quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A democracia na América Latina

Editorial do site Vermelho:

A ênfase do presidente da Argentina, Alberto Fernández, à defesa da democracia tem a ver com uma realidade comum na América Latina. Em sua posse, na terça-feira (10), ele falou de “procedimentos obscuros e linchamentos midiáticos”, de uso da justiça “para saldar discussões políticas”, da resistência ao crescimento de “movimentos autoritários” e das manifestações “contra o neoliberalismo e a desigualdade social”.

São palavras que vão ao âmago da crise que castiga a região. E que poderiam ser ditas, com a mesma ênfase, no Brasil, no Equador, na Colômbia, na Bolívia e no Chile. A América Latina vive uma realidade conhecida, semelhantes à de ofensivas do passado, mas também com singularidades. Os eventos históricos não se repetem automaticamente, apesar de serem movidos pelos mesmos elementos.

A semente plantada por Simon Bolívar, José Martí, San Martin, Tiradentes e outras figuras imortais já deu frutos, mas ainda não se transformou em uma árvore frondosa, com ramificações em todo o continente. As ideias desses libertadores movem os movimentos políticos que, ao longo da história, enfrentam conceitos como a “Doutrina Monroe” e o “Destino Manifesto” e que se renovam a cada ciclo de resistência.

No pós-Segunda Guerra Mundial, esses conceitos se traduziram na cadeia de golpes militares que ensanguentaram o Cone Sul e nos ciclos de implantação do projeto neoliberal. Após a doutrina militarista do “Plano Truman”, iniciado ainda nos anos 1940 – no Brasil ele foi comprovadamente determinante para o golpe de 1964 –, nos anos 1960 e 1970 chegou a política de Richard Nixon e Henry Kissinger, que deu um banho de sangue na deposição do presidente socialista chileno Salvador Allende.

No final dos anos 1970, chegou o projeto neoliberal, comandando pela dupla anglo-saxã Margaret Thatcher e Ronald Reagan, inaugurado na América Latina pela ditadura militar do general Augusto Pinochet, no Chile. Não demorou e a região entrou em ebulição, com vários governos escorraçados pelo povo. Em um segundo ciclo, agora comandado também por uma dupla anglo-saxã, Bill Clinton e Tony Blair, ele ganhou densidade política, mas com os mesmos desastres sociais.

O esgotamento desses ciclos possibilitou a eleição de governos progressistas, atualmente em processo de substituição por uma nova modalidade de golpes, com o objetivo de restaurar a velha ordem do intervencionismo norte-americano. O Brasil, com o programa e o projeto de poder ultraliberal e neocolonial do governo Bolsonaro, é, possivelmente, a grande aposta dessa nova ofensiva.

O novo governo da Argentina rema contra essa maré. E o Brasil está entrando num processo que também pode começar a dar resposta a essa ofensiva – as eleições municipais de 2020. O debate político sempre traz resultados positivos. É a oportunidade para o povo conhecer melhor a realidade do país e as propostas para transformá-la.

Mas nele, também, as torpezas são moeda corrente. A oposição precisa se apresentar, nesse processo, com propostas densas e tática eleitoral bem definida. E, sobretudo, ter como base a defesa da democracia e da soberania nacional, formando um movimento de caráter amplo, com propostas objetivas para indicar ao povo um novo rumo para o país.

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