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O levante estudantil que já ganhou corpo simboliza um poderoso foco de luz sobre o obscurantismo que tomou conta do país. É um movimento bem distinto daquelas massas amorfas envoltas em cores que pretendiam invocar patriotismo quando na prática estavam impulsionando o entreguismo, a base social do golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff e da eleição da extrema direita liderada por Jair Bolsonaro, em 2018.
Há lucidez nesse levante estudantil, por ser pautado na realidade que ameaça, concretamente, o futuro da nação. Os cortes irresponsáveis de verbas das universidades e congêneres tiram da juventude o instrumento que daria a ela as condições para a promoção do desenvolvimento nacional e do progresso social. Os estudantes reagem à apologia ao obscurantismo e ao papel servil que naturalmente seria reservado ao povo, conforme tem proclamado o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub.
É a ideologia da extrema direita, condizente com o ideal pregado como um dogma, um conceito pronto e acabado. A universidade é incompatível com esse pensamento típico dos regimes que precederam a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Nelas se produziram as luzes que fulminaram a escuridão do escravismo e da servidão. Para uma ideologia que não chegou sequer às ideais de John Locke, François Voltaire, Charles Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau, François Quesnay e Adam Smith, fica difícil compreender a importância das universidades.
A juventude que agora se manifesta ergue o mesmo facho de luz que ilumina a história brasileira em sua luta para vencer o atraso, o preconceito, a servidão e o escravismo. Ela faz isso porque chegou à fonte do conhecimento. Essa juventude se manifestou já no processo de formação da nação, quando mãos rapaces tentaram usurpar a pátria.
É bem conhecido o episódio dos estudantes liderados por Bento do Amaral Coutinho que participaram da luta contra o corsário francês Jean François Du Clerc, que chegou ao Rio de Janeiro em 1710 com seis navios e mil homens de guerra, inaugurando a atuação política organizada da juventude no Brasil.
Na chamada "Inconfidência Mineira", seu líder, Joaquim José da Silva Xavier — o Tiradentes —, manteve contato com estudantes brasileiros de Coimbra, Portugal, que, como ele, manifestavam ideais de independência para Brasil. O iluminismo se espalhara na Europa ao longo do século XVIII a partir da obra de filósofos franceses e teve grande repercussão na América; influenciou a Independência dos Estados Unidos e, posteriormente, das colônias ibéricas.
A elite colonial brasileira enviava os filhos para estudar na Europa e eles mantinham contato com os movimentos que exigiam direitos como liberdade e igualdade. Quando voltavam, traziam as ideias dos iluministas. A independência de treze colônias inglesas nos Estados Unidos, movida por esses princípios, criou uma nação soberana, republicana e federativa, o que estimulou ainda mais os movimentos emancipacionistas, inclusive o brasileiro.
Em Salvador, estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia criaram, em 1852, a primeira associação estudantil com o objetivo definido de alforriar escravos, denominada "Dois de Julho". Os jovens participaram ainda da Revolução Farroupilha e o estudante da Faculdade de Medicina da Bahia, Francisco Sabino Vieira, foi o líder da Sabinada — uma revolta que se estendeu entre os anos de 1837 e 1838, cujo nome homenageia seu líder.
Na República, os jovens começaram a se organizar em 1901, com a Federação de Estudantes Brasileiros e, em 1910, realizaram o I Congresso Nacional dos Estudantes. O auge dessa fase inicial se deu na luta antifascista, com a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 13 de agosto de 1937, às vésperas do Estado Novo. E estão bem vivas na memória nacional os combates à ditadura militar e ao neoliberalismo.
Essa onda que se espalha pelo país agora tem a mesma base e luta por esses mesmos ideais históricos. São os veios históricos da formação do Brasil, com o povo lutando contra os setores dominantes, em defesa do futuro. Essa ideologia obscurantista, que volta a tomar conta do país, mais uma vez terá na juventude uma firme resistência. Destaque o papel exercido nos embates atuais da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Pode-se afirmar, com margem de segurança, que esse é o início de uma grande jornada democrática, patriótica e progressista.
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