Reproduzo reportagem de David Wilson, publicado no sítio Diário Liberdade:
"Os mísseis que levam pontas dotadas de urânio empobrecido se ajustam com perfeição à descrição de bomba suja... Eu diria que é a arma perfeita para assassinar montões de pessoas". Marion Falk, especialista em física química (aposentada), Laboratório Lawrence Livermore, Califórnia, EUA.
Nas primeiras 24 horas do ataque contra a Líbia, os B-2 dos EUA despejaram 45 bombas de 2000 libras de peso cada uma [algo menos que 1000 quilos]. Estas enormes bombas, junto com os mísseis Cruise lançados desde aviões e barcos britânicos e franceses, continham ogivas de urânio empobrecido.
O urânio empobrecido é o produto de resíduos do processo de enriquecimento de urânio. Utiliza-se nas armas e reatores nucleares. Devido ser uma substância muito pesada, 1,7 mais densa que o chumbo, é muito valorizado no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios.
Quando uma arma que leva uma ponta de urânio empobrecido golpeia um objeto sólido, como uma parte de um tanque, penetra através dele e depois explode formando uma nuvem candente de vapor. O vapor se assenta como poeira, uma poeira que não só é venenosa, mas também radioativa.
Um míssil com urânio empobrecido quando impacta queima a 10.000ºC. Quando alcança um objetivo, os 30% se fragmenta em estilhaços. Os 70% restantes se evaporam em três óxidos altamente tóxicos, inclusive o óxido de urânio. Esta poeira negra permanece suspensa no ar, e dependendo do vento e do clima, pode viajar sobre grandes distâncias.
Se vocês pensam que o Iraque e a Líbia estão muito longe, lembrem-se que a radiação de Chernobyl chegou até o País de Gales no Reino Unido. É muito fácil inalar partículas de menos de 5 mícrons de diâmetro, que podem permanecer nos pulmões ou em outros órgãos durante anos.
Esse urânio empobrecido inalado pode causar danos renais, cânceres de pulmão e ossos, transtornos na pele, transtornos neurocognitivos, danos cromossômicos, síndromes de imunodeficiência e estranhas enfermidades renais e intestinais. As mulheres grávidas que forem expostas ao urânio empobrecido podem dar luz a bebês com defeitos genéticos. Uma vez que a poeira se vaporiza, não cabe esperar que o problema possa desaparecer prontamente. Como emissor de partículas alfa, o urânio empobrecido tem uma vida média de 4 bilhões e 500 milhões de anos.
No ataque da operação "comoção e pavor" contra o Iraque, foram despejadas, só em Bagdá, 1.500 bombas e mísseis. Seymour Hersh afirmou que só a Terceira Frota de Aviação dos Fuzileiros dos EUA despejou mais de "500 mil toneladas de munição". E tudo isso levava pontas de urânio empobrecido.
Al-Jazeera informou que as forças invasoras estadunidenses dispararam 200 toneladas de material radioativo contra edifícios, casas, ruas e jardins de Bagdá. Um jornalista do Christian Sciente Monitor levou um contador Geiger até zonas da cidade que haviam sofrido uma dura chuva de artilharia das tropas estadunidenses. Encontrou níveis de radiação entre 1.000 a 1.900 vezes acima do normal em zonas residenciais. Com uma população de 26 milhões de habitantes, isso significa que os EUA despejaram uma bomba de uma tonelada para cada 52 cidadãos iraquianos, o que significa dizer, cerca de 20 quilos de explosivo por pessoa.
William Hague [Secretário de Estado de Assuntos Externos britânico] disse que iríamos à Líbia "para proteger os civis e as zonas habitadas por civis". Vocês não tem que olhar muito longe para ver a quem e o quê está se "protegendo".
Nas primeiras 24 horas, os "aliados gastaram" 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Um informe sobre controle de armamento realizado na União Europeia afirmava que seus Estados membros concederam em 2009 licenças para a venda de armas e sistemas de armamento à Líbia pelo valor de 333.657 milhões de euro. Grã-Bretanha concedeu licenças às empresas de armamento para a venda de armas à Líbia no valor de 24.700 milhões de euro e o Coronel Kadafi pagou também para que se enviasse às SAS [sigla em inglês para Serviço Especial Aéreo] para treinar sua 32ª Brigada.
Aposto que nos próximos 4 bilhões e 500 milhões de anos William Hague não vai ir de férias ao Norte da África.
* Tradução de Lucas Morais.
segunda-feira, 28 de março de 2011
EUA cometem crimes monstruosos na Líbia
Reproduzo artigo de Miguel Urbano Rodrigues, publicado no sítio português O Diário:
Os EUA e os seus aliados repetem na Líbia crimes contra a humanidade similares aos cometidos no Iraque e no Afeganistão.
A agressão ao povo líbio difere das outras apenas porque o discurso que pretende justificá-la excede o imaginável no tocante à hipocrisia.
A encenação prévia, pela mentira e perfídia, traz à memória as concebidas por Hitler na preparação da anexação da Áustria e das campanhas que precederam a invasão da Checoslováquia e da Polônia.
Os EUA e os seus aliados repetem na Líbia crimes contra a humanidade similares aos cometidos no Iraque e no Afeganistão.
A agressão ao povo líbio difere das outras apenas porque o discurso que pretende justificá-la excede o imaginável no tocante à hipocrisia.
A encenação prévia, pela mentira e perfídia, traz à memória as concebidas por Hitler na preparação da anexação da Áustria e das campanhas que precederam a invasão da Checoslováquia e da Polônia.
Brasil precisa repensar a radiodifusão
Reproduzo artigo do professor Venício Lima, publicado no jornal Folha de S.Paulo:
Decretos de 1995 e 1996 estenderam para as concessões de radiodifusão as licitações válidas para a prestação de outros serviços públicos. Acreditava-se que teria fim a utilização das concessões de rádio e TV como moeda de barganha política.
Logo se viu, todavia, que pelo menos duas "brechas" legais permitiriam a continuidade do "coronelismo eletrônico": as outorgas de radiodifusão educativa e as chamadas "retransmissoras mistas" de rádio e TV estavam dispensadas de licitação. Além disso, uma lei de 1998 também excluiu a radiodifusão comunitária.
Catorze anos depois que as primeiras licitações foram realizadas, a avaliação que se pode fazer é, no mínimo, constrangedora. Em artigo recente no Observatório da Imprensa, o consultor legislativo Cristiano Lopes mostrou que mais de 93% das licitações concluídas desde 1997 foram vencidas pela empresa que apresentou a melhor oferta.
Os critérios técnicos — tempo destinado na programação a conteúdos jornalísticos, educativos e culturais; e programas produzidos na própria área de prestação do serviço — são sempre incluídos nas propostas. Mais de 90% das propostas técnicas apresentadas obtiveram nota máxima. Na maior parte das licitações os concorrentes empatam na avaliação técnica e é apenas a proposta de preço que define o vencedor.
Como inexiste a fiscalização do Estado no que se refere ao cumprimento daquilo que é proposto, as empresas vencedoras simplesmente não cumprem a proposta. A reportagem de ontem da Folha de S.Paulo revela agora um outro lado do total fracasso das licitações: não há nenhum controle do Estado em relação a quem de fato se candidata, vence ou coloca em operação uma emissora de rádio e televisão.
A reportagem levanta três hipóteses para explicar o uso de laranjas: lavagem de dinheiro; evitar acusações de exploração política e burlar a regra que impede igrejas de serem concessionárias. Qualquer delas constitui ilícito e deveria ser objeto de investigação. Ou não?
Confirma-se a necessidade urgente de que a radiodifusão seja repensada e o Estado proponha, finalmente, um marco regulatório para o setor de comunicações.
Decretos de 1995 e 1996 estenderam para as concessões de radiodifusão as licitações válidas para a prestação de outros serviços públicos. Acreditava-se que teria fim a utilização das concessões de rádio e TV como moeda de barganha política.
Logo se viu, todavia, que pelo menos duas "brechas" legais permitiriam a continuidade do "coronelismo eletrônico": as outorgas de radiodifusão educativa e as chamadas "retransmissoras mistas" de rádio e TV estavam dispensadas de licitação. Além disso, uma lei de 1998 também excluiu a radiodifusão comunitária.
Catorze anos depois que as primeiras licitações foram realizadas, a avaliação que se pode fazer é, no mínimo, constrangedora. Em artigo recente no Observatório da Imprensa, o consultor legislativo Cristiano Lopes mostrou que mais de 93% das licitações concluídas desde 1997 foram vencidas pela empresa que apresentou a melhor oferta.
Os critérios técnicos — tempo destinado na programação a conteúdos jornalísticos, educativos e culturais; e programas produzidos na própria área de prestação do serviço — são sempre incluídos nas propostas. Mais de 90% das propostas técnicas apresentadas obtiveram nota máxima. Na maior parte das licitações os concorrentes empatam na avaliação técnica e é apenas a proposta de preço que define o vencedor.
Como inexiste a fiscalização do Estado no que se refere ao cumprimento daquilo que é proposto, as empresas vencedoras simplesmente não cumprem a proposta. A reportagem de ontem da Folha de S.Paulo revela agora um outro lado do total fracasso das licitações: não há nenhum controle do Estado em relação a quem de fato se candidata, vence ou coloca em operação uma emissora de rádio e televisão.
A reportagem levanta três hipóteses para explicar o uso de laranjas: lavagem de dinheiro; evitar acusações de exploração política e burlar a regra que impede igrejas de serem concessionárias. Qualquer delas constitui ilícito e deveria ser objeto de investigação. Ou não?
Confirma-se a necessidade urgente de que a radiodifusão seja repensada e o Estado proponha, finalmente, um marco regulatório para o setor de comunicações.
McDonald´s: propaganda encobre abusos
Reproduzo artigo de Michelle Amaral, publicado no sítio da Alai:
“Uma vez eu estava com uma bandeja cheia de lanches prontos para serem entregues e escorreguei. Quando ia caindo no chão, meu coordenador viu, segurou a bandeja, me deixou cair e disse: 'primeiro o rendimento, depois o funcionário'”, conta Kelly, que trabalhou na rede de restaurantes fast food McDonald´s por cinco meses.
“Uma vez eu estava com uma bandeja cheia de lanches prontos para serem entregues e escorreguei. Quando ia caindo no chão, meu coordenador viu, segurou a bandeja, me deixou cair e disse: 'primeiro o rendimento, depois o funcionário'”, conta Kelly, que trabalhou na rede de restaurantes fast food McDonald´s por cinco meses.
A guerra do futebol na TV
Reproduzo artigo de Laurindo Lalo Leal Filho, publicado na Revista do Brasil:
Futebol não é apenas o esporte mais popular do Brasil. É também um programa de TV de grande audiência, assim como as novelas e os reality shows. Hoje a Globo, detentora dos direitos de transmissão de quase todas as disputas futebolísticas, determina os horários em que os jogos devem ser realizados para que se encaixem perfeitamente em sua programação. O resultado são partidas começando às 22 horas, tirando torcedores dos estádios e impondo aos atletas um ritmo de trabalho incompatível com a saudável prática esportiva.
Futebol não é apenas o esporte mais popular do Brasil. É também um programa de TV de grande audiência, assim como as novelas e os reality shows. Hoje a Globo, detentora dos direitos de transmissão de quase todas as disputas futebolísticas, determina os horários em que os jogos devem ser realizados para que se encaixem perfeitamente em sua programação. O resultado são partidas começando às 22 horas, tirando torcedores dos estádios e impondo aos atletas um ritmo de trabalho incompatível com a saudável prática esportiva.
Grécia: austeridade agrava crise
Reproduzo matéria do jornal português Avante:
Após mais de um ano de odiosas medidas antipopulares, que já provocaram 14 greves gerais, centenas de manifestações e protestos quase diários em diferentes setores, a Grécia afunda-se na recessão económica e os cofres do Estado estão cada vez mais vazios.
As receitas da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional impostas à Grécia estão a ter resultados catastróficos sob qualquer ponto de vista. Em 2010 a economia regrediu 4,5 por cento, a inflação disparou para 5,2 por cento (janeiro passado), os rendimentos médios da população baixaram nove por cento e o desemprego galgou para 12,9 por cento, atingindo os 34 por cento na camada etária até aos 25 anos.
Segundo as previsões da central sindical GSEE, o desemprego irá continuar a aumentar podendo atingir até ao final deste ano 22 por cento da população activa.
Como era de prever, os sucessivos pacotes de austeridade, impondo a redução dos salários dos funcionários públicos, drásticos cortes nas despesas sociais e um brutal aumento da carga fiscal mais não fizeram do que contrair o consumo das massas e dessa forma agravar a situação da economia cada vez mais moribunda.
Ao mesmo tempo, embora tenha reduzido o déficit em seis pontos percentuais à custa da redução da despesa, o governo social-democrata do PASOK continua a braços com um défice público elevado, que faz aumentar a cada dia que passa a enorme dívida do país.
Na área do próprio partido governante surgem vozes a pedir a revisão e a reestruturação da dívida grega. Sofia Sakarofa, deputada expulsa do PASOK por se ter recusado a votar a intervenção do FMI e da UE, defende a criação de uma comissão de auditores, com a participação de peritos internacionais, para examinar a dívida do Estado e verificar a existência de irregularidades, na base das quais se possa contestar o seu pagamento.
Face à ausência de resultados, a troika composta pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu exigiu, em fevereiro último, ao governo de Papandreu a intensificação das "reformas" e o alargamento do plano de privatizações de modo a realizar um encaixe de 50 mil milhões de euros até 2013, dos quais mil milhões já este ano.
Uns dias depois, o ministro das Finanças, Gueorgui Papaconstantinou, apresentou um vasto programa de privatizações que inclui portos, aeroportos, caminhos-de-ferro, electricidade e até mesmo praias turísticas do país.
Mas enquanto anuncia a venda do país por atacado e condena o seu povo à miséria, o governo do PASOK continua a manter um elevado nível de despesas militares, decorrente, muito em particular, da compra de fragatas e helicópteros à França e submarinos à Alemanha.
Segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação da Paz (SIPRI), a Grécia é o país europeu com maiores gastos militares em proporção com o seu Produto Interno Bruto, figurando entre os dez principais compradores de armas do mundo.
Mas, ao que se constata, nenhum destes sumarentos contratos militares foi suspenso ou anulado no momento ou a seguir à intervenção financeira da UE e do FMI. Pelo contrário, como esclareceu o Ministério da Defesa francês, em Maio de 2010, nenhuma das restrições orçamentais impostas à Grécia deveria afectar as aquisições de material militar previstas pelo Ministério da Defesa grego.
Após mais de um ano de odiosas medidas antipopulares, que já provocaram 14 greves gerais, centenas de manifestações e protestos quase diários em diferentes setores, a Grécia afunda-se na recessão económica e os cofres do Estado estão cada vez mais vazios.
As receitas da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional impostas à Grécia estão a ter resultados catastróficos sob qualquer ponto de vista. Em 2010 a economia regrediu 4,5 por cento, a inflação disparou para 5,2 por cento (janeiro passado), os rendimentos médios da população baixaram nove por cento e o desemprego galgou para 12,9 por cento, atingindo os 34 por cento na camada etária até aos 25 anos.
Segundo as previsões da central sindical GSEE, o desemprego irá continuar a aumentar podendo atingir até ao final deste ano 22 por cento da população activa.
Como era de prever, os sucessivos pacotes de austeridade, impondo a redução dos salários dos funcionários públicos, drásticos cortes nas despesas sociais e um brutal aumento da carga fiscal mais não fizeram do que contrair o consumo das massas e dessa forma agravar a situação da economia cada vez mais moribunda.
Ao mesmo tempo, embora tenha reduzido o déficit em seis pontos percentuais à custa da redução da despesa, o governo social-democrata do PASOK continua a braços com um défice público elevado, que faz aumentar a cada dia que passa a enorme dívida do país.
Na área do próprio partido governante surgem vozes a pedir a revisão e a reestruturação da dívida grega. Sofia Sakarofa, deputada expulsa do PASOK por se ter recusado a votar a intervenção do FMI e da UE, defende a criação de uma comissão de auditores, com a participação de peritos internacionais, para examinar a dívida do Estado e verificar a existência de irregularidades, na base das quais se possa contestar o seu pagamento.
Face à ausência de resultados, a troika composta pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu exigiu, em fevereiro último, ao governo de Papandreu a intensificação das "reformas" e o alargamento do plano de privatizações de modo a realizar um encaixe de 50 mil milhões de euros até 2013, dos quais mil milhões já este ano.
Uns dias depois, o ministro das Finanças, Gueorgui Papaconstantinou, apresentou um vasto programa de privatizações que inclui portos, aeroportos, caminhos-de-ferro, electricidade e até mesmo praias turísticas do país.
Mas enquanto anuncia a venda do país por atacado e condena o seu povo à miséria, o governo do PASOK continua a manter um elevado nível de despesas militares, decorrente, muito em particular, da compra de fragatas e helicópteros à França e submarinos à Alemanha.
Segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação da Paz (SIPRI), a Grécia é o país europeu com maiores gastos militares em proporção com o seu Produto Interno Bruto, figurando entre os dez principais compradores de armas do mundo.
Mas, ao que se constata, nenhum destes sumarentos contratos militares foi suspenso ou anulado no momento ou a seguir à intervenção financeira da UE e do FMI. Pelo contrário, como esclareceu o Ministério da Defesa francês, em Maio de 2010, nenhuma das restrições orçamentais impostas à Grécia deveria afectar as aquisições de material militar previstas pelo Ministério da Defesa grego.
domingo, 27 de março de 2011
Mercosul: "Los hermanos", 20 anos depois
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, publicado no sítio Carta Maior:
Vinte anos depois daquilo que se considera a certidão de nascimento do Mercosul (o Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991), a integração regional promovida pelo bloco mostrou-se benéfica. O principal saldo não é apenas econômico, mas político, social e cultural.
Mesmo sujeito a idas e vindas, o Mercosul atravessou turbulências e manteve-se como um caso de sucesso. Resistiu a crises internacionais graves, como as de 1999 a 2002 (quando o comércio entre os países do bloco reduziu-se à metade, em relação a seus valores de 1997) e a mais recente e maior delas, de 2008. Foi abalado por situações de profunda instabilidade. A principal atingiu o governo de Fernando de la Rúa, na Argentina, como efeito retardado do desmonte do Estado, privatização e desindustrialização provocados pelo governo de Carlos Ménem, combinados à atrapalhada saída brasileira do regime de paridade do dólar e câmbio fixo, no governo FHC.
Surgido na esteira de um processo de aproximação entre Brasil e Argentina, seus dois maiores países, o Mercosul era também uma resposta à União Europeia, ao Nafta (bloco que reúne Estados Unidos, Canadá e México) e à APEC (“Asia-Pacific Economic Cooperation” ou Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico).
A arquitetura da amizade impulsionada com o Mercosul é tratada como um caso exemplar pelo especialista em relações internacionais, Charles Kupchan (da Universidade de Georgetown), em seu recente livro “Como inimigos se tornam amigos” (1). Ele dedica parte do quarto capítulo de seu livro (págs. 122 a 130) a mostrar como se deu a reaproximação entre Brasil e Argentina, nos anos 1980, e que atraiu, nos anos 1990, Paraguai e Uruguai .
Kupchan enquadra o exemplo sulamericano em algumas lições essenciais. Por exemplo, a de que o mundo hobbesiano da competição interestatal, onde impera o dedo no olho e os golpes abaixo da linha de cintura, pode até ser um ponto de partida para a análise das relações internacionais, mas não precisa ser necessariamente seu ponto de chegada. A competição pode ser superada por arranjos sustentáveis cooperativos, em que antigos inimigos passam a se tratar como atores confiáveis.
A segunda lição é a de que a mão invisível do liberalismo é incapaz de produzir tal arquitetura por geração espontânea. Ela deve ser induzida por projetos nacionais e tudo deve começar com um dos atores, em geral o de maior peso, dispondo-se a fazer concessões. É a diplomacia que impulsiona a economia, e não o contrário. Ela constrói o ambiente que produz saldos comerciais e financeiros positivos no longo prazo, facilita a inserção de empresas e enraíza a interdependência econômica.
Uma terceira lição é a de que as ordens sociais entre os países devem se tornar cada vez mais compatíveis, harmônicas. Ordens instáveis e incompatíveis entre si são um fator inibidor do entendimento.
Kupchan destaca ainda, no caso sulamericano e em outros, que o fundamental nos processos de integração é o surgimento de uma identidade entre os países que supere as rivalidades reinantes. O trânsito de pessoas, o entrosamento cultural, a familiaridade com a paisagem dos vizinhos são um ingrediente dos avanços.
Neste sentido, os sinais do Mercosul são muito promissores. O volume do comércio entre os países do bloco (hoje em torno de US$ 30 bilhões por ano) tem crescido , embora percentualmente ao PIB tenha ocorrido uma estagnação momentânea. A situação se explica, estruturalmente, pela assimetria entre os países e, conjunturalmente, pela estratégia de seus países no sentido de diversificarem seus parceiros e não se atrelarem exclusivamente a alguns poucos (2).
Certos números são surpreendentes. Em quatro anos (2006 a 2009), o número de brasileiros que estudam a língua espanhola saltou de um para mais de cinco milhões (dados do Instituto Cervantes). A razão foi a lei sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, que obrigou a oferta do Espanhol no ensino médio.
Praticamente um em cada cinco turistas que visitam o Brasil é argentino. Em contrapartida, em 2010 quase dobrou a quantidade de brasileiros que visitaram a capital portenha.
Os turistas vindos do Mercosul representam 70% do fluxo receptivo do Uruguai, 30% do fluxo receptivo da Argentina, mesmo patamar do Brasil, sendo baixo apenas no Paraguai (pouco mais de 10%) (3).
O projeto de integração é um desafio de grande envergadura e tem obstáculos consideráveis. Grande parte deles é resultante de seus pecados originais. A vertente comercial tornou-se hipertrofiada ao longo de 20 anos, enquanto persiste um déficit de participação democrática e representação política, com um Parlasul que ainda está por se estruturar plenamente. O Brasil, infelizmente, tem negligenciado e protelado esse passo.
Por outro lado, a entrada da Venezuela, que significaria a expansão do mercado comum, tem sido sistematicamente adiada pelo Paraguai, com argumentos que não convencem sequer os opositores venezuelanos do presidente Hugo Chávez, que defendem a entrada de seu país no bloco.
Nos últimos anos, uma agenda intensa de políticas públicas tem se construído setorialmente, nas áreas da agricultura familiar, desenvolvimento social, educação, saúde, infraestrutura, turismo, segurança e defesa, dentre outras. Isso permite vislumbrar ações que contribuam para eliminar a pobreza, reduzir as assimetrias existentes, construir uma infraestrutura que permita ampliar o comércio na região e aprofundar a democracia, desafios destacados recentemente pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Alto Representante-Geral do Mercosul (Agência Senado, 24/3/2011).
No momento atual, o Mercosul reúne mais razões de otimismo que os demais blocos. A União Europeia, sob crise aguda, vive um de seus piores momentos. O Nafta acentou os problemas da economia mexicana (o comércio que mais cresce com seu vizinho, do outro lado do Rio Grande, é o de drogas), e os Estados Unidos patinam para superar a recessão. A APEC, além de muito heterogênea e pouco institucionalizada, pouco avançou diante da competição entre seus países, que disputam muitas vezes o mesmo espaço. A China, por exemplo, tem crescido, além de seus méritos próprios, sobre um declínio relativo do Japão.
Há 20 anos, quem seria capaz de dizer que se chegaria tão longe?
Referências:
(1) ”KUPCHAN, Charles A. How Enemies Become Friends. Princeton: Princeton University, march 2010)
(2) SOUZA, André de Mello e Souza, OLIVEIRA, Ivan Tiago Machado e GONÇALVES, Samo Sérgio. Integrando desiguais: assimetrias estruturais e políticas de integração no Mercosul. Rio de Janeiro: IPEA, março de 2010. Texto de Discussão no. 1477.
(3) TOMAZONI, Edegar Luis. Turismo como Desafio do Desenvolvimento Econômico do Mercosul na Era da Globalização. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2008.
Vinte anos depois daquilo que se considera a certidão de nascimento do Mercosul (o Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991), a integração regional promovida pelo bloco mostrou-se benéfica. O principal saldo não é apenas econômico, mas político, social e cultural.
Mesmo sujeito a idas e vindas, o Mercosul atravessou turbulências e manteve-se como um caso de sucesso. Resistiu a crises internacionais graves, como as de 1999 a 2002 (quando o comércio entre os países do bloco reduziu-se à metade, em relação a seus valores de 1997) e a mais recente e maior delas, de 2008. Foi abalado por situações de profunda instabilidade. A principal atingiu o governo de Fernando de la Rúa, na Argentina, como efeito retardado do desmonte do Estado, privatização e desindustrialização provocados pelo governo de Carlos Ménem, combinados à atrapalhada saída brasileira do regime de paridade do dólar e câmbio fixo, no governo FHC.
Surgido na esteira de um processo de aproximação entre Brasil e Argentina, seus dois maiores países, o Mercosul era também uma resposta à União Europeia, ao Nafta (bloco que reúne Estados Unidos, Canadá e México) e à APEC (“Asia-Pacific Economic Cooperation” ou Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico).
A arquitetura da amizade impulsionada com o Mercosul é tratada como um caso exemplar pelo especialista em relações internacionais, Charles Kupchan (da Universidade de Georgetown), em seu recente livro “Como inimigos se tornam amigos” (1). Ele dedica parte do quarto capítulo de seu livro (págs. 122 a 130) a mostrar como se deu a reaproximação entre Brasil e Argentina, nos anos 1980, e que atraiu, nos anos 1990, Paraguai e Uruguai .
Kupchan enquadra o exemplo sulamericano em algumas lições essenciais. Por exemplo, a de que o mundo hobbesiano da competição interestatal, onde impera o dedo no olho e os golpes abaixo da linha de cintura, pode até ser um ponto de partida para a análise das relações internacionais, mas não precisa ser necessariamente seu ponto de chegada. A competição pode ser superada por arranjos sustentáveis cooperativos, em que antigos inimigos passam a se tratar como atores confiáveis.
A segunda lição é a de que a mão invisível do liberalismo é incapaz de produzir tal arquitetura por geração espontânea. Ela deve ser induzida por projetos nacionais e tudo deve começar com um dos atores, em geral o de maior peso, dispondo-se a fazer concessões. É a diplomacia que impulsiona a economia, e não o contrário. Ela constrói o ambiente que produz saldos comerciais e financeiros positivos no longo prazo, facilita a inserção de empresas e enraíza a interdependência econômica.
Uma terceira lição é a de que as ordens sociais entre os países devem se tornar cada vez mais compatíveis, harmônicas. Ordens instáveis e incompatíveis entre si são um fator inibidor do entendimento.
Kupchan destaca ainda, no caso sulamericano e em outros, que o fundamental nos processos de integração é o surgimento de uma identidade entre os países que supere as rivalidades reinantes. O trânsito de pessoas, o entrosamento cultural, a familiaridade com a paisagem dos vizinhos são um ingrediente dos avanços.
Neste sentido, os sinais do Mercosul são muito promissores. O volume do comércio entre os países do bloco (hoje em torno de US$ 30 bilhões por ano) tem crescido , embora percentualmente ao PIB tenha ocorrido uma estagnação momentânea. A situação se explica, estruturalmente, pela assimetria entre os países e, conjunturalmente, pela estratégia de seus países no sentido de diversificarem seus parceiros e não se atrelarem exclusivamente a alguns poucos (2).
Certos números são surpreendentes. Em quatro anos (2006 a 2009), o número de brasileiros que estudam a língua espanhola saltou de um para mais de cinco milhões (dados do Instituto Cervantes). A razão foi a lei sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, que obrigou a oferta do Espanhol no ensino médio.
Praticamente um em cada cinco turistas que visitam o Brasil é argentino. Em contrapartida, em 2010 quase dobrou a quantidade de brasileiros que visitaram a capital portenha.
Os turistas vindos do Mercosul representam 70% do fluxo receptivo do Uruguai, 30% do fluxo receptivo da Argentina, mesmo patamar do Brasil, sendo baixo apenas no Paraguai (pouco mais de 10%) (3).
O projeto de integração é um desafio de grande envergadura e tem obstáculos consideráveis. Grande parte deles é resultante de seus pecados originais. A vertente comercial tornou-se hipertrofiada ao longo de 20 anos, enquanto persiste um déficit de participação democrática e representação política, com um Parlasul que ainda está por se estruturar plenamente. O Brasil, infelizmente, tem negligenciado e protelado esse passo.
Por outro lado, a entrada da Venezuela, que significaria a expansão do mercado comum, tem sido sistematicamente adiada pelo Paraguai, com argumentos que não convencem sequer os opositores venezuelanos do presidente Hugo Chávez, que defendem a entrada de seu país no bloco.
Nos últimos anos, uma agenda intensa de políticas públicas tem se construído setorialmente, nas áreas da agricultura familiar, desenvolvimento social, educação, saúde, infraestrutura, turismo, segurança e defesa, dentre outras. Isso permite vislumbrar ações que contribuam para eliminar a pobreza, reduzir as assimetrias existentes, construir uma infraestrutura que permita ampliar o comércio na região e aprofundar a democracia, desafios destacados recentemente pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Alto Representante-Geral do Mercosul (Agência Senado, 24/3/2011).
No momento atual, o Mercosul reúne mais razões de otimismo que os demais blocos. A União Europeia, sob crise aguda, vive um de seus piores momentos. O Nafta acentou os problemas da economia mexicana (o comércio que mais cresce com seu vizinho, do outro lado do Rio Grande, é o de drogas), e os Estados Unidos patinam para superar a recessão. A APEC, além de muito heterogênea e pouco institucionalizada, pouco avançou diante da competição entre seus países, que disputam muitas vezes o mesmo espaço. A China, por exemplo, tem crescido, além de seus méritos próprios, sobre um declínio relativo do Japão.
Há 20 anos, quem seria capaz de dizer que se chegaria tão longe?
Referências:
(1) ”KUPCHAN, Charles A. How Enemies Become Friends. Princeton: Princeton University, march 2010)
(2) SOUZA, André de Mello e Souza, OLIVEIRA, Ivan Tiago Machado e GONÇALVES, Samo Sérgio. Integrando desiguais: assimetrias estruturais e políticas de integração no Mercosul. Rio de Janeiro: IPEA, março de 2010. Texto de Discussão no. 1477.
(3) TOMAZONI, Edegar Luis. Turismo como Desafio do Desenvolvimento Econômico do Mercosul na Era da Globalização. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2008.
Soldados relatam abusos contra palestinos
Reproduzo artigo de Arturo Hartmann, publicado no sítio Opera Mundi:
A associação israelense Breaking The Silence (Quebrando o silêncio) acaba de publicar um livro com centenas de depoimentos de membros das forças armadas do país, de soldados rasos a comandantes de alta patente, em que são relatados abusos cometidos contra palestinos nos territórios ocupados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nas conversas, os oficiais contam o que viram , o que ouviram e o que foram obrigados a fazer.
“... No treinamento você aprende que o fósforo branco não deve ser usado, você aprende que não é humano usá-lo. Você assiste filmes e vê o que ele faz com as pessoas que são atingidas, e você diz: 'Meu Deus, nós estamos fazendo isso também'. Bairros inteiros foram extintos porque mísseis eram lançados de algumas casas. Isso não é o que eu esperava ver”, diz o depoimento de um oficial que atuou na operação Chumbo Fundido em Gaza, em 2009.
Em outro, mais questionamentos. “...Eu lembro de algo que pessoalmente me incomodou. Eu não entendia o toque de recolher. Em Hebron, havia uma tonelada de toques de recolher, eu não lembro o número de dias, mas lembro sim que eu ficava em choque porque fazíamos toques de recolher tão frequentemente e achávamos que as pessoas podiam viver. Eu realmente não conseguia entender como eles esperavam que as pessoas existissem.”
Yehuda Shaul, fundador da ONG e um dos coordenadores, explicou ao Opera Mundi que anteriormente o trabalho se restringia a coletar os depoimentos, mas com o livro foi feita uma análise das dificuldades que esses soldados vivenciam. “Se trata definitivamente de um grande trabalho. É uma visão geral e analítica de tudo que fizemos até hoje com os testemunhos. Na verdade, é a primeira vez que fazemos análise, pois até hoje nos restringimos à coleta de testemunhos”.
Em outro depoimento, uma ex-soldada israelense conta como colocou um palestino no canto de um posto de controle por quatro horas, vendado e com as mãos amarradas, por ter “irritado” os soldados. “Ninguém pode entender a não ser que tenha estado lá. Se contar a um amigo... é uma pequena história entre tantas outras histórias chocantes, é algo pequeno, que me deixa desconfortável. Eu tenho imagens na cabeça, mas não lembro detalhes. Eu realmente reprimi esse período. Estou envergonhada. Eu não sei”.
Dar sentido a esta parte reprimida é a missão do BTS, como explica Shaul. “O BTS surge de um ponto de vista muito otimista da sociedade israelense. Acreditamos que os israelenses apenas não sabem do que acontece, pois não são confrontados com a realidade. Se fossem, agiriam diferente. A nossa cruzada é pelo conhecimento”, afirma o ativista.
Em sua opinião, o silêncio não é uma “doença israelense”, mas humana. “Como o serviço militar é obrigatório, existe uma percepção em Israel de que todos são soldados desde crianças, então as ‘paredes da negação’ são mais altas e grossas. As pessoas apenas querem viver suas vidas, e nosso trabalho é estragar a festa. Vamos lá e estragamos o clima, relembrando os crimes que estamos cometendo como sociedade, que está sendo feito em nosso nome”.
Desde 2004, quando surgiu, o BTS já coletou, segundo Shaul, depoimento de 730 ex-soldados combatentes que serviram na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia. E depois de lançar edições focadas em Hebron, na operação Chumbo Fundido e no serviço de mulheres combatentes, o mais recente livro traz o registro e analisa a coleta de depoimentos que cobre o período de ações que vai de 2000, quando começa a Segunda Intifada, a 2010.
A ONG é financiada por doadores israelenses e estrangeiros, principalmente vindos da Europa. O governo de Israel critica a publicação dos relatórios e publicações, pois eles revelariam detalhes que podem colocar a população israelense em risco. Para Tel Aviv, a função da ONG não é social, e sim política. Todos os depoimentos são anônimos justamente para que os oficiais não sejam processados pelo Estado.
Em outro depoimento, uma mulher se lembra de um incidente alguns anos atrás, quando um homem palestino riu dela, porque(ou assim ela pensava), ela estava usando um uniforme. Segundo a oficial, ela tinha que "preservar o respeito". Então, aproximou-se do homem, "como se eu estivesse prestes a beijá-lo.Eu disse a ele: 'Venha, venha, do que você tem medo? Venha para mim!' E eu então o chutei nas bolas.'Porque você não está rindo?Ele estava em choque, e então percebeu...que não podia mais rir de mim."
Cerco aos territórios
Em outro depoimento, outros questionamentos. “Tenho certeza que seria insuportável se me colocassem sob toque de recolher por 360 dias. Não é possível e eu lembro que falava sobre isso e ninguém entendia. Eles diziam: ‘risco à segurança’. Ótimo, risco à segurança, mas eles são pessoas e precisam viver. De onde tiram comida? Como podem ganhar dinheiro para comer quando estão sob toque de recolher?”.
A visão geral que o BTS alcançou é a de que o discurso sobre segurança e proteção dos colonos é uma parte muito pequena do que os militares procuram alcançar nas ações. No centro está a preservação do controle militar sobre os palestinos. “Nossa sociedade deve ser confrontada com esses fatos. Nos últimos 15 ou 20 anos, a discussão oficial sempre foi: até que o conflito entre israelenses e palestinos seja resolvido, a ocupação vai continuar. Nós combatemos essa ideia, pois acreditamos que é errado controlar uma população de 3,5 milhões de pessoas, mantidas como refém, apenas para ter fichas de barganha nas mesas de negociações. A ocupação é um ato odioso feito por Israel e que precisa ser encerrado por Israel”, argumentou Shaul.
Para o ativista, não existe uma permissividade ligada ao militarismo israelense, que poderia explicar a alta ocorrência de abusos. Segundo Shaul, o culpado é o próprio sistema da ocupação. “Quando se é enviado para manter uma realidade corrupta, é comum se tornar corrupto. Não importa se são ordens, todos fazem. Isso, para nós, é parte da ocupação. Muitas pessoas falam em lavagem cerebral, mas não se trata disso. É um trabalho, o que pode ser feito? Se deve controlar pessoas contra a sua vontade, a única maneira de fazê-lo é causando medo neles, e se eles se acostumam, aumente a dose, e se eles se acostumam de novo, aumente de novo. Por isso, tomamos a posição de que isso deve acabar imediatamente”.
A associação israelense Breaking The Silence (Quebrando o silêncio) acaba de publicar um livro com centenas de depoimentos de membros das forças armadas do país, de soldados rasos a comandantes de alta patente, em que são relatados abusos cometidos contra palestinos nos territórios ocupados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nas conversas, os oficiais contam o que viram , o que ouviram e o que foram obrigados a fazer.
“... No treinamento você aprende que o fósforo branco não deve ser usado, você aprende que não é humano usá-lo. Você assiste filmes e vê o que ele faz com as pessoas que são atingidas, e você diz: 'Meu Deus, nós estamos fazendo isso também'. Bairros inteiros foram extintos porque mísseis eram lançados de algumas casas. Isso não é o que eu esperava ver”, diz o depoimento de um oficial que atuou na operação Chumbo Fundido em Gaza, em 2009.
Em outro, mais questionamentos. “...Eu lembro de algo que pessoalmente me incomodou. Eu não entendia o toque de recolher. Em Hebron, havia uma tonelada de toques de recolher, eu não lembro o número de dias, mas lembro sim que eu ficava em choque porque fazíamos toques de recolher tão frequentemente e achávamos que as pessoas podiam viver. Eu realmente não conseguia entender como eles esperavam que as pessoas existissem.”
Yehuda Shaul, fundador da ONG e um dos coordenadores, explicou ao Opera Mundi que anteriormente o trabalho se restringia a coletar os depoimentos, mas com o livro foi feita uma análise das dificuldades que esses soldados vivenciam. “Se trata definitivamente de um grande trabalho. É uma visão geral e analítica de tudo que fizemos até hoje com os testemunhos. Na verdade, é a primeira vez que fazemos análise, pois até hoje nos restringimos à coleta de testemunhos”.
Em outro depoimento, uma ex-soldada israelense conta como colocou um palestino no canto de um posto de controle por quatro horas, vendado e com as mãos amarradas, por ter “irritado” os soldados. “Ninguém pode entender a não ser que tenha estado lá. Se contar a um amigo... é uma pequena história entre tantas outras histórias chocantes, é algo pequeno, que me deixa desconfortável. Eu tenho imagens na cabeça, mas não lembro detalhes. Eu realmente reprimi esse período. Estou envergonhada. Eu não sei”.
Dar sentido a esta parte reprimida é a missão do BTS, como explica Shaul. “O BTS surge de um ponto de vista muito otimista da sociedade israelense. Acreditamos que os israelenses apenas não sabem do que acontece, pois não são confrontados com a realidade. Se fossem, agiriam diferente. A nossa cruzada é pelo conhecimento”, afirma o ativista.
Em sua opinião, o silêncio não é uma “doença israelense”, mas humana. “Como o serviço militar é obrigatório, existe uma percepção em Israel de que todos são soldados desde crianças, então as ‘paredes da negação’ são mais altas e grossas. As pessoas apenas querem viver suas vidas, e nosso trabalho é estragar a festa. Vamos lá e estragamos o clima, relembrando os crimes que estamos cometendo como sociedade, que está sendo feito em nosso nome”.
Desde 2004, quando surgiu, o BTS já coletou, segundo Shaul, depoimento de 730 ex-soldados combatentes que serviram na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia. E depois de lançar edições focadas em Hebron, na operação Chumbo Fundido e no serviço de mulheres combatentes, o mais recente livro traz o registro e analisa a coleta de depoimentos que cobre o período de ações que vai de 2000, quando começa a Segunda Intifada, a 2010.
A ONG é financiada por doadores israelenses e estrangeiros, principalmente vindos da Europa. O governo de Israel critica a publicação dos relatórios e publicações, pois eles revelariam detalhes que podem colocar a população israelense em risco. Para Tel Aviv, a função da ONG não é social, e sim política. Todos os depoimentos são anônimos justamente para que os oficiais não sejam processados pelo Estado.
Em outro depoimento, uma mulher se lembra de um incidente alguns anos atrás, quando um homem palestino riu dela, porque(ou assim ela pensava), ela estava usando um uniforme. Segundo a oficial, ela tinha que "preservar o respeito". Então, aproximou-se do homem, "como se eu estivesse prestes a beijá-lo.Eu disse a ele: 'Venha, venha, do que você tem medo? Venha para mim!' E eu então o chutei nas bolas.'Porque você não está rindo?Ele estava em choque, e então percebeu...que não podia mais rir de mim."
Cerco aos territórios
Em outro depoimento, outros questionamentos. “Tenho certeza que seria insuportável se me colocassem sob toque de recolher por 360 dias. Não é possível e eu lembro que falava sobre isso e ninguém entendia. Eles diziam: ‘risco à segurança’. Ótimo, risco à segurança, mas eles são pessoas e precisam viver. De onde tiram comida? Como podem ganhar dinheiro para comer quando estão sob toque de recolher?”.
A visão geral que o BTS alcançou é a de que o discurso sobre segurança e proteção dos colonos é uma parte muito pequena do que os militares procuram alcançar nas ações. No centro está a preservação do controle militar sobre os palestinos. “Nossa sociedade deve ser confrontada com esses fatos. Nos últimos 15 ou 20 anos, a discussão oficial sempre foi: até que o conflito entre israelenses e palestinos seja resolvido, a ocupação vai continuar. Nós combatemos essa ideia, pois acreditamos que é errado controlar uma população de 3,5 milhões de pessoas, mantidas como refém, apenas para ter fichas de barganha nas mesas de negociações. A ocupação é um ato odioso feito por Israel e que precisa ser encerrado por Israel”, argumentou Shaul.
Para o ativista, não existe uma permissividade ligada ao militarismo israelense, que poderia explicar a alta ocorrência de abusos. Segundo Shaul, o culpado é o próprio sistema da ocupação. “Quando se é enviado para manter uma realidade corrupta, é comum se tornar corrupto. Não importa se são ordens, todos fazem. Isso, para nós, é parte da ocupação. Muitas pessoas falam em lavagem cerebral, mas não se trata disso. É um trabalho, o que pode ser feito? Se deve controlar pessoas contra a sua vontade, a única maneira de fazê-lo é causando medo neles, e se eles se acostumam, aumente a dose, e se eles se acostumam de novo, aumente de novo. Por isso, tomamos a posição de que isso deve acabar imediatamente”.
Tucanos não limparam o Tietê por 3 anos
Reproduzo artigo de Conceição Lemes, publicado no blog Viomundo:
Em 27 de dezembro de 2009, esta repórter denunciou aqui no Viomundo: Governo paulista ficou três anos sem limpar o Tietê . Mais precisamente 2006, 2007 e 2008 (de janeiro a outubro).
A Secretaria de Energia e Saneamento (SSE) e o Departamento de Águas e Energia do Estado (DAEE), obviamente, negaram os nossos questionamentos. Bateram na tecla de que o desassoreamento havia sido feito normalmente nesses períodos.
Na época, o governador era José Serra (PSDB) e a secretária de Energia e Saneamento, Dilma Pena, hoje na Sabesp. A “grande” imprensa, claro, ficou na moita. Ignorou solenemente a nossa denúncia, apesar dos transbordamentos do rio Tietê. Afinal, à mídia cabia blindar Serra, ”fazendo as obras” que o então governador não havia feito.
Curiosamente, hoje leio na capa do UOL: Rio Tietê ficou quase três anos sem limpeza em SP.
Ou seja, quase 1 ano e três meses depois o UOL “descobriu” o que o Viomundo já havia denunciado e os nossos leitores sabiam.
A novidade é que, agora, o DAEE assume para o UOL que não houve limpeza do Tietê durante três anos, confirmando a nossa denúncia. Por trás da confirmação, não tenham dúvida, está a guerra entre os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, atual governador.
Por que será que lá atrás o UOL se calou? Será por que Serra era governador e no ano seguinte seria candidato do grupo Folha à presidência da República?
O que será que a Dilma Pena, hoje na presidência da Sabesp, tem a dizer por ter faltado com a verdade à população de São Paulo em 2009?
Ah, mais uma pergunta: Por que o UOl não disse que em 27 de dezembro de 2009 o Viomundo havia denunciado o não desassoreamento do Tietê?
Coisa feia não dar crédito, concordam? Jornalismo se faz com base na fidelidade canina à verdade factual durante os 365 dias do ano, haja ou não eleição no caminho.
Em 27 de dezembro de 2009, esta repórter denunciou aqui no Viomundo: Governo paulista ficou três anos sem limpar o Tietê . Mais precisamente 2006, 2007 e 2008 (de janeiro a outubro).
A Secretaria de Energia e Saneamento (SSE) e o Departamento de Águas e Energia do Estado (DAEE), obviamente, negaram os nossos questionamentos. Bateram na tecla de que o desassoreamento havia sido feito normalmente nesses períodos.
Na época, o governador era José Serra (PSDB) e a secretária de Energia e Saneamento, Dilma Pena, hoje na Sabesp. A “grande” imprensa, claro, ficou na moita. Ignorou solenemente a nossa denúncia, apesar dos transbordamentos do rio Tietê. Afinal, à mídia cabia blindar Serra, ”fazendo as obras” que o então governador não havia feito.
Curiosamente, hoje leio na capa do UOL: Rio Tietê ficou quase três anos sem limpeza em SP.
Ou seja, quase 1 ano e três meses depois o UOL “descobriu” o que o Viomundo já havia denunciado e os nossos leitores sabiam.
A novidade é que, agora, o DAEE assume para o UOL que não houve limpeza do Tietê durante três anos, confirmando a nossa denúncia. Por trás da confirmação, não tenham dúvida, está a guerra entre os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, atual governador.
Por que será que lá atrás o UOL se calou? Será por que Serra era governador e no ano seguinte seria candidato do grupo Folha à presidência da República?
O que será que a Dilma Pena, hoje na presidência da Sabesp, tem a dizer por ter faltado com a verdade à população de São Paulo em 2009?
Ah, mais uma pergunta: Por que o UOl não disse que em 27 de dezembro de 2009 o Viomundo havia denunciado o não desassoreamento do Tietê?
Coisa feia não dar crédito, concordam? Jornalismo se faz com base na fidelidade canina à verdade factual durante os 365 dias do ano, haja ou não eleição no caminho.
Serra cala a mídia sobre o Tietê
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
Na manhã da última sexta-feira, segundo informações apuradas por este blog, as redações da imprensa paulista teriam voltado a ser bombardeadas por telefonemas de emissários ligados ao ex-governador José Serra. Esses telefonemas teriam exigido que o escândalo do Tietê sumisse das pautas.
Pouco após o alvorecer de 26 de março último, o portal UOL publicou reportagem dando conta de que foram jogados no lixo 2 bilhões de reais gastos durante 2005 e 2006 para pôr fim aos constantes transbordamentos do rio Tietê, pois a limpeza do rio foi interrompida por Serra, sucessor de Geraldo Alckmin, que fez a bilionária obra de rebaixamento da calha do rio.
A reportagem do UOL teria sido produto de uma revolta que, segundo as fontes, cresce nas redações da imprensa paulista. Em cursos de jornalismo de todo país, o acobertamento do escândalo do Tietê já teria se tornado referência de promiscuidade entre o poder público e a imprensa.
A dimensão do escândalo é tão ampla que se esperava que, com o UOL repercutindo, houvesse maior veiculação nacional das denúncias contra Serra, sobretudo no Jornal Nacional. Apesar de algumas veiculações no rádio e amplamente disseminadas na internet, nas tevês e nos jornais deste sábado a repercussão foi pífia ou inexistente.
Estaria correndo intramuros, na imprensa paulista, que a pouca repercussão de uma notícia antiga, a despeito das perdas imensas – patrimoniais e de vidas humanas – que causou, dever-se-ia a ameaça que Serra estaria fazendo de que, se o escândalo provocar investigação séria por pressão da imprensa, fará “revelações”.
O grande temor de Serra seria a comparação entre o aumento exponencial dos gastos com publicidade oficial durante o período de redução dos gastos com a limpeza do rio Tietê. Acredita-se que, para não estourar o orçamento, Serra retirou de vários investimentos do Estado os recursos usados para se promover visando a eleição de 2010.
Segundo o UOL, “(…) a bancada oposicionista da Assembleia Legislativa anunciou (…) que irá fazer um requerimento para que o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, o deputado estadual Edson Giriboni, compareça ao Legislativo para explicar os motivos que levaram as autoridades a suspender o trabalho de desassoreamento em 2006, 2007 e 2008”.
Todavia, a oposição paulista tem dúvidas de que o convite ao secretário será atendido, pois, na forma como será feito o tal requerimento, o convidado poderá comparecer ou não. Ainda segundo a oposição, se houvesse convocação a bancada governista a derrubaria, como já vez várias vezes valendo-se da maioria que tem.
Vereador da Câmara Municipal de São Paulo ouvido por este blog afirma que a única possibilidade de se apurar responsabilidades pelas tragédias geradas pela drástica redução da limpeza do rio Tietê será através de pressão da imprensa.
Se as denúncias do UOL ficarem restritas à internet, portanto, várias fontes afirmam que nem o Ministério Público de São Paulo, nem o Poder Legislativo tomarão qualquer medida no sentido de esclarecer o caso, restando à população paulistana a impunidade do crime de redução de obras que redundou em tragédias que todos conhecem.
A única possibilidade de o Ministério Público Estadual pelo menos se pronunciar sobre o assunto será através da provocação. Qualquer parlamentar paulista ou paulistano – ou qualquer outro cidadão – pode provocar o MPE. Resta saber se alguém se habilitará a fazê-lo, pois Serra estaria disposto a retaliar quem tente.
Na manhã da última sexta-feira, segundo informações apuradas por este blog, as redações da imprensa paulista teriam voltado a ser bombardeadas por telefonemas de emissários ligados ao ex-governador José Serra. Esses telefonemas teriam exigido que o escândalo do Tietê sumisse das pautas.
Pouco após o alvorecer de 26 de março último, o portal UOL publicou reportagem dando conta de que foram jogados no lixo 2 bilhões de reais gastos durante 2005 e 2006 para pôr fim aos constantes transbordamentos do rio Tietê, pois a limpeza do rio foi interrompida por Serra, sucessor de Geraldo Alckmin, que fez a bilionária obra de rebaixamento da calha do rio.
A reportagem do UOL teria sido produto de uma revolta que, segundo as fontes, cresce nas redações da imprensa paulista. Em cursos de jornalismo de todo país, o acobertamento do escândalo do Tietê já teria se tornado referência de promiscuidade entre o poder público e a imprensa.
A dimensão do escândalo é tão ampla que se esperava que, com o UOL repercutindo, houvesse maior veiculação nacional das denúncias contra Serra, sobretudo no Jornal Nacional. Apesar de algumas veiculações no rádio e amplamente disseminadas na internet, nas tevês e nos jornais deste sábado a repercussão foi pífia ou inexistente.
Estaria correndo intramuros, na imprensa paulista, que a pouca repercussão de uma notícia antiga, a despeito das perdas imensas – patrimoniais e de vidas humanas – que causou, dever-se-ia a ameaça que Serra estaria fazendo de que, se o escândalo provocar investigação séria por pressão da imprensa, fará “revelações”.
O grande temor de Serra seria a comparação entre o aumento exponencial dos gastos com publicidade oficial durante o período de redução dos gastos com a limpeza do rio Tietê. Acredita-se que, para não estourar o orçamento, Serra retirou de vários investimentos do Estado os recursos usados para se promover visando a eleição de 2010.
Segundo o UOL, “(…) a bancada oposicionista da Assembleia Legislativa anunciou (…) que irá fazer um requerimento para que o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, o deputado estadual Edson Giriboni, compareça ao Legislativo para explicar os motivos que levaram as autoridades a suspender o trabalho de desassoreamento em 2006, 2007 e 2008”.
Todavia, a oposição paulista tem dúvidas de que o convite ao secretário será atendido, pois, na forma como será feito o tal requerimento, o convidado poderá comparecer ou não. Ainda segundo a oposição, se houvesse convocação a bancada governista a derrubaria, como já vez várias vezes valendo-se da maioria que tem.
Vereador da Câmara Municipal de São Paulo ouvido por este blog afirma que a única possibilidade de se apurar responsabilidades pelas tragédias geradas pela drástica redução da limpeza do rio Tietê será através de pressão da imprensa.
Se as denúncias do UOL ficarem restritas à internet, portanto, várias fontes afirmam que nem o Ministério Público de São Paulo, nem o Poder Legislativo tomarão qualquer medida no sentido de esclarecer o caso, restando à população paulistana a impunidade do crime de redução de obras que redundou em tragédias que todos conhecem.
A única possibilidade de o Ministério Público Estadual pelo menos se pronunciar sobre o assunto será através da provocação. Qualquer parlamentar paulista ou paulistano – ou qualquer outro cidadão – pode provocar o MPE. Resta saber se alguém se habilitará a fazê-lo, pois Serra estaria disposto a retaliar quem tente.
A Vale é uma mina para a mídia?
Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:
O superblog “Os amigos do Presidente Lula” – tocado com vigor pelo Zé Augusto e pela Helena e detestado pela Dra. Sandra Cureau – pegou no pulo o ato falho do porta-voz da grande mídia, o Instituto Millenium (o IBAD do século 21) revelando uma parte das razões pelas quais colunistas e jornalões fizeram toda esta onda para transformar Roger Agnelli, o destronado da Vale, em vítima de um estatismo feroz.
Em artigo publicado no blog do Instituto (hospedado pela editora abril), diz-se que a substituição de Agnelli “busca aumentar a influência do governo dentro da empresa, para, possivelmente, ocupar cargos de interesse do governo, contratar empresas próximas ao governo e, até mesmo, aumentar a influência do governo nos meios de comunicação.”
Opa! Como assim? O que tem a ver o sr. Agnelli com os meios de comunicação? A Vale é um órgão de imprensa?
Ou será que a Vale é uma mina para a imprensa?
O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, publicou em outubro de 2009:
“A Vale gastou R$ 178,8 milhões em publicidade nos últimos 12 meses terminados em setembro. A conta de propaganda da mineradora foi entregue a Nizan Guanaes, o marqueteiro predileto do PSDB ao longo de quase duas décadas. FHC e José Serra, entre outros, foram clientes de Nizan.
“No mercado publicitário, R$ 178,8 milhões é considerado um valor alto. Como comparação, a marca de sabão em pó OMO consumiu R$ 141,7 milhões no mesmo período. Os dados são do Ibope Monitor. Há também um outro dado curioso: mineradoras no mundo todo não costumam fazer publicidade, pois o seu produto (minério) não é vendido ao consumidor final.”
Esse gasto com propaganda e a escolha de Nizan foram dois fatores relevantes para que azedasse a relação entre a Vale e o Palácio do Planalto, sobretudo entre o PT e a Vale.”
No mesmo post, Rodrigues ironiza a divulgação pelo jornal O Globo de dados da Vale (parciais), dizendo que teriam sido “só” R$ 50 milhões, de janeiro a setembro daquele ano.
Agora, pior do que o “atentado à liberdade de imprensa” que pudesse ser a substituição de Agnelli na distribuição de verba publicitária é o conceito que a Vale faz dos jornalistas, que se revela em outro ato falho recolhido pelo blog “Os amigos do Presidente Lula”, que se expressa no vídeo de “homenagem” feito pela empresa aos profissionais de imprensa, que posto abaixo. Deprimente.
O superblog “Os amigos do Presidente Lula” – tocado com vigor pelo Zé Augusto e pela Helena e detestado pela Dra. Sandra Cureau – pegou no pulo o ato falho do porta-voz da grande mídia, o Instituto Millenium (o IBAD do século 21) revelando uma parte das razões pelas quais colunistas e jornalões fizeram toda esta onda para transformar Roger Agnelli, o destronado da Vale, em vítima de um estatismo feroz.
Em artigo publicado no blog do Instituto (hospedado pela editora abril), diz-se que a substituição de Agnelli “busca aumentar a influência do governo dentro da empresa, para, possivelmente, ocupar cargos de interesse do governo, contratar empresas próximas ao governo e, até mesmo, aumentar a influência do governo nos meios de comunicação.”
Opa! Como assim? O que tem a ver o sr. Agnelli com os meios de comunicação? A Vale é um órgão de imprensa?
Ou será que a Vale é uma mina para a imprensa?
O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, publicou em outubro de 2009:
“A Vale gastou R$ 178,8 milhões em publicidade nos últimos 12 meses terminados em setembro. A conta de propaganda da mineradora foi entregue a Nizan Guanaes, o marqueteiro predileto do PSDB ao longo de quase duas décadas. FHC e José Serra, entre outros, foram clientes de Nizan.
“No mercado publicitário, R$ 178,8 milhões é considerado um valor alto. Como comparação, a marca de sabão em pó OMO consumiu R$ 141,7 milhões no mesmo período. Os dados são do Ibope Monitor. Há também um outro dado curioso: mineradoras no mundo todo não costumam fazer publicidade, pois o seu produto (minério) não é vendido ao consumidor final.”
Esse gasto com propaganda e a escolha de Nizan foram dois fatores relevantes para que azedasse a relação entre a Vale e o Palácio do Planalto, sobretudo entre o PT e a Vale.”
No mesmo post, Rodrigues ironiza a divulgação pelo jornal O Globo de dados da Vale (parciais), dizendo que teriam sido “só” R$ 50 milhões, de janeiro a setembro daquele ano.
Agora, pior do que o “atentado à liberdade de imprensa” que pudesse ser a substituição de Agnelli na distribuição de verba publicitária é o conceito que a Vale faz dos jornalistas, que se revela em outro ato falho recolhido pelo blog “Os amigos do Presidente Lula”, que se expressa no vídeo de “homenagem” feito pela empresa aos profissionais de imprensa, que posto abaixo. Deprimente.
sábado, 26 de março de 2011
Metalúrgicos debatem desafios sindicais
Reproduzo matéria publicada no sítio da Federação dos Metalúrgicos da Bahia:
O primeiro dia do Seminário Intersetorial da FITMetal [Federação Interestadual de Metalúrgicos do Brasil] foi finalizado com uma palestra e debate sobre o atual cenário do sindicalismo no Brasil do jornalista e presidente do Centro de Estudos Midiáticos Barão de Itararé, Altamiro Borges. Para Altamiro, o ano passado foi positivo para o movimento sindical, mas se preocupa com atuação do movimento em 2011, diante de fatores externos e internos que podem ser um grande entrave.
O primeiro dia do Seminário Intersetorial da FITMetal [Federação Interestadual de Metalúrgicos do Brasil] foi finalizado com uma palestra e debate sobre o atual cenário do sindicalismo no Brasil do jornalista e presidente do Centro de Estudos Midiáticos Barão de Itararé, Altamiro Borges. Para Altamiro, o ano passado foi positivo para o movimento sindical, mas se preocupa com atuação do movimento em 2011, diante de fatores externos e internos que podem ser um grande entrave.
O poder da imprensa e os abusos do poder
Reproduzo artigo de Bernardo Kucinski, publicado no Observatório da Imprensa:
Todos sabemos que a imprensa pode destruir reputações, derrubar ministros e às vezes um governo inteiro. Foi uma campanha de imprensa, liderada por um grande jornalista, Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio em 1954. Vinte anos depois, nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon renunciou por causa de denúncias da imprensa.
Todos sabemos que a imprensa pode destruir reputações, derrubar ministros e às vezes um governo inteiro. Foi uma campanha de imprensa, liderada por um grande jornalista, Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio em 1954. Vinte anos depois, nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon renunciou por causa de denúncias da imprensa.
A expansão das rádios comunitárias
Reproduzo artigo de Jacson Segundo, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
O Governo Federal vai trabalhar para que até o fim de 2012 todos os municípios brasileiros tenham pelo menos uma rádio comunitária. Para isso, este ano ele vai lançar 11 avisos de habilitação – que permite o pedido formal de uma emissora pela entidade – que vão atender a 431 cidades, o que já abrangeria 85% municípios (hoje o serviço chega a 76,9% deles). A medida foi divulgada na quinta-feira (17) e está dentro do Plano Nacional de Outorgas para Radiodifusão Comunitária do Ministério das Comunicações (Minicom).
O Governo Federal vai trabalhar para que até o fim de 2012 todos os municípios brasileiros tenham pelo menos uma rádio comunitária. Para isso, este ano ele vai lançar 11 avisos de habilitação – que permite o pedido formal de uma emissora pela entidade – que vão atender a 431 cidades, o que já abrangeria 85% municípios (hoje o serviço chega a 76,9% deles). A medida foi divulgada na quinta-feira (17) e está dentro do Plano Nacional de Outorgas para Radiodifusão Comunitária do Ministério das Comunicações (Minicom).
sexta-feira, 25 de março de 2011
Blogueiro do RJ é baleado. Apuração já!
Reproduzo matéria de Antônio Mello, publicada em seu blog:
Foi na manhã desta quarta-feira, por volta das 11h, pouco depois de ter feito uma postagem em seu blog, às 10h41, criticando o governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, seus alvos prediletos. O primeiro, pela prisão dos manifestantes do consulado americano. O segundo, pela nova forma de divulgação dos dados da dengue na cidade.
O RJTV fez uma boa reportagem sobre o assunto, que pode ser assistida aqui. Nela, o delegado Bruno Giladerte, responsável pelo caso, afirma:
"Nós temos ali várias pessoas que poderiam ter se sentido ofendidas ou mesmo que poderiam ter como objetivo silenciar o que ele vinha escrevendo".
Segundo informações que me chegaram, Ricardo Gama não corre risco de morrer, embora tenha sido atingido por três tiros. Uma das balas atravessou seu rosto, outra o atingiu no pescoço e a terceira no tórax. Ricardo está internado em Copacabana e passa por uma cirurgia no momento para limpar a área do rosto atingida pela bala.
Vamos torcer para que ele se saia bem dessa. E que atirar em blogueiros não vire moda.
Foi na manhã desta quarta-feira, por volta das 11h, pouco depois de ter feito uma postagem em seu blog, às 10h41, criticando o governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, seus alvos prediletos. O primeiro, pela prisão dos manifestantes do consulado americano. O segundo, pela nova forma de divulgação dos dados da dengue na cidade.
O RJTV fez uma boa reportagem sobre o assunto, que pode ser assistida aqui. Nela, o delegado Bruno Giladerte, responsável pelo caso, afirma:
"Nós temos ali várias pessoas que poderiam ter se sentido ofendidas ou mesmo que poderiam ter como objetivo silenciar o que ele vinha escrevendo".
Segundo informações que me chegaram, Ricardo Gama não corre risco de morrer, embora tenha sido atingido por três tiros. Uma das balas atravessou seu rosto, outra o atingiu no pescoço e a terceira no tórax. Ricardo está internado em Copacabana e passa por uma cirurgia no momento para limpar a área do rosto atingida pela bala.
Vamos torcer para que ele se saia bem dessa. E que atirar em blogueiros não vire moda.
Voto do Brasil sobre Irã gera polêmica
Reproduzo artigo de Thaís Romanelli, publicado no sítio Opera Mundi:
O voto do Brasil a favor das investigações sobre violação de direitos humanos no Irã criou polêmica a respeito dos rumos da política externa do governo Dilma Rousseff. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o ex-chanceler Celso Amorim afirmou que "provavelmente" não votaria pela medida, que prevê a nomeação de um relator especial para participar das investigações no país persa, mas garantiu que confia no chanceler Antonio Patriota, seu ex-chefe de gabinete.
"As pessoas acham que sobre cada ação há apenas uma decisão moral. Mas a decisão é também política, não no sentido de agir em interesse próprio, mas de saber se o resultado será o que você deseja", disse.
Amorim, porém, afirmou que não fará "julgamento" da atual política externa, nem mencionou uma mudança explícita nos objetivos do governo brasileiro.
Procurados pelo Opera Mundi, especialistas em relações internacionais classificaram como "precipitada" a avaliação sobre uma possível mudança de gestão na política externa de Dilma Rousseff.
"Ainda é muito cedo para falar ou para supor uma alteração importante na política brasileira. Essas análises só poderão ser feitas de acordo com o decorrer dos fatos”, afirmou o professor de Relações Internacionais da Unifesp, Flávio Rocha de Oliveira.
Para ele, a posição do Brasil representa a defesa dos interesses do país no cenário internacional, o que foi impulsionado de forma crescente durante o governo Lula. “No que diz respeito à busca pela colocação dos assuntos prioritários para o Brasil na pauta mundial e à busca de espaço de decisão em âmbito global, o governo Dilma está dando continuidade ao de Lula”, argumentou.
A professora de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) e da UNESP (Universidade Estadual de São Paulo), Cristina Pecequilo, concorda com Flávio, mas considera a decisão brasileira representa uma “alteração positiva” na política externa brasileira no campo dos direitos humanos.
“Desde o início, Dilma foi enfática ao dizer que o Brasil passaria a ter uma preocupação diferenciada com o respeito aos direitos humanos. Portanto, a decisão foi bastante coerente com o que foi proposto”, disse.
O ex-chanceler Celso Amorim, por sua vez, questionou a coerência da posição brasileira, não com o plano de governo da atual administração, mas em relação às violações de direitos humanos que acontecem em outros países.
“Se quisermos ser absolutamente coerentes, temos que mandar um relator especial para o Irã, outro para Guantánamo, outro para ver a situação dos imigrantes na Europa. Se você for agir dessa maneira, eu até poderia ser a favor, mas acontece que não é assim”, argumentou.
Para Amorim, a nomeação de um relator corta qualquer possibilidade de diálogo. “Se você começar a entrar numa política condenatória, esquece o diálogo, você opta por ela”, completou.
Os dois professores de Relações Internacionais entrevistados discordam de Amorim, e ainda acreditam na possibilidade de diálogo com o Irã. “Por enquanto, o Brasil ainda não condenou o Irã e a possível violação dos direitos humanos, demos apenas o primeiro passo sendo partidários à investigação. É preciso tomar cuidado com isso”, alerta Cristina Pecequilo.
Ela acredita que, caso o Brasil condene veementemente o Irã, as relações entre os países podem ser alteradas, mas que isso não acontecerá se a atitude brasileira for apenas em torno de uma investigação.
“Temos que esperar o resultado das investigações e aguardar a posição brasileira no caso de termos que fazer uma condenação. Se o Brasil mudar efetivamente sua posição em relação ao Irã, é claro que isso terá algum custo na relação”, acrescentou.
Já Flávio não acredita que a decisão brasileira irá interferir diretamente no diálogo com o Irã. “Veja o caso dos EUA, por exemplo. Eles constantemente condenam a China mas, por interesses próprios, mantém uma série de diálogos comerciais com os chineses”, argumenta.
“É evidente que a manutenção de uma boa relação entre Brasil e Irã depende das partes envolvidas, mas ainda acredito na possibilidade de o governo brasileiro vir a ter um papel na mediação da questão da nuclear. Além disso, precisamos ser convidados por outros atores envolvidos para exercer essa função”, afirmou.
Já Pecequilo acha que essa possibilidade se manterá viva apenas se o Brasil “não recair em posturas influenciadas pelos Estados Unidos, se manter isento e limitar sua atuação no campo de investigação e não da condenação”.
Nesta quinta-feira (24/03), o Brasil votou favoravelmente ao envio de um relator especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU ao Irã. A medida determina uma investigação detalhada de denúncias de violação de direitos humanos.
Outros 20 países votaram como o Brasil. Entre os contrários ao envio de um emissário para o Irã estão Cuba, Bangladesh, China, Cuba, Equador, Mauritânia, Paquistão e Rússia.
Nos últimos dez anos, o Brasil se absteve ou votou contra resoluções que condenavam o Irã. Em junho de 2010, o Brasil e a Turquia votaram contra as sanções impostas pelo Conselho de Segurança em decorrência do programa nuclear iraniano.
Líbia
Questionada sobre a relação entre o voto do Brasil a favor das investigações sobre violação de direitos humanos no Irã e a abstenção do país no Conselho de Segurança sobre a determinação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, os especialistas divergiram.
Enquanto Flávio acha que os votos não estão diretamente relacionados e expressam a posição do Brasil sobre situações e momentos distintos, Pecequilo acredita que ambos expressam a coerência brasileira com sua ideologia e interesses.
“Ficou claro que o Brasil não tolera abuso tanto das grandes potências, ao se abster e não votar a favor de uma intervenção internacional, quanto de países considerados aliados, como no caso do Irã”, disse a professora.
O voto do Brasil a favor das investigações sobre violação de direitos humanos no Irã criou polêmica a respeito dos rumos da política externa do governo Dilma Rousseff. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o ex-chanceler Celso Amorim afirmou que "provavelmente" não votaria pela medida, que prevê a nomeação de um relator especial para participar das investigações no país persa, mas garantiu que confia no chanceler Antonio Patriota, seu ex-chefe de gabinete.
"As pessoas acham que sobre cada ação há apenas uma decisão moral. Mas a decisão é também política, não no sentido de agir em interesse próprio, mas de saber se o resultado será o que você deseja", disse.
Amorim, porém, afirmou que não fará "julgamento" da atual política externa, nem mencionou uma mudança explícita nos objetivos do governo brasileiro.
Procurados pelo Opera Mundi, especialistas em relações internacionais classificaram como "precipitada" a avaliação sobre uma possível mudança de gestão na política externa de Dilma Rousseff.
"Ainda é muito cedo para falar ou para supor uma alteração importante na política brasileira. Essas análises só poderão ser feitas de acordo com o decorrer dos fatos”, afirmou o professor de Relações Internacionais da Unifesp, Flávio Rocha de Oliveira.
Para ele, a posição do Brasil representa a defesa dos interesses do país no cenário internacional, o que foi impulsionado de forma crescente durante o governo Lula. “No que diz respeito à busca pela colocação dos assuntos prioritários para o Brasil na pauta mundial e à busca de espaço de decisão em âmbito global, o governo Dilma está dando continuidade ao de Lula”, argumentou.
A professora de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) e da UNESP (Universidade Estadual de São Paulo), Cristina Pecequilo, concorda com Flávio, mas considera a decisão brasileira representa uma “alteração positiva” na política externa brasileira no campo dos direitos humanos.
“Desde o início, Dilma foi enfática ao dizer que o Brasil passaria a ter uma preocupação diferenciada com o respeito aos direitos humanos. Portanto, a decisão foi bastante coerente com o que foi proposto”, disse.
O ex-chanceler Celso Amorim, por sua vez, questionou a coerência da posição brasileira, não com o plano de governo da atual administração, mas em relação às violações de direitos humanos que acontecem em outros países.
“Se quisermos ser absolutamente coerentes, temos que mandar um relator especial para o Irã, outro para Guantánamo, outro para ver a situação dos imigrantes na Europa. Se você for agir dessa maneira, eu até poderia ser a favor, mas acontece que não é assim”, argumentou.
Para Amorim, a nomeação de um relator corta qualquer possibilidade de diálogo. “Se você começar a entrar numa política condenatória, esquece o diálogo, você opta por ela”, completou.
Os dois professores de Relações Internacionais entrevistados discordam de Amorim, e ainda acreditam na possibilidade de diálogo com o Irã. “Por enquanto, o Brasil ainda não condenou o Irã e a possível violação dos direitos humanos, demos apenas o primeiro passo sendo partidários à investigação. É preciso tomar cuidado com isso”, alerta Cristina Pecequilo.
Ela acredita que, caso o Brasil condene veementemente o Irã, as relações entre os países podem ser alteradas, mas que isso não acontecerá se a atitude brasileira for apenas em torno de uma investigação.
“Temos que esperar o resultado das investigações e aguardar a posição brasileira no caso de termos que fazer uma condenação. Se o Brasil mudar efetivamente sua posição em relação ao Irã, é claro que isso terá algum custo na relação”, acrescentou.
Já Flávio não acredita que a decisão brasileira irá interferir diretamente no diálogo com o Irã. “Veja o caso dos EUA, por exemplo. Eles constantemente condenam a China mas, por interesses próprios, mantém uma série de diálogos comerciais com os chineses”, argumenta.
“É evidente que a manutenção de uma boa relação entre Brasil e Irã depende das partes envolvidas, mas ainda acredito na possibilidade de o governo brasileiro vir a ter um papel na mediação da questão da nuclear. Além disso, precisamos ser convidados por outros atores envolvidos para exercer essa função”, afirmou.
Já Pecequilo acha que essa possibilidade se manterá viva apenas se o Brasil “não recair em posturas influenciadas pelos Estados Unidos, se manter isento e limitar sua atuação no campo de investigação e não da condenação”.
Nesta quinta-feira (24/03), o Brasil votou favoravelmente ao envio de um relator especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU ao Irã. A medida determina uma investigação detalhada de denúncias de violação de direitos humanos.
Outros 20 países votaram como o Brasil. Entre os contrários ao envio de um emissário para o Irã estão Cuba, Bangladesh, China, Cuba, Equador, Mauritânia, Paquistão e Rússia.
Nos últimos dez anos, o Brasil se absteve ou votou contra resoluções que condenavam o Irã. Em junho de 2010, o Brasil e a Turquia votaram contra as sanções impostas pelo Conselho de Segurança em decorrência do programa nuclear iraniano.
Líbia
Questionada sobre a relação entre o voto do Brasil a favor das investigações sobre violação de direitos humanos no Irã e a abstenção do país no Conselho de Segurança sobre a determinação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, os especialistas divergiram.
Enquanto Flávio acha que os votos não estão diretamente relacionados e expressam a posição do Brasil sobre situações e momentos distintos, Pecequilo acredita que ambos expressam a coerência brasileira com sua ideologia e interesses.
“Ficou claro que o Brasil não tolera abuso tanto das grandes potências, ao se abster e não votar a favor de uma intervenção internacional, quanto de países considerados aliados, como no caso do Irã”, disse a professora.
Pluralidade religiosa: EBC sai na frente
Reproduzo artigo de Venício Lima, publicado no sítio Carta Maior:
Em artigo publicado em agosto de 2010, celebrei decisão do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que abrira consulta pública para recolher contribuições de entidades e pessoas físicas sobre a política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso através de seus veículos.
Em artigo publicado em agosto de 2010, celebrei decisão do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que abrira consulta pública para recolher contribuições de entidades e pessoas físicas sobre a política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso através de seus veículos.
“Folha” descobriu que Kassab é Kassab!
Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Não tenho simpatia alguma por Gilberto Kassab. Fruto do marketing (lembram dos bonecos do “Kassabão” na campanha para a Prefeitura, em 2008?) e de espertezas urdidas nos bastidores da política, ele virou prefeito num golpe de sorte – depois de ser escolhido vice de Serra.
Kassab tem trajetória parecida à de Sarney: o ex-presidente era um líder de segunda linha no antigo PDS. Ajudou a criar a dissidência que daria origem ao PFL (apesar de não ter entrado no PFL, mas ido diretamente ao PMDB), e assim virou o vice de Tancredo. Com a morte de Tancredo, virou presidente. Estava no lugar certo, na hora certa. Sarney sobrevive, desde então, como uma espécie de camaleão que sabe fazer as escolhas corretas nas horas exatas: apoiou FHC, depois apoiou Lula.
Não tenho simpatia alguma por Gilberto Kassab. Fruto do marketing (lembram dos bonecos do “Kassabão” na campanha para a Prefeitura, em 2008?) e de espertezas urdidas nos bastidores da política, ele virou prefeito num golpe de sorte – depois de ser escolhido vice de Serra.
Kassab tem trajetória parecida à de Sarney: o ex-presidente era um líder de segunda linha no antigo PDS. Ajudou a criar a dissidência que daria origem ao PFL (apesar de não ter entrado no PFL, mas ido diretamente ao PMDB), e assim virou o vice de Tancredo. Com a morte de Tancredo, virou presidente. Estava no lugar certo, na hora certa. Sarney sobrevive, desde então, como uma espécie de camaleão que sabe fazer as escolhas corretas nas horas exatas: apoiou FHC, depois apoiou Lula.
quinta-feira, 24 de março de 2011
O imperador Obama e seus súditos
Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog Cinema & Outras Artes:
Ao final da dupla presidência de George W. Bush, a popularidade dos EUA se encontrava em seu momento mais baixo. As mentiras sobre as armas de destruição em massa, a manipulação da opinião pública, o desrespeito à ONU e a mortandade de civis no Iraque levaram o anti-americanismo a alastrar-se como nunca pelo mundo, levando-o a pontos incandescentes entre os povos do Oriente Médio - indignados pelo apoio incondicional dos EUA ao agravamento das políticas opressivas de Israel contra os palestinos e estigmatizados em bloco como fanáticos religiosos e terroristas.
Ao final da dupla presidência de George W. Bush, a popularidade dos EUA se encontrava em seu momento mais baixo. As mentiras sobre as armas de destruição em massa, a manipulação da opinião pública, o desrespeito à ONU e a mortandade de civis no Iraque levaram o anti-americanismo a alastrar-se como nunca pelo mundo, levando-o a pontos incandescentes entre os povos do Oriente Médio - indignados pelo apoio incondicional dos EUA ao agravamento das políticas opressivas de Israel contra os palestinos e estigmatizados em bloco como fanáticos religiosos e terroristas.
O PSD de Kassab vai vingar?
Por Altamiro Borges
Lançado no início desta semana, o “novo” Partido Social-Democrático (PSD), liderado pelo prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, ainda é uma incógnita. Não se sabe ao certo qual será a sua dimensão, o tamanho das adesões à legenda. Também não se conhece quais serão seus compromissos programáticos e sua tática, suas alianças e alinhamentos.
Artilharia pesada dos demos
Lançado no início desta semana, o “novo” Partido Social-Democrático (PSD), liderado pelo prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, ainda é uma incógnita. Não se sabe ao certo qual será a sua dimensão, o tamanho das adesões à legenda. Também não se conhece quais serão seus compromissos programáticos e sua tática, suas alianças e alinhamentos.
Artilharia pesada dos demos
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