quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Um PIB que desmoraliza Guedes e Bolsonaro

Editorial do site Vermelho:


Os novos resultados do PIB (Produto Interno Bruto) do País, divulgados nesta quarta-feira (1), mostram que a crise brasileira sob a gestão Jair Bolsonaro continua distante do fim. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a economia recuou 0,1% no segundo trimestre deste ano, após três trimestres de alta, num resultado que desmoraliza o presidente da República e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.

Mercado e governo até contavam com uma desaceleração. Semana a semana, o Boletim Focus – elaborado pelo Banco Central, com base em consultas às instituições financeiras – vinha alterando, para baixo, a projeção de crescimento da economia em 2021. Mas, especificamente para o segundo trimestre, o mercado previa não uma variação negativa – mas alta de 0,2%.

Como explicar a decepção? Usando uma retórica tecnicista, o governo insistiu que se trata de “estabilidade”, não de queda. Na Agência Brasil, subordinada ao Ministério das Comunicações, a manchete para o anúncio – “PIB fica estável no segundo trimestre deste ano” – valeu-se da assepsia. Ato contínuo, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia lançou uma Nota Informativa para dizer que o crescimento do País no ano será de 5,3%. Já Paulo Guedes, entrevistado pela imprensa, repetia chavões – “PIB estável”, “responsabilidade”, “compromisso”…

Apesar do discurso otimista, não dá para acobertar os problemas – e a Nota Informativa da SPE deixa transparecer alguns deles. O PIB da Agropecuária despencou 2,8% no segundo trimestre. Era de conhecimento da equipe econômica que diversas safras tiveram quebras no período por conta da estiagem – mas nem as piores previsões vislumbravam tamanho tombo.

A aposta do governo estava depositada num arranque dos Serviços, que, em tese, deveriam ter se beneficiado com a progressiva abertura da economia e do avanço (ainda que lento) da vacinação anti-Covid. Mesmo assim, o setor cresceu somente 0,7%. A Secretaria de Política Econômica justificou-se: “O segundo trimestre de 2021 foi o período com o maior número de mortes de Covid-19, devido ao agravamento da pandemia. Além do efeito devastador nas famílias brasileiras, houve impacto relevante nas decisões econômicas dos agentes”.

Só esqueceram de mencionar a responsabilidade direta do próprio presidente no fato de o Brasil ter virado, de março a julho, o epicentro da crise de Covid. Por decisão se Bolsonaro, o governo minimizou as medidas de combate ao novo coronavírus, atrasou e sabotou a campanha de vacinação, reduziu o valor do auxílio emergencial, entre outras ações e omissões.

A Indústria retraiu 0,2%. Uma economia como a brasileira, em prolongada desindustrialização – e às voltas com a fuga de multinacionais –, estará cada vez mais dependente e vulnerável. No entanto, o governo apontou o dedo para um vilão externo – a escassez internacional de insumos. No segundo trimestre, a falta de semicondutores, fabricados majoritariamente na Ásia, prejudicou – e, em alguns casos, até paralisou segmentos como a indústria de transformação.

Só que esse raciocínio, sozinho, não para de pé. Primeiro, porque outras nações com grandes parques industriais tiveram melhor desempenho econômico que o brasileiro. Em ranking elaborado pela agência Austing Rating, com base na variação do PIB de 48 países no segundo trimestre, o Brasil aparece no modesto 38º lugar. Segundo: como o governo não enfrentou a crise hídrica – a pior do País em mais de 90 anos –, a Indústria já sofre os primeiros efeitos do “apagão de Bolsonaro”. Terceiro: os sucessivos aumentos na taxa básica de juros, a Selic, começam igualmente a elevar os custos da produção.

Se já não faltavam razões para o presidente da República levar a sério a crise econômica – em vez de desperdiçar energia com discursos e atos golpistas –, a queda no PIB é o bastante para pôr qualquer governo em alerta. Alvo de manifestos recentes da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e de entidades do agronegócio, Bolsonaro, eleito presidente em 2018 “nos braços” do mercado, vai se tornando persona non grata até para o empresariado.

E quem mais sofre com a deterioração econômica, política e social do Brasil é a população mais pobre, cercada pela carestia, pelo desemprego e pela precarização do trabalho, pela ameaça da miséria e da fome, além da insegurança. É simbólico que um dos principais indutores econômicos – o chamado “consumo das famílias” – estagnou.

Nos últimos 12 meses, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação subiu 8,99%, o que já é um índice alarmante. Mas as despesas básicas das famílias (alimentos, combustíveis e residência) dispararam ainda mais: 33%. Um PIB cambaleante é prenúncio de mais inflação, menos investimento e mais desemprego – hoje, já são quase 20 milhões de trabalhadores sem trabalho nenhum, entre desempregados e desalentados.

O #ForaBolsonaro, mais do que nunca, é a via indispensável não apenas para a pacificação do País e a salvação nacional – mas também para o crescimento sustentado da economia, com estímulo à produção, à geração de empregos e à recomposição da renda. O Brasil não pode esperar.

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