Por Lejeune Mirhan, no site da Fundação Maurício Grabois:
Ouvi muitas análises e comentários sobre os resultados eleitorais, em especial sobre se as pesquisas acertaram ou erraram, tema que me é muito caro por ter lecionado por décadas métodos de pesquisa na Universidade. No entanto, não será este o meu foco neste artigo. Falarei sobre os resultados propriamente dito. Também aqui muitos comentaristas cometeram erros de considerar que os votos dados ao JB no segundo turno – e isso vale, claro, para o Prof. Haddad – lhes pertencem. Não é verdade.
Em eleições com dois turnos, busca-se a construção de uma maioria de válidos – conceito muito relativo e discutível se deva ser o mais importante quesito – para dar-se sustentação política ao futuro presidente. Pelo menos foi essa a vontade do legislador constituinte em 1988. Em primeiro lugar, vamos aos números de abstenções, brancos e nulos que compõe o índice ABN que também introduzimos na Sociologia brasileira.
Agora quero apresentar os dados consolidados dos totais em números absolutos tanto do que venho chamando de “índice ABN”, quanto dos votos válidos. Entendamos aqui que esse índice ABN pode ser chamado também de “votos desperdiçados” ou ainda “jogados fora” ou, como mencionam alguns autores “não votos”, ou seja, é a parcela de eleitores/as que de alguma forma não usam o instrumento do voto para a escolha de um ou uma candidata.
Ao contrário do que muitos analistas disseram, no segundo turno aumentou a abstenção, os brancos e os nulos, de forma que os votos jogados fora saltaram de 40,2 milhões para 42,4 milhões, ou um incremento da ordem de 5,47%.
Como dissemos, o voto consolidado, o voto da escolha pessoal, digamos votos do “coração” e também da razão, é dado no primeiro turno. No segundo turno, quem vai votar e escolhe alguém, escolhe muito mais pela razão do que pela emoção, ou seja, se nosso candidato não foi ao segundo turno, escolhemos alguém que tenha condições de barrar quem não queremos em hipótese alguma. Por isso, é erro grave considerar os votos obtidos por qualquer um dos dois candidatos que foram ao segundo turno como votos “seus”. No caso de JB, até a sua votação em primeiro turno pode ser contestada – alguns chegam a usar o termo fraude não no sentido de violação das urnas, mas sim da manipulação – pois a onda de mentiras e notícias falsas (fake news) que foram espalhadas pelo aplicativo WhatsApp foi em uma dimensão jamais vista em qualquer eleição ocorrida recentemente no mundo. Esse é tema que precisa ser melhor estudado, mas também não é foco de nossa análise por ora.
Para concluir a apresentação dos dados e termos uma noção da totalização dos resultados, publicamos a seguir a tabela 2 com os totais nominais de votos válidos nos dois turnos e os votos desperdiçados.
A distribuição dos votos no primeiro turno
Conforme dissemos, o voto que vale, por assim dizer, é mesmo o dado aos candidatos. Vamos ver como eles se distribuíram em termos de totais absolutos e percentuais na tabela a seguir:
Com esta tabela vê-se claramente que 98.029.285 de eleitores rejeitaram Bolsonaro no primeiro turno, sendo que a sua representatividade direta para com o conjunto dos eleitores é de apenas 33,45%, ou seja, dois em cada três eleitores brasileiros não votaram na sua candidatura. Aqui registro o erro e meu desacordo com analistas que insistem em creditar ao candidato vencedor no segundo turno, com seus 57 milhões de votos, a representatividade de 39% dos eleitores. Esses 6% a mais, como dissemos, são as ampliações do segundo turno.
O conceito de representatividade, com que trabalho há algum tempo, pode ser visto claramente na tabela 4 que apresento a seguir. Ela apresenta resultado das 12 eleições que o Brasil teve de 1945 a 2018. Foram quatro entre 1945 e 1960, quando o mandato presidencial era de cinco anos e oito no período da redemocratização entre 1989 e 2018. Vejam, em ordem decrescente, a representação da votação nominal e o respectivo percentual com relação ao colégio eleitoral dos eleitores aptos ao voto. Vê-se que o vencedor deste ano fica em nono lugar na classificação de doze eleições.
Os movimentos dos votos do primeiro para o segundo turno
É importante estudar a movimentação dos eleitores de um turno para outro. Vejamos na tabela 5 o incremento, o salto de votos que cada um dos candidatos que disputaram o segundo turno teve.
Ainda que 2,2 milhões de eleitores tenham se agregados aos que “jogam seus votos fora”, com aumento da abstenção, brancos e nulos, viu-se que os dois candidatos que foram ao segundo turno conquistaram 24.219.692 votos válidos, que vieram dos 26,4 milhões que foram destinados às outras 11 candidaturas registradas. Aqui vê-se com nitidez que a candidatura do Prof. Fernando Haddad teve uma imensa capacidade de agregar apoios e votos, tendo crescido 50% e seu adversário ao final vitorioso, agregou apenas 17% dos votos. Dito de outra forma, Haddad ficou com dois de cada três eleitores de outros candidatos dos campos da centro esquerda e esquerda (Ciro, Boulos e Vera) e todos os outros oito da direita.
Analisando do ponto de vista do total dos eleitores inscritos, vemos que JB salta de 33,45% dos votos no primeiro turno para apenas 39,23% no segundo turno, enquanto Fernando Haddad salta de 31,30% para 44,87% dos votos dos eleitores inscritos. Enquanto Bolsonaro cresce magros 5,78%, Haddad salta 23,6%. Isso significou um potencial de crescimento – ou velocidade – da ordem de 4,08 vezes mais ou 308,30%. Isso foi significativo. Mostra potencial de crescimento de Haddad e forte rejeição á Bolsonaro. Provavelmente, se tivéssemos mais uma semana de campanha os resultados pudessem ser diferentes. Jamais saberemos.
Opiniões finais
Como disse, não entrarei na discussão sobre a composição do novo governo, suas consequências e mesmo a questão internacional que é minha especialidade, que serão objeto de outros artigos e trabalhos que estou preparando desde já. Quero concluir este texto com a questão sobre as formas de um governo reacionário e mesmo fascista, subserviente ao imperialismo estadunidense chegar ao poder.
Identificamos quatro formas clássicas desse processo. A mais antiga e tradicional – e falamos aqui apenas do século XX onde os Estados Unidos se consolidam como potência hegemônica mundial – é a do golpe de estado. Neste caso, a tomada do poder ocorre pela força das armas e, na maioria dos casos, apenas um dos lados do conflito possui armas, que são as forças armadas, geralmente já treinadas nas academias militares no Norte. Temos muitos casos na América Latina em vários momentos do século passado.
Uma segunda, mais custosa para o imperialismo – tanto em termos de gastos quanto em termos de perdas de vida – que é a invasão militar para implantar um regime subserviente. Temos alguns casos na América Latina, mas especialmente no Oriente Médio. Temos registros de intervenções militares, seja com tropas diretamente ou com conselheiros militares pelo menos na Colômbia, Honduras, República Dominicana, Panamá, Cuba, Nicarágua, Haiti, Guatemala e El Salvador. Alguns desses países por mais de uma vez [1].
A terceira modalidade da chegada ao poder dos fascistas ou governos subservientes é mais inovadora. Ela foi inaugurada em Honduras em 28 de junho de 2009 quando o presidente legitimo Manuel Zelaya foi deposto pelo equivalente ao STF de lá. Ele teve que deixar o país em menos de 24 horas sem direito a nada [2]. Foi bruscamente acordado por militares que “cumpriam ordens da corte suprema” (sic). Depois disso, a modalidade adotada, da qual se dispensam tropas externas e mesmo o desgaste das forças armadas internas, é o golpe dado pelo parlamento, por uma maioria circunstancialmente formada. É evidente que isso tudo é tramada, arquitetado e operado diretamente por Washington. Essa modalidade foi adotada primeiramente no Paraguai em 22 de junho de 2012 quando o presidente legitimo Fernando Lugo [3] foi destituído pelo mecanismo chamado impeachment (impedimento), que é típico de regimes presidencialistas. No caso dos EUA, que adota o presidencialismo desde o início de sua vida republicana, jamais foi utilizado. No caso paraguaio o processo foi fulminante.
Por fim, o caso sobejamente debatido, que é a derrubada da presidente Dilma Rousseff em 2016, primeiro pela Câmara e depois confirmado pelo Senado em agosto. Esse processo, golpista do início ao fim, apoiado pelas elites dominantes e pela mídia familiar, que jamais o chamou pelo nome próprio de golpe. Até os dias atuais, passados mais de dois anos não se vê nenhum esboço de arrependimento e um ensaio sequer de pedido de desculpas.
Por fim, o último, mais clássico e tradicional, a que nosso Brasil ingressa neste momento, que é a tomada do poder legitimado pelo voto popular, ainda que em nosso caso de 2018, os votos dados ao candidato vitorioso venham sendo a cada dia mais contestados em função da clara manipulação dos votos pela influência dos eleitores por notícias falsas. Neste caso, até mesmo o fascista Benito Mussolini (1922) e Adolf Hitler (1933) chegaram ao poder pela força de votações populares. Se pegarmos os países europeus, todos democráticos em geral, seus dirigentes e governantes alcançam o poder político pelo voto popular. Mas, são meros satélites dos EUA, em especial a Inglaterra e a França, que praticamente vivem sob ocupação militar estadunidense sob o domínio da aliança militar chamada OTAN.
Assim, o Brasil, que passou pelo golpe militar de 1964 e pelo golpe parlamentar de 2016, vê agora nesta nova etapa da sua vida, a chegada ao poder a partir de 1º de janeiro de 2019, de um agrupamento político de perfil fascista, de extrema direita, reacionário em todos os aspectos. A Nação deu um salto no escuro e para trás o que é pior. Por um voto manipulado – ainda que de apenas um terço do eleitorado – preferiu, por razões diversas, escolher literalmente o pior.
Como não estou entre os que acreditam que o futuro a deus pertence, resta-nos apenas confiar na capacidade de esclarecimento do nosso povo, elevação da sua consciência, sua organização, para dar enfrentamento diuturno a tantas mazelas anunciadas publicamente durante a campanha. Temos que ter confiança. A verdade triunfará.
* Lejeune Mirhan é sociólogo, professor, escritor e analista internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil. É colaborador dos portais Vermelho, Grabois, Duplo Expresso, 247 e Resistência, bem como da revista Sociologia da Editora Escala. Tem nove livros publicados de Sociologia e Política Internacional.
Dizer que esperávamos a vitória do fascismo nas eleições seria um erro. Muito ao contrário. Estávamos confiantes na virada, como apontavam todos os institutos de pesquisa, com a queda de Bolsonaro e a subida de Fernando Haddad. No entanto, a legitimação do fascista veio pelas urnas. Neste primeiro artigo sobre eleições, pretendo apenas apresentar dados numéricos sobre o resultado em si nas eleições presidenciais. Comentar sobre um tema que tenho introduzido na Sociologia que é a relação com a representatividade do eleito/a no conjunto dos eleitores inscritos. Ao final, algumas breves conclusões, tecendo comentários específicos sobre as formas de como um fascista ascende ao poder.
Ouvi muitas análises e comentários sobre os resultados eleitorais, em especial sobre se as pesquisas acertaram ou erraram, tema que me é muito caro por ter lecionado por décadas métodos de pesquisa na Universidade. No entanto, não será este o meu foco neste artigo. Falarei sobre os resultados propriamente dito. Também aqui muitos comentaristas cometeram erros de considerar que os votos dados ao JB no segundo turno – e isso vale, claro, para o Prof. Haddad – lhes pertencem. Não é verdade.
Em eleições com dois turnos, busca-se a construção de uma maioria de válidos – conceito muito relativo e discutível se deva ser o mais importante quesito – para dar-se sustentação política ao futuro presidente. Pelo menos foi essa a vontade do legislador constituinte em 1988. Em primeiro lugar, vamos aos números de abstenções, brancos e nulos que compõe o índice ABN que também introduzimos na Sociologia brasileira.
Agora quero apresentar os dados consolidados dos totais em números absolutos tanto do que venho chamando de “índice ABN”, quanto dos votos válidos. Entendamos aqui que esse índice ABN pode ser chamado também de “votos desperdiçados” ou ainda “jogados fora” ou, como mencionam alguns autores “não votos”, ou seja, é a parcela de eleitores/as que de alguma forma não usam o instrumento do voto para a escolha de um ou uma candidata.
Ao contrário do que muitos analistas disseram, no segundo turno aumentou a abstenção, os brancos e os nulos, de forma que os votos jogados fora saltaram de 40,2 milhões para 42,4 milhões, ou um incremento da ordem de 5,47%.
Como dissemos, o voto consolidado, o voto da escolha pessoal, digamos votos do “coração” e também da razão, é dado no primeiro turno. No segundo turno, quem vai votar e escolhe alguém, escolhe muito mais pela razão do que pela emoção, ou seja, se nosso candidato não foi ao segundo turno, escolhemos alguém que tenha condições de barrar quem não queremos em hipótese alguma. Por isso, é erro grave considerar os votos obtidos por qualquer um dos dois candidatos que foram ao segundo turno como votos “seus”. No caso de JB, até a sua votação em primeiro turno pode ser contestada – alguns chegam a usar o termo fraude não no sentido de violação das urnas, mas sim da manipulação – pois a onda de mentiras e notícias falsas (fake news) que foram espalhadas pelo aplicativo WhatsApp foi em uma dimensão jamais vista em qualquer eleição ocorrida recentemente no mundo. Esse é tema que precisa ser melhor estudado, mas também não é foco de nossa análise por ora.
Para concluir a apresentação dos dados e termos uma noção da totalização dos resultados, publicamos a seguir a tabela 2 com os totais nominais de votos válidos nos dois turnos e os votos desperdiçados.
A distribuição dos votos no primeiro turno
Conforme dissemos, o voto que vale, por assim dizer, é mesmo o dado aos candidatos. Vamos ver como eles se distribuíram em termos de totais absolutos e percentuais na tabela a seguir:
Com esta tabela vê-se claramente que 98.029.285 de eleitores rejeitaram Bolsonaro no primeiro turno, sendo que a sua representatividade direta para com o conjunto dos eleitores é de apenas 33,45%, ou seja, dois em cada três eleitores brasileiros não votaram na sua candidatura. Aqui registro o erro e meu desacordo com analistas que insistem em creditar ao candidato vencedor no segundo turno, com seus 57 milhões de votos, a representatividade de 39% dos eleitores. Esses 6% a mais, como dissemos, são as ampliações do segundo turno.
O conceito de representatividade, com que trabalho há algum tempo, pode ser visto claramente na tabela 4 que apresento a seguir. Ela apresenta resultado das 12 eleições que o Brasil teve de 1945 a 2018. Foram quatro entre 1945 e 1960, quando o mandato presidencial era de cinco anos e oito no período da redemocratização entre 1989 e 2018. Vejam, em ordem decrescente, a representação da votação nominal e o respectivo percentual com relação ao colégio eleitoral dos eleitores aptos ao voto. Vê-se que o vencedor deste ano fica em nono lugar na classificação de doze eleições.
Os movimentos dos votos do primeiro para o segundo turno
É importante estudar a movimentação dos eleitores de um turno para outro. Vejamos na tabela 5 o incremento, o salto de votos que cada um dos candidatos que disputaram o segundo turno teve.
Ainda que 2,2 milhões de eleitores tenham se agregados aos que “jogam seus votos fora”, com aumento da abstenção, brancos e nulos, viu-se que os dois candidatos que foram ao segundo turno conquistaram 24.219.692 votos válidos, que vieram dos 26,4 milhões que foram destinados às outras 11 candidaturas registradas. Aqui vê-se com nitidez que a candidatura do Prof. Fernando Haddad teve uma imensa capacidade de agregar apoios e votos, tendo crescido 50% e seu adversário ao final vitorioso, agregou apenas 17% dos votos. Dito de outra forma, Haddad ficou com dois de cada três eleitores de outros candidatos dos campos da centro esquerda e esquerda (Ciro, Boulos e Vera) e todos os outros oito da direita.
Analisando do ponto de vista do total dos eleitores inscritos, vemos que JB salta de 33,45% dos votos no primeiro turno para apenas 39,23% no segundo turno, enquanto Fernando Haddad salta de 31,30% para 44,87% dos votos dos eleitores inscritos. Enquanto Bolsonaro cresce magros 5,78%, Haddad salta 23,6%. Isso significou um potencial de crescimento – ou velocidade – da ordem de 4,08 vezes mais ou 308,30%. Isso foi significativo. Mostra potencial de crescimento de Haddad e forte rejeição á Bolsonaro. Provavelmente, se tivéssemos mais uma semana de campanha os resultados pudessem ser diferentes. Jamais saberemos.
Opiniões finais
Como disse, não entrarei na discussão sobre a composição do novo governo, suas consequências e mesmo a questão internacional que é minha especialidade, que serão objeto de outros artigos e trabalhos que estou preparando desde já. Quero concluir este texto com a questão sobre as formas de um governo reacionário e mesmo fascista, subserviente ao imperialismo estadunidense chegar ao poder.
Identificamos quatro formas clássicas desse processo. A mais antiga e tradicional – e falamos aqui apenas do século XX onde os Estados Unidos se consolidam como potência hegemônica mundial – é a do golpe de estado. Neste caso, a tomada do poder ocorre pela força das armas e, na maioria dos casos, apenas um dos lados do conflito possui armas, que são as forças armadas, geralmente já treinadas nas academias militares no Norte. Temos muitos casos na América Latina em vários momentos do século passado.
Uma segunda, mais custosa para o imperialismo – tanto em termos de gastos quanto em termos de perdas de vida – que é a invasão militar para implantar um regime subserviente. Temos alguns casos na América Latina, mas especialmente no Oriente Médio. Temos registros de intervenções militares, seja com tropas diretamente ou com conselheiros militares pelo menos na Colômbia, Honduras, República Dominicana, Panamá, Cuba, Nicarágua, Haiti, Guatemala e El Salvador. Alguns desses países por mais de uma vez [1].
A terceira modalidade da chegada ao poder dos fascistas ou governos subservientes é mais inovadora. Ela foi inaugurada em Honduras em 28 de junho de 2009 quando o presidente legitimo Manuel Zelaya foi deposto pelo equivalente ao STF de lá. Ele teve que deixar o país em menos de 24 horas sem direito a nada [2]. Foi bruscamente acordado por militares que “cumpriam ordens da corte suprema” (sic). Depois disso, a modalidade adotada, da qual se dispensam tropas externas e mesmo o desgaste das forças armadas internas, é o golpe dado pelo parlamento, por uma maioria circunstancialmente formada. É evidente que isso tudo é tramada, arquitetado e operado diretamente por Washington. Essa modalidade foi adotada primeiramente no Paraguai em 22 de junho de 2012 quando o presidente legitimo Fernando Lugo [3] foi destituído pelo mecanismo chamado impeachment (impedimento), que é típico de regimes presidencialistas. No caso dos EUA, que adota o presidencialismo desde o início de sua vida republicana, jamais foi utilizado. No caso paraguaio o processo foi fulminante.
Por fim, o caso sobejamente debatido, que é a derrubada da presidente Dilma Rousseff em 2016, primeiro pela Câmara e depois confirmado pelo Senado em agosto. Esse processo, golpista do início ao fim, apoiado pelas elites dominantes e pela mídia familiar, que jamais o chamou pelo nome próprio de golpe. Até os dias atuais, passados mais de dois anos não se vê nenhum esboço de arrependimento e um ensaio sequer de pedido de desculpas.
Por fim, o último, mais clássico e tradicional, a que nosso Brasil ingressa neste momento, que é a tomada do poder legitimado pelo voto popular, ainda que em nosso caso de 2018, os votos dados ao candidato vitorioso venham sendo a cada dia mais contestados em função da clara manipulação dos votos pela influência dos eleitores por notícias falsas. Neste caso, até mesmo o fascista Benito Mussolini (1922) e Adolf Hitler (1933) chegaram ao poder pela força de votações populares. Se pegarmos os países europeus, todos democráticos em geral, seus dirigentes e governantes alcançam o poder político pelo voto popular. Mas, são meros satélites dos EUA, em especial a Inglaterra e a França, que praticamente vivem sob ocupação militar estadunidense sob o domínio da aliança militar chamada OTAN.
Assim, o Brasil, que passou pelo golpe militar de 1964 e pelo golpe parlamentar de 2016, vê agora nesta nova etapa da sua vida, a chegada ao poder a partir de 1º de janeiro de 2019, de um agrupamento político de perfil fascista, de extrema direita, reacionário em todos os aspectos. A Nação deu um salto no escuro e para trás o que é pior. Por um voto manipulado – ainda que de apenas um terço do eleitorado – preferiu, por razões diversas, escolher literalmente o pior.
Como não estou entre os que acreditam que o futuro a deus pertence, resta-nos apenas confiar na capacidade de esclarecimento do nosso povo, elevação da sua consciência, sua organização, para dar enfrentamento diuturno a tantas mazelas anunciadas publicamente durante a campanha. Temos que ter confiança. A verdade triunfará.
* Lejeune Mirhan é sociólogo, professor, escritor e analista internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil. É colaborador dos portais Vermelho, Grabois, Duplo Expresso, 247 e Resistência, bem como da revista Sociologia da Editora Escala. Tem nove livros publicados de Sociologia e Política Internacional.
Notas
1- Para maiores informações vejam a cronologia neste endereço https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_das_operações_militares_dos_Estados_Unidos que tivemos acesso em 03/11/2018 às 5h50.
2- Para maiores informações leia este artigo em https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_em_Honduras_em_2009 a que tive acesso em 03/11/2018 às 6h57.
3- Para maiores informações leia este artigo em https://pt.wikipedia.org/wiki/Destituição_de_Fernando_Lugo a que tive acesso em 03/11/2018 às 6h59.
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