Por Osvaldo Bertolino, no site da Fundação Maurício Grabois:
O McJob, nome genérico que nos Estados Unidos e na Europa se dá a empregos de baixa especialização e de baixa remuneração no setor de serviços, faz o maior sucesso no Brasil. A prova disso está disponível em qualquer loja do McDonald’s, onde se vê punhados de adolescentes brasileiros frequentemente vistos como um grupo mal preparado e de pouco futuro. Nos Estados Unidos e na Europa, a grande bronca com os McJobs é o fato de eles simbolizarem o trabalho desqualificado a que teve de se submeter uma geração que enfrentou dificuldades para trocar seu diploma universitário por um bom emprego. Eles chegaram ao mercado de trabalho com um currículo cinco estrelas e tiveram que se virar com um emprego destinado a quem só tinha o segundo grau.
Evidente: trabalhar como atendente numa lanchonete não é sinal de sucesso profissional. Nos Estados Unidos e na Europa, os McJobs geralmente complementam os rendimentos de quem está cursando o colégio ou mesmo a universidade. No Brasil, não. O McDonald’s, por exemplo, tem 35 mil funcionários no país — 85% trabalham como atendentes nos 464 restaurantes brasileiros da rede. Cada loja do McDonald’s tem em média 68 funcionários, e quase todos têm entre 16 e 21 anos. O atendente entra ganhando 1,50 real por hora. Com um ano, pode ganhar 1,95 real (trabalhando 6 horas por dia, 22 dias por mês, dá para fazer 250 reais). Por esses dados é possível visualizar o maior drama da juventude brasileira — a entrada no mercado de trabalho. Quem são e o que pensam esses jovens?
Uma nova leva de cidadãos
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), eles compõem uma turma de 55 milhões de brasileiros com potencial para influenciar decisivamente a economia do país. Pode-se dizer que são a primeira geração digital da história. Ela emerge no Brasil e em vários outros países com uma força avassaladora. Trata-se de uma moçada que nasceu a partir do finzinho dos anos 1990 e que está amadurecendo nestes primeiros anos do próximo século XXI. Nos Estados Unidos — onde ela é também chamada de Geração Y, Geração do Milênio, Geração Nintendo —, são 78 milhões de novos consumidores que reúnem um poder de compra direto de 130 bilhões de dólares ao ano. (Considerando também o quanto eles movimentam indiretamente, influenciando compras realizadas por seus pais, estima-se que essa cifra suba para 500 bilhões de dólares anuais.)
Tanto lá quanto aqui, essa geração constitui uma nova leva de cidadãos e de consumidores rica em demandas e hábitos específicos, com jeitos e objetivos muito próprios, e que vai, em breve, tomar as rédeas do país e imprimir a ele suas ideias e seus estilos. Essa geração vai, muito provavelmente, chacoalhar regras e certezas estabelecidas. Ela impõe um desafio ao mesmo tempo simples e crucial: incorporar essa moçada nas lutas progressistas. O desafio está na aprendizagem da linguagem e dos anseios que são efetivos junto a esses novos trabalhadores. E está também na desaprendizagem das práticas que caducaram ou estão caducando — uma tarefa igualmente difícil. Ao que tudo indica, nada será como antes. As gerações mais antigas terão de compreender tanto quanto possível quem são, como pensam e como se comportam os integrantes dessa nova geração.
Eles não imaginam a vida sem Internet
Infelizmente, há ainda poucos estudos e dados sobre essa juventude. (Especialmente no Brasil, onde a demografia é ainda uma ferramenta subutilizada.) A característica mais marcante dessa geração é precisamente ser digital. Ela rompe com a tradição de sua espécie, que é analógica desde seus primórdios. Eles raciocinam e se movimentam vida afora a partir de novas e inéditas coordenadas. Essa turma já nasceu sendo filmada, virando registro eletrônico, e cresce na frente de um computador. São jovens que se divertem com vários programas e tornam-se exímios com um mouse antes mesmo de entrar na escola. Para eles, computador não é nem o assustador mainframe dos anos 1960 nem o pedregoso XT da década de 1980. Computador, para a geração digital, tem a utilidade, o preço e o fácil acesso de um eletrodoméstico — e a diversão implícita de um brinquedo. Falar com a geração digital exigirá mudanças não apenas nas mídias escolhidas, mas também na linguagem utilizada.
Por tudo, a interatividade e o virtualismo — conceitos complexos para as gerações anteriores — são lugares-comuns no universo dessa geração. Eles não imaginam a vida sem Internet, sem jogos em 3D, sem realidade virtual. Tampouco concebem um dia-a-dia desplugado, sem chats, sem listas de e-mail, sem home pages pessoais. Coisas que, quando muito, ocupam posição secundária na lista de interesses e necessidades dos seres analógicos pré-anos 1990. Eles, em suma, estão familiarizados com um mundo pequeno, conectado, desenhado em interfaces amigáveis, que lhes chega mediado pela tela de alta resolução. Mas, quando falam de seus problemas, o fazem de modo a deixar evidente a questão principal: o desemprego. Ouça-se Jota Quest, um porta-voz dessa geração no Brasil: “Macacada reunida/Galera pelejando e dançando/Procurando uma saída (…) Que tá faltando emprego no planeta dos macacos.”
Altos índices de trabalho infantil
Essa realidade se alterou significativamente nos governos Lula e Dilma, com o fim do desemprego em massa, mas voltou com tudo desde que os golpistas entraram em cena para desestabilizar o ciclo progressista iniciado em 2003. E voltamos àquela realidade de quando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) estimou em 1 milhão e 600 mil jovens brasileiros entre 16 e 24 anos procurando e não encontrando colocação no mercado de trabalho nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) — referentes à Pnad/IBGE 2005 — no Brasil o desemprego dos jovens entre 15 a 24 anos era de 19,1%, com expressão mais perversa no caso de mulheres e negros, cujos índices eram de 24,7% e de 20,4% respectivamente. Mais: 57,4% dos jovens empregados não tinham carteira assinada. À essa expressão cruel somavam-se os altos índices de trabalho infantil. Estimava-se que 4 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 16 anos trabalhando no Brasil. O problema tem dimensões mundiais.
De acordo com a OIT, o desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos sofreu uma forte elevação nos últimos anos, alcançando em 2003 cerca de 88 milhões de pessoas. Ou seja: 47% do total global de desempregados, apesar de representarem apenas 25% da população economicamente ativa do planeta. Nos países ricos, a chance de um jovem tornar-se desempregado é 2,3 vezes maior do que a dos adultos acima de 25 anos. Nos países pobres, essa possibilidade é 3,8 vezes maior. No Brasil, as taxas de desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos representam o dobro em comparação ao total da população. Mesmo quando ocupados, podemos verificar que são destinados aos jovens as posições de baixa qualificação e remuneração. Uma parcela significativa desses jovens que aceitam trabalhar sob essas condições compromete sua escolarização sem completar sequer os ciclos educacionais compatíveis com a sua idade.
Combinação de desânimo com violência
Os dados têm um efeito devastador sobre os jovens quando saem da frieza do papel. Uma pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) mostrou que o maior temor dos estudantes de São Paulo é terminar seus cursos e não conseguir emprego. A pesquisa entrevistou 500 jovens de 16 a 25 anos. Desse total, 42% disseram temer não conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Um índice bem mais alto do que o de outras preocupações, como obter independência financeira (15%) ou melhorar a qualidade de vida (14%). Segundo as estimativas mais otimistas, para melhorar essa situação o Brasil precisaria retomar um crescimento econômico de 6% ao ano.
Um dos efeitos mais nocivos do desemprego é a combinação de desânimo com violência. Muitas vezes, os jovens fazem a sua parte ao estudar, mas a falta de perspectiva os leva à depressão, à inatividade e ao desespero da droga e do crime. O governo Lula começou a amenizar o drama. Em 2006, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) assinou 13 convênios com entidades do movimento social para a execução em 2007 dos Consórcios Sociais da Juventude. Naquele ano, 18.520 jovens de baixa renda foram atendidos nas cidades e no campo. O governo Dilma ampliou os convênios.
Experiências de outros países
Os Consórcios Sociais da Juventude integraram as ações do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNEPE), do MTE, para capacitar jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e risco social, e oferecer a eles a primeira oportunidade de emprego. O programa era realizado sempre em parceria com entidades não-governamentais, inserindo pelo menos 30% no mercado de trabalho. Eles tinham como objetivo qualificar jovens com idade entre 16 e 24 anos, de baixa renda, com renda per capita familiar de até meio salário mínimo. Chegou-se até a cogitar experiências de outros governos, como a França, que instituiu o programa “Primeiro Emprego”, desenvolvido pelo governo socialista de Leonel Jospin, que exige dos órgãos públicos um percentual de vagas para jovens na faixa de 18 a 24 anos. O programa não ficava apenas na contratação – o vínculo empregatício deveria durar, no mínimo, cinco anos.
Na opinião de Marcio Pochmann, economista da Unicamp especializado no problema do emprego, o jovem não deve pensar que é culpado por não conseguir trabalhar. “O jovem tem de saber que a situação que ele vive não é originária de um problema de ordem individual. No Brasil, tem crescido uma espécie de literatura de auto-ajuda, que indica que roupa ele deve vestir em entrevistas, o que deve dizer etc. Mas não existe uma saída individual porque não há empregos para todos. Precisamos de políticas públicas, que não temos hoje”, diz ele.
Nada a oferecer à juventude
Não é somente a falta de crescimento econômico que mingua os empregos. A tendência de enxugamento de postos de trabalho — acentuada pela onda de fusões e aquisições das grandes corporações — e a redução da oferta de cargos públicos — tanto pelos conservadores ajustes a que os governos foram submetidos após a Lei da Responsabilidade Fiscal quanto pelas privatizações — têm impacto direto sobre o emprego. “A falta de um plano de metas que envolva governo, sociedade civil e empresários para tratar os jovens como uma solução para nosso futuro, em vez de continuarem a ser percebidos como catástrofe social, é uma ameaça à nossa democracia”, diz Pochmann. Segundo o especialista, a situação é muito grave em relação ao jovem porque estamos assistindo, como uma repercussão do desemprego, a duas situações bastante lamentáveis: a primeira diz respeito à quase uma guerra civil que afeta os jovens mais pobres.
Ou seja: quase 50% dos homicídios no Brasil, hoje, são de pessoas com menos de 25 anos de idade. A quantidade de homicídios é superior a 40 mil pessoas por ano, o que é um fato extremamente lamentável e termina afetando, sobretudo, o jovem de menor renda. A segunda é que alguma coisa em torno de 160 mil jovens por ano estão saindo do Brasil porque não estão vendo possibilidade de uma vida decente em nosso país. É verdade que há muito mais coisas que o governo poderia fazer e vinha fazendo. E os sindicatos também. E a sociedade também. Mas nada substitui o papel do próprio jovem nesse processo. Não dá para sentar à beira do caminho e chorar. Nem enfiar a cabeça na terra e fingir que nada está acontecendo, à moda dos avestruzes. O governo golpista nada tem a oferecer à imensa maioria da juventude.
Evidente: trabalhar como atendente numa lanchonete não é sinal de sucesso profissional. Nos Estados Unidos e na Europa, os McJobs geralmente complementam os rendimentos de quem está cursando o colégio ou mesmo a universidade. No Brasil, não. O McDonald’s, por exemplo, tem 35 mil funcionários no país — 85% trabalham como atendentes nos 464 restaurantes brasileiros da rede. Cada loja do McDonald’s tem em média 68 funcionários, e quase todos têm entre 16 e 21 anos. O atendente entra ganhando 1,50 real por hora. Com um ano, pode ganhar 1,95 real (trabalhando 6 horas por dia, 22 dias por mês, dá para fazer 250 reais). Por esses dados é possível visualizar o maior drama da juventude brasileira — a entrada no mercado de trabalho. Quem são e o que pensam esses jovens?
Uma nova leva de cidadãos
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), eles compõem uma turma de 55 milhões de brasileiros com potencial para influenciar decisivamente a economia do país. Pode-se dizer que são a primeira geração digital da história. Ela emerge no Brasil e em vários outros países com uma força avassaladora. Trata-se de uma moçada que nasceu a partir do finzinho dos anos 1990 e que está amadurecendo nestes primeiros anos do próximo século XXI. Nos Estados Unidos — onde ela é também chamada de Geração Y, Geração do Milênio, Geração Nintendo —, são 78 milhões de novos consumidores que reúnem um poder de compra direto de 130 bilhões de dólares ao ano. (Considerando também o quanto eles movimentam indiretamente, influenciando compras realizadas por seus pais, estima-se que essa cifra suba para 500 bilhões de dólares anuais.)
Tanto lá quanto aqui, essa geração constitui uma nova leva de cidadãos e de consumidores rica em demandas e hábitos específicos, com jeitos e objetivos muito próprios, e que vai, em breve, tomar as rédeas do país e imprimir a ele suas ideias e seus estilos. Essa geração vai, muito provavelmente, chacoalhar regras e certezas estabelecidas. Ela impõe um desafio ao mesmo tempo simples e crucial: incorporar essa moçada nas lutas progressistas. O desafio está na aprendizagem da linguagem e dos anseios que são efetivos junto a esses novos trabalhadores. E está também na desaprendizagem das práticas que caducaram ou estão caducando — uma tarefa igualmente difícil. Ao que tudo indica, nada será como antes. As gerações mais antigas terão de compreender tanto quanto possível quem são, como pensam e como se comportam os integrantes dessa nova geração.
Eles não imaginam a vida sem Internet
Infelizmente, há ainda poucos estudos e dados sobre essa juventude. (Especialmente no Brasil, onde a demografia é ainda uma ferramenta subutilizada.) A característica mais marcante dessa geração é precisamente ser digital. Ela rompe com a tradição de sua espécie, que é analógica desde seus primórdios. Eles raciocinam e se movimentam vida afora a partir de novas e inéditas coordenadas. Essa turma já nasceu sendo filmada, virando registro eletrônico, e cresce na frente de um computador. São jovens que se divertem com vários programas e tornam-se exímios com um mouse antes mesmo de entrar na escola. Para eles, computador não é nem o assustador mainframe dos anos 1960 nem o pedregoso XT da década de 1980. Computador, para a geração digital, tem a utilidade, o preço e o fácil acesso de um eletrodoméstico — e a diversão implícita de um brinquedo. Falar com a geração digital exigirá mudanças não apenas nas mídias escolhidas, mas também na linguagem utilizada.
Por tudo, a interatividade e o virtualismo — conceitos complexos para as gerações anteriores — são lugares-comuns no universo dessa geração. Eles não imaginam a vida sem Internet, sem jogos em 3D, sem realidade virtual. Tampouco concebem um dia-a-dia desplugado, sem chats, sem listas de e-mail, sem home pages pessoais. Coisas que, quando muito, ocupam posição secundária na lista de interesses e necessidades dos seres analógicos pré-anos 1990. Eles, em suma, estão familiarizados com um mundo pequeno, conectado, desenhado em interfaces amigáveis, que lhes chega mediado pela tela de alta resolução. Mas, quando falam de seus problemas, o fazem de modo a deixar evidente a questão principal: o desemprego. Ouça-se Jota Quest, um porta-voz dessa geração no Brasil: “Macacada reunida/Galera pelejando e dançando/Procurando uma saída (…) Que tá faltando emprego no planeta dos macacos.”
Altos índices de trabalho infantil
Essa realidade se alterou significativamente nos governos Lula e Dilma, com o fim do desemprego em massa, mas voltou com tudo desde que os golpistas entraram em cena para desestabilizar o ciclo progressista iniciado em 2003. E voltamos àquela realidade de quando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) estimou em 1 milhão e 600 mil jovens brasileiros entre 16 e 24 anos procurando e não encontrando colocação no mercado de trabalho nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) — referentes à Pnad/IBGE 2005 — no Brasil o desemprego dos jovens entre 15 a 24 anos era de 19,1%, com expressão mais perversa no caso de mulheres e negros, cujos índices eram de 24,7% e de 20,4% respectivamente. Mais: 57,4% dos jovens empregados não tinham carteira assinada. À essa expressão cruel somavam-se os altos índices de trabalho infantil. Estimava-se que 4 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 16 anos trabalhando no Brasil. O problema tem dimensões mundiais.
De acordo com a OIT, o desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos sofreu uma forte elevação nos últimos anos, alcançando em 2003 cerca de 88 milhões de pessoas. Ou seja: 47% do total global de desempregados, apesar de representarem apenas 25% da população economicamente ativa do planeta. Nos países ricos, a chance de um jovem tornar-se desempregado é 2,3 vezes maior do que a dos adultos acima de 25 anos. Nos países pobres, essa possibilidade é 3,8 vezes maior. No Brasil, as taxas de desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos representam o dobro em comparação ao total da população. Mesmo quando ocupados, podemos verificar que são destinados aos jovens as posições de baixa qualificação e remuneração. Uma parcela significativa desses jovens que aceitam trabalhar sob essas condições compromete sua escolarização sem completar sequer os ciclos educacionais compatíveis com a sua idade.
Combinação de desânimo com violência
Os dados têm um efeito devastador sobre os jovens quando saem da frieza do papel. Uma pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) mostrou que o maior temor dos estudantes de São Paulo é terminar seus cursos e não conseguir emprego. A pesquisa entrevistou 500 jovens de 16 a 25 anos. Desse total, 42% disseram temer não conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Um índice bem mais alto do que o de outras preocupações, como obter independência financeira (15%) ou melhorar a qualidade de vida (14%). Segundo as estimativas mais otimistas, para melhorar essa situação o Brasil precisaria retomar um crescimento econômico de 6% ao ano.
Um dos efeitos mais nocivos do desemprego é a combinação de desânimo com violência. Muitas vezes, os jovens fazem a sua parte ao estudar, mas a falta de perspectiva os leva à depressão, à inatividade e ao desespero da droga e do crime. O governo Lula começou a amenizar o drama. Em 2006, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) assinou 13 convênios com entidades do movimento social para a execução em 2007 dos Consórcios Sociais da Juventude. Naquele ano, 18.520 jovens de baixa renda foram atendidos nas cidades e no campo. O governo Dilma ampliou os convênios.
Experiências de outros países
Os Consórcios Sociais da Juventude integraram as ações do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNEPE), do MTE, para capacitar jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e risco social, e oferecer a eles a primeira oportunidade de emprego. O programa era realizado sempre em parceria com entidades não-governamentais, inserindo pelo menos 30% no mercado de trabalho. Eles tinham como objetivo qualificar jovens com idade entre 16 e 24 anos, de baixa renda, com renda per capita familiar de até meio salário mínimo. Chegou-se até a cogitar experiências de outros governos, como a França, que instituiu o programa “Primeiro Emprego”, desenvolvido pelo governo socialista de Leonel Jospin, que exige dos órgãos públicos um percentual de vagas para jovens na faixa de 18 a 24 anos. O programa não ficava apenas na contratação – o vínculo empregatício deveria durar, no mínimo, cinco anos.
Na opinião de Marcio Pochmann, economista da Unicamp especializado no problema do emprego, o jovem não deve pensar que é culpado por não conseguir trabalhar. “O jovem tem de saber que a situação que ele vive não é originária de um problema de ordem individual. No Brasil, tem crescido uma espécie de literatura de auto-ajuda, que indica que roupa ele deve vestir em entrevistas, o que deve dizer etc. Mas não existe uma saída individual porque não há empregos para todos. Precisamos de políticas públicas, que não temos hoje”, diz ele.
Nada a oferecer à juventude
Não é somente a falta de crescimento econômico que mingua os empregos. A tendência de enxugamento de postos de trabalho — acentuada pela onda de fusões e aquisições das grandes corporações — e a redução da oferta de cargos públicos — tanto pelos conservadores ajustes a que os governos foram submetidos após a Lei da Responsabilidade Fiscal quanto pelas privatizações — têm impacto direto sobre o emprego. “A falta de um plano de metas que envolva governo, sociedade civil e empresários para tratar os jovens como uma solução para nosso futuro, em vez de continuarem a ser percebidos como catástrofe social, é uma ameaça à nossa democracia”, diz Pochmann. Segundo o especialista, a situação é muito grave em relação ao jovem porque estamos assistindo, como uma repercussão do desemprego, a duas situações bastante lamentáveis: a primeira diz respeito à quase uma guerra civil que afeta os jovens mais pobres.
Ou seja: quase 50% dos homicídios no Brasil, hoje, são de pessoas com menos de 25 anos de idade. A quantidade de homicídios é superior a 40 mil pessoas por ano, o que é um fato extremamente lamentável e termina afetando, sobretudo, o jovem de menor renda. A segunda é que alguma coisa em torno de 160 mil jovens por ano estão saindo do Brasil porque não estão vendo possibilidade de uma vida decente em nosso país. É verdade que há muito mais coisas que o governo poderia fazer e vinha fazendo. E os sindicatos também. E a sociedade também. Mas nada substitui o papel do próprio jovem nesse processo. Não dá para sentar à beira do caminho e chorar. Nem enfiar a cabeça na terra e fingir que nada está acontecendo, à moda dos avestruzes. O governo golpista nada tem a oferecer à imensa maioria da juventude.
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