quarta-feira, 23 de maio de 2018

Comunicadores da periferia ocupam 6BlogProg

Do site do Centro de Estudos Barão de Itararé:

Com larga tradição em reunir referências do movimento de blogueiros e das mídias alternativas no Brasil, o Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais terá novidades em sua 6ª edição, marcada para os dias 25 e 26 de maio, em São Paulo. Além dos nomes consagrados e imprescindíveis que ajudam a construir o Encontro desde a sua primeira edição, em 2010, o #6BlogProg apostará na juventude, nos coletivos e nos midiativistas da periferia.

Grupos como o Quilombo XXIII, o Alma Preta, a Agência Solano Trindade, a TV DOC Capão e o Nós, Mulheres da Periferia terão representantes para pautar os debates do sábado (26), no Sindicato dos Engenheiros (Rua Genebra, 25, próximo ao metrô Anhangabaú), local que sedia o evento. Além dos coletivos, nomes como o da rapper Preta-Rara, o do jornalista e ativista LGBT+ William De Lucca e o da escritora Clara Averbuck também estão escalados para as rodas de conversa.
Saiba tudo sobre o 6º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais

Na opinião de William De Lucca, eventos como o #6BlogProg abrem portas que a mídia monopolista fecha. “Há pouco espaço na mídia hegemônica pras pautas que a gente traz: pautas da diversidade sexual, dos debates raciais, de gênero, da periferia, e os ativistas digitais têm um papel fundamental para construir esses canais contra-hegemônicos”, diz. “Os veículos independentes e progressistas precisam entender a importância dessas narrativas e, inclusive, incluir em sua lista de fontes estes ativistas, ouvir o que eles dizem e ajudar a impulsionar este conteúdo”.

Nascida em Santos (SP), a rapper e arte-educadora Preta Rara destaca o papel cumprido pelas mídias independentes e relembra: comunicação é poder. “Eu acho importante que as pessoas se organizem para falar, sendo protagonistas de suas próprias histórias. A Internet é mais democrática que os grandes meios de comunicação, possibilitando que as pessoas falem e retratem a sua realidade para o mundo”, diz. “Por isso gosto muito de acessar as mídias independentes. Acho que é um jornalismo real, sem maquiagem, do que está acontecendo em determinada comunidade, região, país”.

Não é raro, segundo a rapper, as mídias hegemônicas serem pautadas pelas mídias alternativas - “na maioria das vezes sem dar crédito”, critica. “O desafio é furar a bolha do monopólio que detém o poder. Comunicação é poder e se comunicar é um ato político, por isso é vital para nós, mulheres pretas e pessoas periféricas. Precisamos nos comunicar e informar a quebrada, discutir diversidade, discutir questões LGBTQ+, racismo. Desprender as pessoas das grandes mídias, da televisão”.

Na avaliação de Preta Rara, a comunicação nas periferias é uma forma de a população preta, pobre e periférica tomar conhecimento, inclusive, de seus direitos. “Fortalecemos a luta pela democracia falando, para as grandes mídias e para a elite, para a branquitude elitista, saberem que temos voz e estamos aqui, num país onde 54% da população é preta e ainda nos chamam de minoria”, sublinha. “Precisamos fazer mídia alternativa para denunciar essas questões, falar do que nos atinge e aflige, para falar de afeto e do afeto que afeta e que é afetado. A questão do empoderamento passa pela comunicação. Não vemos pretos em papéis de destaque na TV, então vamos para as nossas WebTVs, como a websérie que lancei recentemente, Nossa voz ecoa".

Para Isabela Alves, do Quilombo XXIII, não é possível discutir a democratização da comunicação sem ter a compreensão de que o racismo é estrutural, inclusive, no sistema de comunicação. “Se pensarmos que comunicação é exu, então nada mais importante que a comunicação ter o papel de ferramenta para as pautas pretas e periféricas”, defende.

“Se pensarmos que o primeiro ser humano veio de África, então não é esquisito vermos a ascensão de seus filhos em todos os campos do conhecimento”, prossegue Alves, moradora do Jardim João XXIII, na zona oeste de São Paulo. “A palavra é nossa arma e a narrativa a estratégia para a tomada simbólica do poder branco. Almejar tronos, cadeiras, títulos é tão importante quanto almejar uma outra forma de contar a nossa história. O rap, o trap, o samba, a poesia, o terreiro, a MPB, o pagode, a matemática, os homens no espaço, a arte de Felinte e de Basquiat, todas essas manifestações tem cor, tem gênero, tem identidade e classe social. A letra é preta e por isso é treta!”.

Diretora de Formação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade que realiza o #6BlogProg em parceria com a Comissão Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais, Ana Flávia Marx opina que as mídias alternativas precisam assimilar o quanto antes a explosão de midiativismo nas periferias e em novos espaços. “A importância do Encontro de Blogueir@s e Ativistas Digitais se ampliar para conhecer o que está sendo feito de mais diverso, no conjunto da mídia alternativa, é fundamental para termos noção de que podemos ampliar o nosso campo”, diz.

Segundo a jornalista, ampliar esse campo significa discutir a própria mídia alternativa, o que pode ajudar a enfrentar a difícil conjuntura. “Dar essa sinalização que a comunicação pode ser um espaço de diálogo e de construção com unidade de bandeiras para enfrentar o atual cenário político é um dos papéis deste #6BlogProg”.

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