quinta-feira, 16 de julho de 2015

Não há consenso para o impeachment

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

A permanência de Dilma na presidência da República hoje depende menos da capacidade de reação do governo e do lulismo, e muito mais das contradições existentes no campo da oposição.

Claro, os atos públicos que o PT e outras forças começam a organizar são um sinal de que um eventual impeachment deixará marcas, provocará caos, não será obtido sem resistência – nas ruas e nas instituições.

Ainda assim – dado o grau de ódio nos setores médios, na mídia velha (Globo/Abril/Folha et caterva) e nos partidos conservadores – , a oposição correria o risco e faria o impeachment paraguaio, se houvesse certo grau de consenso entre os personagens que hoje estão no centro do tabuleiro: Aécio Neves, Eduardo Cunha, Alckmin e Michel Temer.

Aécio quer a queda imediata de Dilma. Sem a máquina em Minas, ele sabe que não pode esperar até 2018. Mas não é uma queda qualquer. Dilma teria que ser apeada do poder, num golpe paraguaio que levasse junto o vice Michel Temer. Nesse caso, com afastamento ocorrendo na primeira metade do mandato, a Constituição impõe a convocação de novas eleições populares. E Aécio seria o candidato da oposição.

O PSDB de São Paulo não quer esse roteiro. O senador Aloysio deu declarações à “Folha” de que o impeachment seria perigoso para o país. E especulou que um governo Temer jogaria Lula na oposição – com chance de vencer em 2018, capitanenando uma frente de centro-esquerda. Espertamente, não falou que a outra hipótese seria um governo Aécio… Mas o recado era para o senador mineiro: “não conte, nesse momento, com o PSDB paulista em sua aventura”.

Alckmin e outros tucanos paulistas querem que Dilma fique no poder até 2018. Fraca, desgastada… O PT e Lula passariam mais três anos na berlinda. Em 2018, Alckmin ( e não Aécio) seria o candidato da oposição.

E Michel Temer? Quando ouve Aécio falar em deposição da chapa Dilma/Temer, o PMDB se divide. O setor mais próximo ao vice-presidente pode rejeitar uma manobra que sacrifique Michel Temer.

Este quadro de disputa nos intestinos da oposição parece favorecer Dilma. Pode permitir que ela passe por 2015, aos solavancos, e se recupere (um pouco) em 2016 e 2017.

Resta o quarto personagem. Eduardo Cunha, por enquanto, não quer impeachment de Dilma/Temer (porque nesse caso Aécio poderia ser eleito numa eleição antecipada). Cunha não ganharia nada com isso.

Mas, fustigado pela Lava-Jato, o presidente da Câmara pode jogar no impeachment de Dilma (só dela, permitindo a posse eventual de Temer). Seria uma vingança contra o PT (que não teria agido para impedir que as investigações contra Cunha avancem).

Vejam que a equação não fecha:

- queda de Dilma/Temer não conta com apoio do PSDB paulista e de parte do PMDB;

- queda só de Dilma poderia interessar a Temer e Cunha, mas não ao PSDB, que chegaria a 2018 como sócio minoritário de um governo do PMDB.

Tudo isso é pura teoria.

O fato é que não há nenhum fato concreto que permita avançar – juridicamente – na tese do impeachment. Mas a tese vai prosperar, porque a oposição (politica e midiática) perdeu qualquer pudor.

As contradições dessa mesma oposição é que podem salvar o governo Dilma. Salvando também a democracia brasileira. Que está sob ataque da fúria conservadora.

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P.S.: publicamos no blog a “conta” divulgada pelo jornal “Valor”, que afirma haver 348 deputados a favor do afastamento de Dilma. Este número está sobrevalorizado, e claramente não leva em conta as nuances e os interesses contraditórios que hoje impedem um consenso na oposição. A “Folha” apresenta outro número, fala em 250 deputados a favor de um impeachment – bem abaixo do mínimo exigido. Todas essas contas parecem servir mais ao propósito de deixar o governo mais fraco, e refém da mídia velha e da agenda conservadora.

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