Charge: David Pugliese |
O que Javier Milei chama de choque é na verdade a disseminação do terror, nos dois primeiros dias de governo. A Casa Rosada já alertou, pelo porta-voz Manuel Adorni e pelo ministro da Economia, Luis Caputo, que haverá hiperinflação.
E o primeiro pacote saiu nesta terça. O chamado dólar oficial foi corrigido de 366 para 800 pesos. O dólar paralelo já estava entre 950 e mil pesos.
Não haverá licitação de obras públicas por tempo indeterminado. São reduzidos (sem esclarecer em quanto) os subsídios do governo às tarifas do transporte público (metrô) e de energia. Os gastos com propaganda do governo nos meios de comunicação são suspensos por um ano.
O governo irá suspender, por tempo não fixado, as transferências de recursos federais às províncias.
Haverá aumento de imposto nas importações. Em compensação, será dobrada a ajuda do governo a famílias pobres (tipo Bolsa Família) e aumentado em 50% o valor de um cartão para compra de alimentos. Mas nenhuma medida teve detalhamento.
Fora do pacote, servidores públicos foram avisados de que haverá uma caçada a quem, na versão do governo, mais faz militância política do que trabalha.
Os exportadores foram impedidos na segunda e na terça, e não se sabe até quando, de fechar contratos de venda de seus produtos.
Os sindicatos foram ameaçados com represálias se convocarem protestos, e o próprio Milei anunciou no discurso de posse que bloqueadores de ruas perderão direitos, sem esclarecer o que isso significa.
Mas já estão marcadas para os dias 19 e 20 as primeiras manifestações de rua contra o fascistão.
Foram programadas antes mesmo da posse, porque todos sabiam o que viria nos primeiros dias do governo.
Os piqueteiros, como são chamados agrupamentos de trabalhadores, a maioria sem vínculos formais com sindicatos, comandarão os protestos.
Os jornais argentinos registraram ontem que alguns produtos já tiveram aumento de preço de 100% e que a população de Buenos Aires correu aos supermercados para fazer estoques.
O clima no governo é de esculhambação. Luis Caputo gravou um vídeo com as medidas econômicas, que seriam anunciadas às 17h da terça-feira.
Milei viu o vídeo e mandou que o ministro gravasse tudo de novo, porque implicou com um trecho.
Equipes da produção de vídeos do governo tiveram que retornar ao Ministério da Economia, onde o ministro fez nova gravação.
Será que dura meio ano?
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Macri manda
Luis Caputo, ministro da Economia de Javier Milei, foi presidente do Banco Central no governo de Mauricio Macri (2015-2019).
Patricia Bullrich, ministra da Defesa de Milei, foi ministra da Defesa do governo Macri e candidata da turma de Macri à presidência pela coligação Juntos pela Mudança.
Luis Petri, também da velha direita, candidato a vice na chapa de Patricia Bullrich, é o ministro da Defesa de Milei.
Santiago Brasil, que assume o Banco Central com a missão de destruí-lo, é economista macrista e foi sócio de Luis Caputo numa empresa de consultoria.
O advogado Silvestre Sívori, diretor de assuntos jurídicos do Ministério dos Transportes de Macri e quadro do segundo time do macrismo, será o diretor da Agência Federal de Inteligência.
A AFI é a Abin deles, onde atuavam os arapongas que perseguiam Cristina Kirchner durante o governo de Macri.
A direita tradicional tomou conta do governo de Milei, o que pode mais adiante resultar num impasse, quando o extremista decidir se livrar das amarras do macrismo.
Carajo
No domingo, Javier Milei escreveu no livro do Congresso assinado por todos os presidentes do país: “Viva la libertad, carajo!”
A tradução é óbvia: viva a liberdade, caralho. O fascista costuma usar essa expressão.
Na segunda-feira, ao fazer juramento como governador eleito da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof deu em discurso a sua versão e disse: “Viva la justicia social, carajo”.
Só que esse carajo não tem mais, nem na Argentina nem no Brasil, o sentido original da palavra. Vale mais como uma exclamação.
Ah, mas é uma palavra associada ao órgão sexual? É, mas sem a força de uma expressão obscena.
Há textos de linguistas na internet tratando dessa controvérsia.
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