quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O que resta para Marina Silva?

Por Marcelo Hailer, na revista Fórum:

O Brasil ainda vive sob a ressaca do fim da eleição de 2014, uma disputa que servirá de material para muita pesquisa na área da Ciência Política e Marketing. Com certeza, a disputa mais acirrada e surreal: com cenário praticamente definido, o candidato Eduardo Campos falece em acidente aéreo no dia 13 de agosto e, assim, a vice de sua chapa, Marina Silva, ocupa o seu lugar na disputa presidencial afirmando carregar os ideais de Campos, das manifestações de junho de 2013 e, por fim, declarando representar a “nova política”.

Além de todo o ideário da “nova política”, como herdeira do legado de Eduardo Campos, Marina Silva também entoou o discurso do rompimento com a polarização entre PSDB e PT, que domina a disputa nacional desde 1994. Colocada desta forma, a candidata do PSB se tornou alvo central dos tucanos e dos petistas, algo normal em uma disputa política. Na campanha do PT, o foco era demonstrar fragilidades discursivas da candidata. Do lado tucano, centrou-se fogo no fato de a candidata mudar toda hora o seu plano de governo. Ficou famosa a frase dita por Aécio Neves de que o programa de Marina era escrito “a lápis” para poder mudar sempre que fosse pressionada.

Somada à pressão sofrida pelos dois maiores partidos políticos do Brasil, a candidata também teve responsabilidade no enfraquecimento de sua própria candidatura. Começou quando voltou atrás na questão da criminalização da homofobia após pedido do pastor Silas Malafaia. Depois, a questão do financiamento da campanha.

Dizia-se “nova política”, mas tinha como vice Beto Albuquerque, ligado ao setor do agronegócio e, além disso, recebia doações de empresas ligadas à indústria armamentista. Ou seja, o discurso da “nova política” não sobreviveu, tucanos e petistas voltaram pra casinha e a polarização entre PT e PSDB se manteve, o que não significa ser algo ruim.

A derrocada

Encerrado o primeiro turno, a grande pergunta era: quem Marina Silva vai apoiar? Logo de cara diziam que ela ficaria neutra ou que apoiaria o candidato Aécio Neves. Também era possível seguir o PSB, que poderia apoiar o PT por conta de sua história política. Parte do PSB ficou ao lado do candidato tucano, deixando muita gente atônita. Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, se rebelou e declarou apoio a Dilma Rousseff, assim como as parlamentares Luiza Erundina e Lídice da Mata.

Logo depois, foi a vez de Marina Silva, que, para declarar o seu apoio a Aécio Neves, queria negociar o abandono da proposta de redução da maioridade penal pelo candidato, que negou e disse que o seu projeto político havia sido aprovado pela população. Por fim, no dia 12 de outubro, Marina Silva surgiu de cabelos soltos e declarou apoio ao candidato do PSDB. Em questão de minutos, Silva enterrava todo o seu discurso sobre nova política, pois aderia à chapa defensora da redução da maioridade penal e também do retorno das políticas bilaterais com Europa e Estados Unidos, em detrimento da política multilateral com a América Latina, África e Ásia.

Se Aécio Neves tivesse ganhado a eleição, pode ser que Marina Silva ainda tivesse uma sobrevida no mundo político, pois era fato que ela assumiria um cargo numa eventual gestão tucana. Porém, o PSDB perdeu. E a conta para Marina Silva ficou alta: Aécio e companhia retornam para o Senado; a estadia de Silva no PSB é incerta e o partido, hoje, está completamente rachado; a Rede, que ainda nem virou um partido, também está completamente dividida e muita gente ficou insatisfeita com o apoio de Marina Silva ao tucano.

Marina Silva encerra 2014 assim com encerrou 2010, mas pelo menos na eleição passada ficou neutra e ainda podia utilizar o discurso da “nova política”. Agora, nem isso. A proposta morreu, já que, nesta eleição, ficou claro que construir um jeito novo de fazer política é muito mais complexo que um discurso bonito. Revelou-se também que Marina Silva até pode posar de “sonhática”, mas é puro pragmatismo e encerrou o pleito deste ano aliada com o que há de mais arcaico na política brasileira e acabou por tornar o seu nome inviável para uma futura disputa presidencial.

A eleição acabou e a política “sonhática” também.

5 comentários:

Unknown disse...

Vi três grandes derrotados nessas eleições: Marina e sua Rede por consequência e infelizmente o PSB.

O PSB que tinha em perspectiva deixar de ser um partido de médio porte e alcançar o patamar de protagonista naufragou na morte de Eduardo Campos. Depois buscou salvação na oportunista e aventureira campanha de Marina Silva. Saiu dessas eleições esfacelado, com cicatrizes talvez inconciliáveis. Só o tempo vai dizer o que acontecera ao certo.

Marina desnudou-se durante essa campanha, perdeu completamente o apoio e os votos que tinha dos eleitores mais a esquerda e os da direita pra onde se deslocou (agora definitivamente) nunca os teve, apenas foi contemplada por eles quando se vislumbrou que ela em alguns momentos poderia forçar um segundo turno e até mesmo derrotar o PT. Hoje o que talvez lhes reste de apoio verdadeiro da direita seja o de sua fiel escudeira e amiga particular Neca Setúbal

Anônimo disse...

Pela "firmeza de caráter", essa ameba será sempre relembrada quando mostrar sua cara fora da toca. Agora ela hibernará no ostracismo.

Anônimo disse...

Vc esqueceu o Malafaia... perde TODAS

Anônimo disse...

Marina tem um futuro brilhante!!!!
Ela tem duas opções:
1) Pescar baleias com anzol,
2) Aprender tricô. (ou tecer redes)
Com a coesão de que ela é capaz e a sua força transformadora será líder em qualquer uma das duas opções acima.
emerson57

Anônimo disse...

Ela vai nadar na lama da Cantareira. Ela deve estar ingerindo diazepan para assimilar a sua derrota dupla.