quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Por que Diretas Já

Por Bepe Damasco, em seu blog:                                                                                                    

O jornal O Globo expôs sua preocupação com a possível queda de Temer pregando eleições indiretas e rejeitando a proposta de antecipação da eleição presidencial. Para a família Marinho, ou "famíglia" como a ela se refere o bravo Altamiro Borges, o apelo à soberania popular como remédio para o caos causado pelo golpe não passa de um "jeitinho" que deve ser evitado a todo custo.

Até aí nada demais. É a Globo sendo Globo como sempre foi. Mas a retórica antidemocrática dos Marinho remete à frase antológica do saudoso Leonel Brizola: "Se a Globo estiver contra, sou a favor. Se a Globo for a favor, sou contra." Para os democratas e progressistas, está aí um parâmetro simples, prático e arrasadoramente infalível.

Digo isso para me posicionar no debate da esquerda sobre a conveniência e a viabilidade de uma campanha por eleições diretas diante da destruição do Brasil pelo consórcio golpista. A bandeira política das diretas, além de agregadora, de fácil assimilação pelas massas e impregnada de história, é um elemento importante para acuar o máximo possível o governo usurpador, além de propiciar a retomada da iniciativa política por parte dos defensores da democracia.

Combinada com as mobilizações contra a retirada acelerada de direitos sociais e o desmonte civilizatório em curso, a campanha tem potencial inclusive para despertar a classe trabalhadora, até agora mera expectadora, embora principal vítima, da tragédia política, econômica e social que se abate sobre o país.

Claro que os senões, ressalvas, riscos e preocupações estão presentes na estratégia de investir nessa campanha. Primeiro porque não é possível comparar a conjuntura de hoje com a de 32 anos atrás, quando campanha das diretas já empolgou o povo, assegurando um lugar de destaque na história das lutas democráticas brasileiras. Naquela ocasião, uma ditadura isolada e decadente apostava suas últimas fichas para continuar no poder. Acabou derrotando a emenda Dante de Oliveira, na Câmara dos Deputados. Mas a "vitória de Pirro" foi o último prego no caixão da ditadura.

Hoje, o Congresso Nacional é um obstáculo bem maior às causas democráticas e populares do que fora o de 1984, devido à sua composição desqualificada politicamente como nunca e corrupta até a raiz dos cabelos. Difícil imaginar que uma emenda propondo eleições diretas possa ser aprovada por suas excelências.

Mas há uma briga de foice no escuro entre os sócios do golpe. Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal e grupos de mídia se engalfinham, enquanto o governo derrete a olhos vistos. Essas rachaduras abalam seriamente a estrutura golpista. Fazê-la ruir de vez é um dos desafios da campanha pelas diretas já versão 2016.

Um dos pontos polêmicos dessa discussão se refere à devolução do mandato a quem de direito: a presidenta Dilma. Valorosos lutadores defendem essa posição. Sem dúvida é a opção mais correta do ponto de vista republicano e democrático. Sem falar que redimiria a presidenta, vítima de uma brutal e infame injustiça.

O problema é que, tomando a realidade como a medida de todas as coisas, essa proposta carece de viabilidade, pois setores da sociedade mobilizáveis para uma campanha por diretas não estariam dispostos a se mexer pela volta de Dilma. E mais: as instituições do Estado estão tão esgarçadas e apodrecidas que só podem começar a ser regatadas pelo voto popular. Apenas a legitimidade do voto pode retirar dos escombros uma democracia moribunda e uma economia em frangalhos.

Outro argumento contrário à antecipação da eleição, segundo o qual devemos esperar Temer e aliados conservadores caírem ainda mais de podre até 2018, pois assim estaria pavimentado o caminho para a vitória eleitoral da esquerda e das forças democráticas, traz embutido uma armadilha: ao abdicarmos de uma bandeira capaz de ampliar e aprofundar a resistência a Temer, o deixaremos mais à vontade para seguir na sua toada de entregar as riquezas nacionais, tirar os pobres do orçamento com a liquidação dos direitos sociais e transformar esse outrora promissor país em um paraíso de agiotas e rentistas.

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