Por Pedro Breier, no blog Cafezinho:
Marielle Franco foi executada no último dia 14, pouco depois das 21h.
O jornalista Tom Cardoso fez um relato emblemático, em sua página no Facebook, acerca da (ausência de) cobertura da Globo no dia da tragédia:
*****
Tô no Rio.
Ontem à noite, ao chegar no hotel, fui alertado pelo segurança. Eu já tinha ouvido recomendação idêntica dos porteiros do meu prédio em SP:
– Cuidado, entra logo, tem um “diferente” vindo ali.
Virei pra olhar. Um rapaz negro, com uma mochila nas costas, caminhava em direção ao metrô, que fica ao lado do hotel.
O “diferente”, aliás, era igual ao segurança.
Entro no hotel. Dou uma olhada no celular.
Mataram a Marielle. Puta que o pariu.
Ligo a televisão.
Coloco na Globonews. Lá está Gabeira, sorumbático como sempre, com sua voz-dormonid, falando sobre o nada.
Troco pra Globo. Quero saber mais sobre a execução da vereadora.
Tá passando o jogo do Flamengo. 48 minutos do segundo tempo.
Lembro de Nelson Rodrigues: “O futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes”.
O jogo termina.
Agora vou saber mais sobre o assassinato da Marielle.
Surge “Titi”, o apresentador do BBB, ao vivo, radiando alegria, o ruivinho descolado nível globo, com seu sapatênis padronizado, rasgado no dedão.
Vou tomar banho.
Vinte minutos depois (é, foda-se a Bruna Lombardi), secando o cabelo com a toalha, olho pra tevê.
Seis marmanjos de sunga na piscina, num longo colóquio sobre o nada.
Pois é, a Marielle era “diferente”.
*****
No post seguinte, Tom Cardoso lembra que depois do jogo do Flamengo a Globo ainda mostrou uma disputa de pênaltis entre Figueirense e Atlético Mineiro. Depois o BBB. Na íntegra.
A forte reação nacional e internacional à execução de Marielle fez com que a Globo rapidamente mudasse a estratégia. A tática de tratar o assassinato de forma superficial, quase escondida, foi substituída por uma ampla cobertura.
Claro que essa cobertura esconde os fins políticos de sempre dos Marinho, os quais foram magistralmente dissecados por Gleen Greenwald neste artigo.
A ideia é esvaziar o conteúdo político da vida e da morte de Marielle e usar a comoção nacional para justificar o aumento da repressão, especialmente por meio da intervenção militar no RJ.
A Globo está tentando usar a morte da vereadora do PSOL para turbinar exatamente as políticas contra as quais a atuação de Marielle se voltava. Não há limites para a canalhice do grupo que apoiou a ditadura militar e o golpe de 2016.
A semelhança com junho de 2013 é impressionante. Naquela oportunidade, a Globo iniciou a cobertura dos protestos falando em vandalismo e terminou incensando a massa e instrumentalizando-a para atingir seus inconfessáveis objetivos políticos.
A Globo não é uma empresa jornalística.É, isso sim, a entidade mais poderosa da política brasileira.
Monopoliza inconstitucionalmente a comunicação no nosso país para atingir seus fins políticos anti-povo, não se furtando a apoiar e fomentar golpes na democracia quando julga necessário.
Não haverá liberdade política no maior país da América do Sul antes que caia o império global.
Marielle Franco foi executada no último dia 14, pouco depois das 21h.
O jornalista Tom Cardoso fez um relato emblemático, em sua página no Facebook, acerca da (ausência de) cobertura da Globo no dia da tragédia:
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Tô no Rio.
Ontem à noite, ao chegar no hotel, fui alertado pelo segurança. Eu já tinha ouvido recomendação idêntica dos porteiros do meu prédio em SP:
– Cuidado, entra logo, tem um “diferente” vindo ali.
Virei pra olhar. Um rapaz negro, com uma mochila nas costas, caminhava em direção ao metrô, que fica ao lado do hotel.
O “diferente”, aliás, era igual ao segurança.
Entro no hotel. Dou uma olhada no celular.
Mataram a Marielle. Puta que o pariu.
Ligo a televisão.
Coloco na Globonews. Lá está Gabeira, sorumbático como sempre, com sua voz-dormonid, falando sobre o nada.
Troco pra Globo. Quero saber mais sobre a execução da vereadora.
Tá passando o jogo do Flamengo. 48 minutos do segundo tempo.
Lembro de Nelson Rodrigues: “O futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes”.
O jogo termina.
Agora vou saber mais sobre o assassinato da Marielle.
Surge “Titi”, o apresentador do BBB, ao vivo, radiando alegria, o ruivinho descolado nível globo, com seu sapatênis padronizado, rasgado no dedão.
Vou tomar banho.
Vinte minutos depois (é, foda-se a Bruna Lombardi), secando o cabelo com a toalha, olho pra tevê.
Seis marmanjos de sunga na piscina, num longo colóquio sobre o nada.
Pois é, a Marielle era “diferente”.
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No post seguinte, Tom Cardoso lembra que depois do jogo do Flamengo a Globo ainda mostrou uma disputa de pênaltis entre Figueirense e Atlético Mineiro. Depois o BBB. Na íntegra.
A forte reação nacional e internacional à execução de Marielle fez com que a Globo rapidamente mudasse a estratégia. A tática de tratar o assassinato de forma superficial, quase escondida, foi substituída por uma ampla cobertura.
Claro que essa cobertura esconde os fins políticos de sempre dos Marinho, os quais foram magistralmente dissecados por Gleen Greenwald neste artigo.
A ideia é esvaziar o conteúdo político da vida e da morte de Marielle e usar a comoção nacional para justificar o aumento da repressão, especialmente por meio da intervenção militar no RJ.
A Globo está tentando usar a morte da vereadora do PSOL para turbinar exatamente as políticas contra as quais a atuação de Marielle se voltava. Não há limites para a canalhice do grupo que apoiou a ditadura militar e o golpe de 2016.
A semelhança com junho de 2013 é impressionante. Naquela oportunidade, a Globo iniciou a cobertura dos protestos falando em vandalismo e terminou incensando a massa e instrumentalizando-a para atingir seus inconfessáveis objetivos políticos.
A Globo não é uma empresa jornalística.É, isso sim, a entidade mais poderosa da política brasileira.
Monopoliza inconstitucionalmente a comunicação no nosso país para atingir seus fins políticos anti-povo, não se furtando a apoiar e fomentar golpes na democracia quando julga necessário.
Não haverá liberdade política no maior país da América do Sul antes que caia o império global.
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