segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mídia desistiu dos protestos de rua

Por Altamiro Borges

Esbanjando flexibilidade tática, a mídia hegemônica está mudando novamente de postura diante dos protestos de rua. Num primeiro momento, quando as manifestações eclodiram em São Paulo, ela invisibilizou as ações – como sempre faz contra as mobilizações populares. Na sequência, ela criminalizou os protestos e exigiu dura repressão – outra atitude já conhecida. Diante da reação à violência policial, que espraiou a solidariedade pelo país afora, ela tentou capturar o movimento difuso, disputando a sua pauta. De forma surpreendente, ela até convocou os protestos “cívicos”. Agora, porém, a mídia adota nova atitude, exigindo “ordem” e o aumento da repressão. O Globo, Folha, Veja e Época parece até que combinaram a mudança no enfoque dos protestos de rua.

O editorial da Folha desta segunda-feira (19) é sintomático. Após elogiar as manifestações de junho, que “sacudiram o sistema político do torpor em que se encontrava e revelaram saudável inconformismo”, ela condena duramente os “grupúsculos empenhados em sustentar a antiga chama”. Para o jornalão, os manifestantes que se mantêm nas ruas são “incapazes de mobilizar multidões e recorrem à violência no afã de multiplicar a repercussão de seus esquálidos protestos”. As manifestações de rua, antes belas e cívicas, agora são obra de vândalos e criminosos. Ao final, a Folha exige:

“É preciso repetir o óbvio. Cabe às autoridades garantir o direito de manifestação pacífica. Mas compete às mesmas autoridades coibir todo ato de violência contra qualquer pessoa ou contra o patrimônio público e privado... Pouco importa que os vândalos sejam ideólogos do ressentimento, indivíduos de temperamento exaltado ou meliantes e provocadores infiltrados na confusão. A lei é a mesma para todos. A democracia representativa é o único regime que protege o direito dos que pregam sua destruição... Impedi-los de impor a sua pregação pela força não é um direito do regime democrático, mas sua obrigação mais irrecusável”.

No mesmo rumo, o jornal O Globo já havia se manifestado em editorial no sábado (17). No maior cinismo, o diário da famiglia Marinho cita a luta de duas gerações contra o regime militar – logo ela que apoiou o golpe e enriqueceu na ditadura – para criticar os protestos que seguem nas ruas. Para o jornal, as novas manifestações não expressam mais os anseios da classe média. “Tendo sido cooptados pela enorme capacidade de atração demonstrada por Brasília, organizações de estudantes, outras entidades ditas da sociedade civil e sindicatos tamponaram a capacidade de grupos descontentes de se expressar”.

Diante desta nova realidade, O Globo propõe uma drástica mudança de abordagem dos protestos – principalmente dos realizadas no Rio de Janeiro, pela CPI dos Transportes, e em São Paulo, contra o propinoduto. “Não há, em qualquer nação democrática no mundo, cidade de importância que conviva com a falta de regras e a não aplicação da lei em situações como esta. Existem os pesos e contrapesos na democracia representativa para que todos os direitos sejam respeitados, e não apenas um - o da livre expressão - em detrimento dos demais: direito à livre locomoção e o respeito à propriedade privada e pública”.

O tom rancoroso dos jornalões é o mesmo das duas principais revistas da direita nativa. A Veja desta semana deu uma capa terrorista contra os protestos – bem diferente da eufórica da capa estampada em junho – e tentou rotular todos os manifestantes de seguidores do “Black Blocs”. Já a revista Época, que também pertence à famiglia Marinho, publicou um texto hidrófobo contra os “inimigos da democracia”. Ambos afirmam que os protestos de rua agora foram “sequestradas” por “vândalos” e “grupos autoritários”. O que causou esta súbita mudança de cobertura da mídia?

Será que ela não gostou dos protestos das centrais sindicais, que conseguiram adiar a votação do projeto de lei da terceirização – que serviria aos intentos de precarização do trabalho dos empresários, inclusive dos barões da mídia? Será que ela teme o aumento das manifestações exigindo a abertura imediata de uma CPI para apurar as denúncias sobre o propinoduto tucano em São Paulo? Será que ela está preocupada com a convocação de novas passeatas pela democratização da mídia, já que “o povo não é bobo, fora Rede Globo?”.

2 comentários:

Anônimo disse...

As grandes emissoras de TV romantizavam os protestos enquanto as suas vans de transmissão eram queimadas. Quem mais promoção do protesto que isso?

Quanta bobagem...

Anônimo disse...

Alguma coisa não bate. De um lado a mídia recua, por outro usa de novo o mensalão para dizer que cento e tantas manifestações estão programadas para o dia 7 de setembro.Se ela divulga, não tenho dúvidas que ela já monta o cenário. Alguma armadilha essa turma está tramando. Teve até declaração do Fux hoje à tarde, afirmando que antes de 7 de setembro, as penas estarão acertadas.
Maria