Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
Em entrevista à Veja, o presidente Michel Temer deixa claro que vai lutar até o fim pela cadeira que ocupa, conquistada com muito esforço e risco após liderar a conspiração golpista que promoveu a derrubada de sua companheira de chapa.
Temer não tem vergonha, nem a imprensa lhe cobra esse tipo de escrúpulo moral, de ter sido eleito pela chapa de Dilma Rousseff, do PT, e agora estar aliado aos adversários de Dilma e do PT.
É uma traição política tão repugnante que não consigo imaginar como alguém pode conceber que isso não é um golpe.
Um impeachment dentro das regras democráticas implicaria tão somente a remoção do presidente da república, mas a manutenção de todo o resto do governo, que foi eleito pela população.
Aliás, talvez por perceberem essa contradição, os golpistas insistem na cassação da chapa no TSE, com a preservação de Michel Temer: assim se sentirão mais confiantes de terem feito a cirurgia perfeita. Do ponto-de-vista médico, é uma inversão, contudo. É como se o TSE fosse promover a remoção de todo o corpo, para deixar intacto e vivo apenas o tumor.
Michel Temer, vice-presidente de uma chapa presidencial que recebeu 54 milhões de votos, promoveu, após o golpe, um expurgo brutal de todos os quadros ligados ao partido que venceu as eleições. Em seguida, deu início a reformas que foram derrotadas na campanha eleitoral, e que continuam sendo rejeitadas de maneira esmagadora pela sociedade. E agora mantém um relativo controle sobre a opinião pública, concentrando verbas federais unicamente na mídia chapa-branca.
O chapa-branquismo da mídia é baseado numa absoluta convergência de interesses entre governo Temer, mercado financeiro e a própria mídia.
Há um grande teatro sendo exibido à opinião pública.
À mídia, sempre interessou um Temer fraco, à beira da deposição, brandindo sua impopularidade como se esta fosse um “trunfo”: é a única maneira de lhe deixar completamente dependente do apoio do PSDB, o partido orgânico das elites e da mídia.
Temer é um fantasma. Não tem vontade própria. Ele e seu grupo de apoio governam de acordo com a vontade do “mercado”, conforme já confessou o presidente do congresso, Rodrigo Maia.
E o mercado fala através dos editoriais da Globo.
A Globo, portanto, não precisa de Temer: ela já estendeu seus tentáculos sobre toda a máquina do Estado.
Quem governa o país, hoje, são duas forças: 1) o partido da mídia, que representa setores entreguistas e colonizados do empresariado; 2) o partido da justiça, que representa, de um lado, a elite da burocracia, que não quer perder seus privilégios, e defende um Estado de Exceção onde ela tenha poder quase absoluto, e, de outro, os setores mais reacionários da classe média, os mesmos que, historicamente, sempre foram tão facilmente manipuláveis por campanhas moralistas da imprensa.
O Fora Temer dos movimentos sociais é uma ação, sobretudo, contra as reformas neoliberais de seu governo.
O Fora Temer da mídia, por sua vez, é uma estratégia diversionista, lampedusiana, que visa remover Temer apenas para prosseguir exercendo a mesma política dele. Mudar para continuar o mesmo.
Alguns artistas da Globo, de olho nos editoriais do grupo que lhe paga os salários, já intuíram a manobra e abraçaram o Fora Temer.
Talvez Temer esteja certo. Talvez tenha havido mesmo uma “conspiração” para tentar derrubá-lo. Se pensarmos bem, a “pegadinha” montada pelo empresário Joesley Batista e pela PGR é típica de um Estado de Exceção, de um regime dominado pelo terrorismo jurídico.
Um empresário do porte de um Joesley Batista, dono da empresa líder mundial em exportação de carnes, se prestar ao papel de enganar o presidente da república apenas demonstra, a meu ver, que Batista se encontrava num estado emocional de absoluto pavor, provavelmente em virtude do massacre promovido pela Lava Jato contra a Odebrecht e seus executivos. Batista se deu conta de que o terrorismo estatal vigente no Brasil de hoje não tem limites, e que a única saída, para salvar suas empresas e sua liberdade, seria se tornar uma espécie de homem-bomba a serviço da PGR.
O interesse da PGR, por sua vez, provoca algumas interrogações. Todos os movimentos de Batista acabaram por entregar o controle da produção brasileira de carne para o Departamento de Justiça do governo americano, o que confere aos EUA um trunfo geopolítico inteiramente novo em sua relação com a China, que se tornou extremamente dependente dos alimentos produzidos no Brasil.
Isso é bastante ilustrativo.
Com a Lava Jato e operações irmãs, perdemos o controle sobre nossas fontes de energia, como o petróleo, e o Estado nacional perdeu participação em tudo que nos restava de autonomia econômica (e, portanto, política): reservas de petróleo e gás, hidrelétricas, usinas nucleares, submarino nuclear, satélite, bancos públicos.
O BNDES, principal fator da competitividade brasileira no mundo, agora atravessa o mesmo processo de desossamento vivido pela Petrobrás, com denúncias exageradas e mentirosas de corrupção, associadas a um discurso ideológico contra a sua própria existência.
Como é possível, diante desse quadro, que ainda existam quadros da esquerda que defendam a Lava Jato? O fato da operação avançar contra Aécio Neves ou contra Temer não significa nada, sobretudo porque mantém o mesmo modus operandi brutal, ancorado em delações, armações, jogo sujo.
Entretanto, é evidente que o avanço contra Aécio e Temer tem uma diferença: contra esses dois, conseguiu-se, com uma rapidez e uma facilidade incríveis, provas abundantes de corrupção.
Contra Lula, a Lava Jato, mesmo quebrando sigilo de até três gerações de familiares de presidente, perseguindo todos os seus “amigos”, prendendo e destruindo todos os empresários que ousaram doar ou ajudar as suas campanhas eleitorais, não encontraram nada mais do que pedalinhos em Atibaia e uma reforma num apartamento que não está em seu nome e no qual ele nunca dormiu.
Lula sobreviveu a todos os terremotos provocados pela Lava Jato. Até mesmo a última denúncia, de que ele e Dilma teriam uma “conta no exterior”, revelou-se mais uma das inúmeras mentiras ou forçações de barra da meganhagem golpista: a conta estava em nome de Joesley Batista, dono da JBS. Ou seja, a conta era ele, e só dele. A história de que seria uma conta para “dar” dinheiro a Lula e Dilma, ou às suas campanhas, apenas prova o mau caratismo de setores da Lava Jato, os quais, na falta de provas contra os dois últimos presidentes da república, tiram delações delirantes da cartola para lhes prejudicar politicamente.
Fiquem com um pé atrás, portanto, em relação a todas as “denúncias” veiculadas pelo sistema golpista de comunicação contra o presidente Temer ou contra Aécio. Há um jogo sórdido sendo urdido nas sombras, que é capturar e controlar a narrativa da insatisfação contra o governo. Controlando a narrativa, será mais fácil, à mídia, substituir Temer por outro fantoche.
Por isso mesmo, a mídia se recusa de maneira tão determinante a discutir a possibilidade de eleições diretas. Porque estas, mesmo que a esquerda não as vença, dariam oportunidade para um debate aberto sobre o Brasil, e a mídia não quer, de forma alguma, que esse debate aconteça, porque sabe que ele permitiria à população olhar diretamente para a realidade, sem mediação dos canais de comunicação de massa.
O debate faz a mídia perder o controle da narrativa, e daí tudo pode acontecer.
Em entrevista à Veja, o presidente Michel Temer deixa claro que vai lutar até o fim pela cadeira que ocupa, conquistada com muito esforço e risco após liderar a conspiração golpista que promoveu a derrubada de sua companheira de chapa.
Temer não tem vergonha, nem a imprensa lhe cobra esse tipo de escrúpulo moral, de ter sido eleito pela chapa de Dilma Rousseff, do PT, e agora estar aliado aos adversários de Dilma e do PT.
É uma traição política tão repugnante que não consigo imaginar como alguém pode conceber que isso não é um golpe.
Um impeachment dentro das regras democráticas implicaria tão somente a remoção do presidente da república, mas a manutenção de todo o resto do governo, que foi eleito pela população.
Aliás, talvez por perceberem essa contradição, os golpistas insistem na cassação da chapa no TSE, com a preservação de Michel Temer: assim se sentirão mais confiantes de terem feito a cirurgia perfeita. Do ponto-de-vista médico, é uma inversão, contudo. É como se o TSE fosse promover a remoção de todo o corpo, para deixar intacto e vivo apenas o tumor.
Michel Temer, vice-presidente de uma chapa presidencial que recebeu 54 milhões de votos, promoveu, após o golpe, um expurgo brutal de todos os quadros ligados ao partido que venceu as eleições. Em seguida, deu início a reformas que foram derrotadas na campanha eleitoral, e que continuam sendo rejeitadas de maneira esmagadora pela sociedade. E agora mantém um relativo controle sobre a opinião pública, concentrando verbas federais unicamente na mídia chapa-branca.
O chapa-branquismo da mídia é baseado numa absoluta convergência de interesses entre governo Temer, mercado financeiro e a própria mídia.
Há um grande teatro sendo exibido à opinião pública.
À mídia, sempre interessou um Temer fraco, à beira da deposição, brandindo sua impopularidade como se esta fosse um “trunfo”: é a única maneira de lhe deixar completamente dependente do apoio do PSDB, o partido orgânico das elites e da mídia.
Temer é um fantasma. Não tem vontade própria. Ele e seu grupo de apoio governam de acordo com a vontade do “mercado”, conforme já confessou o presidente do congresso, Rodrigo Maia.
E o mercado fala através dos editoriais da Globo.
A Globo, portanto, não precisa de Temer: ela já estendeu seus tentáculos sobre toda a máquina do Estado.
Quem governa o país, hoje, são duas forças: 1) o partido da mídia, que representa setores entreguistas e colonizados do empresariado; 2) o partido da justiça, que representa, de um lado, a elite da burocracia, que não quer perder seus privilégios, e defende um Estado de Exceção onde ela tenha poder quase absoluto, e, de outro, os setores mais reacionários da classe média, os mesmos que, historicamente, sempre foram tão facilmente manipuláveis por campanhas moralistas da imprensa.
O Fora Temer dos movimentos sociais é uma ação, sobretudo, contra as reformas neoliberais de seu governo.
O Fora Temer da mídia, por sua vez, é uma estratégia diversionista, lampedusiana, que visa remover Temer apenas para prosseguir exercendo a mesma política dele. Mudar para continuar o mesmo.
Alguns artistas da Globo, de olho nos editoriais do grupo que lhe paga os salários, já intuíram a manobra e abraçaram o Fora Temer.
Talvez Temer esteja certo. Talvez tenha havido mesmo uma “conspiração” para tentar derrubá-lo. Se pensarmos bem, a “pegadinha” montada pelo empresário Joesley Batista e pela PGR é típica de um Estado de Exceção, de um regime dominado pelo terrorismo jurídico.
Um empresário do porte de um Joesley Batista, dono da empresa líder mundial em exportação de carnes, se prestar ao papel de enganar o presidente da república apenas demonstra, a meu ver, que Batista se encontrava num estado emocional de absoluto pavor, provavelmente em virtude do massacre promovido pela Lava Jato contra a Odebrecht e seus executivos. Batista se deu conta de que o terrorismo estatal vigente no Brasil de hoje não tem limites, e que a única saída, para salvar suas empresas e sua liberdade, seria se tornar uma espécie de homem-bomba a serviço da PGR.
O interesse da PGR, por sua vez, provoca algumas interrogações. Todos os movimentos de Batista acabaram por entregar o controle da produção brasileira de carne para o Departamento de Justiça do governo americano, o que confere aos EUA um trunfo geopolítico inteiramente novo em sua relação com a China, que se tornou extremamente dependente dos alimentos produzidos no Brasil.
Isso é bastante ilustrativo.
Com a Lava Jato e operações irmãs, perdemos o controle sobre nossas fontes de energia, como o petróleo, e o Estado nacional perdeu participação em tudo que nos restava de autonomia econômica (e, portanto, política): reservas de petróleo e gás, hidrelétricas, usinas nucleares, submarino nuclear, satélite, bancos públicos.
O BNDES, principal fator da competitividade brasileira no mundo, agora atravessa o mesmo processo de desossamento vivido pela Petrobrás, com denúncias exageradas e mentirosas de corrupção, associadas a um discurso ideológico contra a sua própria existência.
Como é possível, diante desse quadro, que ainda existam quadros da esquerda que defendam a Lava Jato? O fato da operação avançar contra Aécio Neves ou contra Temer não significa nada, sobretudo porque mantém o mesmo modus operandi brutal, ancorado em delações, armações, jogo sujo.
Entretanto, é evidente que o avanço contra Aécio e Temer tem uma diferença: contra esses dois, conseguiu-se, com uma rapidez e uma facilidade incríveis, provas abundantes de corrupção.
Contra Lula, a Lava Jato, mesmo quebrando sigilo de até três gerações de familiares de presidente, perseguindo todos os seus “amigos”, prendendo e destruindo todos os empresários que ousaram doar ou ajudar as suas campanhas eleitorais, não encontraram nada mais do que pedalinhos em Atibaia e uma reforma num apartamento que não está em seu nome e no qual ele nunca dormiu.
Lula sobreviveu a todos os terremotos provocados pela Lava Jato. Até mesmo a última denúncia, de que ele e Dilma teriam uma “conta no exterior”, revelou-se mais uma das inúmeras mentiras ou forçações de barra da meganhagem golpista: a conta estava em nome de Joesley Batista, dono da JBS. Ou seja, a conta era ele, e só dele. A história de que seria uma conta para “dar” dinheiro a Lula e Dilma, ou às suas campanhas, apenas prova o mau caratismo de setores da Lava Jato, os quais, na falta de provas contra os dois últimos presidentes da república, tiram delações delirantes da cartola para lhes prejudicar politicamente.
Fiquem com um pé atrás, portanto, em relação a todas as “denúncias” veiculadas pelo sistema golpista de comunicação contra o presidente Temer ou contra Aécio. Há um jogo sórdido sendo urdido nas sombras, que é capturar e controlar a narrativa da insatisfação contra o governo. Controlando a narrativa, será mais fácil, à mídia, substituir Temer por outro fantoche.
Por isso mesmo, a mídia se recusa de maneira tão determinante a discutir a possibilidade de eleições diretas. Porque estas, mesmo que a esquerda não as vença, dariam oportunidade para um debate aberto sobre o Brasil, e a mídia não quer, de forma alguma, que esse debate aconteça, porque sabe que ele permitiria à população olhar diretamente para a realidade, sem mediação dos canais de comunicação de massa.
O debate faz a mídia perder o controle da narrativa, e daí tudo pode acontecer.
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