quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Estudos confirmam que capitalismo não presta

Reprodução da internet
Por Altamiro Borges


Três estudos divulgados nessa semana revelam que a desigualdade atingiu níveis indecentes e intoleráveis nos últimos anos – no mundo e no Brasil. Com a pandemia da Covid, muitos intelectuais apostaram que a tragédia geraria maior empatia e novas políticas de bem-estar social – como ocorreu no pós-II Guerra Mundial. Mas o que aconteceu foi o inverso. Com o fim do bloco soviético e da “ameaça comunista”, o capitalismo só elevou a concentração de riqueza em um extremo e de miséria no outro – confirmando que não serve à humanidade.

Cinco ricaços concentram 34% da riqueza mundial

O primeiro estudo, intitulado “Desigualdade S.A.”, foi apresentado pela Oxfam no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, nesta segunda-feira (15). Entre outros dados horripilantes, ele mostra que a fortuna dos cinco maiores bilionários do mundo dobrou em três anos. Eles hoje concentram U$$ 3,3 trilhões – 34% da riqueza mundial. O empresário Elon Musk, dono da Tesla e do X (ex-Twitter), ocupa o topo da lista. No outro extremo, o estudo mostra que a parcela de riqueza dos 60% mais pobres, que era de 2,26%, caiu para 2,23%.

“Em apenas três anos, vivemos uma pandemia global, guerra e colapso climático, e cada crise ampliou o fosso – não tanto entre os ricos e as pessoas que vivem na pobreza, mas entre uns poucos membros de oligarquias e a grande maioria”, afirma a Oxfam. O estudo ainda confirma que cresceu o abismo entre países ricos e pobres e que aumentou a diferença de renda entre brancos e negros e entre homens e mulheres. Neste último caso, o levantamento revela que as mulheres detêm 38,5% das riquezas globais, sendo 49% dos habitantes do planeta.

O estudo analisa a situação da concentração de vários países. No caso específico do Brasil, o relatório mostra que 63% da riqueza no país está nas mãos de 1% da população. Já os 50% mais pobres detêm apenas 2% do patrimônio do país. O estudo traz ainda detalhes sobre o grupo que mais acumula riqueza. Segundo aponta, 0,01% da população brasileira possui 27% dos ativos financeiros. “Fica nítido que a propriedade de ações e de participações, em termos econômicos, reflete uma plutocracia e não uma democracia”, conclui a Oxfam.

Pós golpe, 0,01% dos ricos brasileiros dobraram sua renda

O segundo estudo, elaborado pelo economista Sérgio Gobetti do Observatório de Política Fiscal do FGV, foi apresentado nesta terça-feira (16). Ele mostra o agravamento da desigualdade no Brasil entre 2017 e 2022, período posterior ao golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Os 0,01% mais ricos da população quase dobraram sua renda no período. Enquanto isso, os ganhos de 95% da população não avançaram mais do que 33% – pouca coisa acima da inflação do período (31%).

Como reagiu a presidenta do PT, deputada Gleisi Hofmann, a pesquisa confirma que é urgente avançar nas mudanças econômicas no país, principalmente com a adoção de uma reforma tributária que tribute os ricos e desonere os trabalhadores. “A concentração de renda no Brasil, que sempre foi indecente, ultrapassou o insuportável nos governos do golpe e de Bolsonaro. 15 mil pessoas, 0,01% da população, tiveram a renda dobrada entre 2017 e 2022... Não há sociedade que se sustente com tamanha disparidade. Não há como falar em justiça e democracia quando a elite se apropria da riqueza com voracidade descarada”, postou no X.

700 milhões de pessoas vegetam com menos de R$ 10,50 por dia

O terceiro estudo foi publicado pelo próprio Banco Mundial. Ele mostra que cerca de 700 milhões de pessoas sobrevivem com menos de US$ 2,15 (R$ 10,50) por dia. Esse número era 40% menor em 2010. De acordo com a instituição financeira, o enfrentamento à pobreza sofreu um enorme revés com a pandemia da Covid-19, o que motivou um recuo de três anos no combate à baixíssima renda.

Como registrou a própria Folha, um jornalão adorador do deus-mercado, “o diagnóstico é grave em se tratando de quem o enuncia... O Banco Mundial tem sede em Washington e é gêmeo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sua missão explícita é a de provar que o capitalismo é o único meio que dá acesso ao crescimento econômico e à redução das desigualdades. Não é o que está acontecendo”.

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