cá com meus botões, que se Hitler tivesse se mantido nas fronteiras da Alemanha, não haveria tanto repúdio às suas práticas de terror.
Hoje, assistimos ao estado de Israel repetir o circo dos horrores contra o povo palestino. Já se vão mais de 60 anos de violência, de opressão, de ataques assassinos. Desde 1948 o processo de dizimação do povo palestino acontece sob os olhos das câmeras, aparece sistematicamente na hora do jantar, nos jornais noturnos. E, no mais das vezes, a maioria das gentes olha, boceja, e o máximo que tem de reação é dizer: “essa guerra não termina!” E ponto final. Lá, naquele cantão esquecido do mundo, a porta de entrada do rico médio-oriente, seguem os palestinos resistindo com pedras e gritos de dor.
Hoje, segregados em campos de concentração, tal e qual ocorria com os judeus e ciganos nos campos nazistas, eles são humilhados, subjugados, tratados como não-seres. Chamados de terroristas quando se levantam em rebelião. E tudo o que querem é o direito de viverem em paz no seu próprio território. O mundo sabe muito bem que quando os Estados Unidos criou o estado de Israel, aquela não era uma terra sem povo. Milhares de famílias foram desalojadas, expulsas de suas casas, para dar lugar às colônias israelenses. E, depois, ao longo dos anos, sob o fogo dos canhões, Israel foi comendo o território até confinar as gentes palestinas em campos fechados por muros gigantes, que deveriam ser repudiados como uma vergonha mundial, tal qual foi o muro de Berlim durante tanto tempo. A pergunta que fica é: por que o chamado “mundo livre” não brada contra o muro da vergonha de Israel?
Pois, não satisfeitos em dizimar o povo palestino, Israel chegou ontem ao auge da violência e da perfídia. Foi capaz de atacar militarmente navios que seguiam para Gaza, levando ajuda humanitária. Soldados armados atacaram civis que poucos minutos antes haviam levantado uma bandeira branca. Mesmo nas guerras mais cruéis, todos os generais sabem o que isso significa. Mas, ao que parece, não Israel. Morreram pessoas comuns, tombadas pelas balas assassinas dos soldados israelense. Gente que se importava com o que se passa por detrás dos muros de Israel, que apenas se preocupava em levar comida, remédio e conforto a um povo acossado pela violência e pelo terror. Pois foram atacados de forma absurda, em águas internacionais, violando toda a sorte de tratados e acordos internacionais.
E aí? Cadê as sanções a Israel? O seu parceiro de atrocidades, os Estados Unidos, lamentou o ocorrido, mas não condenou. Vários países estão declarando condenação, mas o que isso de fato significa? Palavras ao vento! Quais as medidas reais a serem tomadas contra esse estado assassino que extrapola suas fronteiras, atacando civis?
Os argumentos que as redes de televisão oferecem são os mais absurdos possíveis. Um general israelense dizendo que só revidaram um ataque dos que estavam no navio. Mas, como isso? As pessoas, em alto mar, cercadas de água, fizeram o quê? Tinham mísseis? Arcabuzes? Facas voadoras? Que ataque poderiam fazer essas pessoas dentro de um navio a aviões de guerra? Vejam que é o mesmo argumento que usam para matar palestinos. Meninos de 12 anos, com pedras na mão, são “violentos terroristas” e ameaçam a vida dos soldados israelenses dentro dos tanques de ferro. É o paroxismo do terror.
Por todo o planeta gritam as gentes, como gritaram contra a invasão do Iraque, contra a invasão do Panamá, do Afeganistão. Gritam os que não tem poder. E lançam declarações os que tem poder. Cuba vive sob um bloqueio criminoso por parte dos Estados Unidos, porque decidiu ser livre e auto-determinada. Isso é crime?
O que aconteceu no mar alto nesta segunda-feira não pode ficar só no plano da condenação pela palavra. É preciso parar Israel. Este é um dos países mais fortemente armados do globo terrestre. Seu poder militar é fabuloso. Tem ainda o serviço secreto mais sanguinário do mundo. É um cântaro de destruição. A fonte de sua violência segue vertendo, como já dizia o grande Mahmud Darwish.
Há 60 anos Israel mata palestinos como se fossem moscas. Ontem matou nove cidadãos da paz. O mundo, enfim, se levanta. Agora, há que parar Israel. Ou isso, ou a barbárie vai se espalhar, saindo das fronteiras do terror. A história é boa mestra. Assim começaram as grandes guerras. Quando um governo, arvorado de dono do mundo, começa a sair de seus limites, abocanhando a vidas dos demais. Se o mundo, na sua maioria, pouco ligou para os palestinos que padecem desde há décadas, que, agora, com estes noves civis, gente da paz, de bandeira branca hasteada, possa se levantar e estancar a fonte do crime.
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Quando na segunda guerra mundial apareceram os rumores do que acontecia na Alemanha, o mundo calou. Levou tempo demais até que os governos de outros cantos se levantassem contra o que se passava de horror sob o domínio nazista. E, mesmo, assim, a intervenção só aconteceu quando o que estava em jogo era o domínio de outros países da Europa. Não foi, verdadeiramente, o massacre dos judeus e dos ciganos que levou ao repúdio do governo de Hitler. Foi sua audácia de dominação sobre os demais países da Europa. Penso eu, cá com meus botões, que se Hitler tivesse se mantido nas fronteiras da Alemanha, não haveria tanto repúdio às suas práticas de terror.
Hoje, assistimos ao estado de Israel repetir o circo dos horrores contra o povo palestino. Já se vão mais de 60 anos de violência, de opressão, de ataques assassinos. Desde 1948 o processo de dizimação do povo palestino acontece sob os olhos das câmeras, aparece sistematicamente na hora do jantar, nos jornais noturnos. E, no mais das vezes, a maioria das gentes olha, boceja, e o máximo que tem de reação é dizer: “essa guerra não termina!” E ponto final. Lá, naquele cantão esquecido do mundo, a porta de entrada do rico médio-oriente, seguem os palestinos resistindo com pedras e gritos de dor.
Hoje, segregados em campos de concentração, tal e qual ocorria com os judeus e ciganos nos campos nazistas, eles são humilhados, subjugados, tratados como não-seres. Chamados de terroristas quando se levantam em rebelião. E tudo o que querem é o direito de viverem em paz no seu próprio território. O mundo sabe muito bem que quando os Estados Unidos criou o estado de Israel, aquela não era uma terra sem povo. Milhares de famílias foram desalojadas, expulsas de suas casas, para dar lugar às colônias israelenses. E, depois, ao longo dos anos, sob o fogo dos canhões, Israel foi comendo o território até confinar as gentes palestinas em campos fechados por muros gigantes, que deveriam ser repudiados como uma vergonha mundial, tal qual foi o muro de Berlim durante tanto tempo. A pergunta que fica é: por que o chamado “mundo livre” não brada contra o muro da vergonha de Israel?
Pois, não satisfeitos em dizimar o povo palestino, Israel chegou ontem ao auge da violência e da perfídia. Foi capaz de atacar militarmente navios que seguiam para Gaza, levando ajuda humanitária. Soldados armados atacaram civis que poucos minutos antes haviam levantado uma bandeira branca. Mesmo nas guerras mais cruéis, todos os generais sabem o que isso significa. Mas, ao que parece, não Israel. Morreram pessoas comuns, tombadas pelas balas assassinas dos soldados israelense. Gente que se importava com o que se passa por detrás dos muros de Israel, que apenas se preocupava em levar comida, remédio e conforto a um povo acossado pela violência e pelo terror. Pois foram atacados de forma absurda, em águas internacionais, violando toda a sorte de tratados e acordos internacionais.
E aí? Cadê as sanções a Israel? O seu parceiro de atrocidades, os Estados Unidos, lamentou o ocorrido, mas não condenou. Vários países estão declarando condenação, mas o que isso de fato significa? Palavras ao vento! Quais as medidas reais a serem tomadas contra esse estado assassino que extrapola suas fronteiras, atacando civis?
Os argumentos que as redes de televisão oferecem são os mais absurdos possíveis. Um general israelense dizendo que só revidaram um ataque dos que estavam no navio. Mas, como isso? As pessoas, em alto mar, cercadas de água, fizeram o quê? Tinham mísseis? Arcabuzes? Facas voadoras? Que ataque poderiam fazer essas pessoas dentro de um navio a aviões de guerra? Vejam que é o mesmo argumento que usam para matar palestinos. Meninos de 12 anos, com pedras na mão, são “violentos terroristas” e ameaçam a vida dos soldados israelenses dentro dos tanques de ferro. É o paroxismo do terror.
Por todo o planeta gritam as gentes, como gritaram contra a invasão do Iraque, contra a invasão do Panamá, do Afeganistão. Gritam os que não tem poder. E lançam declarações os que tem poder. Cuba vive sob um bloqueio criminoso por parte dos Estados Unidos, porque decidiu ser livre e auto-determinada. Isso é crime?
O que aconteceu no mar alto nesta segunda-feira não pode ficar só no plano da condenação pela palavra. É preciso parar Israel. Este é um dos países mais fortemente armados do globo terrestre. Seu poder militar é fabuloso. Tem ainda o serviço secreto mais sanguinário do mundo. É um cântaro de destruição. A fonte de sua violência segue vertendo, como já dizia o grande Mahmud Darwish.
Há 60 anos Israel mata palestinos como se fossem moscas. Ontem matou nove cidadãos da paz. O mundo, enfim, se levanta. Agora, há que parar Israel. Ou isso, ou a barbárie vai se espalhar, saindo das fronteiras do terror. A história é boa mestra. Assim começaram as grandes guerras. Quando um governo, arvorado de dono do mundo, começa a sair de seus limites, abocanhando a vidas dos demais. Se o mundo, na sua maioria, pouco ligou para os palestinos que padecem desde há décadas, que, agora, com estes noves civis, gente da paz, de bandeira branca hasteada, possa se levantar e estancar a fonte do crime.
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