Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Jair Bolsonaro está em guerra com a Globo desde a eleição. Privilegia concorrentes em entrevistas, prega novas práticas no mercado publicitário para empobrecer os cofres globais, concorda com seus apoiadores que taxam a emissora de degenerada por desrespeitar os “valores da família”. O que dirá o presidente se souber que Paulo Guedes, seu ministro da Economia, tentou salvar a Globo com um negócio suspeito feito com dinheiro de fundos de pensão?
A tentativa de salvamento foi revelada ao Ministério Público Federal (MPF) por um irmão do “posto Ipiranga”, Gustavo Guedes. Foi em um depoimento em 3 dezembro, em Brasília, perante o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, chefe da operação que desde 2016 faz uma devassa em fundos de pensão estatais, a Greenfield. CartaCapital obteve o depoimento.
“A Rede Globo de televisão foi procurada pelo Paulo Guedes, que falou assim: ‘Olha, todas as empresas de mídia do mundo estão quebrando, todas’”, contou Gustavo. “Você não vai poder mais cobrar quanto você cobra de assinatura, em coisas desse tipo. A tendência é isso custar zero, por causa da internet. E a família (Marinho) virou e falou: ‘Isso nós não queremos’”.
E assim começou a nascer o negócio suspeito. Gustavo depôs por ser sócio do irmão na empresa que concebeu esse negócio, a BR Investimentos.
O ministro é investigado desde outubro por crimes contra o sistema financeiro no uso de dinheiro de fundos de pensão estatais. Deveria depor dois dias após o irmão, mas ficou providencialmente doente (como o amigo e motorista do clã Bolsonaro, Fabricio Queiroz) e não apareceu.
São duas investigações diferentes. Uma delas mira um negócio específico feito por um fundo de investimento concebido por Guedes e sua BR Investimentos e montado por ele com verba de fundos de pensão a fim de apostar em negócios na área da educação, o FIP BR Educacional.
O FIP foi criado no fim de 2009. Era controlado pela empresa dos irmãos Guedes. Tinha como cotistas os principais fundos de pensão do País, como Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, Funcef (Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobras) e Postalis (Correios).
O FIP fundo apostou numa companhia que não merecia, conforme um relatório da Previc, o órgão federal fiscalizador dos fundos de pensão. A companhia era a HMS. É aqui que surge a Globo, como CartaCapital revelou em dezembro. A aposta na HSM foi para ajudar a Globo, pelo que se vê no depoimento de Gustavo Guedes.
Foi na HSM onde primeiro botou dinheiro o FIP bolado por Paulo Guedes, embora o futuro da empresa fosse nebuloso e houvesse perspectiva real de encerrar as operações, segundo a Previc.
Ao nascer, o FIP tinha 75 milhões de reais de patrimônio líquido, dos quais 80% injetados por fundos de pensão. De cara, gastou 62,5 milhões de reais na compra de 99,99% da HSM.
A empresa tinha uma subsidiária, a HSM do Brasil, e esta era um pepino. De 2010 a 2012, informa o relatório da Previc, a HSM do Brasil acumulou prejuízos de 23 milhões de reais. Seu patrimônio líquido de 62 milhões baixou a 39 milhões.
O balanço de 2011 do FIP admitia que poderia haver problemas com a empresa na qual apostara. Destacava aos leitores que continha “um parágrafo de ênfase quanto à incerteza da continuidade das operações” da HSM.
Em 2012, o balanço da própria HSM mostrava um cenário pior. Sua divisão “HSM do Brasil” tinha dívidas de 16 milhões e patrimônio negativo de 9 milhões. “Essa situação”, segundo o balanço, “suscita dúvida substancial quanto à continuidade operacional” da HSM do Brasil.
Em março de 2013, o FIP criado por Guedes resolveu sair da HSM. Faria isso ao trocar ações que tinha nela por ações de uma outra companhia, a Gaec Educação, hoje em dia Ânima.
Como a Gaec era uma empresa fechada, sem ações na Bolsa, não havia um preço conhecido, fixado no mercado, para suas ações. Foi preciso contratar um laudo para calcular o valor delas. O preço foi definido em 570 reais por papel. Só que, um ano antes, em abril de 2012, o FIP tinha comprado ações da mesma Gaec e pago menos da metade do valor, 217 reais por unidade.
Tudo somado, o FIP, ou seja, os fundos de pensão de trabalhadores de estatais, tomou um prejuízo de 16 milhões de reais ao investir na HSM. Perdas aparentemente geradas porque Paulo Guedes quis ajudar os amigos.
A Globo havia entrado de sócia na HMS. Fez isso através da empresa Geo Eventos, uma sociedade entre ela e a RBS, sua retransmissora no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Recorde-se: na época do nascimento do FIP (2009) e do investimento do fundo na HSM (2010), Guedes era colunista da revista Época e do jornal O Globo, ambas publicações globais. Foi até meados de 2018, aliás.
A RBS também foi uma empresa que Guedes quis salvar através do fundo de investimento que concebeu e montou, o FIP BR Educacional, e da aposta financeira feita por este fundo na HSM. Outra revelação do irmão do ministro ao MPF.
“Nós procuramos vários investidores para falar, em tese, sobre educação”, disse Gustavo. Um dos “investidores que estavam presos em mídia”, aquela atividade que Paulo achava que não ia mais dar dinheiro por causa da internet, e que foi procurado foi a RBS. “A gente ainda não tinha fundo (FIP), não tinha ideia do que ia fazer.”
Parece que tinham ideia sim: ajudar os amigos. A família Sirotski, dona da RBS, era e é apoiadora do instituto Millenium, think tank direitista do qual Guedes é um dos fundadores.
Segundo Gustavo, ele e o irmão fizeram uma proposta à Globo e à RBS. “Tem aqui uma empresa chamada HSM, vocês dois podem vir, você vão agregar valor à companhia, porque você é o rei da transmissão (RBS), você é o rei da mídia (Globo) e nós somos o rei do conteúdo.”
E por que o negócio não deu certo? “As duas (Globo e RBS) brigaram”, afirmou Gustavo. “Elas não executaram o business plan da companhia e ao mesmo tempo estavam brigando.”
Devido à briga, o FIP resolveu sair da HSM, por meio daquela troca de ações com a Gaec. Uma transação com prejuízo estimado em 16 milhões de reais pela Previc.
O relatório da Previc que apontou o prejuízo era preliminar e recomendava aprofundar a análise sobre o negócio FIP-HSM. Uma auditoria foi aberta e não deverá demorar para terminar, conforme CartaCapital apurou.
Maus presságios à vista para o “posto Ipiranga” que prepara-se para ir a Davos vender o Brasil de Bolsonaro aos bilionários do mundo.
A tentativa de salvamento foi revelada ao Ministério Público Federal (MPF) por um irmão do “posto Ipiranga”, Gustavo Guedes. Foi em um depoimento em 3 dezembro, em Brasília, perante o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, chefe da operação que desde 2016 faz uma devassa em fundos de pensão estatais, a Greenfield. CartaCapital obteve o depoimento.
“A Rede Globo de televisão foi procurada pelo Paulo Guedes, que falou assim: ‘Olha, todas as empresas de mídia do mundo estão quebrando, todas’”, contou Gustavo. “Você não vai poder mais cobrar quanto você cobra de assinatura, em coisas desse tipo. A tendência é isso custar zero, por causa da internet. E a família (Marinho) virou e falou: ‘Isso nós não queremos’”.
E assim começou a nascer o negócio suspeito. Gustavo depôs por ser sócio do irmão na empresa que concebeu esse negócio, a BR Investimentos.
O ministro é investigado desde outubro por crimes contra o sistema financeiro no uso de dinheiro de fundos de pensão estatais. Deveria depor dois dias após o irmão, mas ficou providencialmente doente (como o amigo e motorista do clã Bolsonaro, Fabricio Queiroz) e não apareceu.
São duas investigações diferentes. Uma delas mira um negócio específico feito por um fundo de investimento concebido por Guedes e sua BR Investimentos e montado por ele com verba de fundos de pensão a fim de apostar em negócios na área da educação, o FIP BR Educacional.
O FIP foi criado no fim de 2009. Era controlado pela empresa dos irmãos Guedes. Tinha como cotistas os principais fundos de pensão do País, como Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, Funcef (Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobras) e Postalis (Correios).
O FIP fundo apostou numa companhia que não merecia, conforme um relatório da Previc, o órgão federal fiscalizador dos fundos de pensão. A companhia era a HMS. É aqui que surge a Globo, como CartaCapital revelou em dezembro. A aposta na HSM foi para ajudar a Globo, pelo que se vê no depoimento de Gustavo Guedes.
Foi na HSM onde primeiro botou dinheiro o FIP bolado por Paulo Guedes, embora o futuro da empresa fosse nebuloso e houvesse perspectiva real de encerrar as operações, segundo a Previc.
Ao nascer, o FIP tinha 75 milhões de reais de patrimônio líquido, dos quais 80% injetados por fundos de pensão. De cara, gastou 62,5 milhões de reais na compra de 99,99% da HSM.
A empresa tinha uma subsidiária, a HSM do Brasil, e esta era um pepino. De 2010 a 2012, informa o relatório da Previc, a HSM do Brasil acumulou prejuízos de 23 milhões de reais. Seu patrimônio líquido de 62 milhões baixou a 39 milhões.
O balanço de 2011 do FIP admitia que poderia haver problemas com a empresa na qual apostara. Destacava aos leitores que continha “um parágrafo de ênfase quanto à incerteza da continuidade das operações” da HSM.
Em 2012, o balanço da própria HSM mostrava um cenário pior. Sua divisão “HSM do Brasil” tinha dívidas de 16 milhões e patrimônio negativo de 9 milhões. “Essa situação”, segundo o balanço, “suscita dúvida substancial quanto à continuidade operacional” da HSM do Brasil.
Em março de 2013, o FIP criado por Guedes resolveu sair da HSM. Faria isso ao trocar ações que tinha nela por ações de uma outra companhia, a Gaec Educação, hoje em dia Ânima.
Como a Gaec era uma empresa fechada, sem ações na Bolsa, não havia um preço conhecido, fixado no mercado, para suas ações. Foi preciso contratar um laudo para calcular o valor delas. O preço foi definido em 570 reais por papel. Só que, um ano antes, em abril de 2012, o FIP tinha comprado ações da mesma Gaec e pago menos da metade do valor, 217 reais por unidade.
Tudo somado, o FIP, ou seja, os fundos de pensão de trabalhadores de estatais, tomou um prejuízo de 16 milhões de reais ao investir na HSM. Perdas aparentemente geradas porque Paulo Guedes quis ajudar os amigos.
A Globo havia entrado de sócia na HMS. Fez isso através da empresa Geo Eventos, uma sociedade entre ela e a RBS, sua retransmissora no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Recorde-se: na época do nascimento do FIP (2009) e do investimento do fundo na HSM (2010), Guedes era colunista da revista Época e do jornal O Globo, ambas publicações globais. Foi até meados de 2018, aliás.
A RBS também foi uma empresa que Guedes quis salvar através do fundo de investimento que concebeu e montou, o FIP BR Educacional, e da aposta financeira feita por este fundo na HSM. Outra revelação do irmão do ministro ao MPF.
“Nós procuramos vários investidores para falar, em tese, sobre educação”, disse Gustavo. Um dos “investidores que estavam presos em mídia”, aquela atividade que Paulo achava que não ia mais dar dinheiro por causa da internet, e que foi procurado foi a RBS. “A gente ainda não tinha fundo (FIP), não tinha ideia do que ia fazer.”
Parece que tinham ideia sim: ajudar os amigos. A família Sirotski, dona da RBS, era e é apoiadora do instituto Millenium, think tank direitista do qual Guedes é um dos fundadores.
Segundo Gustavo, ele e o irmão fizeram uma proposta à Globo e à RBS. “Tem aqui uma empresa chamada HSM, vocês dois podem vir, você vão agregar valor à companhia, porque você é o rei da transmissão (RBS), você é o rei da mídia (Globo) e nós somos o rei do conteúdo.”
E por que o negócio não deu certo? “As duas (Globo e RBS) brigaram”, afirmou Gustavo. “Elas não executaram o business plan da companhia e ao mesmo tempo estavam brigando.”
Devido à briga, o FIP resolveu sair da HSM, por meio daquela troca de ações com a Gaec. Uma transação com prejuízo estimado em 16 milhões de reais pela Previc.
O relatório da Previc que apontou o prejuízo era preliminar e recomendava aprofundar a análise sobre o negócio FIP-HSM. Uma auditoria foi aberta e não deverá demorar para terminar, conforme CartaCapital apurou.
Maus presságios à vista para o “posto Ipiranga” que prepara-se para ir a Davos vender o Brasil de Bolsonaro aos bilionários do mundo.
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