quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

FHC apunhala Serra, o “revitalizado”

Por Altamiro Borges

A entrevista de FHC no Estadão de terça-feira (28) deveria servir de alerta para os eleitores paulistanos e, principalmente, para o senador Aécio Neves, que parece viver embriagado. Nela o ex-presidente diz que a disputa para a prefeitura da capital “revitaliza” Serra e o incentiva para as eleições de 2014. A manchete do Estadão tira qualquer ressaca: “Serra ainda pode disputar a Presidência, indica FHC”.

De Nova Iorque, onde concedeu a entrevista para o jornalista Gustavo Chacra, FHC pode ter bagunçado as dissimulações do ex-governador e de seus fiéis capachos – como Gilberto Kassab. Um dia antes, o pragmático prefeito da capital paulista havia jurado de pé junto que José Serra “abandonará” seu projeto de ser novamente candidato a presidente da República.

Ex-presidente bagunçou a camuflagem

O objetivo de Kassab era convencer os eleitores de que Serra não trairia novamente os paulistanos, abandonando a prefeitura na metade da gestão, e também acalmar o rival tucano Aécio Neves. Mas FHC bagunçou a camuflagem. Segundo ele, Serra ganha força ao disputar a eleição de outubro próximo e, mais do que nunca, está novamente no páreo para a sucessão presidencial. Veja alguns trechos:

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O senhor mencionou que o senador Aécio Neves (MG) é o candidato óbvio do PSDB para 2014.

Foi uma pergunta feita pela revista The Economist: quem é o candidato óbvio? Eu respondi que o Serra vai sair candidato, não vai desistir. E eles perguntaram quem seria o outro. É o Aécio. É uma coisa que todo o mundo sabe. São os dois que estão despontando com mais força.

Mas com o Serra se candidatando a prefeito...

Abre espaço para outra candidatura a presidente. Agora, sempre tem que colocar aquela cláusula de prudência. A política é muito dinâmica. O Serra pode ganhar ou pode perder. Nos dois casos, o fato dele ser candidato agora reforça a presença dele como um líder. Todo líder político, enquanto quiser se manter ativo na política, tem de ter a expectativa de poder. Tem que ser candidato.


O Serra, ao tomar a decisão de se candidatar (para a Prefeitura), volta à cena política com força. Onde ele é necessitado neste momento? Onde o partido o vê com bons olhos neste momento? É aí (na Prefeitura). Isso significa que amanhã ele não pode ser outra coisa? Não.

Mas não pega mal para o Serra, que já foi prefeito uma vez e saiu para se candidatar (o tucano deixou a Prefeitura em 2006, para disputar a Presidência, e o governo do Estado, em 2010, para mais uma vez entrar na disputa presidencial)?

Ele vai tomar as precauções devidas porque ele tem de ganhar a eleição. Provavelmente ele vai reafirmar a disposição dele (de permanecer na Prefeitura). Mas não vi, não falei com ele. Política não é uma coisa em que o horizonte se fecha. De repente, o que estava fechado se abre. Acho que a decisão do Serra foi a mais adequada neste momento para ele e para o partido. Dá a chance para o partido ganhar e dá a ele uma revitalização política.


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"Precauções para ganhar a eleição"


Com escancara o "sincero" ideólogo tucano, Serra, Kassab e outros direitistas vão "tomar as precauções devidas para ganhar a eleição". Ou seja: vou mentir novamente para os eleitores. Além disso, vão tentar abrandar, temporariamente, a disputa interna no PSDB entre Serra e Aécio. Depois, afirma o teórico FHC, "o horizonte não se fecha" e Serra pode retornar sua eterna briga pela presidência da República.

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Leia também:

- Serra desistiu de 2014. Aécio acredita?

- Serra sobre Aécio: "balão meio murcho"

- Serra sobre FHC: "Tá gagá"

- Folha declara apoio a José Serra

- Tucana chama Serra de "palhaço"

1 comentários:

antonio barbosa filho disse...

As declarações do FHC e as do Kassab (informando que Serra mudará de partido caso torne-se prefeito) fazem parte da antecipada "cristianização" do provável candidato. Era começar depois das prévias e da Convenção, mas a prepotência de Serra (querendo ver de joelhos os pré-candidatos que estão em plena campanha) e o fato de Kassab, do PSD, tornar-se o passador de ordens ao PSDB, irritam as bases tucanas.
Poucos tucanos lutariam para eleger Serra sabendo que quem irá ao poder não será seu partido, mas um projeto pessoal, uma ambição egoísta e predatória. Serra já tinha contra si boa parte do eleitorado, e todo o setor alckmista (que não perdoa a traição de 2008). Agora tem tb as bases sinceras do seu (por enquanto) partido.
Existisse um Oscar para o maior desagregador da política brasileira e o prêmio iria para...