domingo, 12 de setembro de 2021

O país onde a realidade não importa

Por Fernando Brito, em seu blog:


Fala-se, com razão, todo o tempo sobre a nota de Bolsonaro finge que não aconteceu o que todos viram que aconteceu no Sete de Setembro e que “o calor do momento” tem o condão de fazer evaporar as palavras ditas nos palanques.

Mas não é o presidente da República o único participante deste torneio nacional de cinismo e hipocrisia.

Longos parágrafos, nos discursos do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Supremo Tribunal Federal, Luís Fux, foram dedicados a destacar o caráter “pacífico e democrático” das manifestações.

Todo mundo viu que centenas, milhares de faixas e cartazes pediam o fechamento do Supremo, da Câmara e do Senado, a cassação de seus integrantes e a “intervenção militar com Bolsonaro no poder”.

Viram? Não, deve ter sido simples ilusão de ótica, porque parece que se dissolveram no ar, como o “Sai Canalha” vindo da boca presidencial.

E, tão bonzinho, o ex-presidente Michel Temer diz na Folha que “‘olha, vamos contar o tempo a partir daqui’, porque o passado, afinal, já tem 48 horas, é tão remoto…

Ainda que não escandalosas assim, versões sempre existem, mas não têm o poder de mudar a realidade.

O golpismo deu um passo atrás, recuando de sua inviabilidade. Mas segue sendo um golpe à espreita do momento de voltar a atacar.

O próprio Bolsonaro, na sua live de ontem, pediu para seus seguidores darem-lhe “dois ou três dias” para recuperarem sua confiança no “Mito”.

É evidente que ela se recuperará com novas bravatas e ataques.

A vida real segue assustada, porque foram conjurados por algum tempo os feitiços golpistas, mas, ao contrário de que querem fazer supor, seus miasmas não se dissolveram na brisa da normalidade.

A carta de Bolsonaro, como aqueles conselhos caseiros de “tomar uma cibalena e descansar, que passa”, é apenas um alivio temporário, posso apostar, de pouca duração.

Não, Bolsonaro é uma doença perigosa, que exige tratamento severo e contínuo, para que não ocorra a sua metástase final dobre o corpo vivo da Nação.

A verdade não é outra coisa senão a realidade, e a realidade é que o Brasil não tem governo, mas um projeto pessoal e deletério de poder, que não tem limites éticos, morais e, muito menos, institucionais.

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