sexta-feira, 8 de abril de 2016

O ato dos jornalistas contra o golpe

Por José Cassio, no blog Diário do Centro do Mundo:

“Não podia imaginar que, depois de 40 anos, eu teria de recorrer novamente à mídia internacional para saber o que está acontecendo no meu país”.

O professor (ECA/USP) Laurindo Leal Filho se referia a meados da década de 70 quando tinha de sintonizar a Rádio BBC de Londres para saber notícias sobre o golpe de Estado ocorrido no Chile e que consistiu na derrubada do regime democrático constitucional e de seu presidente, Salvador Allende.

Como ele, nomes importantes do jornalismo brasileiro aproveitaram o Dia do Jornalista, nesta quinta, para se manifestar contra o golpe e pela democracia em ato no Sindicato da categoria. Foram unânimes em apontar que a postura da grande imprensa está contribuindo para incitar o ódio e acirrar a crise política no país.

Na opinião do professor, a atual crise brasileira nada mais é que um repeteco de 1964.

“As conquistas sociais dos governos Lula e Dilma representam o mesmo que as reformas de base de João Goulart: medo, algo que incomoda as classes dominantes”, afirma. O posicionamento dos meios de Comunicação, de enviesar o noticiário e agir escandalosamente conforme seus interesses, está dentro da normalidade, segundo Laurindo Leal.

“Nisso eles são coerentes, pois têm no seu DNA a defesa dos interesses das classes mais abastadas”.

Outro ponto levantado é o motivo de a mídia exercer tanta influência sobre os indivíduos, a ponto de interferir na própria Justiça, como está claro com as articulações envolvendo jornalistas e o juiz Sérgio Moro.

“Isso passa pela fragilidade dos nossos partidos políticos”, diz Laurindo Leal. “De alguma maneira eles delegaram à mídia o papel de interlocutora com a sociedade”.

A colunista Barbara Gância é outra que fez questão de ressaltar os excessos.

“Nos fizeram acreditar que o Lula inventou a luta de classes”, disse ela. “Na década de 60 nós já andávamos de carro blindado”. Barbara conta que decidiu tomar posição depois que o juiz Sérgio Moro decretou a prisão coercitiva do ex-presidente.

“Até ali eu estava na minha, vendo o país dividido entre petralhas e coxinhas. Estava entre milhões de pessoas que não tinham voz, que não estavam nem de um lado, nem de outro, mas agora vejo que o que está ocorrendo é a tentativa de um grupo de encurtar o caminho para chegar ao poder. Não se pode insultar 54 milhões de trabalhadores, e ainda conspirar contra uma pessoa como a Dilma, que não cometeu nenhum crime grave”.

Barbara falou do patrulhamento que sofreu por suas posições.

“Fui demitida da Band porque me recusei a pegar leve com o Eduardo Cunha”, disse ela. “Um belo dia recebo uma orientação: você não pode falar do Eduardo Cunha porque ele é primo do Johnny Saad (dono da emissora). Como assim? Eu sou comentarista, jamais podia aceitar uma coisa dessas”.

O presidente do Sindicato, Paulo Zocchi, classificou de farsa o que está ocorrendo no país.

“É uma intenção clara de inviabilizar o governo e impor um modelo econômico-social condizente com interesses contrários aos dos trabalhadores e do país: o fim de carteira de trabalho, com a terceirização da mão de obra, e a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras, são apenas dois exemplos”, disse ele.

No ato, o jornalista Breno Altman denunciou violações por parte da Justiça.

Na sexta-feira, 1º de abril, ele foi levado para depor coercitivamente pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. “Fui levado forçadamente a depor sem ter recebido uma intimação anteriormente”, afirmou Altman, que teve o “sigilo de fonte”, garantia constitucional do jornalismo, quebrado – levaram de sua casa computadores, gravadores, discos rígidos e anotações diversas.

Decano do jornalismo brasileiro, Audálio Dantas afirmou que a postura da mídia não o surpreende. “Ela sempre apoiou os movimentos golpistas”

Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, lembrou que jornalistas estão sofrendo agressões por se colocar contra o impeachment, e citou Juca Kfouri.

“O que está em jogo não é a corrupção, senão o impeachment não estaria sendo conduzido pelo correntista da Suiça Eduardo Cunha”, ironizou. “É um projeto de país que a elite quer impor”.

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