domingo, 18 de março de 2018

Paulo Preto é amigo da turma da Lava-Jato?

Por Altamiro Borges

Paulo Preto, o “operador de propina” do PSDB, nunca foi incomodado pelos “justiceiros” da Lava-Jato, que amam de paixão os tucanos de alta plumagem – é só lembrar aquela foto clássica da troca de sorrisos entre o juiz Sergio Moro e o cambaleante Aécio Neves em um convescote da revista “QuantoÉ”. A desculpa para esta blindagem é de que ele não estaria no escopo das investigações da midiática operação. Matéria publicada pela Folha neste domingo (18), porém, desmonta esta farsa. Assinada pelo jornalista Mario Cesar Carvalho, ela comprova que “Paulo Preto foge do padrão de ‘correntistas suíços’ da Lava Jato”.

“O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, tem muito mais sorte do que o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-deputado Eduardo Cunha, os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque e os marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Está perdido no cipoal de nomes? Todos eles foram presos pela Lava Jato porque tinham contas no exterior com recursos que receberam de propina ou de caixa dois. Sobre Souza, apontado como operador de propinas do PSDB por sete delatores da Lava Jato, as autoridades da Suíça informaram que tinha uma conta com R$ 120 milhões naquele país e havia transferido o montante em 2016 para Nassau, paraíso fiscal no Caribe. Apesar da aparente tentativa de retirar o dinheiro de um país que tem congelado valores suspeitos, não houve pedido de prisão contra Souza”.

Com base nestas informações, a reportagem conclui: “O critério aplicado a Souza é um desvio no padrão da Lava Jato. Desde que a operação começou, em março de 2014, ao menos 11 pessoas foram presas por possuir ou movimentar contas na Suíça e outros paraísos fiscais”. O jornal lembra as inúmeras vezes em que o juiz Sergio Moro ordenou a prisão de investigados com contas suspeitas no exterior. E cita, de raspão, que as delações contra Paulo Preto atingiram os senadores tucanos José Serra e Aloysio Nunes, atual ministro do covil golpista de Michel Temer. “Ambos negam ter recebido recursos ilegais do ex-diretor da Dersa”, registra a matéria. E acrescenta: “Procurada pela Folha, a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo diz em nota que ‘não comenta investigações em andamento e também não comentará declarações cujo inteiro teor desconhece’”.

Poleiro tucano em pânico

Os desmentidos dos tucanos, que se acham “santos” – o governador Geraldo Alckmin até recebeu este carinhoso apelido em uma planilha da Odebrecht –, e a nota lacônica da Lava-Jato até poderiam encerrar o caso. Ele seria arquivado pela Justiça e blindado novamente pela mídia amiga. Mas a manobra não é tão simples. A denúncia sobre R$ 120 milhões de Paulo Preto em contas no exterior só veio à tona graças às autoridades da Suíça. No Brasil, a Polícia Federal e o Ministério Público, sempre tão rigorosos em perseguir Lula, não têm qualquer contribuição neste sentido. Pelo contrário. Fizeram de tudo para abafar o escândalo e nunca moveram um dedo na investigação contra o operador de propinas do PSDB – que está livre e solto até hoje.

Isto apesar do engenheiro Paulo Vieira de Souza ser um recordista em delações. Ele já foi citado por sete investigados da Lava-Jato (da Odebrecht, Andrade Gutierrez e pelo operador Adir Assad). Além disso, ele aparece em depoimentos de outros três executivos da OAS e da Queiroz Galvão que negociam acordos de delação. Todos acusam o ex-diretor da Dersa de ter cobrado propina nas obras do Rodoanel, realizadas durante o governo de José Serra (2007-2010). Ele teria pedido às empreiteiras que construíram o trecho sul do Rodoanel um suborno equivalente a 0,7% do valor da obra, que custou R$ 3,5 bilhões em valores da época que foi inaugurada, em abril de 2010. Ou seja: só nesta operação, ele teria embolsado R$ 26,3 milhões.

Apesar da gravidade da denúncia, Paulo Preto nunca sofreu qualquer retaliação e já havia sumido da mídia chapa-branca. Só retorna agora devido às novas revelações das autoridades da Suíça. Em despacho formal, elas comunicaram ao covil golpista a existência de contas secretas associadas ao operador do PSDB, que movimentaram cerca de R$ 120 milhões. O dinheiro seria controlado por uma empresa de offshore do Panamá e, devido às investigações suíças, teria sido remetido agora para paraísos fiscais das Bahamas. A expectativa é que novas denúncias surjam do exterior nas próximas semanas, o que apavora os tucanos, principalmente o presidenciável da sigla, o “santo” Geraldo Alckmin.

Em recente editorial, a Folha registrou o perigo. “Falta comprovar o vínculo do engenheiro com as contas, mas a notícia é no mínimo embaraçosa para os tucanos. O governador Geraldo Alckmin, que se prepara para representar o PSDB na corrida presidencial deste ano, foi quem nomeou Souza em 2005, quando estava em seu segundo mandato. O senador José Serra, que sucedeu Alckmin no cargo, e o atual ministro Aloysio Nunes Ferreira (Itamaraty), chefe da Casa Civil no governo Serra, são alvos de inquérito no STF para examinar suas relações com o engenheiro e as empreiteiras que fizeram negócios com ele... Caberá às autoridades esclarecer as contradições entre Paulo Preto e seus acusadores, além de investigar o caminho do dinheiro para saber quem foram os beneficiários das contas localizadas na Suíça”.

O poleiro tucano está em pânico! Será que a turma da Lava-Jato vai dar um jeitinho para salvar os “santos”?

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