Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Num país onde é costume definir os meses iniciais de todo governo novo como uma "lua de mel", os primeiros 45 dias do governo Jair Bolsonaro no Planalto podem ser classificados como uma festa de arromba num antigo bordel da república brasileira.
Nesse período, já se detectou a presença de tudo que há de pior naquele universo que meses atrás os marqueteiros do bolsonarismo-chique adoravam descrever como "velha politica":
1- O emprego da força imunda do dinheiro clandestino ficou claro na contabilidade dos laranjas, esquema mais velho que as contas-fantasma da Republica de Alagoas que derrubaram Fernando Collor. Até agora, não custa lembrar, ficamos na pontinha do iceberg, como sugerem os imensos cuidados com a saída de Gustavo Bebianno.
2- O uso do poder político para proteger entes queridos e desviar o foco da Justiça de personagens de alta periculosidade acabou escancarado no tratamento favorecido a Flávio Bolsonaro, extensivo ao amigo familiar Fabrício Queiróz e à turma das milícias, máquina da baixa corrupção que alimenta grandes crimes mantidos na impunidade, a começar pela execução de Marielle Franco e Anderson Gomes.
3- A falta de qualquer compromisso real com o bem-estar da maioria dos brasileiros, abre espaço para uma disputa sem limites de poder pessoal no interior da família presidencial. O resultado é uma versão radical da velha luta de parentes que disputam favores no governo de papai, numa promiscuidade jamais igualada nos 197 anos do Brasil como país independente.
4- Enquadrado por generais que dia após dia ganham mais espaço no comando do Estado, em seis semanas o governo Jair Bolsonaro assumiu uma fisionomia militarizada que reforça sua identidade com o regime militar de 64.
Num percurso previsível, o economista Paulo Guedes tenta ocupar o lugar de que pertenceu a Delfim Netto, o czar que em 1967, na primeira grande crise após o golpe que derrubou Jango, uniu o império norte-americano e o grande empresariado brasileiro ao porão da ditadura.
O detalhe é que Delfim trouxe soluções capazes de vencer a recessão na qual uma primeira geração de Chicago Boys - Roberto Campos e Hélio Beltrão - jogara o Brasil.
Guedes é o âncora da cartilha de Chicago que move a turma de Bolsonaro - faz uma gestão pelo gogó, pela verborragia ideológica, que pretende produzir ganhos impensáveis para o capital financeiro, sem gerar benefícios correspondentes para os habitantes que suam a camisa no Brasil real.
Sintoma óbvio de um desastre revelado em prazo recorde, a súbita relevância já assumida pelo vice Hamilton Mourão mostra que a instabilidade política atingiu um padrão inédito de temeridade.
Mantido a margem do núcleo de poder por decisão Bolsonaro, Mourão tornou-se o nome preferido pelas forças que, depois de se mobilizarem para garantir uma vitória a qualquer preço contra Haddad-Lula para interromper o ciclo de desenvolvimento iniciado em 2003, já enxergam um cenário de crise que pode escapar a seu controle.
Em luta aberta para se afirmar como um sucessor legítimo numa eventual queda de Bolsonaro antes do fim do mandato, Mourão tem sido beneficiado por uma cobertura midiática que procura apontar traços de racionalidade e moderação que poderiam marcar diferenças políticas relevantes em relação ao titular da chapa.
Nenhuma dessas características recém-reveladas se tornaram visíveis na longa carreira de Mourão, que em fevereiro de 2018 passou para a reserva.
Militar filiado à mesma arvore ideológica de Bolsonaro, sempre assumiu um alinhamento político com a linha mais repressiva do regime militar, cuja expressão acabada foi Carlos Alberto Ustra.
Chegando a valer-se de estereótipos típicos de uma cultura colonizada, com referências depreciativas em relação a cultura negra, ao passado indígena e a herança portuguesa, integrou-se a uma visão de subordinação do Brasil aos grandes interesses norte-americanos, opção que silenciou as vozes nacionalistas das Forças Armadas perseguidas pelo regime de 64.
Em fevereiro de 2019, é importante reconhecer um ponto político importante. Qualquer que seja a distância a separar o Mourão da vida real daquele personagem em construção nas últimas semanas, não há dúvida de que sua simples presença tão destacada na cena política constitui uma expressão da crise do governo Bolsonaro.
Apenas num país no qual a gestão presidencial revela-se um desastre em grande profundidade as opiniões do vice presidente adquirem tanta importância como no Brasil de Bolsonaro.
Alguma dúvida?
Num país onde é costume definir os meses iniciais de todo governo novo como uma "lua de mel", os primeiros 45 dias do governo Jair Bolsonaro no Planalto podem ser classificados como uma festa de arromba num antigo bordel da república brasileira.
Nesse período, já se detectou a presença de tudo que há de pior naquele universo que meses atrás os marqueteiros do bolsonarismo-chique adoravam descrever como "velha politica":
1- O emprego da força imunda do dinheiro clandestino ficou claro na contabilidade dos laranjas, esquema mais velho que as contas-fantasma da Republica de Alagoas que derrubaram Fernando Collor. Até agora, não custa lembrar, ficamos na pontinha do iceberg, como sugerem os imensos cuidados com a saída de Gustavo Bebianno.
2- O uso do poder político para proteger entes queridos e desviar o foco da Justiça de personagens de alta periculosidade acabou escancarado no tratamento favorecido a Flávio Bolsonaro, extensivo ao amigo familiar Fabrício Queiróz e à turma das milícias, máquina da baixa corrupção que alimenta grandes crimes mantidos na impunidade, a começar pela execução de Marielle Franco e Anderson Gomes.
3- A falta de qualquer compromisso real com o bem-estar da maioria dos brasileiros, abre espaço para uma disputa sem limites de poder pessoal no interior da família presidencial. O resultado é uma versão radical da velha luta de parentes que disputam favores no governo de papai, numa promiscuidade jamais igualada nos 197 anos do Brasil como país independente.
4- Enquadrado por generais que dia após dia ganham mais espaço no comando do Estado, em seis semanas o governo Jair Bolsonaro assumiu uma fisionomia militarizada que reforça sua identidade com o regime militar de 64.
Num percurso previsível, o economista Paulo Guedes tenta ocupar o lugar de que pertenceu a Delfim Netto, o czar que em 1967, na primeira grande crise após o golpe que derrubou Jango, uniu o império norte-americano e o grande empresariado brasileiro ao porão da ditadura.
O detalhe é que Delfim trouxe soluções capazes de vencer a recessão na qual uma primeira geração de Chicago Boys - Roberto Campos e Hélio Beltrão - jogara o Brasil.
Guedes é o âncora da cartilha de Chicago que move a turma de Bolsonaro - faz uma gestão pelo gogó, pela verborragia ideológica, que pretende produzir ganhos impensáveis para o capital financeiro, sem gerar benefícios correspondentes para os habitantes que suam a camisa no Brasil real.
Sintoma óbvio de um desastre revelado em prazo recorde, a súbita relevância já assumida pelo vice Hamilton Mourão mostra que a instabilidade política atingiu um padrão inédito de temeridade.
Mantido a margem do núcleo de poder por decisão Bolsonaro, Mourão tornou-se o nome preferido pelas forças que, depois de se mobilizarem para garantir uma vitória a qualquer preço contra Haddad-Lula para interromper o ciclo de desenvolvimento iniciado em 2003, já enxergam um cenário de crise que pode escapar a seu controle.
Em luta aberta para se afirmar como um sucessor legítimo numa eventual queda de Bolsonaro antes do fim do mandato, Mourão tem sido beneficiado por uma cobertura midiática que procura apontar traços de racionalidade e moderação que poderiam marcar diferenças políticas relevantes em relação ao titular da chapa.
Nenhuma dessas características recém-reveladas se tornaram visíveis na longa carreira de Mourão, que em fevereiro de 2018 passou para a reserva.
Militar filiado à mesma arvore ideológica de Bolsonaro, sempre assumiu um alinhamento político com a linha mais repressiva do regime militar, cuja expressão acabada foi Carlos Alberto Ustra.
Chegando a valer-se de estereótipos típicos de uma cultura colonizada, com referências depreciativas em relação a cultura negra, ao passado indígena e a herança portuguesa, integrou-se a uma visão de subordinação do Brasil aos grandes interesses norte-americanos, opção que silenciou as vozes nacionalistas das Forças Armadas perseguidas pelo regime de 64.
Em fevereiro de 2019, é importante reconhecer um ponto político importante. Qualquer que seja a distância a separar o Mourão da vida real daquele personagem em construção nas últimas semanas, não há dúvida de que sua simples presença tão destacada na cena política constitui uma expressão da crise do governo Bolsonaro.
Apenas num país no qual a gestão presidencial revela-se um desastre em grande profundidade as opiniões do vice presidente adquirem tanta importância como no Brasil de Bolsonaro.
Alguma dúvida?
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