Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Nestes tempos de espanto diário com a transfiguração do Brasil em algo que vai se tornando irreconhecível, recordo o primeiro capítulo de “Conversa na Catedral”, sem dúvida o melhor romance de Mario Vargas Llosa, e não porque foi escrito quando ele ainda era um intelectual de esquerda. Num reencontro tardio, o fracassado jornalista Zavalita tem uma longa e etílica conversa com Ambrósio, antigo empregado de sua família. Exumando lembranças de um passado esperançoso e sepultado, ele se pergunta algumas vezes: “mas em que ponto foi que o Peru se fodeu?”. Lá estava em cacos o Peru que fora promissor, sob o tacão da ditadura de Odría, nos anos 1960. Aqui estamos nós, sob algo que não tem nome exato, sob esta desconstrução diária do que havia, sob violências de formas diversas e uma incerteza recorrente: haverá salvação para nós e o Brasil? Ou do descarrilhamento atual virá um país despedaçado, em que as partes não se entendem nem se reconhecem?.