Por Tarso Genro, no site Sul-21:
O romance de Joseph Conrad, “O agente secreto” (1907) é uma obra sem heróis. Seu núcleo definidor – seu “personagem” central – não é um indivíduo, “herói” do mal ou do bem, mas é uma “conspiração”, dentro da qual as pessoas se movem em direção a um destino incerto. Um romance sobre o Brasil de hoje, à espera de um escritor de talento, poderia ter dois centros: uma “conspiração”, em cujo núcleo estariam Bannon, a CIA, os “think-tanks” da burguesia sem projetos de nação, a mídia oligopólica e também seus personagens típicos do bem e do mal. Os que são os epígonos da irracionalidade na democracia manipulada. E esta obra poderia também inaugurar um novo “tipo” político latino-americano, que diz que o “mal” é qualquer “ideologia”, como se ele não a tivesse, fascista que é, pois não consegue escondê-la, quando ela já corroeu seus sentimentos e os seus neurônios rarefeitos pelo ódio.
O romance de Victor Hugo “Notre Dame de Paris” – “O corcunda de Notre Dame”- publicado pela primeira vez em 1831, é uma apaixonante história de amor, que tem como pano de fundo o ambiente social da Paris Medieval. Um romance do amor, da diferença que torna os amores impossíveis, dos contornos sociais da dominação feudal.Em torno da Catedral magnífica os personagens transitam: clérigos, fidalgos ricos, pobres, famintos e mendigos, que à sombra da Igreja disputam e conciliam os espaços das suas vidas rotineiras. Quasímodo, o personagem abrigado junto às gárgulas nas torres da Igreja, tem uma grave deformidade física e devota o seu amor à cigana Esmeralda, retratada por Victor Hugo como ideal de mulher perfeita.
Mesmo fora da hierarquia das classes, em cujos limites as pessoas se segregam, a fatal estética da naturalidade – alheia à “honra” e à classe – tende a separá-las também pela beleza, fundada nos padrões de cada época. A tragédia deste amor é que Esmeralda, como beleza física integral, e Quasímodo – como deformidade humilhante – jamais serão um casal: é impossível fundi-los num só corpo pela sua pura humanidade, pois eles se repudiam na carne das diferenças. São personagens fortes, que juntos com a Catedral compõem um dos grandes romances do nosso tempo: ambos, independentemente da suas estaturas e da sua beleza, são grandiosos como seres humanos que amam.
Lendo Castells dizer que “enquanto a Casa Branca se converteu numa casa de loucos, na qual em poucos meses dez altos cargos (…) foram despedidos por um presidente raivoso incapaz de suportar a crítica ou a indiferença”, (lendo-o) creio que podemos nos inspirar nas insanidades épicas que ele denuncia e na grandeza de Victor Hugo, para pensar o Brasil. De que forma? Ora, o que dizer de um Presidente que foi aos Estados Unidos comunicar que gostaria de lhes entregar a Amazônia, que essa questão do racismo já não existe e que os “direitos humanos” são só instrumentos de proteção dos bandidos”? Talvez virar o rosto, achar que vai melhorar e pensar apenas numa metáfora de Victor Hugo.
Este autor e militante nos descaminhos da Revolução Francesa, depois de afirmar que “aos pensadores (como Olavo, penso eu) vem juntar-se os assassinos”, concluiu: “o futuro é um deus arrastado pelos tigres”. Mas não vai melhorar, todavia, pois os tempos serão cada vez mais ásperos e as políticas do ódio embaçam a estética iluminista da democracia. Os Quasímodos morais -sem sua grandeza humana – que dominam os espaços da política controlam e ajustam suas contas com o que resta das Luzes.
Nestes últimos dez dias o Brasil realmente começou a mudar e se considerarmos que há um confronto planetário entre civilização e barbárie, a barbárie venceu. Como apontou o professor Gilberto Dupas – emérito cientista social tucano falecido em 2009 -“o progresso como discurso dominante das elites globais parece ter ‘perdido’ seu rumo”. Ou, segundo uma visão mais crítica: “achado”um novo rumo para si, no sentido que lhe empresta a força global do capital financeiro, destrutiva da soberania dos Estados endividados.
É possível concluir que a hegemonia do campo democrático, com os erros e pecados oligárquicos que atravessaram a História da política moderna, sofreu uma derrotada estratégica. Depois desta derrota,
república, democracia, direito, justiça, direitos humanos, liberdades democráticas e Estado Social, serão conceitos e realidades a serem refeitos. Se as classes, grupos e estamentos dominantes, que hoje controlam o que aí está, aceitam e promovem a sociopatia deste caos, é porque ele já construíram justificativas políticas e morais para as suas decisões futuras e à semelhança de Mussolini e Hitler, estão dispostos a irem até o fim.
No Brasil deste último período as alternâncias entre autoritarismo e democracia – que se sucederam no país nas últimas três décadas – chegaram ao seu limite. A “guerra híbrida” propagada pela extrema-direita, travada de fora para dentro -intervenção do exterior antes imputada ao comunismo pelos doutrinadores das Forças Armas – fomentou o ódio, socavou a solidariedade interna para compor a ideia de nação e nos entregou para um populismo de direita radical. É um populismo que se alicerça numa síntese esquizofrênica: o “marxismo cultural” reinventado como ameaça comunista e um imbecil – que ninguém leva a sério como filósofo – tornado o mensageiro da desordem para instituir uma nova ordem. Qual é ela?
Seus primeiros sintomas são os seguintes: as crianças podem treinar para matar, foi regulado ilegalmente o “armamento geral do povo”, programou-se o apagão estatístico com a anulação política e formal do IBGE. Encerrou-se dolosamente a fiscalização ambiental, os helicópteros – com governadores a bordo – podem tirotear sem pudor sobre regiões de pobres e miseráveis. Nosso pré-sal vai ser reserva de energia fóssil de propriedade de outros países e a corporação militar (tratada com respeito e sobriedade durante o Governo Lula) foi duramente humilhada pelo Capitão e seus “capos” desbocados e permanece solidária a um governo de dementes.
As universidades públicas perdem 30% dos seus recursos, são sucateadas e abrem-se os pórticos de um novo projeto fascista na modernidade decadente. Da recuperação de uma democracia que fora tutelada pelas Forças Armadas (regulares) – parteiras de um “direito” autoritário, mas ainda um “direito”- estamos transitando para uma democracia tutelada pelas milícias, “sem direito”, cujo governo sem rumo e “fora da lei”, é refém dos segredos que repousam no crime organizado: a “exceção” se torna regra e o Direito, como “sistema de legitimidade da conduta humana” – acolhível pela força de certos valores- sucumbe sob as ideias das redes falsificadas.
Os números distorcidos em benefício da aceitação das reformas e da “naturalização” – ensejada pela política de informação da grande mídia – da demência como método natural de Governo, estabiliza a falta de sentido da História. Mas é uma falta de sentido “com sentido”, cujas causas foram flagradas por Boaventura de Sousa Santos em 2003 (“Conhecimento Prudente Para Uma Vida Decente”): “O fim da Guerra Fria abriu caminho para a despolitização das relações Norte\Sul, ou seja, para a ideia de que as hierarquias do sistema mundial não estavam sujeitas a controle político e eram – pelo contrário – produto dos imperativos da economia global”. Quem pensa em sentido contrário o faz por ideologia, quem concorda substitui a ideologia pela técnica econômica da fatalidade fascistóide.
Neste novo contexto global, o sujeito ativo aceitável para incidir sobre os rumos gerais da História, são as agências do o capital financeiro desregulado, induzindo à fragilidade os entes políticos dos Estados Sociais, finalmente substituídos pelas força normativa dos bancos centrais. O ativismo de importantes setores do Poder Judiciário, emprestando validade jurídica às políticas de “ajuste” da nova legalidade -mesmo sem “revogar” formalmente a Constituição do Estado Social- criam um “novo sentido” ao projeto democrático moderno. Ele rompe o velho pacto social da Revolução Burguesa democrática e não teme mais exibir, à luz do dia, os seus monstros mais perversos: a sociologia da revolução passa a ser substituída pela sociopatia da sua face mais perversa.
Assim surgem os “pequenos” napoleões, que se engrandecem não pelos seus méritos, mas pelo acolhimento fraterno das elites burguesas, que não mais conseguem formar seus líderes com um mínimo de coerência política.
Victor Hugo, em discurso clássico na Assembléia Legislativa em 1850, disse que um sistema público de ensino -obrigatório no primeiro grau e gratuito em todos os graus- que permitisse a qualquer do povo, pelo seu esforço chegar ao Colégio de França e “mais alto ainda, até o Instituto de França”, seria o “coração do povo posto em comunicação com o cérebro da França”. Luis Bonaparte era um homem de porte – alto e esbelto – que Victor Hugo chamou de “pequeno: foi golpista (1851) como o nosso pequeno Napoleão local, mas não conseguiu fazer terra arrasada das conquistas da Revolução.
No turbilhão da História Victor Hugo disse que ele, Napoleão III – como Imperador – foi “apenas um palhaço” e agregou: “não basta querer para ser um monstro!” Aqui no Brasil, o encarceramento de Lula, o golpe contra Dilma, a naturalização da liderança fascista de Bolsonaro – aceito pela mídia oligopólica para ser o Presidente das reformas – talvez ainda não tenha definido o fim total da democracia política, mas esta jamais será a mesma.
O processo político em curso, como se vê, abriu a era dos “pequenos” e também dos perigosos palhaços da empulhada neoliberal. Eles podem se tornar monstros, mas também poderão ser derrotados se em breve o coração sofrido do nosso povo conectar-se com o cérebro do Brasil. A reação da universidade -pelos seus professores, alunos,funcionários, reitores – homens e mulheres que são a maior parte da nossa inteligência científica e política, pode acender a chama da solidariedade e da esperança. E assim varrer, com sopros de luz, os pequenos napoleões terceiros e os grandes insanos que insultam a memória dos nossos heróis de verdade.
* Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.
O romance de Joseph Conrad, “O agente secreto” (1907) é uma obra sem heróis. Seu núcleo definidor – seu “personagem” central – não é um indivíduo, “herói” do mal ou do bem, mas é uma “conspiração”, dentro da qual as pessoas se movem em direção a um destino incerto. Um romance sobre o Brasil de hoje, à espera de um escritor de talento, poderia ter dois centros: uma “conspiração”, em cujo núcleo estariam Bannon, a CIA, os “think-tanks” da burguesia sem projetos de nação, a mídia oligopólica e também seus personagens típicos do bem e do mal. Os que são os epígonos da irracionalidade na democracia manipulada. E esta obra poderia também inaugurar um novo “tipo” político latino-americano, que diz que o “mal” é qualquer “ideologia”, como se ele não a tivesse, fascista que é, pois não consegue escondê-la, quando ela já corroeu seus sentimentos e os seus neurônios rarefeitos pelo ódio.
O romance de Victor Hugo “Notre Dame de Paris” – “O corcunda de Notre Dame”- publicado pela primeira vez em 1831, é uma apaixonante história de amor, que tem como pano de fundo o ambiente social da Paris Medieval. Um romance do amor, da diferença que torna os amores impossíveis, dos contornos sociais da dominação feudal.Em torno da Catedral magnífica os personagens transitam: clérigos, fidalgos ricos, pobres, famintos e mendigos, que à sombra da Igreja disputam e conciliam os espaços das suas vidas rotineiras. Quasímodo, o personagem abrigado junto às gárgulas nas torres da Igreja, tem uma grave deformidade física e devota o seu amor à cigana Esmeralda, retratada por Victor Hugo como ideal de mulher perfeita.
Mesmo fora da hierarquia das classes, em cujos limites as pessoas se segregam, a fatal estética da naturalidade – alheia à “honra” e à classe – tende a separá-las também pela beleza, fundada nos padrões de cada época. A tragédia deste amor é que Esmeralda, como beleza física integral, e Quasímodo – como deformidade humilhante – jamais serão um casal: é impossível fundi-los num só corpo pela sua pura humanidade, pois eles se repudiam na carne das diferenças. São personagens fortes, que juntos com a Catedral compõem um dos grandes romances do nosso tempo: ambos, independentemente da suas estaturas e da sua beleza, são grandiosos como seres humanos que amam.
Lendo Castells dizer que “enquanto a Casa Branca se converteu numa casa de loucos, na qual em poucos meses dez altos cargos (…) foram despedidos por um presidente raivoso incapaz de suportar a crítica ou a indiferença”, (lendo-o) creio que podemos nos inspirar nas insanidades épicas que ele denuncia e na grandeza de Victor Hugo, para pensar o Brasil. De que forma? Ora, o que dizer de um Presidente que foi aos Estados Unidos comunicar que gostaria de lhes entregar a Amazônia, que essa questão do racismo já não existe e que os “direitos humanos” são só instrumentos de proteção dos bandidos”? Talvez virar o rosto, achar que vai melhorar e pensar apenas numa metáfora de Victor Hugo.
Este autor e militante nos descaminhos da Revolução Francesa, depois de afirmar que “aos pensadores (como Olavo, penso eu) vem juntar-se os assassinos”, concluiu: “o futuro é um deus arrastado pelos tigres”. Mas não vai melhorar, todavia, pois os tempos serão cada vez mais ásperos e as políticas do ódio embaçam a estética iluminista da democracia. Os Quasímodos morais -sem sua grandeza humana – que dominam os espaços da política controlam e ajustam suas contas com o que resta das Luzes.
Nestes últimos dez dias o Brasil realmente começou a mudar e se considerarmos que há um confronto planetário entre civilização e barbárie, a barbárie venceu. Como apontou o professor Gilberto Dupas – emérito cientista social tucano falecido em 2009 -“o progresso como discurso dominante das elites globais parece ter ‘perdido’ seu rumo”. Ou, segundo uma visão mais crítica: “achado”um novo rumo para si, no sentido que lhe empresta a força global do capital financeiro, destrutiva da soberania dos Estados endividados.
É possível concluir que a hegemonia do campo democrático, com os erros e pecados oligárquicos que atravessaram a História da política moderna, sofreu uma derrotada estratégica. Depois desta derrota,
república, democracia, direito, justiça, direitos humanos, liberdades democráticas e Estado Social, serão conceitos e realidades a serem refeitos. Se as classes, grupos e estamentos dominantes, que hoje controlam o que aí está, aceitam e promovem a sociopatia deste caos, é porque ele já construíram justificativas políticas e morais para as suas decisões futuras e à semelhança de Mussolini e Hitler, estão dispostos a irem até o fim.
No Brasil deste último período as alternâncias entre autoritarismo e democracia – que se sucederam no país nas últimas três décadas – chegaram ao seu limite. A “guerra híbrida” propagada pela extrema-direita, travada de fora para dentro -intervenção do exterior antes imputada ao comunismo pelos doutrinadores das Forças Armas – fomentou o ódio, socavou a solidariedade interna para compor a ideia de nação e nos entregou para um populismo de direita radical. É um populismo que se alicerça numa síntese esquizofrênica: o “marxismo cultural” reinventado como ameaça comunista e um imbecil – que ninguém leva a sério como filósofo – tornado o mensageiro da desordem para instituir uma nova ordem. Qual é ela?
Seus primeiros sintomas são os seguintes: as crianças podem treinar para matar, foi regulado ilegalmente o “armamento geral do povo”, programou-se o apagão estatístico com a anulação política e formal do IBGE. Encerrou-se dolosamente a fiscalização ambiental, os helicópteros – com governadores a bordo – podem tirotear sem pudor sobre regiões de pobres e miseráveis. Nosso pré-sal vai ser reserva de energia fóssil de propriedade de outros países e a corporação militar (tratada com respeito e sobriedade durante o Governo Lula) foi duramente humilhada pelo Capitão e seus “capos” desbocados e permanece solidária a um governo de dementes.
As universidades públicas perdem 30% dos seus recursos, são sucateadas e abrem-se os pórticos de um novo projeto fascista na modernidade decadente. Da recuperação de uma democracia que fora tutelada pelas Forças Armadas (regulares) – parteiras de um “direito” autoritário, mas ainda um “direito”- estamos transitando para uma democracia tutelada pelas milícias, “sem direito”, cujo governo sem rumo e “fora da lei”, é refém dos segredos que repousam no crime organizado: a “exceção” se torna regra e o Direito, como “sistema de legitimidade da conduta humana” – acolhível pela força de certos valores- sucumbe sob as ideias das redes falsificadas.
Os números distorcidos em benefício da aceitação das reformas e da “naturalização” – ensejada pela política de informação da grande mídia – da demência como método natural de Governo, estabiliza a falta de sentido da História. Mas é uma falta de sentido “com sentido”, cujas causas foram flagradas por Boaventura de Sousa Santos em 2003 (“Conhecimento Prudente Para Uma Vida Decente”): “O fim da Guerra Fria abriu caminho para a despolitização das relações Norte\Sul, ou seja, para a ideia de que as hierarquias do sistema mundial não estavam sujeitas a controle político e eram – pelo contrário – produto dos imperativos da economia global”. Quem pensa em sentido contrário o faz por ideologia, quem concorda substitui a ideologia pela técnica econômica da fatalidade fascistóide.
Neste novo contexto global, o sujeito ativo aceitável para incidir sobre os rumos gerais da História, são as agências do o capital financeiro desregulado, induzindo à fragilidade os entes políticos dos Estados Sociais, finalmente substituídos pelas força normativa dos bancos centrais. O ativismo de importantes setores do Poder Judiciário, emprestando validade jurídica às políticas de “ajuste” da nova legalidade -mesmo sem “revogar” formalmente a Constituição do Estado Social- criam um “novo sentido” ao projeto democrático moderno. Ele rompe o velho pacto social da Revolução Burguesa democrática e não teme mais exibir, à luz do dia, os seus monstros mais perversos: a sociologia da revolução passa a ser substituída pela sociopatia da sua face mais perversa.
Assim surgem os “pequenos” napoleões, que se engrandecem não pelos seus méritos, mas pelo acolhimento fraterno das elites burguesas, que não mais conseguem formar seus líderes com um mínimo de coerência política.
Victor Hugo, em discurso clássico na Assembléia Legislativa em 1850, disse que um sistema público de ensino -obrigatório no primeiro grau e gratuito em todos os graus- que permitisse a qualquer do povo, pelo seu esforço chegar ao Colégio de França e “mais alto ainda, até o Instituto de França”, seria o “coração do povo posto em comunicação com o cérebro da França”. Luis Bonaparte era um homem de porte – alto e esbelto – que Victor Hugo chamou de “pequeno: foi golpista (1851) como o nosso pequeno Napoleão local, mas não conseguiu fazer terra arrasada das conquistas da Revolução.
No turbilhão da História Victor Hugo disse que ele, Napoleão III – como Imperador – foi “apenas um palhaço” e agregou: “não basta querer para ser um monstro!” Aqui no Brasil, o encarceramento de Lula, o golpe contra Dilma, a naturalização da liderança fascista de Bolsonaro – aceito pela mídia oligopólica para ser o Presidente das reformas – talvez ainda não tenha definido o fim total da democracia política, mas esta jamais será a mesma.
O processo político em curso, como se vê, abriu a era dos “pequenos” e também dos perigosos palhaços da empulhada neoliberal. Eles podem se tornar monstros, mas também poderão ser derrotados se em breve o coração sofrido do nosso povo conectar-se com o cérebro do Brasil. A reação da universidade -pelos seus professores, alunos,funcionários, reitores – homens e mulheres que são a maior parte da nossa inteligência científica e política, pode acender a chama da solidariedade e da esperança. E assim varrer, com sopros de luz, os pequenos napoleões terceiros e os grandes insanos que insultam a memória dos nossos heróis de verdade.
* Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.
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