domingo, 26 de setembro de 2010

Dom Demétrio e a manipulação midiática

Reproduzo artigo de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP), publicado no sítio da Adital:

Nestas eleições um fato novo está acontecendo. Fato verdadeiramente relevante. Mas, que não precisa ser publicado na grande imprensa. Aliás, o fato relevante consiste exatamente nisto: o povo já não se guia pelos "fatos relevantes" publicados pela mídia. A grande imprensa perdeu o poder de criar a "opinião pública".
A "opinião pública" não coincide mais com a "opinião publicada".

O povo encontrou outros caminhos para chegar às suas próprias opiniões, e traduzi-las em suas opções eleitorais.

Já houve eleições que mudaram de rumo por causa do impacto produzido pela divulgação de "fatos relevantes", tidos assim porque assim divulgados pela grande imprensa.

Agora, a grande imprensa fica falando sozinha, enquanto o povo vai tomando suas decisões.

Bem que ela insiste em lançar fatos novos, na evidente tentativa de influenciar os eleitores, e mudar o rumo das eleições. Mas não encontram mais eco. São como foguetes pífios, que explodem sem produzir ruído.

A reiterada publicação de fatos, que ainda continua, já não encontra sua justificativa nas reações suscitadas, que inexistem. Assim, as publicações necessitam se apoiar mutuamente, uma confirmando o que divulga a outra, mostrando-se interdependentes mais que duas irmãs siamesas, tal a impressão que deixam, por exemplo, determinado jornal e determinada revista.

Esta autonomia frente à grande imprensa se traduz também em liberdade diante das recomendações de ordem autoritária. Elas também já não influenciam. Ao contrário, parecem produzir efeito contrário. Quando mais o bispo insiste, mais o povo vota contra a opinião do bispo.

Este também é um "fato relevante", às avessas. Não pela intervenção da Igreja no processo eleitoral. Mas pela constatação de que o povo dispensa suas recomendações, e faz questão de usar sua liberdade.

Este "fato relevante" antecede o próprio resultado eleitoral, e pode se tornar ponto de partida para um processo político muito promissor. O povo brasileiro mostra que já aprendeu a formar sua opinião a partir de "fatos concretos", que ele experimenta no dia a dia, dos quais ele próprio é sujeito. Já passou o tempo das falácias divulgadas pela imprensa, onde o povo era reduzido a mero expectador.

Em tempos de eleições, como agora, fica mais fácil o povo identificar em determinadas candidaturas a concretização da nova situação que passou a viver nos últimos anos. Mas para consolidar esta mudança, e atingir um patamar de maior responsabilidade política, certamente será necessário trabalhar estes espaços novos de autonomia e de participação, que o povo começou a experimentar.

Temos aí o ponto de partida para engatar bem a proposta de uma urgente reforma política, e também de outras reformas estruturais, indispensáveis para superar os gargalos que impedem a implementação de um processo democrático amplo e eficaz.

O fato novo, a boa notícia, não consiste só em saber quem estará na Presidência da República, nos Governos Estaduais, e nos parlamentos nacionais e estaduais. A boa notícia é que o povo se mostra disposto a tomar posição e assumir o seu destino de maneira soberana e responsável.

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sábado, 25 de setembro de 2010

Ato vibrante pela liberdade de imprensa



Reproduzo artigo de João Franzin, publicado no sítio da Agência Sindical:

Desde os eventos de resistência à ditadura, o auditório Vladimir Herzog, no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, não recebia tanta gente. O ato contra “o golpismo da mídia e por mais liberdade de imprensa”, na noite da quinta (23), lotou todas as cadeiras, todas as laterais, todos os espaços do auditório, o corredor de acesso ao plenário e as escadarias.

Muita gente teve de ficar do lado de fora, ocupando as duas calçadas da rua Rego Freitas, em frente ao Sindicato, no Centro de São Paulo. O responsável pela iniciativa, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé calcula em mais de 300 pessoas presentes ao evento.

O ato contou com um grande número de jornalistas, quatro Centrais Sindicais (CUT, CTB, Nova Central e CGTB), vários Sindicatos, partidos (PCdoB, PSB e PDT), além de entidades do movimento social, como o MST, e ligadas à democratização da mídia, como a Altercom, que reúne os pequenos empreendedores da comunicação.

Altamiro Borges, jornalista, escritor e coordenador do Barão de Itararé, conduziu os trabalhos, ao lado de José Augusto Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas. Foi Altamiro quem leu o documento “Pela mais ampla liberdade de expressão”, com a tomada de posição das entidades e quatro pontos estratégicos, aprovado por aclamação.

Lágrimas

O clima no auditório Vladimir Herzog, palco de grandes lutas por liberdade e contra a repressão, era de otimismo e muita emoção. Emoção que encheu de lágrimas os olhos de várias pessoas no momento da fala de deputada e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. Para a parlamentar socialista, “os donos da mídia estão tentando uma reação macartista e histérica”. E justificou: “Eles sabem que a sociedade não aceita mais uma mídia que só reflete a voz do dono; eles não se conformam que o governo do primeiro presidente operário esteja dando certo”.

Hino

Alguém da platéia iniciou o canto e o auditório, em peso, entoou, com firmeza e muita emoção, o Hino Nacional Brasileiro, encerrando o ato.

Sindicato

Com o evento da noite de quinta (23), o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo reafirma a própria história e se recoloca no centro do palco das grandes lutas democráticas da sociedade brasileira.

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O que é o Partido da Imprensa Golpista?



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Marina Silva e as novas florestas

Reproduzo artigo de Gilson Caroni, publicado no blog Viomundo:

O verdadeiro mestre não é somente o professor que sabe dar a aula com a lição na ponta da língua – é, sobretudo, aquele que sabe fazer discípulos. Quanto ao discípulo, é este mais do que o aluno que aproveita a lição na sala de aula. Na verdade, corresponde ao prolongamento do mestre, retendo-lhe o fascínio pelo resto da vida, como se o saber do professor continuasse a acompanhá-lo além do curso, alongando-lhe a presença.

Cortejada pela grande imprensa como possibilidade de levar a eleição para o segundo turno, Marina parece bailar nas decisões hamletianas: faz que vai e volta do meio para trás como cantilena do Grande Sertão. Já não convida mais seu coração para dar batalha. Quando está madura a oportunidade de colocar o Brasil na trilha das aspirações populares, a “cabocla de tantas malárias e alergias” coloca-se como linha auxiliar de uma elite desprovida de projeto de consenso para o país.

Rifando sua biografia, tergiversa sobre questões caras ao campo democrático-popular do qual, até bem pouco tempo, foi militante expressiva. A mulher que apostava na organização do povo como único agente capaz de resolver seus próprios problemas, elegendo suas prioridades e lutando para atingi-las, deu lugar a uma “celebridade” que, pretextando buscar um novo espaço político, reproduz o discurso dos editoriais reacionários. Deixou de dar valor ao partido político, ao sindicato, aos movimentos populacionais, às ações associativas. Esqueceu que são essas as instâncias capazes de superar um modo de vida que não corresponde às expectativas reais dos seres humanos de verdade.

Sua candidatura busca cobrir um vazio que não existe. Hoje, todos reconhecem que o crescimento econômico deve ser visto como condição necessária, mas não suficiente, do desenvolvimento social. O governo petista criou as condições políticas para o surgimento de uma nação que efetivamente combate a miséria e a pobreza extremas, implementando princípios econômicos que aumentaram a oferta de emprego e a remuneração condigna de trabalho.

Há oito anos, a visão progressista contempla valores ambientais imprescindíveis à saúde e ao bem-estar do ser humano, não isentando, como muitos querem crer, as elites regiamente capitalizadas nos tempos do consórcio demo-tucano. Sendo assim, onde estaria a novidade, e até mesmo a necessidade da agenda de Marina Silva?

Equilíbrio ambiental e desenvolvimento sustentável são elementos indispensáveis ao futuro do país. Exigem do movimento ecológico uma reformulação radical que o torne matriz de uma nova esquerda. A Amazônia é um exemplo. Seu desmatamento é obra conjunta de latifundiários, grandes empresários e empresas mineradoras. São os inimigos a serem confrontados prontamente. É essa a perspectiva da “doce” Marina e seus aliados recentes?

Quando em entrevista a uma revista semanal, a ex-ministra do Meio Ambiente disse: “Tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase 3 quilos. Foi difícil explicar até para meus filhos. No álbum de fotografias, cada um deles está sempre com uma estrelinha do partido. É como se eu tivesse dividido uma casa por muito tempo com um grupo de pessoas que me deram muitas alegrias e alguns constrangimentos. Mudei de casa, mas continuo na mesma rua, na mesma vizinhança“. Marina mistura oportunismo e desorientação espacial.

A senadora do PV sabe que, uma vez derrubada, a floresta não se recompõe. Que tipo de “empates” se propõe travar com as alianças escolhidas? O partido que a convidou para bailar sobrevive de parcerias antagônicas a sua antiga história de combatividade, coerência e superação. Como nas matas degradadas, a política tem fios de navalha onde tudo perde a cor e dificilmente se refaz. A rua e a vizinhança são decorrências geográficas de escolhas caras. No caso de Marina, tudo mudou.

Chico Mendes reafirmava que “se descesse um enviado dos Céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver”.

Por sua discípula isso está cada vez mais improvável.

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Mais imagens do ato contra o golpismo










Fotos de Ivan Trindade, publicadas no blog Falando Sozinho

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Estudantes nas ruas pelo "fora Roseana"



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Fotos do ato contra o golpismo midiático











Fotos de Roberto Parizotti/CUT

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Direita lança “Manifesto” pró-1964

Reproduzo artigo de Osvaldo Bertolino, publicado no sítio da Fundação Maurício Grabois:

No mundo da mídia brasileira — ao contrário do jogo do bicho em que vale mesmo o que está escrito —, não vale nem o que está escrito e nem o que é falado. Nada mais arriscado do que tomar ao pé da letra o que se ouve e se lê nas principais manchetes.

Os jornais de hoje, por exemplo, carregam tanto nas manchetes catastróficas que fica difícil selecionar alguma para provar a desfaçatez do jogo política da direita nessa reta de chegada da campanha eleitoral. Escolhi, por ser emblemática, a manchete que anuncia que “personalidades” lançaram um “Manifesto em defesa da democracia”.

Entre os que já assinaram o documento, informa o jornal O Estado de S. Paulo, estão Hélio Bicudo, Carlos Velloso, José Arthur Gianotti, Ferreira Gullar e Carlos Vereza. Talvez com exceção de Bicudo, todos são figurinhas carimbadas das hostes tucanas, gente de direita que, mais ou menos raivosa, tem dedicado seus dias à pregação golpista. O jornal carrega na tinta ao anunciar que o “Manifesto” sai “num momento em que o governo do presidente Lula se dedica a investidas quase diárias contra a liberdade de informação e de expressão e critica a imprensa”.

Alguns democratas

Ainda segundo o vetusto jornal das oligarquias paulistanas, estão no grupo que protagoniza a farsa “personalidades de diferentes setores — entre eles juristas, intelectuais e artistas”. A meta, diz a matéria, é “brecar a marcha para o autoritarismo”. O ato público ocorreu nesta quarta-feira (22), ao meio dia, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. O jornal também informa outros nomes como signatários — os dos tucanos Marco Antonio Villa, Bóris Fausto, Celso Lafer e Leôncio Martins Rodrigues, além dos de José Álvaro Moisés, Lourdes Sola, Mauro Mendonça, Rosamaria Murtinho e do respeitadíssimo democrata d. Paulo Evaristo Arns.

A presença de alguns democratas entre o grupo não invalida a sua essência rancorosa, reacionária, golpista. A pregação fascista aparece já no início, quando o “Manifesto” diz: “Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam para solapar o regime democrático.” Mais adiante, considera “inconcebível” que “uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita”. O terrorismo eleitoral é indisfarçável.

Apelo dramático

Marco Antônio Villa garante na matéria que existe “uma ameaça concreta” à democracia. “É uma preocupação geral com o que está ocorrendo no país, e hoje (ontem) o Lula mais uma vez reforçou”, disse o tucano. Para o golpista, caso um eventual governo Dilma consiga eleger três quintos do Congresso “eles conseguirão fazer mudanças constitucionais a seu bel-prazer”. “E se você tiver uma parte da legislatura formada por ‘Tiriricas’, corremos sério risco”, pregou, verbalizando o asqueroso preconceito social da elite brasileira. Villa faz um apelo dramático e patético a favor do seu candidato, o direitista José Serra. “É preciso de um grito de alerta”, pregou. E foi corroborado por dois outros tucanos, Leôncio Martins Rodrigues e Arthur Gianotti.

O “Manifesto” está eivado de golpismo. “É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais”, diz o documento farsesco. “É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos”, falsifica novamente o “Manifesto”.

O texto tucano é um emaranhado de falsidades e proselitismos. E de uma mediocridade de dar dó. Por meio de um festival de é isso, é aquilo, o documento tece um retrato desfigurado da realidade política do país e não esconde a verdadeira intenção dos seus idealizadores — abastecer a mídia com pronunciamentos que serão transformados em factóides e servirão de manchetes que serão exploradas na propaganda eleitoral de José Serra. “Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade. Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos”, brada o patético documento.

Comentários dos leitores

Como era de esperar, a notícia pegou fogo nos “comentários” do site do jornal. E muitos comentários — além da média, uma vez que esta publicação é amplamente dominada pela direita — surpreenderam pela sagacidade. Reproduzo dois, que são emblemáticos: “Qual será o próximo passo? Marcha da família com Deus pela liberdade, com a TFP a frente? Já assisti esse filme. Muitos, mas muitos mesmos, morrem no fim”, disse Ricardo Malta

Pedro Pinto de Arruda comentou: “É o movimento Cansei, em sua vertente pseudo-intelectual! Juntando essa trupe toda, nao dá meio grama de credibilidade! Ferreira Gular, o farsante maranhense que envergonha seus admiradores do grande poeta que foi um dia… Marco Antonio Villa, o intelectual da tucanalha… Gianotti, o filósofo da amoralidade de FHC… tutti buona gente… Nao valem o que o gato enterra…”

Conceito de mídia

Na maioria das nações com um grau razoável de civilização, faz parte das regras do jogo acreditar no que a mídia diz. Não no Brasil, e menos ainda no Brasil de hoje. Antes de prosseguir, é preciso definir o conceito de mídia. Parece razoável pensá-lo, resumidamente, como o espectro de informações que circulam nos veículos de comunicação majoritários de um país e a sua reprodução como senso comum.

Nada a ver com uma das manchetes de hoje do jornal O Globo, que anunciou: Centrais e movimentos sociais organizam ato contra imprensa. O ato é contra a mídia, não contra a imprensa — uma conquista civilizatória. O que a mídia pratica hoje em dia no Brasil está muito distante dos nobres ideais da imprensa. Analisar a postura da mídia brasileira em relação ao governo Lula tendo como pano de fundo esta definição é ter a certeza de que algo muito grave está ocorrendo.

Ódio de classe

O exame clínico do passado recente desta relação revela que se existe algo que o Brasil tem de sobra — como petróleo, minério de ferro e água — são pregações golpistas. Vale tudo para tentar transformar um governo com identificação com o povo, e que aparece bem na foto, numa administração de segunda classe. Talvez a mídia não tenha tempo ou capacidade para cometer todos os desatinos que pretende até as eleições, mas com certeza está empenhada em aproveitar ao máximo todas as oportunidades que aparecerem pela frente para vituperar contra o governo Lula.

Há um indisfarçável ódio de classe — tecla na qual tenho batido desde a primeira campanha de Lula à Presidência da República, em 1989. Hoje, depois de oito anos de práticas políticas voltadas para os interesses do povo, vivemos uma realidade tão complexa que a construção de uma simples rede de esgoto em alguma periferia ou de uma estrada asfaltada que rasga os sertões rompe ao mesmo tempo o véu das relações sociais obsoletas que temos no Brasil.

E olha que são medidas meia-sola, que nem de longe ameaçam o satus quo. O problema é que um eventual governo Dilma Rousseff se propõe a ir além e, com essas ações sociais, granjear imenso apoio popular para temas como política externa independente, desenvolvimento econômico, planejamento, papel do Estado na economia e integração progressista da América Latina — assuntos que, pouco a pouco, ganham espaços no panorama político e no debate ideológico.

Vazio de propostas

Com estes dados, fica fácil entender por que o vazio de propostas da direita é preenchido com adjetivos fortes e factóides esdrúxulos no julgamento paralelo dos justiceiros da mídia. A verdade é que um mínimo de seriedade ao analisar o papel da mídia mostra que ele é ágil em lançar “suspeitas” sobre quem quer que seja do campo governista e cágada — a sílaba tônica, outra vez, fica a seu critério — no cumprimento do papel que cabe à imprensa.

O problema é que a tendência humana é a de acreditar muito mais no que se vê do que no que se lê — ou se ouve. Daí a repetição e a renovação da roupagem das “denúncias” numa velocidade estonteante. Para encobrir a realidade, quanto mais manchetes funéreas, melhor. A idéia da mídia é fazer com que, como no jogo do bicho, se está escrito deve valer — e assim vai se dando como verdade qualquer coisa que apareça contra o governo. Pouco importa se o dito tem ou não tem nexo. Desde que indique a existência de uma calamidade extrema, a coisa em questão passa a ser repetida, vai se alimentando da própria repetição e acaba por se transformar em uma embolada sobre a qual ninguém entende mais nada. Fica aquela fumaça no ar, como a que sobe depois de um tiroteio.

O caso da corrupção é um dos clássicos do gênero. Em matéria de bobagem em estado puro, é o que há. As denúncias que vieram à tona nos últimos tempos deram ensejo a debates acalorados, como é legítimo e saudável que aconteça. Mas esse calor não nos exime da tarefa de analisá-las com certa frieza, numa perspectiva temporal mais ampla, como um capítulo da história que estamos tentando construir no Brasil. São denúncias que nunca dão em nada. Elas não prosperam por falta de qualidade.

Episódios farsescos

Não deveria ser assim. Se há denúncias, é preciso investigá-las com rigor e lupa de precisão. Isso é bem diferente deste encontro do estardalhaço com a inutilidade. O fato é que os escândalos que se vão sucedendo parecem produzir efeitos cada vez menores no que se refere à mobilização cívica e ao aperfeiçoamento institucional. Quais seriam as causas desse declínio? A questão é complexa — e mais ainda quando se tem em vista o que está por trás desta inusitada sucessão de acusações.

Nenhum dos episódios farsescos contra o governo Lula teve desfecho explosivo, como pretendia a mídia. Ao contrário: a impressão que se tem é que o teor radioativo da série se reduz à medida que as denúncias se multiplicam. Minha hipótese é que esse festival de besteira que assola o país perde cada vez mais credibilidade em decorrência da falta de seriedade, de responsabilidade e de compromisso público da direita. Isso está em seu DNA de classe.

Um exemplo evidente disso é o grau de repercussão das denúncias sobre os cartões corporativos federais e paulistas. De nariz torto, a mídia foi obrigada a registrar práticas semelhantes e justificativas idênticas — sem se dar ao trabalho de verificar se havia ou não fundamento nas denúncias sobre os dois casos.

Maior vitória de Lula

Para que uma denúncia se transforme em indignação social viva e pública, ela precisa de um ingrediente básico: credibilidade. Quando a denúncia não se sustenta, um ou outro cidadão pode até ter os seus motivos de indignação, mas abstém-se de comunicá-los a outras pessoas — e, mais ainda, de participar em demonstrações coletivas. Na verdade, as causas principais do esmaecimento das reações sociais diante de tantas denúncias são a própria consolidação do governo Lula e a sensação de melhora que o país passou a desfrutar.

Ultrapassado o momento mais agudo da transição do regime abertamente neoliberal ao de maior atenção ao papel do Estado, observou-se uma redução da carga dramática da política em todos os seus aspectos — inclusive no tocante a denúncias de irregularidades. O governo Lula optou pelo exercício do poder político cimentado por ingredientes como transigência, negociação, composição de interesses e o estímulo à cooperação.

A sua principal vitória não foi propriamente a reeleição em 2006 — obviamente contra a vontade da mídia e de outros menos votados. A maior vitória do governo Lula é a capacidade de resistir ao desgaste e de continuar persuadindo a maioria da sociedade de que ela precisa desse poder que vem se formando no país.

Comitê central

Estamos entrando numa fase em que a direita tenta reerguer a sua agenda e cabe aos setores populares impedir que isso aconteça. Em outras palavras: não é papel do presidente da República dar resposta agudas aos ataques da mídia. O movimento social precisa entrar em campo.

Movidos por objetivos politiqueiros ou por interesses próprios, o fato é que os protagonistas do regime neoliberal — a mídia no fundo é o comitê central dessa gente — passaram a investir muito nessas sucessivas cruzadas de purificação moral, tentando dizer que elas, por si só, podem solucionar os problemas do país.

Essa é uma visão abertamente golpista. O recurso demasiado freqüente a tais cruzadas tem o perverso efeito de desvalorizar a própria cruzada como instrumento cívico e político. Se tudo é escândalo, nada mais é escândalo. Aí aparecem os redentores, como apareceram em 1964.

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Leonel Brizola e os exércitos da mídia

Reproduzo matéria de Brizola Neto, publicada no blog Tijolaço:

O amigão Ápio Gomes, fiel depositário e organizador dos mais de 500 “tijolaços” escritos por Leonel Brizola ao longo de 20 anos, envia-me, a propósito desta polêmica envolvendo a mídia, um texto escrito por meu avô em junho de 1993, 17 anos atrás, portanto.

Leiam e vejam como ele, já então, tinha extrema lucidez sobre o que estamos vivendo com clareza hoje, uma época em que nem todos o percebíamos:

Os novos exércitos

Se quiséssemos caracterizar estes últimos decênios da história humana, sem dúvida, deveríamos chamá-los de idade da mídia, dos meios de comunicação – a propaganda, os jornais, as revistas, as agências e os sistemas de rádio e televisão. Nestes tempos, vem sendo a mais poderosa arma de dominação dos povos, isto é: a servidão consentida, através da mente humana. Tão poderosa que foi capaz de vencer e desintegrar um gigante como a União Soviética.

As máquinas de comunicação, que conquistam e impõem sistemas de dominação e exploração das nações ricas sobre as pobres, são os exércitos e as armadas destes tempos. Têm o poder de criar um ambiente no qual o falso parece verdadeiro.

Por exemplo: o neoliberalismo – que não passa do velho conservadorismo com nova roupagem – é uma doutrina que vem das nações poderosas. É o que convém àqueles países: que as raposas (no caso, elas próprias) passem a ter toda liberdade dentro do galinheiro.

Outro exemplo é o dessas chamadas privatizações, que o futuro irá demonstrar que foi uma época de oligarquias impatrióticas, que promoveram a malversação e o enriquecimento ilícito, em prejuízo do patrimônio público. Tudo sob a mistificação de que privatizar seria a grande solução salvadora para nós, países pobres.

A verdade, entretanto, nunca morre dentro do ser humano, cuja vida, mesmo sob o mais impenetrável dos obscurantismos, é uma busca permanente e até compulsiva deste valor supremo de nossa existência. É uma questão de mais ou menos tempo. A verdade acaba por prevalecer, mesmo quando um avassalador monopólio de comunicação mantém toda uma Nação nas trevas.


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Marina Silva, a queridinha da mídia

Reproduzo artigo contundente de Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

De jurásica, ecologista fundamentalista, que travava o desenvolvimento do país, Marina virou a nova queridinha da mídia – lugar deixado vago por Heloisa Helena. Mas o fenômeno é o mesmo: desespero da direita para chegar ao segundo turno e incapacidade de alavancar seu candidato. Daí a promoção de uma candidata que, crêem eles, pode tirar votos da Dilma, para tentar fazer com que a derrota não seja tão acachapante, levando a disputa para o segundo turno e dando mais margem do denuncismo golpista de atuar.

Marina, por sua vez, para se prestar a esse papel, se descaracterizou totalmente, já não tem mais nada de candidata verde, alternativa. Não tem agenda própria, só reage, sempre com benevolência, às provocações da direita, seja sobre os sigilos bancários, a Casa Civil ou qualquer insinuação da direita.

Presta um desserviço fundamental à causa que supostamente representaria: é um triste fim do projeto de construir um projeto verde, uma alternativa ecológica, uma pauta fundada no equilíbrio ambiental para o Brasil. Tornou-se uma candidata vulgar, em que nem setores de esquerda descontentes com outras correntes conseguem se representar.

Uma vez mais uma tentativa de construir alternativa à esquerda deixa-se levar pelo oportunismo. Quantas vezes Marina denunciou o monopólio da mídia privada e seu papel assumido de partido político da oposição? Nenhuma. Quantas vezes afirmou que a imprensa é totalmente alinhada com uma linha radical de oposição, não deixando espaços para a informação minimamente objetiva e para o debate democrático da opinião pública? Nenhuma. Quantas vezes se alinhou claramente com a esquerda contra a direita? Nenhuma.

Nenhuma, porque já não está no campo da esquerda – e os aliados, incluídos os que fazem campanha para o Serra, como Gabeira, entre outros, provam isso. Se situa em um nebuloso espaço da terceira via – refúgio do oportunismo, quando os grandes enfrentamentos polarizam entre direita e esquerda. Nenhuma, porque essa mesma imprensa golpista, monopolista, que a criticava tanto, agora lhe abre generosos espaços para desfilar seu rancor porque não foi a candidata do Lula e vê a Dilma ser promovida a continuadora do governo mais popular da história do país.

Esses 15 minutos de gloria serão sucedidos pela ostracismo, pela intranscendência. Depois de usada, sem resultados, pela direita, Marina voltará ao isolamento, o suposto projeto verde, depois de confirmado o amálgama eleitoreiro que o articulou, desaparecerá, deixando cadáveres políticos pelo caminho.

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UJS critica golpismo no Clube Militar





Reproduzo matéria publicada no blog Fatos Sociais:

O Clube Militar do Rio de Janeiro convocou hoje (23) seus generais para uma reunião com os jornalistas Merval Pereira (O Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja). A convocação, intitulada “Democracia ameaçada: restrições à liberdade de imprensa”, afirmava que o Brasil passa por momentos difíceis para a imprensa.

Esta foi a senha para que a União da Juventude Socialista (UJS) convocasse os movimentos sociais do Rio de Janeiro para um representativo ato na porta do Clube Militar. Cerca de 50 jovens seguravam cartazes com palavras de ordem como “Liberdade de imprensa não é liberdade de empresa” ou “Globo + Militares = Golpe”.

Segundo Monique Lemos, presidenta da UJS, “os militares não possuem nenhuma credibilidade para falar em democracia ou em liberdade de expressão”.

Já o diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, lembrou o processo de Conferência Nacional de Comunicação que ocorreu no fim do ano passado. “A Globo boicotou vergonhosamente o processo democrático de Conferência Nacional de Comunicação que pretende democratizar a mídia no país” afirmou Iliescu.

Um momento marcante se deu quando nomes de jovens mortos pela ditadura foram lembrados, como Honestino Guimarães, Helenira Rezende, Osvaldão, Mauricio Grabois, Stuart Angel e Edson Luís, entre tantos outros.

Uma das preocupações dos manifestantes é a de que não ocorra esse ano no Brasil o que já aconteceu em 1964 com João Goulart, em 1973 com Salvador Allende e em 2002 com Hugo Chavez na Venezuela. Para o secretário de formação da UJS, Theófilo Rodrigues, “a mídia mostra dia após dia que não está disposta a aceitar a eleição democrática de Dilma Rousseff”.

A tranqüilidade do ato foi quebrada apenas pelos empurrões dados por soldados do exército e por um revoltado advogado do Clube Militar que quebrou o microfone da caixa de som da UJS.

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Agentes da Veja e Globo incitam militares

Reproduzo reportagem de Maurício Thuswohl, publicada na Rede Brasil Atual:

Um debate entre colunistas de veículos da imprensa convencional promovido na quinta-feira (23) pelo Clube Militar no Rio de Janeiro serviu como reunião de "preparação" dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Eles pediram "vigilância" aos militares sobre um eventual governo de Dilma Rousseff (PT), em virtude do que consideram ser ameaças à democracia e à liberdade de expressão. Esses riscos se tornariam mais concretos em caso de vitória da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, nas próximas eleições.

Organizado com o apoio do Instituto Millenium com o tema "A democracia ameaçada – Restrições à liberdade de expressão", o debate com os representantes da grande mídia atraiu muito mais público do que a palestra do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, realizada no começo do mês no Clube da Aeronáutica. Participaram do debate os jornalistas Merval Pereira, da Rede Globo, Reinaldo Azevedo, blogueiro e colunista da revista Veja, e Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

Composta em sua maioria por militares da reserva, a plateia ouviu dos debatedores conselhos de prudência e vigilância em relação a um eventual terceiro governo consecutivo de esquerda no Brasil. Entre as "ameaças" citadas, o destaque foi para o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (III PNDH), para as mudanças na produção cultural e para as conferências setoriais realizadas pelo governo Lula.

O representante da Abert afirmou que "a liberdade de expressão e de imprensa no Brasil está assegurada pelo Artigo 5º da Constituição". Ele reconheceu que “no Brasil, as instituições felizmente têm amadurecido muito nos últimos anos". Moura, no entanto, fez um alerta: “É importantíssimo que a gente se mantenha sempre atentos para proteger a liberdade de expressão e de imprensa no país. Essa vigilância terá que ser diuturna, e não podemos em momento algum nos descuidar”, defendeu.

Moura afirmou que a Abert monitora atualmente cerca de 400 propostas legislativas para o setor de comunicação, sendo que 380 dessas propostas são contrárias aos interesses da entidade. O dirigente citou uma série de medidas do governo Lula que "preocuparam a Abert" nos últimos oito anos, como a ameaça de expulsão do correspondente do New York Times, Larry Rother, e as propostas de criação do Conselho Nacional de Jornalismo e da Agência do Cinema e Áudio Visual (Ancinav), além do PNDH e da realização das conferências setoriais.

Merval Pereira também criticou o governo Lula após afirmar que escreveu mais de duas mil colunas nesses oito anos. Aproveitou para avisar e divulgar o lançamento de um livro com uma coletânea de cerca de 200 colunas que falam "sobre o aparelhamento do Estado" no governo petista, entre outros temas. "Há um método neste governo desde o primeiro momento. Todos os passos na tentativa de controlar a imprensa não foram arroubos de grupos isolados. O controle da produção cultural do país é um objeto de estudo e de trabalho do governo federal. Existe uma tese, não é uma coisa por acaso. Desde o primeiro momento eles tentaram e tentam controlar a produção de notícias e a produção cultural no país”, disse.

"Limites do PT"

O jornalista da Rede Globo alertou ainda que a sociedade brasileira tem que estabelecer "os limites do PT", e que a imprensa é fundamental para isso. "O Lula e o grupo que o cerca sabem que existe limite para eles. A sociedade já havia dado os limites do PT, e o PT não pode ultrapassar esses limites", analisou. Mas, para ele, desde a tentativa de aprovação do Conselho Nacional de Jornalismo e da Ancinav, setores do governo teriam testado limites. "Mas, eles sabem que a sociedade brasileira é moderna e que os meios de comunicação no Brasil são muito fortes, muito atuantes, e continuam tendo uma influência muito grande", aliviou.

Em um eventual governo Dilma, segundo Merval, o PT certamente fará novas tentativas nessa linha. "Eles vão testar sempre os limites, vão reapresentar de diversas maneiras esses projetos. Por isso, o governo está tentando fazer uma maioria no Senado para que não seja barrada nenhum tipo de emenda constitucional que tente passar por lá. Mas, acho que essa maioria que parece que o governo vai obter no Congresso é tão heterodoxa e heterogênea que não há nenhum tipo de programa de governo que possa ser aprovado por uma gama de partidos que vai do PP ao PCdoB", ponderou.

Ditadores e democratas

Fiel ao seu estilo, Reinaldo Azevedo mostrou-se mais duro e até raivoso nas críticas ao ato contra o "golpismo midiático", realizado na quinta-feira (23) em São Paulo pelos movimentos sociais. O jornlaista acusou o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, de estar por trás da manifestação – por supostos elos com o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

"O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, calculem, abriga hoje uma manifestação contra a liberdade de imprensa. Quem diria, um sindicato defendendo a censura e o Clube Militar defendendo a democracia! Os senhores que no passado fizeram a ditadura e deram o golpe agora querem democracia e eu me pergunto: os que hoje estão pedindo ditadura no ato lá de São Paulo queriam democracia em 64? Não, não queriam", atacou.

"É uma vergonha que o sindicato participe disso. Um dos principais promotores dessa patuscada que acontece em São Paulo é funcionário do senhor Franklin Martins, cujo compromisso com a democracia é de todos aqui conhecido", insistiu.

Azevedo endossou o alerta contra as "ameaças" à democracia no Brasil: "Há ameaça à liberdade sim, ela está configurada. A sociedade brasileira tem reagido, mas o preço da liberdade é a eterna vigilância", pregou. A seguir, comparou o presidente brasileiro ao venezuelano Hugo Chávez: "Se você permitir que avancem, eles avançam. O chavismo do Lula consiste em testar permanentemente os limites, ele é chavista tanto quanto as instituições brasileiras lhe permitem ser chavista", disse.

O colunista de Veja chamou o PNDH de "Plano Nacional Socialista de Diretos Humanos" e afirmou que o governo pretende “criar uma comissão de redação para decidir o que pode ou não ser publicado" no país. Também não faltaram críticas ao processo de conferências setoriais levado a cabo pelo governo, com nova estocada no ministro da Secom. "O Franklin Martins está agora mesmo com o resultado das várias conferências que eles fizeram, ocupado em criar propostas de Projetos de Lei para apresentar para o Congresso que vem aí. As conferências de comunicação, de cultura e de direitos humanos pregaram a censura à imprensa. Se eles fizerem uma conferência de culinária, vão pregar a censura à imprensa. É uma tara", ironizou.

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CTB na luta contra a mídia golpista

Reproduzo artigo de Fernando Damasceno, publicado no sítio da CTB:

Com mais gente do lado de fora do Sindicato dos Jornalistas do que dentro de suas dependências, centenas de comunicadores e representantes de movimentos sociais se aglomeraram na noite desta quinta-feira (23), na cidade de São Paulo, para manifestar seu apoio à ampla liberdade de expressão em todo o Brasil e denunciar, mais uma vez, as práticas golpistas que vêm sendo colocadas em prática pela chamada “grande imprensa” do país — grupo mais bem definido como PIG (Partido da Imprensa Golpista).

A CTB participou do ato, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão do Itararé, ao lado de entidades como a UNE, o MST, a CUT, a CGTB, a Nova Central, representantes do PCdoB, do PSB, do PDT e do PT, além de jornalistas, comunicadores e blogueiros independentes, apoiadores da liberdade de expressão.

Além do protesto massivo, o ato desta quinta-feira aprovou três propostas cuja finalidade é combater a onda denuncista colocada em prática por veículos ligados ao Grupo Folha, à Editora Abril, à TV Globo e ao Grupo Estado.

A primeira é uma campanha de solidariedade à revista “CartaCapital”, que tem sido alvo constante de ataques; a segunda proposta tem por finalidade levar a Vice-Procuradora Geral Eleitoral, Sandra Cureau – que investiga a regularidade da publicidade oficial em “CartaCapital” – que investigue também as contas e a publicidade da Editora Abril, pela grande quantidade de dinheiro que recebe do governo tucano de São Paulo, da “Folha de S.Paulo”, do “Estado de S. Paulo”, e da Globo.

A terceira proposta, trazida ao público pelo presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, Altamiro Borges, é a elaboração de uma carta denunciando o golpismo da grande mídia brasileira, para que esta seja enviada aos veículos de comunicação de outros países.

Manifestos

Ao longo do ato, dois manifestos foram lidos, com o sentido de expressar publicamente as razões pelas quais diversas entidades e profissionais da comunicação decidiram se reunir e protestar formalmente contra o golpismo de parte da imprensa brasileira.

No primeiro deles, Altamiro Borges esclareceu os propósitos do ato e destacou a importância da defesa da liberdade de expressão para a democracia. No segundo texto, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Guto Camargo, fez uma ampla defesa da importância de sua profissão para a sociedade, bem como da ética e do direitos de todos os cidadãos à informação. “Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder”, afirmou.

CTB tem lado

Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, afirmou durante o ato que a central subscreve os manifestos lidos, por entender que a classe trabalhadora é a principal interessada pela democracia e pelo direito à pluralidade de opiniões, especialmente em um momento político tão ímpar como o atual.

“Nós, sindicalistas, sempre somos criticados quando fazemos greves e passeatas, quanto lutamos por trabalho, empregos e melhores salários. Os trabalhadores não podem se omitir e precisam defender a liberdade de expressão e impedir que a manipulação da mídia procure inverter o sentimento majoritário da população brasileira, em defesa do avanço, do progresso e da democracia”, afirmou o dirigente da CTB.

Vergonha alheia, conspiração e democracia

Eduardo Guimarães, do Movimento dos Sem Mídia, disse que chega a soar como ridícula a insinuação de que o ato desta quinta-feira era favorável à censura e ao controle dos meios de comunicação, conforme sugeriram alguns dos cães de guarda do PIG. "Este é um ato de denúncia. Como é que eu, pequenininho, vou silenciar algo do tamanho da Globo? Faça-me o favor”, argumentou o blogueiro, dizendo ter “vergonha alheia” desse tipo de posicionamento por parte da mídia.

Por sua vez, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, afirmou que, mais do que uma atitude golpista, a postura da mídia brasileira é a de quem atua por meio de uma conspiração para atingir seus objetivos. A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) seguiu pela mesma linha e disse que o comportamento do PIG é consequência das conquistas obtidas pela sociedade durante a Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009. “Mas não é só isso”, salientou a deputada. “A mídia reage assim porque o governo de um ex-operário, o presidente Lula, deu certo. E também porque o Brasil vai eleger uma mulher pela primeira vez para a Presidência da República”, afirmou.

Erundina também deixou claro quem está realmente do lado certo nessa batalha. “Que a grande mídia não venha querer nos dar lição de democracia. Afinal, aqui estão os que lutaram muito por ela”, concluiu.

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Leonardo Boff e a guerra da mídia

Reproduzo artigo de Leonardo Boff, intitulado "A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma", publicado no sítio da Adital:

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo - Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja, que faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

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Ato contra o golpismo na TV Vermelho



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A "invasão" dos sem-midia

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

O calor era insuportável, no recinto. Era agravado por um público que se espremia em cada canto e pelos refletores das várias tevês, inclusive da tevê aberta (SBT e Gazeta), que foram cobrir o evento.

Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro Barão de Itararé, fez uma extensa exposição do primeiro documento oficial do ato. Em seguida, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Oliveira Camargo, o Guto, leu o documento da entidade, o segundo documento oficial.

Para a Mesa, foram convidados representantes das centrais sindicais CGTB, Nova Central, Força Sindical e CUT; o presidente da Altercom, Joaquim Palhares, o representante do MST, Gilmar Mauro, e eu mesmo pelo Movimento dos Sem Mídia; pelos partidos, vieram um representante do PDT, a deputada federal Luiza Erundina, pelo PSB, e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.

João Felício, ex-CUT, veio representando o PT, mas não conseguiu entrar, tal a quantidade de pessoas que compareceram. E quando digo que não conseguiu entrar, quero dizer que não conseguiu entrar nem no prédio. Aliás, ninguém conseguia entrar lá. O diretor jurídico do MSM também chegou mais tarde e não conseguiu.

Eu diria que o ponto alto do encontro foi o discurso da septuagenária Luiza Erundina (76). Parecia uma menina, em seu vigor, com aquele brilho que lhe brota dos olhos ao se rebelar contra essa vergonha que é essa imprensa golpista.

Tudo deu certo. Só o que não funcionou foi a sofrível cobertura que a mídia fez – a Folha de São Paulo, em sua matéria de hoje sobre o Ato, não conseguiu nem escrever direito o nome do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, organizador oficial do evento.

Mas penso que valeu. Nos últimos dias, o foco do debate político saiu do denuncismo. A mídia golpista acabou tendo que se concentrar em questionamentos que lhe estão sendo feitos. O noticiário ridiculamente desproporcional contra o ato acabou lhe dando notoriedade e atraindo público.

Tentei contribuir para o ato estimulando dezenas de membros do Movimento dos Sem Mídia a compareceram e divulgando-o. Sendo assim, cumprimento a todos, não só aos que compareceram, mas esses milhares de sem-mídia que vêm a este blog.

23 de setembro de 2010, portanto, foi um dia especial. Como dificilmente acontece, nesse dia nós deixamos de ser sem-mídia, mesmo que por pouco tempo. Se o Movimento dos Sem Terra ocupa propriedades rurais, nós ocupamos a mídia.

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Um ato para a história

Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado em seu blog no sítio da Revista Fórum:

O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo viveu um dos seus melhores dias nesta quinta-feira à noite.

Eram 18h15 quando este blogueiro chegou ao local e mais de cinquenta pessoas já se aglomeravam no auditório Wladimir Herzog, que tem capacidade para 100 pessoas sentadas.

O ato começaria às 19h, registre-se.

Entramos numa das salas da diretoria da entidade pra discutir os encaminhamentos do evento e quando saimos, umas 18h45, o auditório já está lotado.

O ato começou às 19h20. Éramos umas 300 pessoas no auditório e uma fila de mais de 100 tentando entrar.

Ao fim, os mais pessimistas falavam em 600 presentes. E os otimistas em mais de 1 mil. Este blogueiro arrisca dizer que de 700 a 800 pessoas estiveram no Sindicato dos Jornalistas nesta quinta à noite.

Havia gente no corredor, no saguão do prédio e na rua. Algo impressionante.

E gente de diversos lugares. Um número considerável de pessoas de outras cidades e até de outros estados.

Além da presença de muitos veículos da mídia independente e livre, o que surpreendeu foi a presença maciça de órgãos da mídia tradicional. Provavelmente esses veículos esperavam que algo fosse dar errado. Ou imaginavam que a gente repetiria o fiasco do ato que ajudaram a promover na tarde de ontem na Faculdade do Largo São Francisco. E que não juntou nem 100 pessoas.

De qualquer forma é importante que se registre aqui que a relação com a imprensa comercial foi absolutamente respeitosa. Nenhum jornalista teve qualquer dificuldade pra realizar o seu trabalho.

Posso assegurar, porque fiz essa mediação, que todos foram tratados de forma democrática e respeitosa.

Havia gente do Globo, do Estadão, da Folha, da Record, da Veja etc.

Da mesa do ato participaram representantes da CUT, CTB, CGTB, Nova Central Sindical, MST, Altercom, Barão de Itararé, Sindicato dos Jornalistas, PDT, PCdoB e PSB.

Pelo PSB falou a deputada federal Luiza Erundina. Ela encerrou o encontro e foi a mais aplaudida da noite.

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Os fariseus da "liberdade de imprensa"

Reproduzo matéria de Brizola Neto, publicada no blog Tijolaço:

Ontem, mergulhado nessa reta final de campanha eleitoral aqui no Rio, não pude estar em São Paulo no ato organizado pelos blogueiros, representantes dos movimentos sociais, centrais e partidos – coordenados pelo recém fundado Centro de Estudos Barão de Itararé de defesa da imprensa alternativa, presidido pelo jornalista Altamiro Borges.

Mas esteve lá, em nome do PDT, o jornalista Osvaldo Maneschy, um grande coladorador de meu avô, editor do site do PDT e meu amigo e representante onde quer que esteja. Dele, esta madrugada, recebi um e-mail que transcrevo aqui:

“Brizolinha, como você me pediu, além de representar o PDT, fiquei satisfeito em representar você ontem, no ato em São Paulo. Acho que seria ocioso descrever o encontro, que, à esta altura, está narrado em todos os blogs progressistas – e eram muitos – que estavam lá com seus próprios autores. Além disso, já está no youtube o discurso de encerramento – brilhante – da deputada Luiza Erundina que diz tudo que se poderia dizer.

Só quero te dizer o seguinte: não há nada de mais reconfortante para minha geração do que ver tanta gente jovem participando de um encontro como muitos dos quais participei, então jovem, no final dos anos 70, início dos 80.

A causa da liberdade era a mesma, a causa da democracia era igual, mas agora – que diferença – temos a proteção de um Estado de Direito e as armas da comunicação pela internet, que tão cedo despertaram a atenção de seu avô, ainda nos anos 90.

Por ironia, ontem na coluna do Merval Pereira – o que este sujeito já fez contra Brizola é inacreditável – um dirigente daquele famigerado Instituto Millenium, Paulo Uebel, referindo-se ao encontro num clube militar do qual Merval e Reinaldo Azevedo participariam, disse que “por ironia do destino, os militares organizaram um evento para defender a liberdade de imprensa no mesmo dia em que os sindicatos e os movimentos sociais organizaram uma manifestação para atacar a liberdade de imprensa. Os tempos mudaram”.

Sim, senhor Uebel, os tempos mudaram. Não fomos atacar a liberdade de imprensa, porque por ela demos os melhores anos de nossas juventudes, nossas liberdades e alguns, a própria vida. Nem mesmo fomos atacar as empresas de comunicação, pois não há um jornalista que não ame aqueles empreendedores que transformaram sonhos em papel impresso, que penduraram “papagaios” para mantê-los vivos, que enfrentaram aventuras e desventuras que os tornaram referências para gerações de jornalistas como eu.

Os tempos mudaram, senhor Uebel, porque o Brasil excludente, autoritário, censurado e triste que os anos pós 64 criaram não vai se repetir. Porque agora há liberdade, há regras institucionais que são sagradas, inclusive para os próprios militares, há um povo mais informado e as empresas e interesses representados por estas vozes que falam, hipocritamente, na democracia que mataram, naqueles tempo, já não são as únicas que se pode ouvir.

Lembro-me de uma frase de seu avô: nós, sermos contra a propriedade? De jeito nenhum, achamos a propriedade uma coisa tão boa que queremos que todos tenham direito a ela. O mesmo pode-se dizer da liberdade de informação e de imprensa. Nós a achamos tão boa, mas tão boa, que não queremos que ela seja privilégio dos donos das empresas de comunicação e dos jornalistas que os servem, antes de servirem ao povo brasileiro.

Queremos liberdade de imprensa para todos, não apenas para alguns; assim como queremos liberdade com emprego, com salário, com comida, com dignidade para todo ser humano e não apenas para uma parte deles.

Deste sonho de liberdade de informação – escute este veterano jornalista - nada nos aproximou tanto quanto a internet. Não pude pensar, pelos mais de 20 anos de convívio que tivemos, em como o velho Briza estaria feliz ali, naquele encontro. E como é bom ver o seu neto como um dos ponta-de-lança deste combate limpo, aberto e valente que a blogosfera trava, todos os dias, contra as trevas da desinformação e a perversidade da manipulação”

Um grande abraço e espero ter sido, nesta hora em que você, compreensivelmente, não pôde estar lá, o teu coração naquele encontro”.


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Não foi fácil atentar contra as liberdades!

Reproduzo artigo sarcástico de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Fui ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ontem, para atentar contra a liberdade de imprensa. Foi assim que a velha mídia brasileira definiu o ato convocado para a noite dessa quinta-feira: uma manifestação contra as liberdades, promovida por entidades chapa-branca, mais um passo na escalada rumo à ditadura lulo-petista.

Desconfio que o noticiário acabou atraindo mais gente ao ato. Quando cheguei ao sindicato, por volta de 19h30, percebi que centenas de lulo-comunistas tinham chegado antes de mim. Confesso: não foi fácil atentar contra as liberdades!

A perigosa horda de malfeitores já se aglomerava na rua, nos corredores, nas escadarias, dificultando a entrada no auditório Vladimir Herzog. Depois de muito empura-empurra (o sindicato parecia o Metrô de São Paulo; a Soninha precisa falar sobre isso no twitter!), finalmente cheguei ao auditório, e me aboletei num cantinho, bem ao lado de um ventilador: no ambiente calorento, aquele era o lugar ideal para atentar contra a liberdade de imprensa!

Fiquei esperando a ordem para aquela massa ignara marchar até o prédio da “Folha”, e iniciar assim a ditadura do proletariado, obrigando Otavinho a publicar textos do Fidel Castro na página dos editoriais. Mas acho que o pessoal tava com preguiça de fazer a revolução…

Repórteres da “Folha”, “Estadão” e Abril – bravos defensores da liberdade ameaçada – misturavam-se aos raivosos lulo-comunistas. E, pasmen: não foram importunados. Tomaram nota de tudo, calmamente, para depois estampar a verdade absoluta sobre o ato nas páginas impolutas dos jornais e revistas para os quais trabalham.

Confesso também que estranhei um pouco quando vi o Gilmar Mauro (do MST) e a Luiza Erundina (deputada do PSB) discursando. Os dois foram aplaudidos de forma empolgada. Seriam eles, também, ameaças à liberdade de imprensa?

A fala da Erundina, emocionante, fechou o ato – que atraiu cerca de 600 pessoas ao local. Quando aquele povo perigoso começava a se dispersar, alguém teve a idéia de puxar o Hino Nacional. Não foi nada combinado, a iniciativa partiu da platéia. Debaixo do ventilador, pensei: esses lulo-comunistas são mesmo perigosos, além de tudo agora fingem que são patriotas.

Só as famílias Frias, Civita e Marinho podem salvar o Brasil desse caminho nefasto - como fizeram, de forma exemplar, em 1964.

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Em defesa dos jornalistas e da ética

Reproduzo o corajoso pronunciamento de José Augusto Camargo, o Guto, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lido durante o ato desta quinta-feira:

Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação

O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.

Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.

Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.

Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.

Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.

Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).

A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.

A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.

O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais, e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.

Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!

O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.

A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.

Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.

O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!

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