Estava demorando.
Depois de uma semana desmentindo as bobagens de seus auxiliares – e a suas próprias -, o presidente eleito Jair Bolsonaro encarregou-se ontem de dar um piparote nos “reis do pensamento positivo” que já proclamavam que ele estava se adequando às regras do jogo político (e constitucional).
Numa única “live” de Facebook conseguiu produzir uma enxurrada de asneiras capaz de devolver a euforia à legião de selvagens que reuniu nas redes e fazer cair no ridículo todas aquelas juras de que seria “escravo” da Constituição.
Disse que vai dar um “arrastão de 500 metros” a Sérgio Moro para que este possa “pescar” corruptos, sugerindo que vai transformar o Ministério da Justiça num órgão de investigação: "Sergio Moro vai pegar vocês. Abra teu olho", ameaçou.
Insinuou que vai acabar com a política de preservação ambiental, entregando a privados o controle de áreas de proteção e de reservas naturais.
Disse claramente que pretende (não se sabe como) instituir um regime de trabalho fora da legislação trabalhista, mesmo a já modificada com a reforma. Antes, já tinha deixado confirmar-se a previsível extinção do Ministério do Trabalho – já moribundo sob Temer – sem indicar quem assumiria a tarefa de exercer a fiscalização das relações de trabalho, algo que será jogado, na prática, ao porão.
Aliás, em matéria de reforma, sobre a previdenciária emite sinais de fraqueza, com a estratégia do “façam o que der agora” – e sem dizer claramente o quê – porque não sei se e quando poderei fazer no meu governo”.
E, como cereja do bolo do besteirol, avisou que quer “ver antes” as provas do Enem, para evitar perguntas que, do seu ponto de vista, sejam “imorais”.
Jair Bolsonaro é, antes de tudo, um homem tosco, que não consegue achar um meio-termo entre o bravateiro da campanha e o “mudo” dos primeiros dias da transição.
Está deixando claro, antes mesmo da posse, que não vai liderar o governo, mas fatiá-lo entre aventureiros, aos quais no máximo “cortará as asinhas” quando passarem dos limites.
Resta saber quem lhe cortará as próprias asinhas quando externar opiniões estapafúrdias.
O que fez ontem – e ainda fará várias vezes – foi retomar o “Bolsonaro da campanha”, já que não demonstra o menor talento para ser o “Bolsonaro do Governo”.
Os profissionais do assunto, que aderem e abocanham governos há décadas no Brasil, já dão sinais de que não querem, ao menos por agora, ficar muito próximos do ex-capitão.
Sinal de que, adiante, com seus fiascos, querem dele muito mais do que aquilo que hoje, pode entregar.
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