segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A unidade camponesa em Brasília

Valter Campanato/ABr
Do sítio do MST:

O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas foi aberto oficialmente hoje, 20 de agosto, pelos 7 mil participantes de todos os estados do Brasil, reunidos no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília.


A mística iniciou o dia relembrando todos os momentos de revoltas de camponeses no país, entre eles a Cabanagem, Canudos e Trombas e Formoso. Além disso, foram lembrados os mártires da luta pela terra de várias regiões do país. Dentro desse primeiro momento de animação, foi lida a declaração do I Congresso Camponês, realizado em 1961, em Belo Horizonte (MG), e o documento final do Seminário Nacional de Organizações Sociais do Campo, realizado em fevereiro em Brasília, onde foi discutido e decidido a realização desse Encontro Unitário, em comemoração aos 51 anos do Congresso Camponês, e para reforçar a unidade das organizações e movimentos sociais do campo em torno de lutas comuns.

Os participantes puderam ouvir, também, a mensagem enviada por dom Tomás Balduino, bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que, impossibilitado de comparecer ao Encontro, saudou a todos e todas que estão no evento e reafirmou a importância desse momento de luta contra o inimigo comum: o agronegócio e o capital.

Representantes das várias organizações presentes neste Encontro, como os movimentos da Via Campesina, Contag, Fetraf, Quilombolas e Indígenas, saudaram a todos os participantes com palavras de motivação e destacando, principalmente, a importância desse momento histórico para o país e para a luta no campo. A importância da unidade dos movimentos do campo nessa conjuntura, de ações violentas contra trabalhadores e comunidades tradicionais, de grandes projetos que impactam o meio ambiente e expulsam as pessoas do campo, esteve presente em todas as falas.

Dom Guilherme Werlang, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lembrou que entre as pautas de luta sempre deve estar a busca por justiça social, pela dignidade e pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Além disso, o bispo destacou a importância de que esses movimentos sejam autônomos e não atrelados aos governos ou a algum tipo de poder. Já Carmem Ferreira, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), enfatizou a importância desse encontro como sendo da classe trabalhadora do país.

“Precisamos impor limites ao agronegócio e aos fazendeiros. Precisamos dar o recado ao governo brasileiro que, com suas políticas, está alimentando esse setor”. Essa foi a mensagem do representante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Cleber Buzatto. Para a representante do Movimento Camponês Popular (MCP), Aline Nascimento, esse é um momento crucial onde o estado se mostra submisso diante dos interesses do capital. Além disso, segundo ela, esse é o momento de realimentar a utopia.

O cacique Babau Tupinambá, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), emocionou a todos e todas com um canto tupinambá que relembra as violências e tudo que os povos indígenas sofreram desde a colonização do país. “Somos considerados entraves para todos os setores do país”, denunciou o cacique. Ele lembrou, ainda, o genocídio do povo indígena nesses 512 anos de dominação, e a luta constante desse povo pela garantia de seu território. Babau denunciou, também, que o agronegócio só consegue fazer tudo o que faz contra os povos do campo, das florestas e das águas, porque tem o aval do governo. Segundo ele, esse governo mostrou de que lado está quando colocou mais de 500 projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) dentro de terras indígenas.

Sergio Miranda, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), reforçou que somente com a união e a participação de todos os movimentos nesse momento, é possível dar força à luta pela reforma agrária.

A viola entoa o hino nacional

Pereira da Viola, grande artista popular do estado de Minas Gerais, entoou o Hino Nacional em sua viola, animando os 7 mil participantes do Encontro. Sua apresentação levantou os participantes e a mesa de abertura do Encontro.

O representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Benedito, destacou em sua fala o direito que todo quilombolas tem à terra, mas que na prática ainda é muito complicado ter o território reconhecido como remanescente de quilombo, e acessar os programas do governo. Já para Lázaro, da Federação de Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), esse momento vai ser um divisor de águas para a classe trabalhadora do país, principalmente para a do campo.

Para o representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), José Josivaldo, esse é o momento em que o capitalismo vai aprofundar a retirada de direitos dos povos do campo. “É preciso, da nossa parte, identificar o nosso inimigo tradicional: as transnacionais”, disse ele. Além disso, ele aproveitou o momento para reafirmar a posição do MAB contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.

Edmundo Rodrigues, da CPT, lembrou toda a luta dos povos do campo durante todos esses anos à custa de muito sangue. “Não queremos mais que nossas lutas sejam à custa do sangue do nosso povo”, enfatizou ele. Segundo Edmundo, o governo conseguiu colocar em prática o que não conseguiu ser feito no período da ditadura, que foram os grandes projetos, nocivos à cultura camponesa e ao modo tradicional dos povos.

Para Noeli, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), esse é um momento especial para a construção de alianças com as mulheres e homens do campo, das florestas e das águas. “Precisamos combater o inimigo que destroi a terra, as águas e a diversidade”, destacou ela.

Valter Silva, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), destacou que esse Encontro é uma prova de que o campesinato não chegou ao fim, como alguns teimam em dizer. Segundo ele, o Encontro é uma mostra de que o campesinato tem passado, presente e futuro. Valter destacou ainda que o Encontro é um momento importante, mas é necessário um processo de luta unificado após o evento também.

O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Valdir, reforçou a maturidade política do processo de criação desse Encontro e necessidade de lutas contra o modelo imposto pelo capital. “Ou nós derrotamos esse modelo, ou esse modelo nos derrota”, declarou ele. Além disso, Valdir destacou que sem ocupação de terra não há reforma agrária e convocou a retomada das ocupações de latifúndios no país. Para Alberto Broch, da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), a reforma agrária está no centro para as mudanças mais profundas. “A terra é um bem que precisa ser de todos que querem trabalhar nela”, finalizou ele.

Com a animação de todos esses movimentos e organizações do campo, das florestas e das águas, foram abertas as atividades do Encontro, que segue até o dia 22, em Brasília.

2 comentários:

Ignez disse...

Que esse Encontro de organizações do campo, das florestas e das águas denuncie a nocividade do agronegócio, das transnacionais e o assassinato do povo indígena a todo o Brasil! Que todos os brasileiros se mobilizem contra a destruição e o desrespeito praticado pelo capital. Que a Presidenta Dilma ouça essas vozes, que são as vozes do povo brasileiro!

Ana Cruzzeli disse...

Altamiro

Das coisas que mais doem aqui em Brasilia foi o Roriz ter atrapalhado a produção rural dentro da zona urbana.
Aqui no entorno de Brasilia havia as zonas do Incra dado na epoca do JK para suprir Brasilia de horti-fruti-granjeiro.
Foram separas terras para a pequena produção, tudo muito bem organizado. Ai a cidade cresceu de maneira desordenada e quem fez isso foi o Roriz e o pior aconteceu, a especulação imobiliário chegou nessa área e as invasões foram se avolumando com a QUADRILHA criada por RORIZ, aquele infeliz.

Moral da historia, perdemos grandes áreas produtivas. Hoje só resta Braslândia como produção rural de pequenos agricultores.

É triste contabilizar o mal que Joaquim Roriz fez a Brasilia. Bastaria ele ter feito como o Lula fez durante sua gestão, comprar a produção desses pequenos para as escolas publicas de Brasilia que nenhum pequeno produtor cairia nas garras dos especuladores.

Eu venho fazendo um mapeamento dessas zonas...
http://ced123.com/CCEB/meusarquivos/cceb-ano2011-3.jpg

Estamos calculando quanto Brasilia pode ter perdido com isso e como foi importante para todo o Brasil o projeto de compra de merenda dos assentados e pequenos produtores

Altamiro, quando eu faço algumas criticas ao MST e aos movimentos campesino, não é por não achar que a luta desse povo não é justa. Eu seria incoerente, afinal sou neta de um pequeno agricultor de Cabeceiras - GO que criou 8 filhos com a foice e inchada. Mas o pequeno tem que ter um socio que o ajude, e o estado é esse sócio.

Quando eu brigo pelo BNDES entrar como socio do Pau-de-açucar é nessa perspectiva. Não adianta só a terra, tem que ter um lugar para comercializar.Aqui está minha contribuição aos meus antepassados
e a luta campesina.
http://ced123.com/CCEB/feira_de_ciencias_ano_2011.html

E aqui também
http://ced123.com/projetos_campanhas_.html

E aqui tambem, de novo
http://anacruzzeli.com/atividades.html

Eu sou chata 90% do meu tempo, mas 10% eu tento ser mais proativa. Volto a dizer, quando faço critica é no sentido maior, jamais ficaria do lado errado do rio. Seria um desrespeito aos que me criaram, o BNDES tem que entrar de socio no varejo para ajudar o pequeno agricultor, o pequeno artesão, o pequeno cientista, e por aí vai.

Perdemos essa oportunidade em 2011, pela visão de que o comercio não tem que ter a mão do estado. Eu penso que a verdadeira revolução socialista está justamente no contrário.

Espero que o erro ( modestamente essa é minha avaliação) cometido em 2011 tenha a reversão necessária.

Se o estado facilitar o escoamento dos produtos organicos que só os pequenos são capazes de fazer, será a revolução que o MST e tantos outros movimentos campesino precisam.

E que esses movimentos, que esses encontros aí se ampliem e que o homem da cidade entenda o valor dos pequenos para emancipação do Brasil, pois há muito emprego no campo para gerar divisas, e não só na inchada não, a ciencia agricola é um mercado em expansão, eu sou da área de ciencia por causa da minha mãe, meu colega de escola João José é quimico por causa de sua trajetoria também de filho de pequeno agricultor e por aí vai.

Em Brasilia, temos muitos filhos de pequenos agricultores, por incrível que pareça. De Minas a Góias, de São Paulo até do Paraná todo mundo se encontra aqui e muitos escolheram produzir por aqui.
Se JK sonhou tal sonho quando criou Brasilia, esse sonho se realizou.
Brasilia é mais que os desmandos do SUPREMO, ou os ladrões-anões do orçamento, ou empresário como Luís Estevão ou Paulo Octávio ou politicos safados como Roriz. Brasilia é maior que isso. Ainda vamos mostrar que fazemos por merecer ser a capital da Republica, vai demorar um pouquinho, mais esse dia chegará.