Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Jair Bolsonaro, o “Mito”, como é chamado por seus seguidores, se agachou o quanto pode para bajular os Estados Unidos, mas tomou uma bela invertida do seu êmulo Donald Trump, que já mandou avisar: não vem para a posse do presidente eleito no dia 1º de janeiro.
Ao mesmo tempo em que era esnobado pelo homem mais poderoso do planeta, Bolsonaro resolveu se vingar da desfeita e mandou desconvidar os presidentes de Cuba e da Venezuela, um gesto que não tem antecedentes na história da diplomacia brasileira.
Antes mesmo da posse, os Bolsonaros pai e filhos, junto com o inacreditável chanceler Ernesto Araújo, já transformaram o Itamaraty na Casa da Mãe Joana.
É um festival de trapalhadas que pode causar prejuízos bilionários ao país em sua balança comercial.
Eles resolveram comprar briga com meio mundo ao mesmo tempo, como se o Brasil fosse uma grande potência capaz de lançar desafios a torto e a direito.
“Brasil terá resposta se transferir embaixada, diz negociador palestino” é o título da entrevista de Saeb Erekat, publicada na Folha desta terça-feira.
Erekat anunciou que o governo palestino já se prepara para responder caso Bolsonaro cumpra a sua promessa de transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém.
“Haverá consequências em diversos níveis, incluindo seu status nos fóruns internacionais e suas relações com os países árabes”, advertiu o negociador-chefe dos palestinos.
Durante o governo de transição, a nova ordem já tinha atacado o Mercosul e a China, dois dos maiores mercados de produtos brasileiros.
A hostilidade agora aberta contra dois países latino-americanos, que pode levar ao rompimento de relações com Cuba e Venezuela, ameaça a liderança brasileira no continente.
Aonde eles querem chegar? Dá a impressão de que nem eles sabem, ao anunciar posições radicais entre uma visita e outra a um quiosque na Barra da Tijuca para tomar água de coco.
Estão brincando com fogo à beira do vulcão da geopolítica mundial, sem ter a menor ideia das consequências, numa guerra ideológica fora de época, superada desde o fim da Guera Fria.
Ainda não entenderam que a guerra hoje é comercial e exige mais inteligência do que tanques obsoletos.
No festival de trapalhadas que marcou a montagem do ministério, dividido em feudos (militar, econômico, religioso, político e jurídico), o que está acontecendo no Itamaraty é o mais grave, pois pode trazer consequências a curto prazo.
Com as relações exteriores do país agora nas mãos do chanceler Araújo e do filho Eduardo Bolsonaro, que quer ser o novo líder da direita mundial, corremos o risco de virar párias no concerto das nações civilizadas.
Para não falar em laranjas, goiabas e açaís nesta quitanda federal que está se armando em Brasília, urge que setores mais responsáveis do novo governo, se é que existem, segurem os seus radicais antes que seja tarde.
A economia e a imagem do país no exterior já estão em frangalhos, não precisamos piorar ainda mais as coisas.
Se o presidente eleito acha que o grande irmão do norte vai lhe dar a mão nesta sua escalada rumo ao desconhecido, Bolsonaro pode ir tirando o cavalinho da chuva.
Na escala de prioridades de Trump, o Brasil está lá na rabeira, apesar dos rapapés de Bolsonaro pai e filho aos americanos.
Não adianta botar o boné do presidente americano na cabeça e oferecer café da manhã de escoteiro a um funcionário do segundo escalão da Casa Branca, porque Trump também pode ser meio maluco, mas não é bobo.
Tem assuntos muito mais importantes para enfrentar em seu próprio país e no mundo.
Em vez de cometer grosserias com países com os quais o país mantém relações diplomáticas e comerciais, os Bolsonaro deveriam se ocupar mais do depoimento do PM motorista no Ministério Público, marcado para esta quarta-feira.
A depender do que o ex-assessor do laranjal falar sobre o destino do dinheiro do seu caixa eletrônico, o presidente eleito poderá bater um recorde: começar o governo já com uma CPI pela proa.
E vida que segue.
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