Foto: Ricardo Stuckert |
Nasceu a primeira federação partidária da esquerda brasileira. Na noite de quarta-feira (9), PT, PCdoB e PV anunciaram que vão se federar formalmente, criando um importante polo para as disputas políticas e eleitorais dos próximos quatro anos. Outras legendas ainda podem se somar à iniciativa.
É grande, em especial, a expectativa de que o PSB se integre ao bloco. Além de ter sediado a reunião entre os quatro partidos – que culminou no anúncio da federação –, o PSB já declarou que seu objetivo central em 2022 é o mesmo: derrotar Jair Bolsonaro (PL) e garantir a vitória, nas eleições de outubro, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que concorrerá a um terceiro mandato no Planalto.
“As quatro agremiações, PT, PSB, PCdoB e PV têm unidade na construção de uma frente para enfrentar Bolsonaro e reconstruir o Brasil, unidos na candidatura Lula presidente”, apontaram os quatro partidos, em nota. “Estamos convictos que a decisão é um marco histórico e um passo decisivo para trilharmos a vitória eleitoral nas eleições de 2022, construir uma nova maioria que possa devolver a esperança a nosso povo.”
Para a presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, este 9 de março é “um dia pra entrar na história”. Como outros dirigentes envolvidos nas negociações, Luciana enfatizou que as conversas continuam, já que a formação definitiva da federação pode ser ajustada até 31 de maio. “Continuaremos a dialogar com o PSB, para que tenhamos também sua participação. Os quatro partidos estarão juntos de qualquer forma – unidos para derrotar Bolsonaro e reconstruir o Brasil, de mãos dadas para devolver a esperança para nosso povo!”
Sentimento igual foi manifestado por Lula, em entrevista nesta quinta-feira (10) a uma emissora de rádio de Minas Gerais. “O fato de o PT ter feito a federação com PV e o PCdoB é uma coisa muito importante. Eu ainda trabalho com a ideia de que o PSB possa entrar nessa federação”, declarou o ex-presidente. PT e PSB – vale lembrar – já estiveram juntos em apoio a Lula nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998.
Embora sejam um instrumento democrático à disposição de qualquer partido político, as experiências mais bem-sucedidas de federações partidárias, pelo mundo, mostram que o campo popular e progressista tende a se fortalecer ainda mais quando seus partidos se articulam em bloco. Essas formações se revelam particularmente potentes em cenários que demandam união de forças contra governos conservadores e regimes autoritários.
No Chile, a Concertación de Partidos por la Democracia – que reunia quatro partidos de centro-esquerda – foi decisiva para derrotar a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), promover a transição democrática e governar o país de 1990 a 2010. Posteriormente, no segundo governo Michelle Bachelet (2014-2018), formou-se a Nueva Mayoria, a qual, além das siglas integrantes da antiga Concertación, reuniu também o Partido Comunista e outras legendas de esquerda.
Um caso mais recente e igualmente vitorioso foi a Geringonça – uma aliança de partidos de esquerda e centro-esquerda em Portugal, viabilizada nas eleições legislativas de 2015. Pela primeira vez em quase 40 anos, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista superaram suas diferenças históricas e marcharam juntos, garantindo governabilidade à gestão do primeiro-ministro António Costa. A unidade programática dessas forças – que se estendeu até 2021 – levou à reversão de medidas neoliberais que haviam dominado a política portuguesa no início daquela década, entre outros avanços.
No caso do Brasil, a sete meses das eleições presidenciais, a mãe de todas as batalhas é vencer Bolsonaro e sepultar, de vez, seu governo de extrema-direita e de destruição nacional. A federação partidária entre PT, PCdoB e PV faz avançar essa luta, na medida em que antecipa o debate sobre o projeto de que o País precisa para retomar o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional.
Diferentemente das coligações eleitorais – que, formalmente, se extinguem logo após o pleito –, as federações no Brasil implicarão um vínculo de longo prazo, com penalidades para os partidos que não seguirem o programa comum ou que renunciem à união. É um estímulo para um ambiente político menos pragmático e mais programático, baseado mais em ideias e princípios, menos em interesses pontuais.
Conforme apontou o PCdoB em novembro, durante seu 15º Congresso Nacional, as federações “abrem caminho para construções políticas de nível superior, no âmbito das forças patrióticas, populares e progressistas, amparadas na unidade popular. É a bandeira de esperança, da ampla maioria dos brasileiros, para a construção de saídas para a crise que o Brasil vive”.
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