quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Alberto Fernández e o chefe da milícia

Por Jeferson Miola, em seu blog:                             

Com seu discurso de posse como presidente da Argentina, Alberto Fernández emergiu no cenário geopolítico como um chefe de Estado que deverá exercer relevante liderança no continente sul-americano e, ao lado de López Obrador, também na América Latina.

O discurso de Alberto Fernández marcou a distância galáctica de estatura ética, política e intelectual que separa ele de Jair Bolsonaro.

Em toda história secular de conflitos e ressentimentos; de convergências e entendimentos entre Argentina e Brasil, nunca se havia observado uma diferença tão abissal de perfil entre governantes dos 2 países.

Argentina e Brasil estão geograficamente “condenados”, por toda a eternidade, a compartilharem fronteiras, interesses, culturas, objetivos e desafios comuns.

A consciência deste destino histórico moldou as políticas externas tanto argentina como brasileira. Ao longo das últimas décadas, diferentes chefes de Estado empenharem-se em harmonizar os laços e vínculos entre estas 2 nações vizinhas.

A interdependência e a relação de confiança alcançaram tal dimensão que no ano de 1991 os 2 países criaram a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares [ABACC] no marco do acordo de compromisso de produção nuclear com fins exclusivamente pacíficos.

A experiência, considerada exemplar no mundo, é profundamente inovadora, e permite a inspeção recíproca das instalações nucleares de cada país por técnicos e especialistas argentinos e brasileiros.

Entendendo que o convívio respeitoso é um passaporte para a projeção exitosa de ambos países no mundo, o único país que Alberto Fernández citou no seu discurso foi justamente o Brasil [o MERCOSUL foi citado 1 vez e a América Latina em 2 passagens do discurso]:

“Com a República Federal do Brasil, em particular, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa nas áreas tecnológica, produtiva e estratégica, apoiada pela irmandade histórica de nossos povos e que vá além de qualquer diferença pessoal de quem conjunturalmente governa”.

No momento em que Alberto Fernández proferia o discurso que o confirmou como um grande estadista sul-americano, em Brasília, longe da posse de Fernández, Bolsonaro ofendia a jovem ativista ambientalista Greta Thunberg, e seu capanga Sérgio Moro mandava a PF, transformada na sua gestapo, executar nova operação de perseguição a Lula e sua família.

O Brasil tem muito a aprender com a Argentina. A começar por entender a diferença entre chefe de Estado e chefe de milícia.

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