Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Desisti de levar a sério, pelo menos no domingo, o que está acontecendo no Brasil porque isso tudo foge à minha compreensão. Faz mal à saúde.
Se não consigo entender, como vou explicar aos leitores estas três primeiras semanas do governo Jair Bolsonaro, com seus generais e justiceiros, profetas do apocalipse e caçadores de fantasmas?
Isto mais parece um reality show alucinado, com big brothers muito loucos, dando trombadas uns nos outros o tempo todo, mais perdidos do que jabuticaba em boca de banguela.
Foram só 20 dias de programa até agora, mas já parece uma eternidade. Mesmo que você não queira, acaba assistindo, porque esse BBB é onipresente nas nossas vidas.
Poderiam até pedir para uma dessas emissoras chapa-branca criar um canal 24 horas instalado no Palácio do Planalto e nos ministérios. Contando, ninguém acredita.
Agora, por exemplo, o Coaf descobriu - e O Globo revelou na coluna de Lauro Jardim - que a movimentação financeira do famoso motorista Queiroz da família Bolsonaro movimentou mais de R$ 7 milhões em três anos em sua conta.
Ou esse cara é um gênio do “rolo” de carros usados, ou tem alguma coisa muito errada aí com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro - não é mesmo, doutor Sergio Moro, o implacável de Curitiba?
Por falar nisso, por onde anda o superministro que dava entrevistas todo dia? Calou-se, e saiu de cena de fininho.
Transferir o Coaf do Ministério da Fazenda de Paulo Guedes para a Justiça de Sergio Moro foi uma das primeiras medidas do novo governo, logo após a posse, lembram-se? E agora?
Com a Globo no ataque, o governo do reality show ficou completamente perdido, só querendo saber quem é o responsável pelos vazamentos do Coaf.
Nem quero saber quem vazou. Eu gostaria de saber é por que só agora ficamos sabendo dessa enorme maracutaia suburbana, que só foi revelada depois da diplomação de Bolsonaro como presidente eleito.
Só uma pergunta: se um assessor de Fernando Haddad, por hipótese, tivesse toda essa grana na conta, esperariam tanto tempo para vazar o escândalo?
Nos próximos dias, o BBB do Planalto vai ser transferido para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, com a participação de todos os principais hóspedes da casa.
Se aqui é isso que estamos vendo, alguém pode imaginar o tamanho do vexame que vamos passar se derem mesmo muito tempo para o discurso do líder do programa da nova ordem?
Por precaução, já tiraram da agenda a entrevista coletiva prevista para terça-feira. Repórteres, sabemos como são, sempre podem fazer perguntas inconvenientes.
Bolsonaro resolveu fazer só uma declaração à imprensa, sem perguntas.
Dá de alguém perguntar de onde vieram e para onde foram os R$ 7 milhões até agora encontrados nas contas do Queiroz…
O que pensarão disso os jornalistas dos principais veículos da imprensa mundial, acostumados a interpelar Donald Trump na Casa Branca?
Trump também já comandou reality show de verdade na TV, quando era apenas um homem de negócios privados, em que demitia os participantes.
Mas Trump, que não é bobo, já avisou que não vai a Davos. Irá deixar o palco livre para Bolsonaro e sua exótica trupe.
Quem diria, o Brasil virou um grande BBB da vida real. E isso não é fake.
Vida que segue.
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