domingo, 4 de agosto de 2019

Trump, Bolsonaro e Guedes contra o Brasil

Editorial do site Vermelho:

O encontro do presidente Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur L. Ross Jr, para iniciar oficialmente as negociações de um acordo comercial escancara o entreguismo deste governo. De acordo com o ministro, o objetivo é fechar uma “aliança estratégica”, algo que seria mais profundo do que um acordo comercial. O presidente norte-americano, Donald Trump, ao elogiar o clã Bolsonaro já havia comentado o sinal verde para a “aliança”.

Ele fala pelos interesses econômicos da sua lógica geopolítica, obviamente. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2018, as exportações de produtos brasileiros ao país norte-americano representaram cerca de 12% do total, somando US$ 28,7 bilhões, informa a Agência Brasil. Entre os principais produtos exportados estão aviões, óleos brutos de petróleo e produtos semimanufaturados de ferro e aço. O Brasil importa principalmente combustível refinado, como gasolina e óleo diesel.

Os Estados Unidos já controlam quase 70% das importações brasileiras de gasolina, conforme dados do site Monitor Mercantil. Nos seis primeiros meses deste ano, as importações deste combustível vindas dos Estados Unidos somaram US$ 634 milhões. A situação é ainda mais grave no caso do óleo diesel – as refinarias norte-americanas foram responsáveis por 86% das compras brasileiras no período de 12 meses entre junho de 2018 e maio de 2019.

Guedes afirmou que Trump está pensando em uma aliança estratégica para toda a América Latina. Segundo ele, é possível conciliar o acordo comercial firmado entre Mercosul e União Europeia (UE) com as negociações com os Estados Unidos. O ministro também reafirmou que os norte-americanos prometeram apoiar a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – uma condição que impõe a renúncia às prerrogativas destinadas a países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).

São dados que aprofundam a precarização da economia brasileira, reforçados pelas declarações de Bolsonaro de que Brasil deve se preocupar apenas com as commodities, o setor primário da economia. Soma-se a essa declaração vassala a concessão de Trump ao Brasil do status de aliado da Organização do Tratado do Atlântico norte (Otan), aliança militar sob a hegemonia do Pentágono.

O resultado é a completa renúncia da política externa pautada pela multipolaridade, capaz de explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômico e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional. Em seu lugar entra a submissão às relações internacionais sob a hegemonia de um sistema que vê na América Latina uma abundante fonte de matérias-primas e de força de trabalho.

A região possui mais da metade dos recursos naturais do planeta. De cada cinco árvores que existem na terra, duas estão nesse espaço. A região possui o rio mais caudaloso, duas das maiores cidades do mundo e uma riqueza fabulosa de terras férteis. A América Latina sob a égide desse acordo seria o paraíso para os interesses econômicos da geopolítica de Trump, a implantação da proposta que no ciclo neoliberal que dominou a região ficou conhecida como Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que foi plenamente rejeitada pelo então presidente Lula em nome da soberania nacional.

Para preparar o terreno, o governo Bolsonaro atua para desmontar o Estado Nacional com sua política que tem como alvo a legislação democrática e social, além do sucateamento das estatais – os investimentos das empresas públicas caíram de 19,7% em 2016 para 6,7% - para entregá-las a preço vil. Em outra frente, Guedes ataca o que ele chamou de “social-democracia” para impor a sua agenda ultraliberal e neocolonial. Diante dessa realidade, a pauta econômica tende a ser um catalizador de unidade ampla contra o governo Bolsonaro.

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