Por razões políticas de classe, a mídia tem seu candidato preferencial, o demotucano José Serra. Ao mesmo tempo, ela fará de tudo para enquadrar a candidatura de Dilma Rousseff, a mais forte concorrente nas eleições de 2010. Esta dupla tática já foi usada na campanha de Lula em 2002 e resultou na famosa “carta ao povo brasileiro”, também ironizada de “carta aos banqueiros”. Ela fará campanha, aberta e enrustida, para Serra, mas tentará evitar “extravagâncias” de Dilma. O objetivo é domesticar o seu programa e afastar os “setores mais radicais, bolcheviques”.
Os movimentos neste sentido já se fazem sentir. Seguindo recomendações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comando petista registrou a candidatura de Dilma e anexou um “programa provisório”. O texto reúne as principais resoluções do congresso partidário, ocorrido em fevereiro último. A gritaria foi imediata. Nas emissoras de televisão e nos jornalões, os comentaristas de aluguel atacaram várias propostas, como a da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, da criação do Imposto sobre Grandes Fortunas e da não criminalização dos movimentos sociais.
“Uso intensivo da blogosfera”
O alvo central da gritaria histérica, porém, foi o capítulo que trata da democratização dos meios de comunicação. O texto afirma, entre outros pontos, que “apesar dos avanços dos últimos anos, a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático”. Diante deste cenário adverso à democracia, o “programa provisório” de Dilma Rousseff apresentava várias propostas concretas e progressistas, entre elas:
“Ampliação da rede de equipamentos, como centros culturais, museus, teatros e cinemas, política que deve estar articulada com a multiplicação dos pontos de cultura, representando amplo movimento de socialização cultural”; “Iniciativas que estimulem o debate de idéias, com o fortalecimento das redes públicas de comunicação e o uso intensivo da blogosfera”; “Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”.
Resoluções da 1ª Confecom
O texto deixava explícito que se baseou nos debates na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro passado, e assumia abertamente as suas resoluções. “Elas prevêem o estabelecimento de um novo parâmetro legal para as telecomunicações no país; a reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social; o fim da propriedade cruzada; a exigência de uma porcentagem para a produção regional, de acordo com a Constituição Federal; a proibição da sublocação de emissoras e de horários; e o direito de resposta coletivo”.
Mas, da mesma forma como a Confecom foi sabotada pelos barões da mídia, o “programa provisório” também foi duramente bombardeado nas últimas horas. Para evitar maiores traumas, o comando de campanha simplesmente pediu ao TSE para retirar as “menções polêmicas”, sob a desculpa de que o programa oficial será elaborado pelo conjunto dos partidos coligados. Com mais esta trapalhada, ele deu força aos donos da mídia, que festejaram sua vitória parcial. A questão é: Dilma Rousseff, eleita presidente, enfrentará a tirania midiática ou se dobrará as suas pressões e chantagens?
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terça-feira, 6 de julho de 2010
FAT e seguro-desemprego: Serra mente!
Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra deverá ser a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.
Essa tática já está em pleno uso. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro apareceu na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”. Em seu discurso na convenção do PTB, em 12 de junho, ele voltou a se jactar destes feitos. “Tenho orgulho de ter iniciado esse processo”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como adverte o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Fo instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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Essa tática já está em pleno uso. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro apareceu na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”. Em seu discurso na convenção do PTB, em 12 de junho, ele voltou a se jactar destes feitos. “Tenho orgulho de ter iniciado esse processo”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como adverte o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Fo instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
A velha mídia está derretendo
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no sítio Carta Maior:
Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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A mídia é o partido do capital
Reproduzo entrevista concedida ao jornal O Piquete, editado pelo Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista (BA):
O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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