quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mídia ofusca queda da desigualdade social

Por Altamiro Borges

Na sexta-feira (13), o IBGE divulgou alguns dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Um deles mereceria manchetes nos jornalões e destaque nos noticiários das emissoras de rádio e tevê. Segundo a ampla sondagem, pelo décimo ano consecutivo o Brasil ficou menos desigual em 2014. A queda da desigualdade se deu em decorrência do aumento da renda dos mais pobres, graças aos inúmeros programas sociais do governo e à elevação do salário mínimo - entre outros fatores. A mídia tucana, que adora dar apenas notícias ruins - como escreveu o âncora Sidney Rezende, afastado recentemente da bancada da TV Globo -, preferiu ofuscar esta importante vitória dos brasileiros.

Pelo índice de Gini, medida mundial para a distribuição de renda, a desigualdade no país recuou de 0,495 em 2013 para 0,490 em 2014 - quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a distribuição da renda. Essa queda só foi possível porque o rendimento dos 10% mais pobres cresceu 4,1% neste período. Já a renda dos 10% mais ricos teve queda de 0,4%. As regiões Norte e Nordeste foram as que tiveram redução mais acentuada das desigualdades sociais. Já o Sudeste sofreu uma pequena alta - de 0,475 para 0,478 -, após nove anos consecutivos de melhora nos índices sociais.

Outro dado relevante da Pnad é sobre os avanços dos serviços prestados pelo Estado. Em 2014, mais de 1,9 milhão de famílias brasileiras passam a ter acesso a água tratada. Foram contabilizadas 57,2 milhões de residências com abastecimento hídrico no período - um aumento de 3,5 % em relação ao ano anterior. O número de casas com esgoto tratado cresceu em 1,2 milhão. A proporção dos domicílios com a rede coletora passou de 63% em 2013 para 63,5% em 2014. Já o percentual de casas com acesso à energia elétrica também cresceu, passando de 99,6% para 99,7% - número é 1,9 milhão superior em relação ao ano anterior. E a proporção de lixo coletado nas casas brasileiras cresceu 3,4% no período, o que representa um aumento de 2 milhões de casas que passaram a ter acesso ao serviço.

No item educação, o Pnad apontou queda na taxa de analfabetismo no país, que recuou pelo segundo ano consecutivo, de 8,5% em 2013 para 8,3% da população com 15 anos ou mais. Ao longo de uma década, o número de analfabetos no Brasil encolheu em 2,1 milhões. A taxa de analfabetismo caiu em 3,2 pontos percentuais nesse período, segundo a pesquisa. Apesar deste avanço, o contingente ainda segue elevado - o equivalente às populações somadas das cidades de São Paulo e Curitiba. Em abril, a Unesco mostrou que dez países concentram 72% dos adultos analfabetos no mundo e o Brasil era um deles, ocupando a oitava posição. O maior contingente estava na Índia.

Ainda neste quesito, a pesquisa mostrou que o tempo dedicado ao estudo aumentou de 7,6 para 7,7 entre 2013 e 2014. Em uma década, isso significa um aumento de mais dois anos de estudos, o que é considerado uma alta em ritmo acelerado. A Pnad revelou ainda a melhora no nível de escolaridade da população. Das pessoas com 25 anos ou mais, 13,1% completaram o curso superior. Em 2004, o indicador era de apenas 8,1%. Crianças e adolescentes também frequentaram mais a escola do que no passado. A taxa de escolarização cresceu sobretudo entre as crianças de 4 a 5 anos, que frequentam a chamada pré-escola. Atualmente, 82,7% das crianças nessa faixa etária estudam. Em 2007, esse percentual era de 70%. Esse crescimento foi o maior registrado entre as diferentes faixas.

Como dado negativo e preocupante, a Pnad registrou que o trabalho infantil teve sua primeira alta nos últimos dez anos. No ano passado, 554 mil menores dessa faixa etária estavam nessa condição, uma elevação de 9,48% em relação às 506 mil de 2013. Ainda que seja proibido por lei, 48 mil crianças com menos de 14 anos passaram a exercer funções no mercado, principalmente em zonas urbanas das regiões Sudeste e Nordeste. A zona rural ainda concentra a maioria (62,1%) das crianças entre 5 e 13 anos ocupadas. Seus rendimentos mensais eram, em média, de R$ 215. Segundo os dados, 45% delas nem sequer recebiam salário. Esta elevação só é explicada pelo aumento do desemprego no país.

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