Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:
Além de ter completado a tão esperada marca de 100 dias sem nenhuma medida concreta a ser anunciada, o governo do capitão iniciou a sua peregrinação rumo ao ducentésimo dia no Palácio do Planalto com um conjunto impressionante de trapalhadas e de ameaças na área da economia.
O primeiro ponto foi o anúncio inusitado e destrambelhado pelo Super Ministério da Economia de que o governo iria promover a privatização dos Correios. Uma loucura! Entregar um serviço estratégico como esses, em um país com dimensões continentais como o nosso, em mãos de alguma multinacional do ramo ou algum fundo financeiro que visa única e exclusivamente à obtenção de lucros para seus acionistas. Mas essa batalha ainda vai ser longa, pois o próprio presidente da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), nomeado por Bolsonaro, já apresentou resistências à intenção desse liberalismo entreguista.
Privatizações na agenda
Em seguida, não satisfeita com os prejuízos à sua popularidade derivados de tal maldade, a equipe econômica ainda se sai com outra. No caso, trata-se do eterno retorno à pauta da Petrobrás. Sabe-se que Paulo Guedes tem por missão primeira a destruição completa de todo e qualquer resquício de setor público em nosso país. Assim, para além da entrega das reservas de petróleo antigas e das novas do Pré-Sal para as multinacionais petroleiras, agora seu encarregado de liquidação das estatais federais anuncia que o governo pretende vender a metade das refinarias em posse da nossa empresa de petróleo e gás.
Ora, a experiência brasileira em momentos anteriores e os relatórios e estudos a respeito de processos de outras nações que trilharam o mesmo percurso são pródigos em expor as mazelas de tal aventura irresponsável. A transferência de patrimônio público ao setor privado raramente cumpre com as pretensões iniciais de quem as promove. Os valores de venda são depreciados, seja por conta da venda ocorrer em momentos de crise (o valor das ativos está em baixa por toda economia), seja por falcatruas explícitas na avaliação do valor das empresas estatais a serem generosamente oferecidas ao capital privado (o caso escandaloso da Vale do Rio Doce não sai da memória de ninguém!). O nível de endividamento do Estado não se soluciona. O nível dos serviços prestados à população tampouco ganha em qualidade.
Além de ter completado a tão esperada marca de 100 dias sem nenhuma medida concreta a ser anunciada, o governo do capitão iniciou a sua peregrinação rumo ao ducentésimo dia no Palácio do Planalto com um conjunto impressionante de trapalhadas e de ameaças na área da economia.
O primeiro ponto foi o anúncio inusitado e destrambelhado pelo Super Ministério da Economia de que o governo iria promover a privatização dos Correios. Uma loucura! Entregar um serviço estratégico como esses, em um país com dimensões continentais como o nosso, em mãos de alguma multinacional do ramo ou algum fundo financeiro que visa única e exclusivamente à obtenção de lucros para seus acionistas. Mas essa batalha ainda vai ser longa, pois o próprio presidente da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), nomeado por Bolsonaro, já apresentou resistências à intenção desse liberalismo entreguista.
Privatizações na agenda
Em seguida, não satisfeita com os prejuízos à sua popularidade derivados de tal maldade, a equipe econômica ainda se sai com outra. No caso, trata-se do eterno retorno à pauta da Petrobrás. Sabe-se que Paulo Guedes tem por missão primeira a destruição completa de todo e qualquer resquício de setor público em nosso país. Assim, para além da entrega das reservas de petróleo antigas e das novas do Pré-Sal para as multinacionais petroleiras, agora seu encarregado de liquidação das estatais federais anuncia que o governo pretende vender a metade das refinarias em posse da nossa empresa de petróleo e gás.
Ora, a experiência brasileira em momentos anteriores e os relatórios e estudos a respeito de processos de outras nações que trilharam o mesmo percurso são pródigos em expor as mazelas de tal aventura irresponsável. A transferência de patrimônio público ao setor privado raramente cumpre com as pretensões iniciais de quem as promove. Os valores de venda são depreciados, seja por conta da venda ocorrer em momentos de crise (o valor das ativos está em baixa por toda economia), seja por falcatruas explícitas na avaliação do valor das empresas estatais a serem generosamente oferecidas ao capital privado (o caso escandaloso da Vale do Rio Doce não sai da memória de ninguém!). O nível de endividamento do Estado não se soluciona. O nível dos serviços prestados à população tampouco ganha em qualidade.
Caminhoneiros em alerta
Ainda na mesma semana, o noticiário não deixa de mencionar as articulações em torno do movimento dos caminhoneiros. Nesse caso também fica escancarada a dificuldade do governo do capitão em lidar com setores que lhe deram apoio estratégico durante o processo eleitoral, em outubro passado. Bolsonaro prometeu mundos e fundos para todos, provavelmente por acreditar que Deus estaria acima de tudo e lhe apontaria as soluções para esse tipo de problema complexo.
Porém, a realidade é dura. Os liberaloides no comando na economia tanto criticaram a política de preços praticada antes do golpeachment de Dilma Rousseff que conseguiram emplacar Pedro Parente na presidência da empresa ainda em maio de 2016. Desde então, a ideia de jerico de indexar os preços internos dos derivados ao movimento dos preços do petróleo no mercado internacional não sai da cabeça de ninguém que esteja no comando por ali. Para esse povo que não tem mais do que uma planilha na cabeça, importar um modelito de livro de introdução básica à microeconomia para solucionar dilemas de política econômica, fiscal e energética parece uma diversão de videogame.
Para os arautos do livre mercado, o preço do diesel praticado no posto do interior do Mato Grosso deve subir a cada elevação do óleo por decisão da OPEP. Uma loucura! Inclusive porque o Brasil teria plenas condições de produzir boa parte do combustível que necessita — basta que os dirigentes da Petrobrás voltem atrás na esdrúxula opção por reduzir a capacidade de refino em suas unidades de produção.
Além dessa decisão equivocada, os aprendizes de liberalismo de botequim se recusam a aceitar a reivindicação dos caminhoneiros de algum tipo de tabelamento do frete. Temem esse tipo de “prática intervencionista” assim como o diabo foge da cruz. No entanto, essa equação é mesmo delicada e exige alguma ação proativa do Estado na regulação de um conflito em que estão presentes distintos agentes econômicos com interesses contraditórios.
Ainda na mesma semana, o noticiário não deixa de mencionar as articulações em torno do movimento dos caminhoneiros. Nesse caso também fica escancarada a dificuldade do governo do capitão em lidar com setores que lhe deram apoio estratégico durante o processo eleitoral, em outubro passado. Bolsonaro prometeu mundos e fundos para todos, provavelmente por acreditar que Deus estaria acima de tudo e lhe apontaria as soluções para esse tipo de problema complexo.
Porém, a realidade é dura. Os liberaloides no comando na economia tanto criticaram a política de preços praticada antes do golpeachment de Dilma Rousseff que conseguiram emplacar Pedro Parente na presidência da empresa ainda em maio de 2016. Desde então, a ideia de jerico de indexar os preços internos dos derivados ao movimento dos preços do petróleo no mercado internacional não sai da cabeça de ninguém que esteja no comando por ali. Para esse povo que não tem mais do que uma planilha na cabeça, importar um modelito de livro de introdução básica à microeconomia para solucionar dilemas de política econômica, fiscal e energética parece uma diversão de videogame.
Para os arautos do livre mercado, o preço do diesel praticado no posto do interior do Mato Grosso deve subir a cada elevação do óleo por decisão da OPEP. Uma loucura! Inclusive porque o Brasil teria plenas condições de produzir boa parte do combustível que necessita — basta que os dirigentes da Petrobrás voltem atrás na esdrúxula opção por reduzir a capacidade de refino em suas unidades de produção.
Além dessa decisão equivocada, os aprendizes de liberalismo de botequim se recusam a aceitar a reivindicação dos caminhoneiros de algum tipo de tabelamento do frete. Temem esse tipo de “prática intervencionista” assim como o diabo foge da cruz. No entanto, essa equação é mesmo delicada e exige alguma ação proativa do Estado na regulação de um conflito em que estão presentes distintos agentes econômicos com interesses contraditórios.
Dificuldades na Previdência
Pelo lado da “Reforma” da Previdência, o governo teve de rever tudo aquilo que Bolsonaro bradava pelos quatro cantos a respeito de sua suposta nova forma de se relacionar com os partidos e com os políticos tradicionais. Aliás, ele mesmo sabia que não poderia ser diferente. Por mais inexpressiva que tenha sido a sua trajetória de quase 30 anos como deputado federal, o capitão defensor da ditadura e da tortura tinha pleno conhecimento de como são articulados os processos na relação do Executivo com o Legislativo. Ainda mais no caso de um presidente sem base parlamentar e que precisa angariar para seus projetos polêmicos no interior do Congresso Nacional.
Está sendo iniciando o processo de compra explícita de votos junto ao conhecido Centrão para obter a aprovação da chamada “mãe de todas as reformas”. E ainda estamos na etapa inicial da longa tramitação, pois a CCJ da Câmara dos Deputados nem analisa o mérito das proposições de alteração da Constituição. A batalha promete ser longa e as sucessivas quedas de popularidade do presidente desde a sua posse refletem bem as dificuldades que virão. Os obstáculos tenderão a se avolumar para que as intenções iniciais de destruição da previdência social propostas por Paulo Guedes sejam referendadas pelos parlamentares.
Mas aí sempre surge alguém para complicar ainda mais a vida do capitão. Ao mesmo tempo em que o governo faz um esforço enorme para vender uma ideia mentirosa de que sua proposta vem em favor dos menos favorecidos, as entidades do movimento social e os verdadeiros especialistas do tema revelam o contrário. Algum marqueteiro experiente inclusive sugeriu ao núcleo do Planalto que não usasse o termo “reforma”, mas sim “nova previdência”. E no meio dessa tal da “disputa de narrativa” acerca do verdadeiro sentido da PEC 06/2019, eis que vem a público uma entrevista do recém nomeado presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), agora vinculado ao todo-poderoso ministro da Economia. Nada mais adequado do que a imagem de um elefante na loja de cristais.
Pelo lado da “Reforma” da Previdência, o governo teve de rever tudo aquilo que Bolsonaro bradava pelos quatro cantos a respeito de sua suposta nova forma de se relacionar com os partidos e com os políticos tradicionais. Aliás, ele mesmo sabia que não poderia ser diferente. Por mais inexpressiva que tenha sido a sua trajetória de quase 30 anos como deputado federal, o capitão defensor da ditadura e da tortura tinha pleno conhecimento de como são articulados os processos na relação do Executivo com o Legislativo. Ainda mais no caso de um presidente sem base parlamentar e que precisa angariar para seus projetos polêmicos no interior do Congresso Nacional.
Está sendo iniciando o processo de compra explícita de votos junto ao conhecido Centrão para obter a aprovação da chamada “mãe de todas as reformas”. E ainda estamos na etapa inicial da longa tramitação, pois a CCJ da Câmara dos Deputados nem analisa o mérito das proposições de alteração da Constituição. A batalha promete ser longa e as sucessivas quedas de popularidade do presidente desde a sua posse refletem bem as dificuldades que virão. Os obstáculos tenderão a se avolumar para que as intenções iniciais de destruição da previdência social propostas por Paulo Guedes sejam referendadas pelos parlamentares.
Mas aí sempre surge alguém para complicar ainda mais a vida do capitão. Ao mesmo tempo em que o governo faz um esforço enorme para vender uma ideia mentirosa de que sua proposta vem em favor dos menos favorecidos, as entidades do movimento social e os verdadeiros especialistas do tema revelam o contrário. Algum marqueteiro experiente inclusive sugeriu ao núcleo do Planalto que não usasse o termo “reforma”, mas sim “nova previdência”. E no meio dessa tal da “disputa de narrativa” acerca do verdadeiro sentido da PEC 06/2019, eis que vem a público uma entrevista do recém nomeado presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), agora vinculado ao todo-poderoso ministro da Economia. Nada mais adequado do que a imagem de um elefante na loja de cristais.
Sincericídio do Presidente do IPEA
Carlos von Doelinger é um economista liberal e conservador das antigas. É aposentado pelo IPEA, mas não se enrubesce em descer o pau na instituição que agora dirige. Tanto que pretende contratar uma consultoria bem remunerada da sua querida FGV para justificar a intenção de desmonte da instituição. Afinal, para ele discutir questões como desenvolvimento, instituições, política de gênero e outros temas fora da agenda do austericídio são desperdício de dinheiro público, “não tem nada a ver”. Orgulhoso do título que criou para si mesmo, ele se apresenta como um “matusalém” da turma dos então “boys” de Chicago. Formou-se antes mesmo de Paulo Guedes e declara apoio total às medidas sugeridas pelo novo/velho chefe. A ponto de reconhecer que a PEC tem um efeito destruidor para a maioria do povo brasileiro
(…) “Já a reforma da Previdência tem por trás, vamos dizer entre aspas, um saco de maldades. Vai atingir o velho, o aposentado. É mais complicada politicamente (..) mexe com a vida das pessoas e isso cria embate político perfeitamente compreensível.” (…)
Semaninha difícil essa, para o capitão no departamento da economia. Isso sem contar as intermináveis seções de bateção de cabeça entre seus filhos e Olavo de Carvalho, de um lado, e o vice Mourão como representante dos militares de sua equipe, por outro. Mas eis que o próprio governo resolve colocar uma cereja no bolo envenenado da tramitação da PEC 06. As altas esferas bolsonarianas decidem que não podem ser divulgados os estudos, as estatísticas e as informações utilizadas pela equipe econômica para elaborar o pacote das maldades previdenciárias.
Uma loucura! Além de não conseguir sustentar esse tipo de censura por muito tempo nessa época de acesso às informações, tal postura autocrática só confirma as suspeitas que vínhamos levantando há muito tempo. Afinal, não existem dados oficiais que sejam capazes de oferecer o menor apoio às intenções de desmonte da nossa previdência social. Quando vierem a público, será mais uma etapa de dificuldades para Paulo Guedes & Cia. As projeções mentirosas e catastrofistas sobre o fim do mundo não ficarão em pé. A economia anunciada de R$ 1 trilhão ficará desnudada como uma farsa, pois recairá apenas sobre a retirada de direitos dos mais pobres.
Enfim, aguardemos as próximas etapas da tramitação. O governo superou a fase preliminar da CCJ. Mas as manifestações de Primeiro de Maio poderão servir como elemento balizador do andamento no interior da Comissão Especial que deverá ser instalada em breve.
Carlos von Doelinger é um economista liberal e conservador das antigas. É aposentado pelo IPEA, mas não se enrubesce em descer o pau na instituição que agora dirige. Tanto que pretende contratar uma consultoria bem remunerada da sua querida FGV para justificar a intenção de desmonte da instituição. Afinal, para ele discutir questões como desenvolvimento, instituições, política de gênero e outros temas fora da agenda do austericídio são desperdício de dinheiro público, “não tem nada a ver”. Orgulhoso do título que criou para si mesmo, ele se apresenta como um “matusalém” da turma dos então “boys” de Chicago. Formou-se antes mesmo de Paulo Guedes e declara apoio total às medidas sugeridas pelo novo/velho chefe. A ponto de reconhecer que a PEC tem um efeito destruidor para a maioria do povo brasileiro
(…) “Já a reforma da Previdência tem por trás, vamos dizer entre aspas, um saco de maldades. Vai atingir o velho, o aposentado. É mais complicada politicamente (..) mexe com a vida das pessoas e isso cria embate político perfeitamente compreensível.” (…)
Semaninha difícil essa, para o capitão no departamento da economia. Isso sem contar as intermináveis seções de bateção de cabeça entre seus filhos e Olavo de Carvalho, de um lado, e o vice Mourão como representante dos militares de sua equipe, por outro. Mas eis que o próprio governo resolve colocar uma cereja no bolo envenenado da tramitação da PEC 06. As altas esferas bolsonarianas decidem que não podem ser divulgados os estudos, as estatísticas e as informações utilizadas pela equipe econômica para elaborar o pacote das maldades previdenciárias.
Uma loucura! Além de não conseguir sustentar esse tipo de censura por muito tempo nessa época de acesso às informações, tal postura autocrática só confirma as suspeitas que vínhamos levantando há muito tempo. Afinal, não existem dados oficiais que sejam capazes de oferecer o menor apoio às intenções de desmonte da nossa previdência social. Quando vierem a público, será mais uma etapa de dificuldades para Paulo Guedes & Cia. As projeções mentirosas e catastrofistas sobre o fim do mundo não ficarão em pé. A economia anunciada de R$ 1 trilhão ficará desnudada como uma farsa, pois recairá apenas sobre a retirada de direitos dos mais pobres.
Enfim, aguardemos as próximas etapas da tramitação. O governo superou a fase preliminar da CCJ. Mas as manifestações de Primeiro de Maio poderão servir como elemento balizador do andamento no interior da Comissão Especial que deverá ser instalada em breve.
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