quarta-feira, 6 de junho de 2012

O que a mídia esconde sobre a Síria

Por Marat Musin e Olga Kulygina, no sítio Vermelho:

No dia 25 de maio último, por volta das 2 horas da tarde, grandes grupos de combatentes atacaram e capturaram a cidade de Houla, na província de Homs. Houla é formada por três regiões: as cidades de Taldou, Kafr Laha e Taldahab, cada uma das quais já albergou de 25 a 30 mil pessoas.


A cidade foi atacada a nordeste por grupos de bandidos e de mercenários, em número de mais de 700 pessoas. Os bandos vieram de Ar-Rastan (a Brigada de al-Farouk do Exército de Libertação Sírio, chefiada pelo terrorista Abdul Razak Tlass, em número de 250), da cidade de Akraba (chefiada pelo terrorista Yahya Al-Yousef), da cidade Farlaha, a que se juntaram gangsters locais e de Houla.

Há muito que a cidade de Ar-Rastan foi abandonada pela maior parte dos civis. Neste momento dominam o local wahabitas e libaneses, alimentados com dinheiro e armas por um dos maiores orquestradores do terrorismo internacional, Saad Hariri, que lidera o movimento político antissírio "Tayyar Al-Mustaqbal" ("Movimento do Futuro"). A estrada de Ar-Rastan para Houla atravessa áreas beduínas que se mantêm quase todas fora do controle das tropas governamentais, o que fez com que os ataques a Houla fossem uma total surpresa para as autoridades sírias.

Quando os grupos armados tomaram o posto de controle no centro da cidade, situado junto da delegacia da polícia local, começaram a eliminar todas as famílias leais às autoridades nas casas vizinhas, incluindo os velhos, as mulheres e as crianças. Foram mortos diversos familiares de Al-Sayed, incluindo 20 crianças e a família de Abdul Razak. Muitos dos que foram mortos eram "culpados" de terem ousado mudar de sunitas para xiitas. As pessoas foram mortas com facas e alvejadas à queima-roupa. Depois os cadáveres foram apresentados às Nações Unidas e à comunidade internacional como sendo vítimas de bombardeios do exército sírio, uma coisa que não foi verificada por quaisquer marcas nos corpos.

A ideia de que observadores das Nações Unidas tinham ouvido fogo de artilharia contra Houla no Hotel Safir em Homs durante a noite… como piada não está nada mal. São 50 km de distância entre Homs e Houla. Que tipo de tanques ou de metralhadoras tem esse alcance? Sim, houve intenso tiroteio em Homs até às 3 da manhã, incluindo armas pesadas. Mas, para dar um exemplo, na noite de segunda para terça-feira, o tiroteio deveu-se a uma tentativa de aplicação da lei para reconquistar o controle sobre um corredor de segurança ao longo da estrada para Damasco, Tarik Al-Sham.

Numa inspeção visual a Houla é impossível encontrar vestígios de qualquer destruição recente por bombardeios. Durante o dia, foram feitos vários ataques por atiradores sobre os últimos soldados restantes no posto de controlo Taldou. Os bandidos usaram armas pesadas e houve franco-atiradores mercenários profissionais em atividade.

De notar que já anteriormente falhara uma mesma provocação em Shumar (Homs), que resultou em mortos, organizada pouco antes de uma visita de Kofi Annan. Essa provocação foi imediatamente desmascarada logo que se tornou conhecido que os corpos dos previamente raptados pertenciam aos alawitas. Essa provocação também continha várias incongruências – os nomes dos que foram mortos eram de pessoas leais às autoridades, não havia vestígios de bombardeios, etc.

Mas a máquina da provocação continuou a funcionar na mesma. Hoje, os países da Otan ameaçam bombardear diretamente a Síria e simultaneamente começou a expulsão de diplomatas sírios… Atualmente não há tropas dentro da cidade de Houla, mas apesar disso ouvem-se regularmente explosões de armas automáticas. Além disso, não se percebe se os grupos armados andam a lutar uns contra os outros ou se os apoiadores de Bashar al Assad estão a ser eliminados.

Os militantes abrem fogo sobre praticamente todos aqueles que tentam aproximar-se da cidade fronteiriça. Antes de nós foi alvejado um comboio das Nações Unidas, tendo ficado danificados dois jipes blindados de observadores das ONU, quando tentavam chegar a um posto de controle do exército em Tal Dow.

No ataque ao comboio foi detectado um terrorista de vinte anos de idade. O fogo foi dirigido contra a traseira do primeiro jipe e a porta traseira do segundo carro blindado foi atingida por um fragmento. Há feridos entre os acompanhantes.

Segundo um soldado ferido:

"No dia seguinte, vieram observadores das Nações Unidas ao nosso encontro no posto de controle e, mal chegaram, atiradores abriram fogo contra eles. E três de nós foram feridos. Um ficou ferido na perna, o segundo nas costas e eu fui atingido nas nádegas.

Quando os observadores chegaram, ouviram uma mulher perto deles a gritar, a mulher levantou-se e suplicou aos observadores que a ajudassem – que a protegessem dos bandidos. Quando eu fui ferido, os observadores perguntaram como é que eu me sentia, mas nenhum deles tentou ajudar. O nosso posto de controle já não existe. Já não há civis em Taldou, só restam os militantes. A nossa relação com os locais era excelente. São muito bons para nós: pediram ao exército para entrar em Taldou. Fomos atacados por franco-atiradores".

Infelizmente, muitos dos franco-atiradores são profissionais. A uns 100 a 200 metros da nossa equipe de TV, militantes atacaram um BMP que ia fazer substituição de soldados no posto de controle. Nessa ocasião, um soldado recruta sofreu uma concussão e um leve ferimento de raspão na cabeça por uma bala de um franco-atirador. Olhando para o capacete de Kevlar, parece que ele nem se apercebeu de que tinha sobrevivido por milagre.

Os franco-atiradores matam diariamente cerca de 10 soldados e policiais nos postos de controle. É verdade, as baixas diárias nas organizações de imposição da lei em Homs são de dezenas de vítimas. Mas, infelizmente, às 10 horas da manhã, foram levados para o necrotério seis soldados mortos. A maior parte deles tinha sido golpeada com uma bala na cabeça. E o dia mal tinha começado…

São estes os nomes dos que foram mortos pelos franco-atiradores nas primeiras horas da manhã de 29 de maio:

1. Sargento Ibrahim Halyuf

2. Sargento Salman Ibrahim
3. Polícia Mahmoud Danaver
4. Soldado Ali Daher
5. Sargento Wisam Haidar
6. Não se conseguiu apurar o sobrenome do soldado morto

Os bandidos até dispararam uma descarga automática sobre o nosso grupo de jornalistas, embora fosse óbvio que era um grupo de filmagem normal, formado por civis desarmados.

Como começou o ataque

Depois das orações de sexta-feira, pelas 2 horas da tarde de 25 de maio, um grupo do clã Al Aksh começou a disparar sobre um posto de controle de forças da ordem com morteiros e lança-granadas. O fogo de resposta de um BRDM atingiu a mesquita, e foi quanto bastou para desencadear uma provocação maior.

Depois, dois grupos de bandidos chefiados pelos terroristas Nidal Bakkour e Al-Hassan do clã Al Hallak, apoiados por uma unidade de mercenários, atacaram o posto de controle na zona oriental da cidade. Às 15h30 foi tomado esse posto de controle e todos os prisioneiros foram executados: um soldado sunita ficou com a garganta cortada, enquanto que Abdullah Shaui (beduíno) de Deir-Zor foi queimado vivo.

Durante o ataque ao posto de controle oriental, os homens armados perderam 25 pessoas que depois foram apresentadas aos observadores da ONU, juntamente com os 108 civis mortos, como "vítimas do regime", alegadamente mortos por bombardeios do exército sírio. Quanto aos restantes 83 corpos, incluindo os de 38 crianças, eram das famílias que foram executadas pelos militantes. Essas famílias eram todas leais ao governo da Síria.

Entrevista com um funcionário das forças da ordem:

"Chamo-me Al Khosam, sou um agente das forças da ordem. Prestava serviço na cidade de Taldou, distrito de Houla, uma província de Homs. Na sexta-feira, o nosso posto de controle foi atacado por um grande grupo de terroristas. Eram milhares.

Pergunta: Como é que se defendeu?

Resposta: Com uma simples arma. Tínhamos 20 pessoas, pedimos reforços e quando vinham a caminho, fui ferido e só retomei consciência no hospital. Os atacantes eram de Ar-Rastan e Houla. Os rebeldes controlam Taldou. Queimaram casas e mataram pessoas e famílias, porque eram leais ao governo. Violaram mulheres e mataram as crianças."

Entrevista com um soldado ferido:

"Chamo-me Ahmed Mahmoud al Khali. Sou da cidade Manbej. Fui ferido em Taldou. Pertenço a um grupo de apoio que foi em ajuda dos nossos camaradas que estavam de serviço no posto de controle.

Os grupos armados destruíram dois veículos de combate de infantaria e um BRDM que estava no nosso posto de controle. Fomos para Taldou num BMP, buscar os nossos camaradas feridos no posto de controle do centro da cidade. Trouxemos esses camaradas no BMP, e eu ocupei o lugar deles.

Pouco depois chegaram os observadores da ONU. Vieram ao nosso encontro, nós os levamos às casas das famílias que foram mortas pelos bandidos.

Vi uma família de três irmãos e o pai no mesmo quarto. Em outro quarto encontramos crianças mortas e a mãe delas. E em outro, um velho, morto na mesma casa. Ao todo, cinco homens, mulheres e crianças. A mulher violada e com um tiro na cabeça, tapei-a com um cobertor. E a comissão viu-os a todos. Puseram-nos no carro e foram-se embora. Não sei para onde os levaram, provavelmente para serem sepultados."

Um residente de Taldou na delegacia de polícia diz:.

"Na sexta-feira à tarde eu estava em casa. Ao ouvir os tiros, saí para ver o que é que estava a acontecer e vi que o fogo vinha do lado norte, na direção do posto de controle do exército. Como o exército não respondeu, eles começaram a aproximar-se da casa onde depois a família foi morta. Quando o exército começou a responder, eles usaram as mulheres e as crianças como escudos humanos e continuaram a disparar sobre o posto de controle. Quando o exército começou a responder, fugiram. Depois disso, o exército pegou as mulheres e crianças sobreviventes e puseram-nas em segurança. Nessa altura, a Al Jazeera pôs imagens no ar e disse que fora o exército que fizera o massacre em Houla.

A verdade é que eles mataram os civis e crianças em Houla. Os bandidos não permitiram que ninguém fizesse o trabalho deles. Roubaram tudo o que puderam: trigo, farinha e gasolina. A maior parte dos combatentes era da cidade de Ar Rastan."

Depois de conquistarem a cidade, levaram os corpos dos seus camaradas mortos, assim como os corpos das pessoas e das crianças que mataram na mesquita. Transportaram os corpos em carros KIA. Em 25 de maio, por volta das 8 horas da noite, os cadáveres já estavam na mesquita. No dia seguinte às 11 horas da manhã chegaram os observadores da ONU à mesquita.

Desinformação

Para exercer pressão sobre a opinião pública e alterar as posições da Rússia e da China, foram preparados com antecedência textos e legendas em russo e em chinês, a dizer: "Síria – Homs – Cidade de Houla. Um terrível massacre perpetrado pelas forças armadas do regime sírio contra civis na cidade de Houla. Dezenas de vítimas – e o seu número aumenta – principalmente mulheres e crianças, brutalmente mortas por bombardeio indiscriminado da cidade".

Dois dias depois, em 27 de maio, depois de os relatos dos moradores e dos registros de vídeo mostrarem que os fatos não corroboravam a acusação de bombas, os vídeos dos bandidos sofreram alterações significativas. No final do texto aparecia este pós-escrito: "E alguns foram mortos com facas".

* Marat Musin e Olga Kulygina, de Houla, Síria. Fonte: Global Research. Tradução: Margarida Ferreira (Resistir)

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