domingo, 10 de janeiro de 2010

Boris Casoy, os garis e a democracia

Reproduzo abaixo artigo do sociólogo, jornalista e professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado na Agência Carta Maior com o título “Sobre garis e democracia”. O autor, que também é ouvidor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), conhece bem as manipulações das emissoras "privadas" de televisão. Entre outros livros, é autor da obra “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Neste texto, Lalo denuncia mais um lance do anti-jornalismo de Boris Casoy, o âncora da TV Bandeirantes que é ícone da oposição demo-tucana:


Pouco depois de revelar o seu verdadeiro caráter em público, referindo-se preconceituosamente aos garis na passagem do ano, o apresentador de TV Boris Casoy volta à carga. Como se nada tivesse acontecido, retorna com informações truncadas, nitidamente partidarizadas. Na primeira terça-feira deste ano, dia 5, ao apresentar o Jornal da Band leu, entre uma e outra notícia sobre enchentes e nevascas, a seguinte “nota pelada” (no jargão do telejornalismo trata-se de um texto sem imagens de cobertura):

“Quando voltar do seu descanso o presidente Lula tem um tremendo abacaxi pela frente. É decidir o Plano Nacional de Direitos Humanos, cujo o texto que pode permitir o fim da anistia fez com que os chefes das Forças Armadas e o ministro Jobim da Defesa pusessem seus cargos a disposição. Lula prometeu rever o texto, mas a coisa complicou – e muito – hoje com a revelação de que os militares da FAB preferem que o governo compre os caças suecos em vez dos franceses, preferidos por Lula, que inadvertidamente até anunciou a compra dos caças franceses. Há quem veja nessa escolha da FAB uma reação ao caso da anistia”.

Intrigas para desgastar o governo Lula

A nota estabelece relação entre dois assuntos usando para conectá-los a frase “Há quem veja nessa escolha da FAB uma reação ao caso da anistia”. Sem dúvida um primor de anti-jornalismo. Para dizer o que pensa, o autor do texto esconde-se atrás do “há quem veja”, sem coragem para dizer que quem vê essa relação é ele mesmo e os demais interessados em criar algum tipo de intriga na esperança, sempre presente, de desgastar o governo.

Sobre essa ilação tendenciosa vale ler o artigo de Janio de Freitas na Folha de 7/1. Diz ele “As conclusões da FAB sobre os três concorrentes nada têm a ver com o impasse entre os comandantes militares e Lula, em torno do Plano Nacional dos Direitos Humanos e sua pretendida Comissão da Verdade. A FAB apenas recusou-se a não fazer o seu papel e o fez”. Ou seja, a Força Aérea Brasileira simplesmente fez uma análise comparativa das ofertas de aviões franceses, suecos e estadunidenses.

Saudoso dos tempos da ditadura

E mais, para dar um jeito de criar a intriga, Casoy diz que o presidente Lula “inadvertidamente até anunciou a compra dos caças franceses”. Veja o que diz Janio de Freitas: “Lula não disse querer ou haver decidido comprar o Rafale. O que comunicou de público, a propósito da conversa com o presidente francês em Brasília, por ocasião do Sete de Setembro do ano passado foi ‘a decisão de abrir negociações para a compra do Rafale’. As negociações nunca passaram de negociações”. E nelas cabem consultas a outros fornecedores interessados, como a FAB fez. Mas para Casoy nada disso interessa. O que ele quer é mostrar ao público a existência de um conflito entre a presidência da República e as Forças Armadas, talvez saudoso de 1964.

Mas as incorreções do texto lido no Jornal da Band não ficam por aí. Lá foi dito que o Plano Nacional de Direitos Humanos “pode permitir o fim da anistia”, o que não é verdade. O Programa Nacional dos Direitos Humanos não prevê a revogação da Lei da Anistia. “A proposta é da criação de uma Comissão da Verdade que, dependendo dos poderes atribuídos a ela, em tese poderia sugerir à Justiça a investigação e indiciamento de agentes públicos acusados de tortura, por exemplo. Mas antes seria preciso esperar a decisão do STF sobre o alcance da Lei de Anistia de 1979 e a decisão do Congresso efetivamente criando a Comissão da Verdade e dando a ela poderes reais de investigação”, como lembra o jornalista Luiz Carlos Azenha em seu blog.

Gotas de desinformação e tendenciosidade

Boris Casoy passou longe disso tudo. Ligeiro, aparentemente despretensioso, o texto colocado no meio do jornal tinha como objetivo dar munição à direita na sua tentativa desesperada de conseguir abalar, de qualquer forma, a solidez popular do governo Lula. São gotas de desinformação e de tendenciosidade oferecidas diariamente ao público por esse e por outros telejornais.

Mesmo não surtindo efeito imediato sobre o governo, como mostram todas as pesquisas, trata-se de um tipo de jornalismo empobrecedor, que reduz a possibilidade de uma circulação mais ampla de idéias e opiniões. Ilude e desinforma o telespectador, comprometendo de forma grave o processo de aprofundamento da democracia brasileira.

1 comentários:

INFOAPLI disse...

Goste muito das suas reflexões críticas acerca da política brasileira bem como as peculiaridades da sociedade brasileira, sou uma brasileira, oriunda da classe humilde (se é que posso dizer isso), mas isso não me desqualifica em ter consciência do papel que um cidadão presta a sociedade. Devido a toda forma de manipulação dos meios de comunicação de massa, a classe dominante usa a ideologia como forma de legitimação, controle, subordinação aos seus interesses! Atualmente, estou numa das melhores universidades do Brasil e por último do mundo: UFBA! (faço Administração).Foi difícil entrar, mas consegui! E vejo claramente como somos a todo momento influenciados pela essa ideologia, achamos que somos independentes, autores de nossa própria vida, mas somos enganados, somos transformados em meros peças do mercado, ou então submetidos a termos um estilo consumista, nos alienamos das questões políticas/sociais, os jovens e, futuramente, adultos,perderam o senso de reação, nos acomodamos com essa vida! Parece que há em nós um espírito de conformismo, não precisamos mais protestar, porque tudo já foi conquistado! Sob uma análise introspectiva, acho que ainda preciso aprofundar mais em conhecimentos, às vezes acho que estou meia perdida nessa sociedade, com tantas possibilidades é difícil escolher que caminho seguir! Percebo que possui um embasamento sólido da história do Brasil, isso é admirável!