Gabriel Boric |
Gabriel Boric (se pronuncia “Borich”) tornou-se muito mais que o mais jovem presidente (36 anos) a assumir a presidência do Chile: tornou-se um imenso lago andino de esperança.
Ele certamente sabe a dimensão do peso que foi posto sobre seus ombros nesta sexta-feira.
Sabe que os olhos de boa parte do mundo, especialmente da América Latina, estão atentos a cada gesto seu a partir deste momento.
Sabe também que concentra as atenções não apenas de seus eleitores, mas de tudo aquilo que significa poder – poder político, econômico, de apoio ou de oposição, e até mesmo o poder de impor obstáculos.
Impossível, embora injusto, não traçar um paralelo entre Boric e Salvador Allende, que morreu durante o golpe sangrento do sanguinário general Pinochet em 11 de setembro de 1973. Aquele foi outro vendaval de esperança, mas que teve um final trágico.
E impossível não lembrar que o novo presidente cresceu na ditadura.
Para completar o quadro, impossível não destacar que ele sucede o segundo mandato de um neoliberal radical, Sebastián Piñera (o primeiro foi entre 2010 e 2014, desastroso mas menos que este que terminou agora), e que derrotou um pinochetista mais radical ainda, o ultradireitista José Antonio Kast.
O primeiro desafio de grandes proporções de Boric é fortalecer o poder popular que o levou à poltrona presidencial.
Já na campanha eleitoral, ele se comprometeu a construir “um país mais justo, mais digno, mais seguro”.
Terá de começar essa tarefa diante de um Congresso muito dividido, onde ele não alcançou maioria.
E mais: no dia 12 de junho, haverá um plebiscito para aprovar – ou não – a nova Constituição, que irá substituir a atual, herdada dos tempos de Pinochet.
Ele armou um governo variado, onde as mulheres são maioria (catorze a dez homens) e onde há representantes dos povos originários. E em seu gabinete, um destaque: a bióloga Maya Fernández Allende, neta do presidente deposto e morto, ocupará nada menos que o ministério da Defesa.
Entre os tantos desafios que tem pela frente, alguns são especialmente espinhosos. Por exemplo: conseguirá aumentar os impostos às grandes fortunas e às grandes corporações para poder financiar pontos essenciais, como saúde e educação?
Como implantar uma reforma no sistema previdenciário, um dos mais absurdos deste absurdo continente latino-americano (aliás, fortemente admirado pelo especulador Paulo Guedes)?
Com que instrumentos poderá aumentar de maneira sólida o parco salário mínimo dos chilenos? Como reformar uma polícia militarizada especialmente brutal, herança direta da ditadura?
Enfim: para onde quer que se olhe no Chile, o que o jovem Boric tem pela frente é uma cordilheira de desafios e problemas.
E precisamente por isso ele simboliza uma forte brisa de esperança.
P.S.: Jair Messias, aliás, foi esperto e fez muito bem em não ir para a cerimônia de posse. Despachou seu vice, o reacionário general Humberto Mourão, que foi encharcado por gritos de “Fora Bolsonaro” na saída da cerimônia do juramento de Boric no Congresso...
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