Foto: Juliano Vieira/Brasil de Fato |
Os instrumentos e linguagens da comunicação sindical e popular foi tema de discussão entre João Franzin, coordenador da Agência Sindical, e Altamiro Borges, autor do Blog do Miro e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Com mediação de Renata Mielli, secretária geral do Barão e coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), os dois jornalistas apontaram, na quarta-feira (28), os erros, acertos e desafios da comunicação do campo progressista. A discussão fez parte do curso A comunicação para enfrentar os retrocessos, promovido pelo Barão de Itararé.
Miro destacou a força e resistência da imprensa sindical brasileira, que chamou de “poderosa” ao citar exemplos de experiências da classe trabalhadora como o jornal Brasil de Fato, a TVT (TV dos Trabalhadores) e o Sindicato dos Bancários da Bahia, cujo boletim diário de notícias é uma referência para o setor. ”Se não fosse a imprensa sindical forte que nós temos no Brasil, a reforma da Previdência tinha sido aprovada”, argumentou.
Franzin compartilha da mesma ideia. Segundo ele, o jornalismo sindical “informa e massifica conceitos”, com ideias dinâmicas e energéticas. “A comunicação nesse momento ganha ainda mais importância porque é uma forma de massificar as convenções coletivas das categorias sindicais na base”. Para isso, ele defende a utilização de todas as plataformas de comunicação, dos meios escritos (boletins e jornais) aos instrumentos digitais (sites, rádio web e redes sociais, por exemplo), estimulando a interatividade com a base sindical.
Franzin também defendeu a implementação e valorização da comunicação comunitária. “As TVs comunitárias tem adensamento e prosseguimento. Se é uma TV com o perfil de fazer cobertura social, ela tem audiência”, destacou. Para maior unidade dos setores de comunicação, Franzin elencou alguns elementos importantes como: ser direto, claro e objetivo na linguagem, ter agilidade e trabalhar com regularidade, se adequando ao perfil do público-alvo (indústria, comércio, serviços, funcionalismo etc.).
Miro citou quatro desafios do jornalismo sindical: 1. pouca sinergia nas pautas, 2. ausência de maior politização nas diversas dimensões humanas, como esporte, cultura e comportamento, 3. pouca diversidade na utilização de instrumentos e plataformas de comunicação e 4. renovação da linguagem do movimento social e sindical.
O presidente do Barão definiu a comunicação como pivô da luta de ideias. “Uma questão decisiva é o debate eleitoral que vamos enfrentar este ano”, frente ao que ele definiu como uma “ofensiva mundial” na combinação de dois movimentos: ultraliberal (desmontes sociais, de nações e de Estados) e ultraconservador (onda neofascista de ódio e violência).
Segundo o jornalista, o clímax dessa combinação foi o golpe parlamentar de 2016, que destituiu uma presidenta eleita [Dilma Rousseff] por mais de 54 milhões de votos. Depois disso, Miro apontou que os retrocessos, apoiados pela mídia corporativa, se tornaram um processo contínuo, citando as reformas propostas por Michel Temer, os cortes de investimentos em direitos básicos e a perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de inviabilizar sua candidatura ao pleito presidencial este ano. “A batalha por hegemonia é decisiva”, completou Miro.
Franzin acrescentou: “Nós, profissionais de comunicação, temos um desafio hoje que é o de garantir o que nós já conquistamos. Na crise, há dois departamentos fundamentais no sindicalismo: comunicação, na linha de frente, e jurídico, na retaguarda”. Além disso, o jornalista ressaltou as dificuldades de arrecadação diante de tantos ataques à classe trabalhadora, principalmente com a proposta de contribuição voluntária do imposto sindical.
Miro defendeu uma maior sindicalização através da comunicação como forma de reduzir a distância entre cúpulas e bases sindicais. “É fundamental que, evidentemente, levando a luta econômica e corporativa de cada setor, você politize o debate”. Para ele, a luta de classes possui três dimensões: a resistência política, a luta econômica e, por fim, a batalha ideológica. Segundo Miro, este é um momento de intensa luta de ideias frente a uma “regressão política e de costumes”. “Se não nos mobilizarmos, perderemos a batalha de ideias, como perdemos no golpe de 2016. Nada está definido. A única certeza que a gente tem é que ninguém tem certeza nenhuma. Não dá nem para saber se teremos eleições este ano”.
Para Franzin, “com as baterias carregadas”, o jornalismo sindical conseguirá organizar um planejamento estratégico mais efetivo, com investimentos e sindicalização dos profissionais da área. “A comunicação ajuda a resolver o maior problema político do movimento sindical hoje, que é o envelhecimento dos dirigentes e desgaste das instituições”.
Franzin ainda enfatizou a necessidade de autocrítica dos setores de esquerda. “A batalha não está perdida. Nosso campo foi muito afetado e agredido, mas cometeu muitos erros também. O que nós temos que fazer agora é uma autocrítica para reforçar o setor de comunicação como forma de dar energia e coesão ao nosso campo”.
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