Reproduzo artigo de Gilson Caroni, publicado no blog Viomundo:
O verdadeiro mestre não é somente o professor que sabe dar a aula com a lição na ponta da língua – é, sobretudo, aquele que sabe fazer discípulos. Quanto ao discípulo, é este mais do que o aluno que aproveita a lição na sala de aula. Na verdade, corresponde ao prolongamento do mestre, retendo-lhe o fascínio pelo resto da vida, como se o saber do professor continuasse a acompanhá-lo além do curso, alongando-lhe a presença.
Cortejada pela grande imprensa como possibilidade de levar a eleição para o segundo turno, Marina parece bailar nas decisões hamletianas: faz que vai e volta do meio para trás como cantilena do Grande Sertão. Já não convida mais seu coração para dar batalha. Quando está madura a oportunidade de colocar o Brasil na trilha das aspirações populares, a “cabocla de tantas malárias e alergias” coloca-se como linha auxiliar de uma elite desprovida de projeto de consenso para o país.
Rifando sua biografia, tergiversa sobre questões caras ao campo democrático-popular do qual, até bem pouco tempo, foi militante expressiva. A mulher que apostava na organização do povo como único agente capaz de resolver seus próprios problemas, elegendo suas prioridades e lutando para atingi-las, deu lugar a uma “celebridade” que, pretextando buscar um novo espaço político, reproduz o discurso dos editoriais reacionários. Deixou de dar valor ao partido político, ao sindicato, aos movimentos populacionais, às ações associativas. Esqueceu que são essas as instâncias capazes de superar um modo de vida que não corresponde às expectativas reais dos seres humanos de verdade.
Sua candidatura busca cobrir um vazio que não existe. Hoje, todos reconhecem que o crescimento econômico deve ser visto como condição necessária, mas não suficiente, do desenvolvimento social. O governo petista criou as condições políticas para o surgimento de uma nação que efetivamente combate a miséria e a pobreza extremas, implementando princípios econômicos que aumentaram a oferta de emprego e a remuneração condigna de trabalho.
Há oito anos, a visão progressista contempla valores ambientais imprescindíveis à saúde e ao bem-estar do ser humano, não isentando, como muitos querem crer, as elites regiamente capitalizadas nos tempos do consórcio demo-tucano. Sendo assim, onde estaria a novidade, e até mesmo a necessidade da agenda de Marina Silva?
Equilíbrio ambiental e desenvolvimento sustentável são elementos indispensáveis ao futuro do país. Exigem do movimento ecológico uma reformulação radical que o torne matriz de uma nova esquerda. A Amazônia é um exemplo. Seu desmatamento é obra conjunta de latifundiários, grandes empresários e empresas mineradoras. São os inimigos a serem confrontados prontamente. É essa a perspectiva da “doce” Marina e seus aliados recentes?
Quando em entrevista a uma revista semanal, a ex-ministra do Meio Ambiente disse: “Tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase 3 quilos. Foi difícil explicar até para meus filhos. No álbum de fotografias, cada um deles está sempre com uma estrelinha do partido. É como se eu tivesse dividido uma casa por muito tempo com um grupo de pessoas que me deram muitas alegrias e alguns constrangimentos. Mudei de casa, mas continuo na mesma rua, na mesma vizinhança“. Marina mistura oportunismo e desorientação espacial.
A senadora do PV sabe que, uma vez derrubada, a floresta não se recompõe. Que tipo de “empates” se propõe travar com as alianças escolhidas? O partido que a convidou para bailar sobrevive de parcerias antagônicas a sua antiga história de combatividade, coerência e superação. Como nas matas degradadas, a política tem fios de navalha onde tudo perde a cor e dificilmente se refaz. A rua e a vizinhança são decorrências geográficas de escolhas caras. No caso de Marina, tudo mudou.
Chico Mendes reafirmava que “se descesse um enviado dos Céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver”.
Por sua discípula isso está cada vez mais improvável.
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1 comentários:
Caroni,
a tática e a estratégia política precipitada escolhida ou orientada a Marina estão equivocadas, ela parece apenas querer negociar uma posição em qualquer governo futuro. E a análise política das ações dela devem ser feitas. Infelizmente me permito criticar o seu texto. Não há nele uma informação mais relevante. Voce não fala da matriz energética que é a essência do movimento ecológico e uma floresta derrubada pode sim ser reeguida em pouco tempo com as técnicas permas e agrôs que são praticadas hoje com muito sucesso. Portanto o seu texto boiou. Nunca votei no PV ou na praga PSDB/DEM, vou votar na Dilma noemal. Há que se derrotar a direita sim, mas voce precisa dar uma reciclada aí, assim como o agronegócio que bomba o pib precisa, os quadros da natureza para os próximos anos são delineados e voce perdeu a chance nesse espaço de refleti-los. A base de todos os produtos da Natura é o petróleo e ninguém fala, por exemplo, pô. A Marina vacilou, não explicou nada e colocou a ecologia como uma opção de moda, estilo de vida e não é nada disso, e as pessoas que trabalham pela educação, produção e sistemas floretais talves tenham perdido uma chance, assim como o seu texto aqui. Se a gente continuar queimando petróleo e fazendo agrobusiness e monocultura, a gente não segura o planeta, então nem a Marina politicamente e nem voce como crítico falaram legal. O caminho para se chegar as soluções vai ser pela esuqerda sim. Mas antes das metáforas sobre a natureza que voce usa no texto, fala com um biólogo (não sou), no mínimo. Se liga, magro, se não vira papo furado.
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