Perde-se a conta das vezes em que o otimismo até certo ponto misterioso das frequentes sondagens de expectativa empresarial sucumbe à realidade da economia. O mantra incessante de Brasília sobre o fim da recessão e o raiar da recuperação também não adiantou.
Os dados de fevereiro do IBGE, divulgados na sexta-feira 31, mostram um aumento drástico do desemprego, de 11,7% no trimestre de dezembro a fevereiro, na comparação com o período de setembro a novembro.
A variação correspondeu ao acréscimo de 1,4 milhão de desempregados, elevando o total para inéditos 13,5 milhões de trabalhadores sem ocupação. A taxa de desemprego, de 13,2%, é a mais alta para trimestres desde que o instituto começou a publicar a pesquisa, em 2012. Em um ano, são 3,2 milhões de pessoas a mais sem emprego, um aumento de 30,6%.
Somando-se ao total de desempregados o contingente apurado em dezembro, de 12 milhões de subocupados, categoria composta, segundo o IBGE, por aqueles que gostariam de estar trabalhando ou têm jornada considerada insuficiente, falta trabalho para 25,5 milhões de indivíduos.
Dados dos fabricantes de máquinas, importantes na análise de tendências por espelharem a demanda de todos os setores industriais por equipamentos para manutenção, aumento ou modernização da produção, mostram que a recuperação plena ainda é uma miragem.
Em fevereiro, os investimentos em máquinas e equipamentos caíram 11,8% em relação ao mês anterior, segundo a Abimaq, associação dos empresários do segmento. No primeiro bimestre, o recuo foi de 22,4% diante do mesmo período de 2016.
As vendas se elevaram em fevereiro, mas no ano o setor acumula um declínio por causa principalmente das exportações, prejudicadas pela repetição, neste ano, da valorização do real observada em 2016.
“A ligeira melhora das vendas na ponta é sazonal. Os resultados dos últimos meses refletem oscilações das vendas em torno de 5 bilhões de reais, metade dos valores mensais no período pré-crise, de 10 bilhões por mês. Um nível bastante baixo para manutenção do parque industrial brasileiro, que não garante sequer a taxa de reposição do estoque”.
Desde 2013, quando começou a queda do faturamento da indústria de máquinas, foram demitidos mais de 87 mil trabalhadores no setor.
Por mais que Brasília negue, a política de austeridade radical, agravadora da recessão, é a principal causa das dificuldades. “O governo, em sua insistência fiscal contracionista, dificulta a retomada da economia e comprime a arrecadação fiscal, estabelecendo um ciclo vicioso,” aponta o economista Igor Rocha, em análise de conjuntura da Fundação Perseu Abramo. “Desemprego em alta, compressão da renda do trabalhador, forte endividamento das famílias e empresas marcam esta dinâmica”.
Na contramão do otimismo das sondagens empresariais, a pesquisa do grupo Ipsos Global Advisor intitulada The Economic Pulse of the World, realizada entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro em 26 países, mostra que só 10% dos brasileiros avaliam a situação econômica atual como boa. É o mesmo porcentual daqueles que fazem uma avaliação positiva.
O País ficou em penúltimo lugar no ranking e só perde em pessimismo para a Coreia do Sul, imersa na crise política que resultou na deposição e prisão recentes da presidente Park Geun-hye. Os melhores índices estão na Índia (80%), Arábia Saudita (78%) e China (76%).
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