Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:
O governo comemorou ao máximo a divulgação dos resultados relativos às Contas Nacionais divulgados pelo IBGE no início da semana. Segundo o órgão encarregado oficialmente pela elaboração e cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), as informações para o terceiro trimestre de 2019 apontaram para um crescimento de 0,6% em relação aos três meses anteriores.
Mas a informação mais relevante refere-se ao comportamento do crescimento ao longo de quatro trimestres, considerando-se dessa forma a dinâmica anual. Assim, o acumulado dos últimos 4 trimestres aponta para uma elevação de 1,0% no PIB. Caso essa taxa seja mesmo confirmada, o Brasil encerrará o ano presente com o pior quinquênio de sua história em termos de crescimento da economia. Em 2015 e 2016 a recessão foi de (-3,6) % e (-3,3) %, respectivamente. Já em 2017 e 2018, a economia praticamente andou de lado, com crescimento registrado de 1,0% e 1,1%, respectivamente.
Isso significa que, ao final desse ano, provavelmente retornaremos aos valores do Produto alcançados entre 2011 e 2012. Um retrocesso incomensurável. E veja que aqui estamos falando apenas dos valores frios e secos do crescimento das atividades econômicas. Caso sejam consideradas outras dimensões de natureza social, de concentração de renda ou de sustentabilidade, aí então é que a desgraça fica mesmo estampada nas nossas caras.
O oportunismo das previsões
No entanto, o entusiasmo artificialmente inflado pelo povo do financismo parecia viver em outra realidade. O BC realiza semanalmente uma pesquisa entre os chamados “agentes econômicos” para avaliar suas expectativas quanto à evolução de algumas variáveis importantes no campo econômico. Na verdade, a Pesquisa Focus se restringe a ouvir a opinião de alguns poucos dirigentes e operadores do mercado financeiro e nada mais. Não são incorporadas opiniões e análises de economistas de fora desse circuito seleto, a exemplo de professores universitários, membros de instituições de pesquisa ou assessores de entidades do movimento sindical ou social.
Pois essa mesma pesquisa, divulgada às segundas-feiras pela manhã, apresentava um panorama bastante alentador para o futuro da economia lá desde o início de 2018. O quadro abaixo nos apresenta quais as projeções desse grupo integrante da “crème de la crème” do financismo tupiniquim. Vejamos como se concretiza essa tão venerada capacidade técnica dos modelos econométricos de prever o futuro próximo da economia. Uma loucura! Por esse desempenho, não seriam aprovados em nenhum curso de graduação de economia.
Dentre um conjunto amplo de questões, a pesquisa pergunta a opinião do entrevistado a respeito do comportamento do PIB no horizonte de curto e médio prazo. E aqui estão coletados os resultados para a informação oferecida sobre o crescimento previsto do PIB para 2019.
A curva é sintomática na revelação dos desejos inescapáveis desse povo das finanças. E também é bastante reveladora da forma como esse comportamento vendido termina por contaminar a própria dinâmica da economia. Senão, vejamos. Ente março e maio de 2018, sem que houvesse nenhuma base objetiva para oferecer esse tipo de opinião, as manchetes dos jornalões asseguravam que o tal do “mercado” não tinha dúvidas: o PIB de 2019 seria superior a 3%. Esse era o entusiasmo com Meirelles no comando da economia do governo Temer. Uma verdadeira veneração.
O tempo vai passando e o choque de realidade termina por forçar esses mesmos indivíduos e seus modelitos refinados a refazerem seus cálculos. Pois é, talvez aquele ufanismo fosse mesmo um pouco exagerado. Assim, viramos o ano com uma ligeira queda na projeção e os oráculos diziam que o PIB iria crescer “apenas” 2,6% em 2019. Afinal, o processo eleitoral havia confirmado a vitória de Bolsonaro e o guru Paulo Guedes seria o responsável pela economia. Ora, não tinha como dar errado.
Pois bastaram apenas 5 meses para que esse quadro de fantasia e mentira viesse abaixo mais uma vez. Já em junho passado, as previsões mudaram ainda mais. Os mesmos economistas e seus modelos infalíveis eram unânimes a confirmar, um tanto quanto resignados, que não havia mesmo jeito. As projeções apontavam para um crescimento do PIB inferior a 1%.
No entanto, ao contrário do tratamento conferido pela grande imprensa aos indicadores nos momentos de crescimento reduzido do PIB sob Lula e Dilma, agora o mísero 1% é saudado como “retomada do crescimento”. Antes era reles “pibinho”. Agora o esforço do contorcionismo retórico diz que o resultado de 1% é o máximo que as dificuldades enfrentadas pelo comando da economia conseguem produzir. Ou seja, trata-se de uma deformação das estatísticas oficiais na tentativa de dourar a pílula do fracasso do aprendiz de neoliberal.
Mas não tem jeito. A verdade grita mais alto. 2019 vai entrar para a História como o ano do Pibinho do Guedes. Simples assim.
O governo comemorou ao máximo a divulgação dos resultados relativos às Contas Nacionais divulgados pelo IBGE no início da semana. Segundo o órgão encarregado oficialmente pela elaboração e cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), as informações para o terceiro trimestre de 2019 apontaram para um crescimento de 0,6% em relação aos três meses anteriores.
Mas a informação mais relevante refere-se ao comportamento do crescimento ao longo de quatro trimestres, considerando-se dessa forma a dinâmica anual. Assim, o acumulado dos últimos 4 trimestres aponta para uma elevação de 1,0% no PIB. Caso essa taxa seja mesmo confirmada, o Brasil encerrará o ano presente com o pior quinquênio de sua história em termos de crescimento da economia. Em 2015 e 2016 a recessão foi de (-3,6) % e (-3,3) %, respectivamente. Já em 2017 e 2018, a economia praticamente andou de lado, com crescimento registrado de 1,0% e 1,1%, respectivamente.
Isso significa que, ao final desse ano, provavelmente retornaremos aos valores do Produto alcançados entre 2011 e 2012. Um retrocesso incomensurável. E veja que aqui estamos falando apenas dos valores frios e secos do crescimento das atividades econômicas. Caso sejam consideradas outras dimensões de natureza social, de concentração de renda ou de sustentabilidade, aí então é que a desgraça fica mesmo estampada nas nossas caras.
A elite apoiou e Guedes não entregou
A divulgação também recente das informações relativas ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em escala global confirma o desastre das políticas do austericídio, levadas a cabo por essas terras desde 2015. O índice é divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) com base em dados de renda per capita, escolaridade e expectativa de vida ao nascer. O Brasil mantém a sua queda relativa, passando da 78ª para a 79ª posição entre 2017 e 2018. O fator que mais complica nossa posição relativa no conjunto dos 189 países ranqueados é justamente a concentração de renda.
Mas o que nos interessa por agora é a revelação do fracasso da politica econômica do governo Bolsonaro e de seu superministro da Economia, Paulo Guedes. Todos se lembram da forma generosa e acolhedora com que a nova equipe foi recebida pelos grandes meios de comunicação e pelos setores dominantes do sistema financeiro. Afinal, o último dos argumentos apresentados pelos defensores do voto no defensor da tortura e da pena de morte nas eleições presidenciais do ano passado era a então propalada qualidade técnica do time da economia. Só que não!
Essa mesma lengalenga havia sido utilizada para defender o golpeachment contra Dilma Rousseff em 2016, sem que houvesse a menor prova quanto a eventual cometimento de crime de responsabilidade. Mas os arautos da plenitude paradisíaca asseguravam por todos os cantos que a chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda seria sinônimo de redenção nacional. Pois assistimos todos ao estrago que foi promovido desde então. As consequências políticas e eleitorais foram imediatas. O ex-presidente internacional do Bank of Boston – e depois promovido a Presidente do Banco Central (BC) por Lula em 2003 – não conseguiu mais do que míseros 1,2% dos votos em sua candidatura à Presidência da República. Um fiasco monumental, ainda mais considerando-se a força da sigla MDB.
A divulgação também recente das informações relativas ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em escala global confirma o desastre das políticas do austericídio, levadas a cabo por essas terras desde 2015. O índice é divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) com base em dados de renda per capita, escolaridade e expectativa de vida ao nascer. O Brasil mantém a sua queda relativa, passando da 78ª para a 79ª posição entre 2017 e 2018. O fator que mais complica nossa posição relativa no conjunto dos 189 países ranqueados é justamente a concentração de renda.
Mas o que nos interessa por agora é a revelação do fracasso da politica econômica do governo Bolsonaro e de seu superministro da Economia, Paulo Guedes. Todos se lembram da forma generosa e acolhedora com que a nova equipe foi recebida pelos grandes meios de comunicação e pelos setores dominantes do sistema financeiro. Afinal, o último dos argumentos apresentados pelos defensores do voto no defensor da tortura e da pena de morte nas eleições presidenciais do ano passado era a então propalada qualidade técnica do time da economia. Só que não!
Essa mesma lengalenga havia sido utilizada para defender o golpeachment contra Dilma Rousseff em 2016, sem que houvesse a menor prova quanto a eventual cometimento de crime de responsabilidade. Mas os arautos da plenitude paradisíaca asseguravam por todos os cantos que a chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda seria sinônimo de redenção nacional. Pois assistimos todos ao estrago que foi promovido desde então. As consequências políticas e eleitorais foram imediatas. O ex-presidente internacional do Bank of Boston – e depois promovido a Presidente do Banco Central (BC) por Lula em 2003 – não conseguiu mais do que míseros 1,2% dos votos em sua candidatura à Presidência da República. Um fiasco monumental, ainda mais considerando-se a força da sigla MDB.
O oportunismo das previsões
No entanto, o entusiasmo artificialmente inflado pelo povo do financismo parecia viver em outra realidade. O BC realiza semanalmente uma pesquisa entre os chamados “agentes econômicos” para avaliar suas expectativas quanto à evolução de algumas variáveis importantes no campo econômico. Na verdade, a Pesquisa Focus se restringe a ouvir a opinião de alguns poucos dirigentes e operadores do mercado financeiro e nada mais. Não são incorporadas opiniões e análises de economistas de fora desse circuito seleto, a exemplo de professores universitários, membros de instituições de pesquisa ou assessores de entidades do movimento sindical ou social.
Pois essa mesma pesquisa, divulgada às segundas-feiras pela manhã, apresentava um panorama bastante alentador para o futuro da economia lá desde o início de 2018. O quadro abaixo nos apresenta quais as projeções desse grupo integrante da “crème de la crème” do financismo tupiniquim. Vejamos como se concretiza essa tão venerada capacidade técnica dos modelos econométricos de prever o futuro próximo da economia. Uma loucura! Por esse desempenho, não seriam aprovados em nenhum curso de graduação de economia.
Dentre um conjunto amplo de questões, a pesquisa pergunta a opinião do entrevistado a respeito do comportamento do PIB no horizonte de curto e médio prazo. E aqui estão coletados os resultados para a informação oferecida sobre o crescimento previsto do PIB para 2019.
Brasil – Previsão de crescimento do PIB para 2019
Fonte: Pesquisa Focus, BC |
A curva é sintomática na revelação dos desejos inescapáveis desse povo das finanças. E também é bastante reveladora da forma como esse comportamento vendido termina por contaminar a própria dinâmica da economia. Senão, vejamos. Ente março e maio de 2018, sem que houvesse nenhuma base objetiva para oferecer esse tipo de opinião, as manchetes dos jornalões asseguravam que o tal do “mercado” não tinha dúvidas: o PIB de 2019 seria superior a 3%. Esse era o entusiasmo com Meirelles no comando da economia do governo Temer. Uma verdadeira veneração.
O tempo vai passando e o choque de realidade termina por forçar esses mesmos indivíduos e seus modelitos refinados a refazerem seus cálculos. Pois é, talvez aquele ufanismo fosse mesmo um pouco exagerado. Assim, viramos o ano com uma ligeira queda na projeção e os oráculos diziam que o PIB iria crescer “apenas” 2,6% em 2019. Afinal, o processo eleitoral havia confirmado a vitória de Bolsonaro e o guru Paulo Guedes seria o responsável pela economia. Ora, não tinha como dar errado.
Pois bastaram apenas 5 meses para que esse quadro de fantasia e mentira viesse abaixo mais uma vez. Já em junho passado, as previsões mudaram ainda mais. Os mesmos economistas e seus modelos infalíveis eram unânimes a confirmar, um tanto quanto resignados, que não havia mesmo jeito. As projeções apontavam para um crescimento do PIB inferior a 1%.
No entanto, ao contrário do tratamento conferido pela grande imprensa aos indicadores nos momentos de crescimento reduzido do PIB sob Lula e Dilma, agora o mísero 1% é saudado como “retomada do crescimento”. Antes era reles “pibinho”. Agora o esforço do contorcionismo retórico diz que o resultado de 1% é o máximo que as dificuldades enfrentadas pelo comando da economia conseguem produzir. Ou seja, trata-se de uma deformação das estatísticas oficiais na tentativa de dourar a pílula do fracasso do aprendiz de neoliberal.
Mas não tem jeito. A verdade grita mais alto. 2019 vai entrar para a História como o ano do Pibinho do Guedes. Simples assim.
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