sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Cheiro de golpe no ar

Por Frei Betto, em seu site:

O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sugeriu, em 19 de fevereiro, que o povo deve ir às ruas “contra a chantagem do Congresso”. Bastou este aceno autoritário para os aliados do presidente convocarem manifestação para o domingo, 15 de março.
Ora, quando uma autoridade do Poder Executivo convoca uma manifestação contrária a outro Poder da República, no caso o Legislativo, isso é gravíssimo e sinaliza conspiração golpista ou, sem rodeios, o fechamento do Congresso. Tomara que o Poder Judiciário, representado pelo STF, proíba tal manifestação, pois caso contrário correrá o risco de assinar o fechamento de suas portas.

Mais tarde será tarde, estaremos na ditadura

Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:

Até quando as instituições, especialmente Congresso e STF, pouparão Bolsonaro, permitindo que ele avance com a tática de testar os limites da democracia, para em alguma hora romper a cerca e instaurar a ditadura?

A quarta-feira de cinzas foi de protestos, alguns mais enérgicos, como o do ministro do STF Celso de Mello, outros mais brandos, como os de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Dias Toffoli, presidente do STF, sem falar no silêncio imperdoável do presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre.

Até quando as elites econômicas vão acreditar que será possível haver reformas neoliberais, ajuste fiscal e crescimento com Bolsonaro na Presidência?

Coronavírus agrava economia já sem rumo

Da Rede Brasil Atual:

Com o fim do carnaval, o mercado brasileiro entrou em “pânico” nesta quarta-feira (26), superando a queda dos principais mercados mundiais, abalados por conta das notícias sobre a disseminação da epidemia do coronavírus. Por aqui, a falta de rumo da política econômica do governo Bolsonaro deve ser agravada por conta da retração da economia mundial, em especial a da China, foco principal da infecção e principal parceira comercial do Brasil. Há ainda as tensões políticas estimuladas pelo próprio presidente, que ampliam as incertezas no cenário econômico.

As crises e os capitães

Por Fernando Brito, em seu blog:

Os jornais, pelo mundo afora, dizem que esta é a pior semana econômica desde a crise de 2008.

É, portanto, bom lembrar que os efeitos daquela não desapareceram de uma hora para outra e que os governos, por toda a parte, tinham instrumentos que, de alguma forma, ajudaram na sua estabilização, provendo liquidez pela baixa de juros, pelas emissões e até, como ocorreu com a General Motors, com aportes diretos nas empresas.

E isso já não é possível hoje, senão numa muito menor escala.

Bolsonaro imita Collor e pode ter mesmo fim

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Ao perceber que estava perdendo o apoio do mercado e da mídia, e sem sustentação política no Congresso Nacional, Fernando Collor jogou a última cartada para evitar o impeachment: convocou a população a ir às ruas num domingo, vestida de verde e amarelo, para defender o seu governo, em 1992.

"Não me deixem só!", implorou ele numa reunião com taxistas no Planalto. No domingo, a população foi às ruas, mas vestida de preto, para protestar contra os desmandos do primeiro presidente eleito após o golpe cívico-militar de 1964.

Foi a gota d´água. Pouco depois, seu governo foi derrubado nas ruas, no Congresso e no STF.

Agora, o capitão Bolsonaro também está perdendo o apoio do mercado e da mídia, dois pilares da sua eleição, e também entrou em confronto com o Congresso Nacional.

A Bolsa e a aposta perdida de Bolsonaro

Editorial do site Vermelho:

Com a reabertura da Bolsa de Valores de São Paulo, após os festejos do carnaval, foi possível observar os efeitos da crise no chamado “mercado internacional” no Brasil. As quedas acentuadas dos últimos dias refletiram as consequências da expansão do coronavírus para a Europa e Estados Unidos. Pesou de maneira significativa, também, o prognóstico de redução do Produto Interno Bruto (PIB) do Japão e de uma possível desaceleração do crescimento chinês.

Adeus, governo Bolsonaro

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Governar é mais do que nomear e demitir; requer ter poder para reformar as instituições e realizar políticas que levem o país na direção desejada.

Para ter poder não basta ser eleito; é preciso ter “legitimidade política“ – ou seja, ter apoio nas elites e no povo. Quando um presidente da República deixa de ter legitimidade, podemos dizer que seu governo acabou. Ele não tem mais condições de cumprir seu programa de governo, tem apenas que “segurar as pontas” para não sofrer processo de impeachment.

Por exemplo, o governo Sarney terminou em 1987 quando o Plano Cruzado fracassou e ele decidiu ficar mais um ano no governo.

O 25 de Ventoso de Jair Bolsaparte

Por Marcelo Zero

Jair Bolsonaro, insatisfeito com os limites constitucionais e democráticos impostos ao exercício de poder na presidência da República, lançou, pelas milícias digitalizadas, sua candidatura a Imperador do Brasil.

Sua inspiração, contudo, não vem de Pedro I ou Pedro II, mas sim de Napoleão Bonaparte.

Bolsonaro parece pretender fazer, no próximo dia 25 de Ventoso (no calendário da Revolução Francesa -15 de março, no calendário gregoriano), o mesmo que Napoleão fez no 18 de Brumário de 1799: dar um golpe.

Entretanto, a diminuta envergadura moral, intelectual e histórica do candidato a ditador o aproxima mais de outro Bonaparte, o sobrinho Luís, que repetiu a história como farsa corrupta.

Como Jair, candidato a Pedro III, Luís Bonaparte fora antes eleito deputado e presidente da República antes de dar o golpe de Estado e proclamar-se Napoleão III, também chamado de “Napoleão, o Pequeno”, por Victor Hugo.

Movimento popular reage à política golpista

Por Carlos Pompe

Durante o Carnaval, o presidente Bolsonaro compartilhou em seu número pessoal de WhatsApp vídeo convocando ato contra o Congresso Nacional. No texto que enviou junto com o vídeo, o presidente escreveu: “15 de março, Gen Heleno/Cap Bolsonaro. O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. A mesma arte foi divulgada por Regina Duarte, anunciada como futura secretária da Cultura do Governo Federal. Alguns panfletos convocatórios evocam o Ato Institucional nº 5 da ditadura militar (AI-5, que cassou mandatos de parlamentares oposicionistas, interveio nos municípios e estados e favoreceu a institucionalização da tortura de presos políticos) e pedem a saída dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Petardo: As reações à provocação fascista

Por Altamiro Borges

Bolsonaro pode ter dado um tiro no pé ao agitar o ato do 'foda-se' ao Congresso e ao STF. De todos os cantos partem críticas ao fascista: das tímidas notas dos presidentes da Câmara e do STF, ao duro rechaço das forças de esquerda. As centrais sindicais e movimentos sociais já organizam atos em defesa da democracia.

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José Dias Toffoli, presidente do STF – um dos alvos do ato fascista – reagiu de forma branda, sem citar Bolsonaro. Após afirmar que não há democracia sem Legislativo atuante e Judiciário independente, ele pregou a "paz para construir o futuro" e "a convivência harmônica entre todos".

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Rodrigo Maia, presidente da Câmara, também reagiu com platitudes: "Só a democracia é capaz de absorver sem violência as diferenças da sociedade e unir a nação pelo diálogo. Acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas". Já Davi Alcolumbre, chefão do Senado, sumiu!

TVs tentaram abafar carnaval politizado

Escola de Samba Águia de Ouro, vencedora do carnaval de São Paulo
Por Altamiro Borges

Como já era de se esperar, o Carnaval deste ano foi escrachadamente politizado. Motivos para isto não faltaram. O laranjal de Jair Bolsonaro deu farta munição para a gandaia. Fanatismo religioso, milicianos, fake news, trevas na cultura, racismo, machismo, homofobia – entre outras aberrações e regressões. Dos milhares de blocos de rua espalhados pelo país às escolas de samba na Marquês de Sapucaí, os foliões detonaram a “familícia” no poder. As emissoras de televisão, porém, evitaram dar maior destaque à politização momesca – algumas por mercenarismo e outras talvez para evitar maiores confrontos com o vingativo “capetão”.

Bolsonaro e o ativismo evangélico

Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade?

Aproxima-se a hora do confronto final

Bolsonaro foi eleito vereador por milicianos

Entre o impeachment e o golpe...

O coronavírus e a economia brasileira

10 minutos para entender economia

A ‘aliança’ entre Bolsonaros e as milícias

Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

Após a morte do líder miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, na Bahia, Jair Bolsonaro disse no Rio:

“Eu não conheço a milícia do Rio de Janeiro, não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro, não existe nenhuma ligação minha com milícia no Rio”. Seu filho Flávio, senador, comentou no mesmo dia: “Não temos envolvimento nenhum com milícia”.

Uma cronologia de acontecimentos indica o contrário: laços da família com a milícia.

Sinaliza mais: que o ano de 2007 parece ter selado uma aliança entre o clã e a milícia, com QG no antigo gabinete de deputado estadual de Flávio na Assembleia do Rio.

Miliciano-em-chefe adere ao ato golpista

Por Luis Felipe Miguel

O miliciano-em-chefe do país aderiu à manifestação convocada para o próximo dia 15, cuja bandeira principal, descrita em bom português, é "fechem o Congresso!" O que isso significa?

Não creio que seja muito diferente de situações similares que ocorreram no ano passado.

Bolsonaro sabe que não tem força para aplicar um novo golpe e instaurar uma ditadura pessoal.

A ampliação do espaço dos generais em seu governo não significa que ele está ganhando ascendência sobre as forças armadas, muito pelo contrário. E, apesar da calculada explosão de Augusto Heleno, a cúpula militar sabe muito bem que lhe convém mais essa "democracia" tutelada e capenga do que uma ruptura aberta com a ordem constitucional.