Por Altamiro Borges
Passado o primeiro turno das eleições, a mídia “privada” – nos dois sentidos da palavra – começa a dar maior atenção à grave crise da água em São Paulo. Ela já fez o trabalho sujo, ludibriando a sociedade e ajudando a reeleger o governador Geraldo Alckmin (PSDB), e agora tenta retomar alguma credibilidade. Manifestações começam a pipocar na região metropolitana contra a falta de planejamento e de investimentos dos tucanos – que comandam o Estado há duas décadas – neste setor vital para a população. Algumas delas até poderiam ser dirigidas às sedes dos jornalões e das emissoras de rádio e televisão. Afinal, o PSDB e a mídia chapa-branca cometeram um verdadeiro estelionato eleitoral, um crime sem perdão!
Nesta quinta-feira (15), a Folha publicou um editorial em que abusa da inteligência de seus leitores – alguns ainda possuem senso crítico, imagino! Na maior caradura, o jornalão faz, pela primeira vez, duras críticas aos governos do PSDB. Segundo o jornalão, os relatos sobre a falta de água se multiplicam e não dá mais para o governador botar a culpa em São Pedro. “A estiagem recorde e o calor atípico talvez possam ser atribuídos às mudanças climáticas. O grave risco de desabastecimento da Grande São Paulo, entretanto, deve-se a outro fenômeno: a incúria das sucessivas gestões tucanas que comandam o Estado desde 1995”. Haja cinismo! A Folha só chegou a esta conclusão após ajudar a reeleger Geraldo Alckmin!
Durante toda a campanha eleitoral, o diário da famiglia Frias e o restante da mídia ignoraram os alertas sobre o crime do PSDB. Agora, porém, o editorial informa seus leitores: “Nessas duas décadas, o governo deveria ter avançado muito mais na proteção de mananciais e no tratamento de esgoto e dejetos industriais, bem como na redução do desperdício com produção e consumo hídrico. Isso sem mencionar a medida mais óbvia de todas: o aumento da capacidade de reservação. Desde 2011, pelo menos, a Sabesp reconhece a necessidade de reforçar o abastecimento da região metropolitana da capital. Há mais tempo especialistas no tema chamam a atenção para a insegurança hídrica do Estado”.
Todos estes alertas foram ignorados pelo governador Geraldo Alckmin, afirma a Folha. Só faltou ela confessar que preferiu esconder estes alertas para ajudar o tucano. Agora, as notícias sobre a falta de água se generalizam e a revolta cresce. E a situação ainda tende a se agravar. Na semana passada, a Justiça determinou que a segunda cota do chamado “volume morto” do Sistema Cantareira seja usada só em dezembro. “As reservas atuais podem se exaurir dez dias antes”, afirma, desesperada, a Folha. “Ainda assim, Geraldo Alckmin esquiva-se de informar a sociedade sobre os reais problemas que, segundo todas as evidências, os paulistas precisarão enfrentar, cedo ou tarde”.
Ou seja: confirma-se o estelionato eleitoral praticado pelos tucanos e por sua mídia chapa-branca! Os protestos contra este crime, que penalizará os paulistas, poderiam ser agendados para o Palácio dos Bandeirantes e também para as sedes de alguns veículos deste jornalismo do esgoto!
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Em tempo: Tentando ressuscitar o seu falso ecletismo, que ainda engana muitos ingênuos, a mesma Folha publicou nesta quarta-feira artigo de opinião do vereador Nabil Bonduki que ajuda a entender as causas reais da crise de água em São Paulo. Reproduzo-o abaixo:
Em tempo: Tentando ressuscitar o seu falso ecletismo, que ainda engana muitos ingênuos, a mesma Folha publicou nesta quarta-feira artigo de opinião do vereador Nabil Bonduki que ajuda a entender as causas reais da crise de água em São Paulo. Reproduzo-o abaixo:
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Folha 15 de outubro de 2014
NABIL BONDUKI
TENDÊNCIAS/DEBATES
A responsabilidade pela crise da água
A crise não é resultado apenas de uma seca sem precedentes. Vem sendo anunciada desde 2010, mas a Sabesp vendeu mais água do que poderia
Para não tomar medidas impopulares em período eleitoral, o governo Geraldo Alckmin tem deixado de adotar providências indispensáveis para enfrentar o estresse hídrico que afeta o Estado de São Paulo. De forma irresponsável, está criando o que pode vir a ser uma calamidade pública nas regiões de São Paulo e Campinas, onde vivem cerca de 25 milhões de cidadãos e onde se gera 23% do PIB nacional.
O nível do sistema Cantareira, que atendia 8,8 milhões de habitantes só na região metropolitana de São Paulo, caiu a 4,5%. Em um mês poderá estar zerado. O sistema Alto Tietê, que atendia 3,5 milhões de moradores, está abaixo de 11% da sua capacidade. Mesmo que as chuvas de verão venham dentro da média histórica, a recuperação das represas será tímida.
Estima-se que, se os índices pluviométricos ficarem na média histórica, em 2015 a situação estará pior do que em 2014. Se chover menos que a média, faltará água e o racionamento, que vem sendo adiado por motivos eleitorais, embora metade dos paulistanos sofram com cortes não comunicados, terá que ser rigoroso. Não existe, ou não foi anunciado, um plano de contingência para essa possibilidade.
A crise não é apenas resultado de uma seca sem precedentes. Estava anunciada desde 2010, mas a Sabesp, raciocinando como empresa privada, vendeu mais água do que poderia. Relatório da própria empresa, de 2011, afirma que ela estava retirando do sistema mais água do que repunha.
Depois de passar anos sem promover campanhas educativas de peso para difundir o uso sustentável da água, as decisões da gestão Alckmin foram pautadas pela lógica do lucro e pelas eleições. Embora tente passar uma imagem de tranquilidade, a questão é mais profunda.
Assim, em depoimento na CPI na Câmara Municipal que investiga a crise hídrica, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmou, com a arrogância dos "sábios", que a seca do verão de 2014 só ocorrerá daqui a 3.338 anos, desconsiderando os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
A Sabesp, semiprivatizada, está mais preocupada em vender água e distribuir dividendos do que promover o uso racional de um bem escasso. Nos últimos cinco anos, seu lucro líquido foi R$ 8,2 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões foram distribuídos aos seus acionistas.
Ademais, a Sabesp fracassou em medidas estruturais, como na redução das perdas causadas por ineficiências. Entre 2009 e 2014, a empresa investiu R$ 1,1 bilhão no Programa de Redução de Perdas, mas o resultado foi insignificante: segundo dados apresentados por Pena, entre 2009 e 2013, o índice de perdas de micromedição caiu de 31,4% para 30,4%; o índice de perdas físicas, de 20,4% para 19,8%.
Reportagens publicadas no "Jornal da Tarde" e na "Carta Capital" mostraram que as empresas contratadas para a execução desse programa são de propriedade de ex-diretores da própria Sabesp, suspeitando-se de fortes ligações com o PSDB.
Já que a Assembleia Legislativa não investiga e que inexiste controle social na Sabesp, a CPI em curso na Câmara Municipal é uma oportunidade para desvendar a caixa- -preta que está por trás da crise hídrica que afeta os paulistas.
NABIL BONDUKI, 58, arquiteto e urbanista, professor titular de planejamento urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, é vereador (PT) e membro da CPI da Sabesp.
Folha 15 de outubro de 2014
NABIL BONDUKI
TENDÊNCIAS/DEBATES
A responsabilidade pela crise da água
A crise não é resultado apenas de uma seca sem precedentes. Vem sendo anunciada desde 2010, mas a Sabesp vendeu mais água do que poderia
Para não tomar medidas impopulares em período eleitoral, o governo Geraldo Alckmin tem deixado de adotar providências indispensáveis para enfrentar o estresse hídrico que afeta o Estado de São Paulo. De forma irresponsável, está criando o que pode vir a ser uma calamidade pública nas regiões de São Paulo e Campinas, onde vivem cerca de 25 milhões de cidadãos e onde se gera 23% do PIB nacional.
O nível do sistema Cantareira, que atendia 8,8 milhões de habitantes só na região metropolitana de São Paulo, caiu a 4,5%. Em um mês poderá estar zerado. O sistema Alto Tietê, que atendia 3,5 milhões de moradores, está abaixo de 11% da sua capacidade. Mesmo que as chuvas de verão venham dentro da média histórica, a recuperação das represas será tímida.
Estima-se que, se os índices pluviométricos ficarem na média histórica, em 2015 a situação estará pior do que em 2014. Se chover menos que a média, faltará água e o racionamento, que vem sendo adiado por motivos eleitorais, embora metade dos paulistanos sofram com cortes não comunicados, terá que ser rigoroso. Não existe, ou não foi anunciado, um plano de contingência para essa possibilidade.
A crise não é apenas resultado de uma seca sem precedentes. Estava anunciada desde 2010, mas a Sabesp, raciocinando como empresa privada, vendeu mais água do que poderia. Relatório da própria empresa, de 2011, afirma que ela estava retirando do sistema mais água do que repunha.
Depois de passar anos sem promover campanhas educativas de peso para difundir o uso sustentável da água, as decisões da gestão Alckmin foram pautadas pela lógica do lucro e pelas eleições. Embora tente passar uma imagem de tranquilidade, a questão é mais profunda.
Assim, em depoimento na CPI na Câmara Municipal que investiga a crise hídrica, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmou, com a arrogância dos "sábios", que a seca do verão de 2014 só ocorrerá daqui a 3.338 anos, desconsiderando os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
A Sabesp, semiprivatizada, está mais preocupada em vender água e distribuir dividendos do que promover o uso racional de um bem escasso. Nos últimos cinco anos, seu lucro líquido foi R$ 8,2 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões foram distribuídos aos seus acionistas.
Ademais, a Sabesp fracassou em medidas estruturais, como na redução das perdas causadas por ineficiências. Entre 2009 e 2014, a empresa investiu R$ 1,1 bilhão no Programa de Redução de Perdas, mas o resultado foi insignificante: segundo dados apresentados por Pena, entre 2009 e 2013, o índice de perdas de micromedição caiu de 31,4% para 30,4%; o índice de perdas físicas, de 20,4% para 19,8%.
Reportagens publicadas no "Jornal da Tarde" e na "Carta Capital" mostraram que as empresas contratadas para a execução desse programa são de propriedade de ex-diretores da própria Sabesp, suspeitando-se de fortes ligações com o PSDB.
Já que a Assembleia Legislativa não investiga e que inexiste controle social na Sabesp, a CPI em curso na Câmara Municipal é uma oportunidade para desvendar a caixa- -preta que está por trás da crise hídrica que afeta os paulistas.
NABIL BONDUKI, 58, arquiteto e urbanista, professor titular de planejamento urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, é vereador (PT) e membro da CPI da Sabesp.
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